martes, 25 de diciembre de 2018

CHUVAS DE VERÃO


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No Covil II eu morava sozinho, ainda que o apartamento estivesse sempre cheio de mulheres, iam para lá de ninhada, andavam em trajes menores ou nuas pelo ambiente, aquilo eu gostava de ver, não tem nada melhor que ver mulheres despreocupadas, sentindo-se bem, falando em escolher música, fofocando as novidades entre elas, vez em quando de frescuras ou contando histórias picantes. Um dia uma delas, remexendo nos meus discos, botou o Caetano. Eu estava na cozinha abrindo uma cerveja quando a voz dele inundou a moradia:

Podemos ser amigos simplesmente / Coisas do amor nunca mais / Amores do passado, no presente / Repetem velhos temas tão banais / Ressentimentos passam com o vento / São coisas de momento / São chuvas de verão...

Conhecia a letra de cor, assoviava a canção andando pelas ruas nas noites de Porto Alegre, mas só nesse dia descobri, dei-me conta, de que eu era vingativo, pois discordei do autor, o seu Fernando Lobo, pai do Edu Lobo, quando disse que ressentimentos passam com o vento, quis dizer o tempo, em mim não passava. Jamais passaria. Ninguém me faz aquilo e sai impune.

Jurei matar aquela mulher, sabendo que não o faria. Nunca me convidou para ir na sua casa. Talvez por pressão da sua mãe, que queria um bom partido para a filhinha, não um pobre coitado que tinha morado na rua e em cabaré, mas acho que não era a mãe, era ela a leviana, ela que queria aqueles bobalhões brutos e mimados que mal conheciam mulher. Caetano prosseguiu:

Trazer uma aflição dentro do peito / É dar vida a um defeito / Que se extingue com a razão / Estranha no meu peito / Estranha na minha alma ; Agora eu tenho calma / Não te desejo mais...

Mentira, eu a desejava ainda, por amor e de teimoso. Vingativo e teimoso. Queria que morresse e ao mesmo tempo que me amasse.

Podemos ser amigos simplesmente / Amigos, simplesmente / E nada mais.

Jamais seríamos amigos apenas, eu queria tudo dela, a vida dela. A moça não sabia o perigo que corria, lá bem feliz dando para os outros. 

Coloquei de volta a tampinha na cerveja, guardei na geladeira e me servi de um copão de uísque, fui pra sala e disse para as mulheres: quem ainda está de roupa, tire, vamos recomeçar a festa.

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lunes, 24 de diciembre de 2018

Feliz Natal com as mulheres


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Imagem relacionada- Me dá a chave do carro aqui, Helena de Santiago. - Sempre digo o nome e a cidade de onde elas vieram, para não esquecerem onde se deram mal, foram abusadas por riquinhos, e eu as salvei, acolhi com amor, hoje tem casa pra morar e dinheiro no banco.

- Está aqui, é tua, vai sair, Bruno?

- Não, a chave é para comer, o que tu acha?

- Peraí, Bruno, tu está desde manhã rançando com todo mundo, quase jogou a Aline de Ibirité pela sacada, o que está havendo, tu precisa contar pra gente, somos tuas mulheres. - Disse Mariana de Rosário do Sul, minha índia da Serra do Caverá, que amo de amor.

- Eu não tenho que contar nada pra vocês, não devo satisfação pra ninguém, vocês são putas e eu que mando aqui, está pensando o quê, Caverenta?

- Pelo amor de Deus, não brigue, a gente só está preocupada contigo. - Disse Luciana de Viamão caindo de joelhos.

- Tá bom, desculpe, Mariana de Rosário, todas me desculpem, só me irritei com uns troços que não é da conta de vocês, está tudo bem.

A Mariana de Rosário é incorrigível, me faz de gato e sapato, voltou à carga:

- Mas onde tu vai, e pra que sair armado?

- Sempre saio armado, esqueceu, querida? Quando foi para livrar a tua cara tu achou bom. Só vou ali levar uns caras e já volto, não demoro.

E saí, na escada já pisando feito gato...

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Demorei cinco horas, mas levei os quatro para o inferno, dois tiros em cada um, para pegar o último tive que recarregar. Esses fascistas não incomodam mais. Cheguei em casa sorridente, elas respiraram aliviadas. Sem saber elas perderam três clientes violentos que as ameaçaram, machucaram, no cabaré onde trabalham.

- Vão tirando os trapos, mulheres, abram cervejas, vamos comemorar, correu tudo bem, amo vocês, queridas, teremos um Natal Feliz!

