"Foi,
portanto, sentenciado como um herege contumaz, e entregue ao braço secular para
ser castigado"
I –
Arquitas
Cara
Mary, falemos de magia artificial real na produção de efeitos reais. Sabes que
há séculos em Nuremberg uma águia e uma mosca foram feitas do mesmo modo. No
cosmos hierarquias e esferas, virtudes estelares, hoje sabemos, são pura
ilusão. Vênus é uma velha sem serventia.
Se
naqueles idos tempos a justiça em geral era ou deveria ser normal, podendo
eventualmente ser alegre, expansiva, emocionada, a injustiça que vicejava na
outra ponta era gelada, calculista, má, perseguia seus objetivos sem mover um
músculo daquele rosto de madeira.
O
monstro que assustava e martirizava aquela sociedade não foi criado ao acaso, é
possível esculpirmos uma estátua de madeira com uma cabeça que fala com voz
humana. Já passado o período dos trovadores e jograis da Idade Média, ainda
estavam longe da telepatia, a comunicação mais avançada era eletrônica, e tudo
começou com a comunicação a serviço e associada ao grande capital, este capital
representativo dos bens comuns de que poucos Frios se apropriavam.
Os
Frios constituídos de uma parcela dos humanos desde tempos imemoriais inimiga,
oculta da imensa maioria, dos proletários, da escória descartável – na visão
dos entes do mundo Frio - que os sustentava, mais os venais legisladores pagos
a bom preço, na época com algo chamado papel colorido representando bens
naturais.
Papel
e legisladores não seriam suficientes para que os Frios atingissem os seus objetivos.
Veio o conluio com os julgadores, estes dariam ares de legalidade à prática do
terrorismo oficial, ao que os homens Quentes, até então contemplativos, pasmos
cairiam de joelhos em reverências.
Reconsideraram:
nos tempos em que viviam ainda era pouco para um golpe tão ousado. Refletiram:
o que falta para tomarmos o mísero poder que restava aos Quentes pela força
disfarçada de salvação?
Não
precisaram pensar muito, a história daquela sociedade era pródiga de exemplos,
vislumbraram o passado e lá estava: faltava a sensação de grandeza pelo herói e
o ódio popular das massas aos chefes de sua própria escolha, estes deveriam
tornar-se os culpados por todas as mazelas, com a milenar lavagem cerebral
promovida pelos culpados: o combate à corrupção. Corrupção um desvio de conduta
inerente aos Frios.
Não
ria, Mary, era essa a atmosfera reinante, naqueles tempos os humanos tinham o
cérebro muito pouco desenvolvido. Mais tarde falaremos de um povo
intermediário, nem Quente nem Frio. Prosseguindo.
Primeiro
o ódio, para que a cegueira da massa não se desse conta de que desvios se
puniriam com as leis que possuíam, não rasgando leis.
Como
difundir o ódio? Ora, a propaganda, que consistia no convencimento dos
intelectualmente inferiores, pela mentira ou meia-verdade, inicialmente
controlada nos grandes meios de comunicação, não poderiam ir ao ataque
atabalhoadamente pelo risco de um revés, então nos grandes meios veio a
exaltação do que e de quem interessava e a omissão do que e de quem não
interessava aos seus fins.
Logo
avançando, subindo o tom aos poucos, para a destruição do inimigo com velhas
táticas, escolher e combater um inimigo de cada vez, culpá-lo de todos os
males, o exagero ao transformar um delito em mil delitos, impingir a
insegurança na comunidade, o bombardeio de notícias más de modo que o receptor
não tenha tempo de assimilá-las, silêncio absoluto sobre eventuais boas ações
do inimigo, essas e outras bobagens, e, principalmente, a disseminação de
boatos inverossímeis, horríveis, com tal insistência que ficassem plantados no
imaginário dos humanos mais simples com suas místicas imagens e talismãs.
Organizaram-se
inúmeros contingentes secretos para atacarem pela rede mundial de computadores,
o meio mais ágil naquele estágio da antiguidade, com calúnias absurdas,
repetidas incansavelmente. Os inimigos passaram a ser donos de grandes
extensões de terras, de grandes conglomerados de sangue e carne de animais, de
instituições financeiras, de tudo o que na verdade pertencia aos Frios, que nas
suas vis esperanças não percebiam que outro Sol se aproximava.
(...)
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