sábado, 16 de abril de 2022

ALELUIA!

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ALELUIA até onde sei significa alegria, exaltação ao Deus através de cânticos e outras manifestações populares, um dia após os bozaicos das catacumbas terem feito o que fizeram com Jesus. A julgar por 2018, segundo o TSE, 55% dos brasileiros aptos a votar são bozaicos, alma ruim.

Até hoje não sei a razão, mas pelo menos no RS era o dia de surrar a meninada arteira, vara de marmelo nas pernas. Claro que os velhos batiam de leve, para não machucar. A gurizada não conhecia a palavra, mas era terrorismo. Engraçado que das meninas, que viviam aprontando, eles livravam a cara.
A gente ficava quietinho o dia inteiro, a qualquer momento viria o castigo: este teimou com os mais velhos, e lá vai vara. Este brigou na escola, este no mês passado estava bolinando a guriazinha do vizinho, este deu fim num livro da biblioteca pública, ete foi pego com a revista Taradas na mão, e por aí vai, muitos pecadilhos.
Estou de olho nos pecadões dos zumbis da Bozália, eles que se cuidem comigo. No mais, nada de assustar a meninada, isso não se faz, tadinhos que estão começando a vida. Ontem à noite aterrorizei as religiosas do Convento das Freiras Libertinas, avisando que amanhã vai dar samba de Aleluia. Estão até agora trancadas em suas celas, não saem de jeito nenhum, sabem que não bato muito bem.
Fiquem todos bem em casa, nada de tirar a aleluia das crianças, quem crê abra os braços aos céus e grite Aleluia! Peguem algum bozaico das cercanias e encham de porrada.
Aleluia!

domingo, 13 de marzo de 2022

A SUTILEZA DO MENINO DE LONGOS CABELOS

(Crônica dominical, hoje familiar)


No 11 de março o Fran fez 9 anos. Passei a tarde lá, não o via desde o início da pandemia, nesses dois anos e picos só falamos horas por telefone. Na sala ele, os pais, minha irmã carioca que veio para a efeméride e eu. A mana o presenteou com uns jogos de montar, complicados, e eu com um livro de cultura geral super colorido, na dureza em que ando mesmo se quisesse mais não poderia.
Num lado os pais dele conversavam com a minha irmã Maria de Lourdes, no outro o Fran e eu de papo, aqueles papos reservados de amigos de longa data, que quando a gente reencontra conta tudo, bebe (no caso não) e desabafa. De repente ele saiu-se com esta, exclamou:
- Vô Antônio, na minha aula todos tem celular, menos eu!
Amigos, foi difícil resistir à vontade de rir da reclamação implícita, pois do outro lado todos ouviram e silenciaram. O Lucius e a Carolina, os pais, só se olharam. Rapidamente ponderei que a gente vai à aula para estudar, e num átimo virei o assunto, perguntando o que estavam ensinando nas matérias da escola, em português, matemática, etc., e logo passei para o xadrez desta vida, a falar da Defesa Siciliana, 1. e4, c5, ou 1. P4R, P4BD em espanhol, c5 ou P4BD para ele que gosta de jogar com as peças negras, a famosa e complicada Defesa de quem está por baixo já na abertura, pela vantagem teórica das brancas. Vantagem téorica é eufemismo, meu fiinho, pois as brancas vencem na esmagadora maioria das vezes, tem a iniciativa.
Prometi-lhe dois livros de autores russos sobre a Siciliana, um em espanhol e outro em italiano (no Brazil colônia dos EUA a gente não encontra no original, em russês), livros velhos que tenho em casa, que também o ajudarão a ser bom de línguas, pois vai que ele um belo dia se encaixe com alguma castelhana, russa ou siciliana, blanca o negra.