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domingo, 23 de diciembre de 2018

COLEGAS SE ENTENDEM

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- Alô, quero falar com o dono.
- Não é possível agora, senhor.
- Como não é possível? Ele morreu?
- Não, é que nesta madrugada a nossa empresa foi assaltada e tá uma confusão.
- Nossa empresa? Tu também é dona?
- Não, sou telefonista, só trabalho aqui.
- Entendi, escrava. Aqui é o chefe dos assaltantes, me passe a porra do dono.
- Sim senhor.
- Alô, é o dono dessa fábrica de merda? Aqui é o Castilhos, chefe dos caras que te assaltaram o cofre.
- Pois não, seu Castilhos...
- Seguinte, malandro: peguei trezentos mil reais gelol, mais uns cinquenta mil dólares, mas vieram umas coisinhas do cofre que não me interessam.
- Sim, notei a falta...
- Te devolvo os documas e gravações se tu tirar os ratos da minha cola, ou tu vai pra cadeia, li tudo aquilo, ouvi, assisti... Eu pego cinco anos, tu trinta. E em dois dias tu morre na penitenciária, sabe como é, os caras lá são meus.
- Concordo com o senhor, Sr. Castilhos, um gesto muito elegante de sua parte me telefonar.
- Feito, vou fazer cópia de tudo e te devolvo os originais, em troca de uma modesta quantia mensal, não demora outro cara vai fazer contato.
- Muito obrigado, Sr. Castilhos.
- Para de me chamar de senhor, bundão. Ah, tem outra coisa, gostei de um fogão industrial aí na tua fábrica, mas não tinha como roubar, muito grande, pesado, só fui pegar o cofre, tu me entende, né?
- Claro que compreendo.
- Tu me dá um de presente?
- Com muito prazer lhe darei, Sr., ahn, amigo Castilhos.
- Tá, alguém vai passar aí pegar na semana que vem, deixe pronto, ou mando dizer o local de entrega, tu manda entregar. Ah, e diga aos ratos que o assalto foi coisa do mbl. Abraço.
- Abração.
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miércoles, 5 de diciembre de 2018

ABOLERADO NO INPS DE KOYZOS

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Tenho 66 anos. Há um ano poderia ter requerido aposentadoria por idade, mas, como sempre odiei o sistema estatal, passei em concursos e não assumi, só fiz pra testar, montes de ladrões e covardes nas situações que vi, essa raça conheço dos puteiros, não fui pedir.

Aí fiquei duro, vivendo, comprando cigarro e comendo pelo desprendimento de duas almas boas que me emprestaram algum, homem não seria, esses amigos cagados, deixa pra lá. Eu precisava de tempo, ainda preciso, para terminar alguns livros.

As mulheres, queridas e mais práticas do que eu, me encheram a cabeça: vai lá e peça a maldita aposentadoria por idade. Por idade porque trabalhei muito tempo sem carteira assinada, tenho só uns 25 anos de contribuições. Disseram que eles levam em conta o quanto o cara ganhava, e no meu último emprego por dentro era mais de 50 mil por mês. A Dora ganhava uns 80 no Estadão, mas tinha que apanhar do ministro, porrada e mijo na cara; eu, não, negos, comigo eles saiam num cortado para não morrerem, filhos da puta. 

Esta mania de ir mudando de assunto ainda vai dar morte. Continuando: de repente vão te pagar mais do que um salário mínimo, disseram elas.

Hoje obedeci as mulheres, elas diziam que eu iria buscar o meu, não é favor nenhum, vai lá. Fui no INPS, sei que aquela merda é INSS mas gosto de dizer INPS devido a letra de um bolero do poeta Aldir Blanc.

Avenida Bento Gonçalves, 867.  O expediente é só até às 13 horas. Na portaria dois guardas, A porta central fechada. Uma volta imensa com subida para entrar por trás, para mim fácil, para os aleijados uma penúria. Fui lá. Tirar a chave do bolso para passar na porta eletrônica, cinco guardas espalhados por ali.

Perguntei ao guarda da entrada onde é o setor de Informações. Ele indicou com o nariz  aquela imensa fila, que ia daqui até o Japão. Insisti, só o de Informações. Tudo é ali, ele respondeu de má vontade, como se me fizesse um favor.

Andei, andei, e entrei no fim da fila. Fiquei meia hora na fila, que não andava, e emputeci pelo que vi, estarrecido custei a crer. Gritei: Está faltando homem nesta merda aqui! Essa senhora ali requer atendimento especial, não numa fila fodida como esta. Muitas vozes se elevaram em apoio. Palavrões e palavrões, uma nega que se disse avó disse cada um... filhos da puta era elogio.

Eu estava vendo: velhas, velhos, amparados em muletas, umas de pau mesmo, outras dessas modernas, metálicas de encaixar nos braços. Mal se equilibrando uma senhora gritou: estou aqui há uma hora e meia, moço! Para me chamar de moço imaginem a idade dela. Outros saltaram: eu vim buscar o resultado da perícia, outra dizendo que desde março não liberam a sua aposentaria. O cara da minha frente mostrou os braços, roxos por dentro, derrame de veias horrível, também indo perguntar sobre a perícia, este me contou, e a todos, umas coisinhas sobre a Polícia Federal, a ala podre, o velho DOPS, se o coitado reclama, eles chamam os torturadores.

Oito guardas fardados, e somente dois funcionários para atender todo mundo. Falta diretor naquele cabaré, falta homem, falta-lhes vergonha na cara. Pensei nas malas do Geddel, do Aécio, enquanto covardes, levianos, falam mal do Lula, preso político.

