jueves, 23 de marzo de 2017

VIA LÁCTEA (1)

.

"Foi, portanto, sentenciado como um herege contumaz, e entregue ao braço secular para ser castigado"

I – Arquitas

Cara Mary, falemos de magia artificial real na produção de efeitos reais. Sabes que há séculos em Nuremberg uma águia e uma mosca foram feitas do mesmo modo. No cosmos hierarquias e esferas, virtudes estelares, hoje sabemos, são pura ilusão. Vênus é uma velha sem serventia.

Se naqueles idos tempos a justiça em geral era ou deveria ser normal, podendo eventualmente ser alegre, expansiva, emocionada, a injustiça que vicejava na outra ponta era gelada, calculista, má, perseguia seus objetivos sem mover um músculo daquele rosto de madeira.

O monstro que assustava e martirizava aquela sociedade não foi criado ao acaso, é possível esculpirmos uma estátua de madeira com uma cabeça que fala com voz humana. Já passado o período dos trovadores e jograis da Idade Média, ainda estavam longe da telepatia, a comunicação mais avançada era eletrônica, e tudo começou com a comunicação a serviço e associada ao grande capital, este capital representativo dos bens comuns de que poucos Frios se apropriavam.

Os Frios constituídos de uma parcela dos humanos desde tempos imemoriais inimiga, oculta da imensa maioria, dos proletários, da escória descartável – na visão dos entes do mundo Frio - que os sustentava, mais os venais legisladores pagos a bom preço, na época com algo chamado papel colorido representando bens naturais.

Papel e legisladores não seriam suficientes para que os Frios atingissem os seus objetivos. Veio o conluio com os julgadores, estes dariam ares de legalidade à prática do terrorismo oficial, ao que os homens Quentes, até então contemplativos, pasmos cairiam de joelhos em reverências.

Reconsideraram: nos tempos em que viviam ainda era pouco para um golpe tão ousado. Refletiram: o que falta para tomarmos o mísero poder que restava aos Quentes pela força disfarçada de salvação?

Não precisaram pensar muito, a história daquela sociedade era pródiga de exemplos, vislumbraram o passado e lá estava: faltava a sensação de grandeza pelo herói e o ódio popular das massas aos chefes de sua própria escolha, estes deveriam tornar-se os culpados por todas as mazelas, com a milenar lavagem cerebral promovida pelos culpados: o combate à corrupção. Corrupção um desvio de conduta inerente aos Frios.

Não ria, Mary, era essa a atmosfera reinante, naqueles tempos os humanos tinham o cérebro muito pouco desenvolvido. Mais tarde falaremos de um povo intermediário, nem Quente nem Frio. Prosseguindo.

Primeiro o ódio, para que a cegueira da massa não se desse conta de que desvios se puniriam com as leis que possuíam, não rasgando leis.

Como difundir o ódio? Ora, a propaganda, que consistia no convencimento dos intelectualmente inferiores, pela mentira ou meia-verdade, inicialmente controlada nos grandes meios de comunicação, não poderiam ir ao ataque atabalhoadamente pelo risco de um revés, então nos grandes meios veio a exaltação do que e de quem interessava e a omissão do que e de quem não interessava aos seus fins.

Logo avançando, subindo o tom aos poucos, para a destruição do inimigo com velhas táticas, escolher e combater um inimigo de cada vez, culpá-lo de todos os males, o exagero ao transformar um delito em mil delitos, impingir a insegurança na comunidade, o bombardeio de notícias más de modo que o receptor não tenha tempo de assimilá-las, silêncio absoluto sobre eventuais boas ações do inimigo, essas e outras bobagens, e, principalmente, a disseminação de boatos inverossímeis, horríveis, com tal insistência que ficassem plantados no imaginário dos humanos mais simples com suas místicas imagens e talismãs.

Organizaram-se inúmeros contingentes secretos para atacarem pela rede mundial de computadores, o meio mais ágil naquele estágio da antiguidade, com calúnias absurdas, repetidas incansavelmente. Os inimigos passaram a ser donos de grandes extensões de terras, de grandes conglomerados de sangue e carne de animais, de instituições financeiras, de tudo o que na verdade pertencia aos Frios, que nas suas vis esperanças não percebiam que outro Sol se aproximava.

(...) 
.  


No hay comentarios.:

Publicar un comentario