martes, 22 de diciembre de 2020

EU TE AMO

 


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Derramei oceanos de lágrimas, ensopei as raízes da árvore da praça, os travesseiros de muquifos de cabarés em noites de solidão que nunca terminavam, mas nunca disse "Eu te amo" para mulher alguma. Disse depois para as crianças, para as mulheres não. Não entenderiam.
O Eu te amo naquele sentido de sou só teu porque confio em ti. Não sou homem de uma mulher só nem leviano mentiroso, tinha ciência da grandeza das três palavras, era algo de responsabilidade de vida e morte, sem volta, então fugi, não disse, não poderia assumir tamanho compromisso num crescimento duvidoso com pessoas duvidosas, ruins até, a minha vida duvidosa, estarei vivo amanhã?
Recentemente disse duas vezes, para duas mulheres que amo, certo de que não menti, certo de que fiz certo. Acho que cresci ao tempo em que estrelas nasceram.

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viernes, 4 de diciembre de 2020

INGRATIDÃO

 .(Fragmento de "Os Perturbados de Porto Alegre")

Enquanto tu brincava de bonecas da Xuxa, aquelas porcarias de plástico como ela, que me custaram os olhos da cara; enquanto tu ouvia americanos do norte, moleca, eu feito cão sem lar chupava sexos ensopados de mulheres, para te sustentar em escolas de piranhas rosários e montessoris, caríssimas, de olho neles, e levava frutas, arroz, feijão, massa e carne, tudo do bom e do melhor. O melhor que podia, abrindo mão de mim.

Lembra do dentista que arrumou os teus dentinhos saltados, coelhinha? Quase o matei. Mas correu tudo bem, não é? Quem perdeu a vida fui eu. Matei-me por ti, e nem sonhe que lidar com puta é fácil, são pessoas, almas, muitas raivosas, em geral psicologicamente abaladas como a maioria das pessoas.

Quando tu ficou mocinha eu já tinha chamado um governador de covarde. A ele e a sua tropa, gritando "Venham, filhos da puta, se forem bem homens". Agora, que tu é mulherzinha, querida filha, nem sonha com o que fiz depois, coisas que jamais saberá.

Perdôo tudo, menos ingratidão. 


(Ilustração da rede mundial)