Qualquer moleque sem estudo saberia que tem que botar um funcionário humilde, vai ganhar pouco, numa mesinha para Informações. Outro no setor de Perícias, outro no setor de Acompanhamento de velhuras, outros no de buceta, outros na puta que os pariu, mas aquilo que estão fazendo com todos, inclusive e principalmente com pessoas com deficiência, não parece apenas incompetência: parece maldade.

Dei um discurso para eles e caí fora. Os dois pobres funcionários, eu vi que faziam o que podiam, devem chegar em casa aos pedaços ao final do expediente. Eu perguntei quem era o diretor do cabaré. O guarda me olhou feio, devolvi um olhar mais feio ainda, o otário que tente pra ver o futuro de sete palmos.

Amanhã voltarei lá, armado e com vinte negos me cuidando as costas. Filhos da puta. O ministro dessa nojeira mal administrada tem nome, mora onde, é de que partido? Logo saberei.

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lunes, 19 de noviembre de 2018

LULA VAI SAIR NUM CAIXÃO

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Há inimigos, eles nos tiram para inimigos, uns cães raivosos cegos pela lavagem cerebral dos palacetes, como os partidários do monstrengo Bolsonaro, pobres homens manipulados em seus defeitos, há feras perigosas como congressistas, e há adversários políticos de bom convívio, tanto em nossas vidas como no parlamento, como deve ser. 

Política, ex-Maquiavel, é a arte ou ciência do progresso pelo confronto de ideias, os contendores melhoram uns aos outros e à sociedade nesse confronto. A oposição fiscaliza a situação, etc. Lula é o maior exemplo: político por excelência, emérito negociador, jamais incentivou a violência, ao contrário, desgostou a muitos dos seus companheiros por, sem deixar de ser firme, ser o Lulinha Paz e Amor antes e depois de chegar ao poder, em momentos em que eu mesmo achei que deveria engrossar um pouco. Lula ganhou o respeito e a admiração de toda a Terra.

Marcelo Reis Garcia, assessor do DEM e do PSDB, é meu adversário político e tem o meu respeito, quem sabe até poderíamos ser amigos. Assistente social e especialista em políticas sociais, prestou serviços em gestões de Antônio Anastasia (PSDB) e César Maia (DEM), é Conselheiro de Rodrigo Maia na Câmara. 

Marcelo vem de se somar aos que, sem nuvem de ódio lhe atrapalhando a visão - é um homem culto, ao seu modo humanista como se verá mais adiante -, abstraídas ideologias, enxergam que a prisão do ex-presidente é injusta e resultado de um julgamento sem provas. Manifestou-se em sua página no Facebook depois do interrogatório a que o ex-presidente foi submetido pela juíza substituta e amiga de Sérgio Moro, sim, é preciso que se diga, amiga e seguidora do inquisidor Sérgio Moro, futuro ministro do cachorro louco fascista, a Sra. Gabriela Hardt.

Acompanhem o texto:

O ex-presidente está preso há 7 meses. Preso sem provas concretas. Os delatores estão soltos e morando em suas mansões. Só votei em Lula uma única vez na vida (segundo turno de 1989). Mas separei quase 3 horas do meu dia e assisti ao depoimento de Lula para a nova Juíza do caso Lava Jato.

Em nenhum momento foi apresentada uma única prova de que o sítio de Atibaia era dele. Muito ao contrário, as provas mostravam que não era dele.

Eu repito: Assisti atentamente.

Não foi apresentada uma única prova. Nenhuma prova de que o sítio fosse dele. Ele frequentava o Sítio como eu já frequentei a casa de vários amigos. Ontem (quinta-feira) tive muito respeito por Lula: Ex-presidente da República que deixou o governo com 90% de aprovação, que teve um câncer 1 ano depois, 73 anos, viúvo há quase dois, preso há 7 meses sem uma única prova concreta do triplex do Guarujá e ele buscando por vida e justiça.

Poderia ter saído do país e estar exilado, mas foi se entregar na Polícia Federal do Paraná e cumpre uma pena de 10 anos sem que uma única prova seja real. Enquanto isso Temer é Presidente da República e Padilha e Moreira são ministros.

Podem me vaiar, bloquear ou me expor ao inferno, mas Lula é sim um Preso Político. O PT cometeu erros enormes, mas os demais partidos também, mas o troféu que queriam era Lula. Fiquei triste em ver o que a Justiça pode fazer com um brasileiro.

A Justiça pode matar, prender e calar uma voz.

Lula está preso e em silêncio. Está velho e frágil, mas manteve em todo depoimento argumentos sólidos sobre sua situação e sabe que o tempo será cruel com ele. Ontem, no final do depoimento, chorei pelo Brasil e vi que, quando a classe média e a elite minoritária desse país se sentem ameaçadas, elas usam da legalidade para reverter o jogo e voltar ao poder.

Tenho 49 anos e ontem tive a sensação de que veremos Lula sair no caixão da prisão e aí a história será de fato contada e compreendida. Aí virão monumentos, homenagens e tudo mais.

Lula quer a Vida dele de volta. Lula não quer ser um herói morto. Quer ser um Político vivo e com voz. Tenho quase certeza de que não vai conseguir. A Justiça ontem mostrou pra mim que esse país mata com a lei na mão e que a lei é uma interpretação.

No caso de Lula, uma interpretação de pena de morte.

Lula vai morrer na cadeia.

E o que mais me assusta é que é justamente isso que a minoria que comanda a desigualdade no Brasil quer.
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miércoles, 14 de noviembre de 2018

JAMAIS OS PERDOAREI

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CANALHAS os meus ex-amigos e todos os das minhas relações que de sã consciência, não o povinho simples arrastado pelas globos da vida, essa imprensa suja, podre, desde sempre golpista a serviço da meia dúzia de pessoas que são donas do Brasil, os de sã consciência mesmo, visto que supostamente instruídos, se dizem instruídos, que por ódio de classe, por um probleminha pessoal com algum vereadorzinho do interior, por algum minúsculo interesse ferido, para puxar o saco do patrão, por qualquer futilidade, ajudaram a construir essa descomunal farsa da prisão do Lula.

E festejaram entre si com perversa alegria, esbravejaram contra o leal oponente cuspindo um rancor imotivado. Se não for por alguma das medíocres razões que arrolei acima, então por quê? Lula tentou melhorar a vida de todos os brasileiros. Em governos sempre há erros, vivo dizendo, poucos criticaram tanto os governos Lula como eu, mas as diretrizes do governo, atos de governo, até pessoas que a meu ver não deveriam estar lá, jamais quis matar alguém, nem Collor, nem FHC e muito menos o Lula, pelo amor de Deus, durei um ano filiado, há vinte anos, e quando me desgostei muito pedi desfiliação e fui para casa. Os celerados são muitos dos bolsonaristas, zumbis que a globo despertou para derrubar a Dilma e depois não soube ou não quis enterrar novamente. Ora, numa prefeitura de cidade pequena de repente aparece um ladrão, imagine governar o país inteiro, continental como o nosso. Se sonhassem o quanto foi roubado na ditadura, no governo Collor, no FHC, teriam um ataque. Só no caso Banestado foram alguns bilhões no governo FHC, o Moro sabe, esteve nesse bolo, ele também deve saber a razão por que os grandes criminosos saíram de lombo liso. Então não se trata de corrupção, uma bobagem, a sociedade tem que melhorar, se organizar, pois não se acaba com a secular roubalheira de um dia para o outro, isso é conversa para derrubar governo, sempre foi assim, aqui e lá fora, técnica antiga demais.

Vocês ajudaram no crime para tirar o Lula das eleições que ganharia com um pé nas costas. Foram contra as gritantes evidências de um processo cheio de máculas, ora merreca por convicção, "não tenho prova mas vai preso igual"? E bota não ter prova nisso, Um escândalo. Foram contra a opinião de grandes brasileiros, contra Celso Amorim, contra o Frei Betto, contra a opinião dos maiores juristas do mundo, contra o presidente francês François Hollande, contra o presidente espanhol José Luiz Rodríguez Zapatero, contra o equatoriano Rafael Correa, contra o belga Elio Di Rupo, contra o italiano Romano Prodi, contra a chilena Michelle Bachelet, contra a Cristina Kirchner, contra Roberto Gualtieri do Parlamento Europeu, contra Bernie Sanders, contra os maiores humanistas do mundo, contra o Michael Moore, contra Eduardo Suplicy, contra a monja budista Coen Rōshi, contra o frei Sérgio Gorgen, contra Sharan Burrow, contra os grandes ativistas pela justiça no mundo, contra o monge Ademar Kyotoshi Sato, contra o Danny Glover, contra o bispo Naudal Alves Gomes, contra os nossos grandes artistas, contra Chico Buarque, contra Martinho da Vila, contra Lucélia Santos, contra Herson Capri, contra Chico César, contra as maiores personalidades do mundo, contra Pepe Mujica, contra o esloveno Slavoj Žižek, contra Massimo D’Alema, contra Cuauhtémoc Cárdenas, contra Adolfo Pérez Esquivel Nobel da Paz, contra o Papa, contra Deus seriam se Deus se metesse nas loucuras humanas.

Milhares se levantaram contra a injustiça, políticos, filósofos, pensadores e artistas de toda a Terra, se for citar todos os grandes advogados do Brasil e do mundo a lista vai daqui até a Lua. A maioria dos citados esteve em Curitiba, alguns conseguiram entrar no cárcere e falar com Lula, outros a juíza carcereira não permitiu, era “mordomia”, talvez equivalente ao auxílio-moradia do inventor de sentenças.

Voltaram-se contra mim, humilde amigo mas auditor de ponta no País, que sabe mais que muito palhaço que faz afirmações em jornais, cem mil vezes mais que esse ladrão Guedes do Bolsonaro, eu que na minha simplicidade nunca, jamais, lhes menti ou faltei com a palavra, nem com vocês nem com ninguém, eu que lhes garanti que era injustiça, eu que como tantos depois conheci o processo, o mesmo processo que o golpista TRF4 ainda não conhecia quando elaborou a sentença condenatória. Duvidaram da minha honestidade, da minha palavra.

E vocês? Ficam com aquele ser pequeno juiz sem provas, vulgar, arrogante de toguinha que serviu ao Golpe, tá bom. Mais quem, o Lobão, o Frota e a Janaína? Todos os grandes homens e mulheres do Brasil e do mundo estão errados e vocês estão certos?

Um homem como o Lula, referência em todo o planeta, se num pesadelo impossível tivesse que roubar, iria roubar uma reforminha, seus infelizes, acreditaram nisso? O condenaram sem provas por uma merreca, foi um gigantesco insulto, Moro condenou premeditadamente, e criminosos vazamentos, por essa reforminha em apartamento alheio, reforma que nem houve, depois de revirarem o mundo inteiro procurando alguma coisa, qualquer coisa, e não acharam nada, acharam quem não queriam achar. 

Tentaram pegá-lo até por um pedalinho de criança, fuxicaram no lixo da sua casa atrás de notas fiscais da mercearia onde comprava bóia. Moro foi sim, cobra mandada, até as pedras enxergam. E vocês felizes, contentes em ver o Lula ser arrancado de casa, um dos grandes homens do mundo sendo humilhado, a TV a postos, avisada antes por algum infame lá do tribunal  Por que essa raiva sem razão? A do Moro acho que sei, é gelada, prometeu e tinha que entregar a qualquer preço, mas e a de vocês? Está lá em cima a resposta, não é?

Vocês foram Collor, foram Aécio, foram todos os ladrões, sem dar um pio de arrependimento depois diante de roubalheira de bilhões, escancarando, esfregando na cara como foram errados, nunca reclamei, pensava estar numa democracia, tentando afirmá-la, aos poucos iríamos fortalecê-la. E tudo ia indo muito bem, a esquerda perdeu eleições, respeitou, uma a Globo roubou. Quando FHC perdeu para o Lula foi correto, foi lá e passou a faixa alegremente. Ia bem a coisa. 

Deu-se então que a Dilma empacou, descobriu que havia desvios numa estatal, há décadas, mais de cinco décadas, iria acabar com aquilo. Pronto, começou o filme de terror. Vocês ajudaram os bandidos a seguir roubando e escaparem da cadeia. Os donos de tudo fincaram uns patos amarelos no rabo de vocês, a globo martelou diariamente em lavagem cerebral e lá estavam, batendo panelinha sem saber por que, ainda não sabem que diabo era aquilo, que logo se viu armação, a presidente não era culpada de nada, foi absolvida de tudo, mas em Golpe com Supremo, com tudo, eles devolvem a cadeira? 

Derrubaram a presidente com propina aos congressistas e em seguida começou a entrega das riquezas, lá se foi o pré-sal, que o governo Dilma tinha destinado 75% dos royalties para educação e 25% para saúde, nos dez anos seguintes US$ 112 bilhões, isto é, 11,2 bilhões de dólares POR ANO para a educação e a saúde, estaríamos entrando no primeiro mundo, povo escolado, com saúde boa. Depois a ver, mas só o campo de Libra seguraria os 11 bilhões de dólares por ano durante 35 anos. Vocês vendo quietinhos os golpistas torrarem o nosso futuro, nem um pio. Quanto pensam que eles levarão ou já levaram “por fora”?

Não contentes, meus ex-amigos, vocês fizeram algo ainda pior. Agora, por ação ou omissão, foram pelo mais repulsivo fascismo, ao ponto de indignar a Alemanha e outros países que foram destruídos por essa semente do mal. Chocaram o ovo da serpente. Não por desconhecimento, todo mundo viu as ideias do Bolsonaro, tudo gravado, repelentes por qualquer ângulo que se olhe. Só por idolatrar o maior torturador da ditadura, dizer que é a favor da tortura, não precisava falar mais nada, vocês deveriam sentir náuseas. Se esse psicopata, que quer entregar para os EUA a maior riqueza da Terra, a nossa Amazônia, se ele faltar, teremos um maluco da velha ditadura assassina.

Alguns de vocês até recentemente estavam repassando nojeiras fakes de Kit-gay, mamadeira-pênis e outras monstruosidades flagrantemente inverídicas, sem checar, não precisavam checar, sabiam da falsidade do Goebbels atualizado, e gozando a desgraça alheia, pensando ser a desgraça de algumas pessoas enquanto era a desgraça do País, esquecendo que a desgraça não escolhe porta para bater. Os vândalos com suásticas tatuadas que estiveram a serviço do Bolsonaro na campanha não se preocupam com nada, mas nós nos preocupamos, não são eles as “pessoas de bem”. Os piores fakes foram disparados dos EUA, imaginem a conexão.

Que Deus os perdoe, eu jamais os perdoarei, era o Brasll que estava em jogo, vocês saíram pelo lado dos banqueiros e dessa elite sanguessuga, ladra, apátrida, essa "classe dominante ranzinza, azeda, medíocre, cobiçosa, que não deixa o país ir pra frente!" como disse Darcy Ribeiro. Saíram pela tortura, pelo tacão, pela escravidão, pelo ódio às minorias. Em jogo estava a derrocada ou não do Brasil, das riquezas do Brasil, do povo do Brasil, dos trabalhadores do Brasil, algo muito além, infinitamente superior, do que os seus mesquinhos sentimentos. 
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martes, 13 de noviembre de 2018

BAILE NO ELITE

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(Fragmento)


Sexta-feira à noite vi pela janela do décimo andar duas mulheres, gostosas pacas, percebi apesar da distância, dançando seminuas num apartamento, também décimo andar, no outro lado da rua enviesada. Noite fresca, linda, e as beldades sozinhas dançando num apê que parecia minúsculo. 

Eu com algum no bolso, não muito mas dava para três pessoas passar uma noite sem perigo. Mesmo sem conhecer as ruas de Copacabana, só algumas, refleti: não era na Paula Freitas, mais certo a Barata Ribeiro. Fiquei alucinado, não ia sair sozinho pela noite, procurando sarna.

Depois de muitos acenos pela janela - eu dava pulos agitando os dois braços - elas me viram. Com gestos emocionados, pelo menos os meus, combinamos de sair, tomar um chope, conversar um pouco, encontro marcado na portaria do prédio onde elas estavam, dez da noite. Tomei banho, me perfumei, a melhor roupa esporte, chapéu de malandro que tinha comprado dos ambulantes da orla, e desci. No caminho tomei dois martelinhos, pinga forte, no cearense da esquina, para firmar a mão.

Uns chopes na Atlântica, soube que elas estavam num apartamento de aluguel, mineiras, ficariam uma semana, não conheciam nada. Confiança estabelecida, virei cicerone, guia de turismo. Decidimos encarar o famoso baile, eu a fim das duas, ui. Lá fomos nós.

Voltei para onde estava hospedado às onze da noite de domingo, precisava trabalhar no dia seguinte. Florete de trago e achando tudo engraçado, feliz da vida. Havia me instalado no apê das belas, era mesmo minúsculo, e no tempo em que lá fiquei tínhamos nos enfiado por toda Copa, comprei calção e tomamos banho de mar, vimos show erótico, conhecemos lojas enrustidas, bailarinas, garçonetes, leões, sambistas, o mundo de verdade da Princesinha do Mar, não o da tevê.

O baile? Um dia conto. O samba do João Nogueira e Nei Lopes dá uma ideia, só que tive mais sorte. O melhor é que ficamos amigos do peito, os três certos de que nos veríamos de novo, pois no anoitecer de segunda-feira eu fecharia a conta no hotel.

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A LEI ROUANET E OS FAKES NEWS

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Aí está, num jornal conservador, golpista, uma apreciação bem razoável. Falar com fanáticos que opinam sobre o que não sabem é fogo, mas falei outro dia para uns bobalhões que acreditaram em fake news, este fake dizendo que os artistas eram contra o psicopata Koyzo porque levavam grana do PT - este é apenas um em centenas de fakes que bombardearam as redes sociais, grotescas calúnias de kit-gay, etc, até chupeta de pênis e outras monstruosidades que não resistiriam a um olhar, exame superficial, mas que acharam gente predisposta a crer pela lavagem cerebral que a Globo e outros promoveram com vistas ao Golpe que tirou a presidente eleita.

Não, os artistas, em sua esmagadora maioria, foram contra o desvairado porque são humanistas, não queriam enfrentamento, quiçá até sangue, de pobres contra pobres, perseguições a negros, índios, a entrega do Brasil, etc, enquanto os mandantes riem em palacetes. Quem inundou a rede de fake news? Dá para imaginar, não?

Expliquei que a Lei 8.313, de 23/12/1991 tem o objetivo de promover, estimular, as diversas manifestações culturais e artísticas, teatro, música, cinema, etc, e leva o epíteto Rouanet porque foi aprovada quando o Ministro da Cultura era o intelectual de esplêndida biografia Sérgio Paulo Rouanet, então não é "culpa do PT", foi aprovada no governo Collor, em 1991.

E nem o Collor, o Itamar e o FHC tem "culpa", é lei, ainda que proposta pelo Poder Executivo quem vota é o Congresso Nacional, menos ainda Collor teria motivos para vetá-la, à época foi um grande avanço para a cultura nacional, ainda é, o que pode necessitar são alguns ajustes, por eventuais falhas originais e para ser atualizada, tem 27 anos.

Falo de cadeira cativa, pois jamais levei um centavo, nunca apresentei projeto, por bobo talvez, poderia ter publicado mais livros.
https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2018/11/rouanet-sem-mitos.shtml?utm_source=facebook&utm_medium=social&utm_campaign=compfb&fbclid=IwAR0zgXtuMBJoZrJdMqQmHcpuKjV8RI0_qnYwhXmHqV-30zIhnEomowaY2m0

sábado, 13 de octubre de 2018

Cemitério de armas

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(Ficciones - Fragmento)

A proposta consistia apenas em torturar e matar negros, índios e homossexuais. Era pouco, então Herr Koyzo, numa noite de primavera em que seus devaneios provocados pela psicopatia chegaram ao paroxismo, teve um sonho grandioso, um plano que ordenaria o mundo. Saltou da cama com as ceroulas verdes caindo, aos berros de "Sou um gênio". Puxou as ceroulas, tinha vergonha do pênis pequenino, chegou à sala e deu andamento às fantasias.

Não haveria mais escolas, um custo altíssimo que seria evitado, aquele dinheiro seria usado em armas. As crianças arianas seriam alfabetizadas via internet. Os professores brancos ainda não seriam completamente extintos, pois por algum tempo, até que os robôs os substituíssem, alguns poucos lecionariam pela rede mundial. Nada de livros, cadernos e contato pessoal, este muito perigoso pelo homossexualismo. No início a transmissão será pela TV, tem uma pronta, não, agora duas, mas depois seriam banidas, pensou.

Milhões de lares sem acesso à rede mundial era um problema a ver depois, caso restasse algum após a limpeza racial. Ah, a limpeza, teria que ser rápida. O que fazer com a carne e o sangue dos eliminados, adubo? Não, que nojo, contaminariam a terra e logo as plantas. O mar? Não, contaminariam as águas e os peixes que comemos. O que fazer? Já sei, enviarei para o cosmos numa grande nave espacial! Exultou com a própria sabedoria, esfregando as mãos e rindo desbragadamente.

Os professores excedentes com suspeita de mestiçagem seriam enviados para cultivar as lavouras envenenadas da nação, até que houvesse a completa robotização. O mesmo com os auxiliares de escolas, todo o complexo estruturado seria desmanchado. Sendo assim, as escolas e os professores não mais existiriam, todos desde a infância até a idade adulta estudariam e se tornariam doutores sem sair de casa. Casas? As casas seriam construídas pelos escravos d'além perímetro, que seriam mantidos enquanto necessários.

O pensamento foi evoluindo, como seriam os doutores, os tribunais virtuais, as execuções... Como se formariam os carrascos? Haveria curso pela internet. Artistas? Seriam descartados, todos uns pervertidos E os cientistas, como se formariam? O seu cérebro prosseguia veloz, alegremente descobrindo métodos, fórmulas, paradigmas.

(segue)
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viernes, 5 de octubre de 2018

Boca de urna na Cidade Baixa

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Por Carlinhos Adeva

Com o moral que andam os institutos de pesquisas, bem, andam não, o povo talvez antes não soubesse, mas o que se diz é nunca tiveram moral, os chefões, não os escravos, atualmente se inventarem de perguntar pro cara em quem votou vai receber um "No teu cu", ou em algo envolvendo a mãe do elemento, ou, pior ainda, de sacanagem o cidadão diz que votou em A enquanto na verdade foi em B. Bem, como ia dizendo, com o moral que não tem os tais institutos, a turma do bar resolveu fazer por conta própria a pesquisa de boca de urna na Cidade Baixa.

Não há risco de serem insultados ou de apanharem dos entrevistados, esse perigo quem corre são os de sempre, pois dirão pertencer ao Contradata, e são rostos conhecidos no bairro, quem não conhece os famosos boêmios, lendas vivas, os moradores lembrarão do rei Bruno Contralouco, ficarão contentes em ser convidados para aparecer no boteco, uma grande distinção: valeu, amigo, nos vemos lá mais tarde e tal. Com as mulheres quererão tirar selfie, pedir o número do telefone e nome no facebook, quem sabe à noite dar uma escrutinada prévia, quiçá até botar o voto na urna, deixa pra lá. Não haverá nenhum problema.

Os pesquisadores tomando mate, claro, sem erva na cuia e com caipirinha na térmica, ou uísque, qualquer trago, até cerveja cai bem se fizer um dia quente. Seis endereços para cobrir: um na Rua da Olaria, dois na República, um na Venâncio, um na João Alfredo e mais um na José Honorato, no total 46 salas e 16.784 eleitores. Com 18 boêmios e/ou boêmias, 3 por endereço, será mole, nenhuma seção ficará fora da pesquisa, cem por cento. 

Para assegurar um resultado também cem por cento fidedigno o pessoal bolou uma técnica infalível: vão pedir a colinha das pessoas à saída das salas de votações. Não precisa dar o nome nem nada, só a colinha. Quando a tarde estiver morrendo, no encerramento dos trabalhos, já com a térmica vazia e de posse dos sacos de colinha, os exaustos pesquisadores, meio altos do chão, irão se encontrar no bar.

A apuração do resultado será como antigamente faziam os bicheiros da Vila Isabel, lá no Rio: vão juntar as mesas do bar, despejar tudo em cima e conferir os papeizinhos na frente de todo mundo, até de polícia se entrar. Lá pelas dez da noite teremos o Presidente, pelo menos pelos votos do famoso bairro boêmio de Porto Alegre.

Imagina-se que a soma de Haddad e Ciro beirará cem por cento, mas o Boulos poderá surpreender. É necessário uma movimentação forte nos últimos dias, com esperança, alegria, para compensar os fascistas do Parcão, dizem os boêmios entendidos. Entendidos em pesquisas e campanhas, bem entendido, não como aqueles que só entendem de armário.
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lunes, 1 de octubre de 2018

A MINHA VIDA EM KIEV

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Quando a Ucrânia estava naquela confusão de ter-se desligado de Moscou, o truculento candidato afirmou que as mulheres de direita eram mais bonitas e higiênicas que as de esquerda. O malandro sabia lhufas de mulher: uma astronômica bobagem. Percebi: vai perder a eleição, o reflexo será adverso, e só eu sei como ajudá-lo. Recordo aqueles tempos como se estivesse no presente. Eu estava precisando de dinheiro para me mandar.

Refleti: é caso psiquiátrico ou o mancebo não surfa nada. Se não bate bem – o que parece um mal de família, não poderei ajudá-lo, não é a minha praia e não sou como certas pessoas que dão opinião sobre temas que não dominam, mas talvez os médicos consigam. Escolherá uma médica de direita, obviamente, há quem diga que por ser de direita é submissa, obedece ao valentão, tem inclinações masoquistas, gosta de ganhar menos, apanhar e tal. Há controvérsias: e se por ser de direita seja chegada num sadismo, numa tortura? Se tem ídolo torturador já viu, né. Tive uma gringa de Odessa que apelidei de Torturona, o que gostava de apanhar sai da frente, um grandão do partido que se dizia de direita mas já era nazifascista a viciou e depois ela exigia: “Assim, na cara, bate mais, dá de mão fechada, tarado!”, volta e meia acabava no Pronto Socorro, e se não batesse ia para cima dos caras, aí ela é quem agredia: socos, unhas e dentes. Em contrapartida tive duas de origem romena que eram o contrário, gélidas, se vestiam de militares, adoração por massacrar o cara, só andava com masoquistas de direita, quando em transe tirava pedaços, estas acabaram internadas, se fingiram de loucas para evitar a prisão. Ele que se cuide, vai que ela morda na hora em que, bem, deixemos isto para mais adiante, quando e se chegarmos a falar de orifícios e elevações, depois da língua.

No entanto, se é o que o meu generoso coração está indicando, pois vi muitos de seus pares com problemas semelhantes, então o tadinho apenas não conhece mulher. Se as teve foi apenas umas cem na vida, no seu caso umas noventa em sonhos, de esquerda e centro-esquerda nem nestes, de extrema-esquerda, então, nem em pesadelo. É uma situação complicada se já passou dos trinta tendo comido só a namorada inexperiente e mais alguma bobona no carro do papai, mas posso lhe dar uns conselhos que o transformarão em outro homem, talvez até mande algumas mulheres dar-lhe algumas lições práticas. Não é fácil com filhinho de pápi e da mami, mas pode funcionar. Fui ao ponto com o exigente condutor das massas bonitas e higiênicas, talvez não muito espertas pelo que foi dito a respeito do indivíduo até aqui, mas, enfim, neste mundo nada é perfeito.

Prezado candidato, creio que posso te ajudar, se tiveres interesse em ouvir um humilde bolchevique. Advirto-o de que cobro caro, tovarich, mas dinheiro ao que me consta não te falta. Ao tempo em que peço que atenda o pedido que farei ao final, apresento algumas das minhas credenciais de paixão e amor, as de frieza e ódio não vem ao caso.

Até este momento transei com exatas 8.549 mulheres, deixa eu ver... agora 17h, até a meia-noite serão 8.554, um nada de mais 5, normalmente as desmancho em dois minutos e passo para outra, num dia dá para fazer 50 tranquilamente, mas não ando numa boa fase. Já em relacionamentos mais duradouros, vida em comum de alguns dias, meses ou anos, tive somente 3.843, pois até certo ponto evitei morar com muitas mulheres, nunca com mais de 60. Nestes casos de relacionamentos duradouros sempre com muito carinho, de igual para igual, em eventual confronto pegando as onças de lado ou voando, explico se fecharmos contrato.

Já tive mulheres de todas as cores, de várias idades, de muitos amores, do tipo atrevida, do tipo acanhada, do tipo vivida. Casada, viúva, carente, solteira, feliz, já tive donzela e muita, mas muita, meretriz. Mulheres sabidas, mulheres analfas, sensatas, desequilibradas, confusas, suicidas, amarguradas, violentas e pacatas. Certa vez um tal de Toninho fez um samba com esse tema lá no Brasil, aquele cara tem mundo. Um pouco, mas tem.

Morei em 105 cabarés, de primeira à vigésima categoria, de 85 fui dono. O primeiro foi de favor no desespero, até então eu morava numa praça, mas no segundo dia já mandei trocar a música: aqui Chitãozinho e Xororó nunca mais, e comecei a botar Nelson Gonçalves e Ângela Maria. Como vivo atualmente não vou te dizer, tu é muito nervosinho. 

Peguei muitas mulheres de extrema-esquerda, de esquerda, de direita e de extrema-direita, estas que ao que parece são do teu quintal, não foi mole, mas estraçalhei igual. E de centro, por cima, de lado, de ponta cabeça, de nada, de tudo um pouco. Tovarich, tu vai cair de costas se acertarmos o contrato de consultoria, e com certeza retificará as bobagens que disse. Vai marchar bonito comigo, grana alta, porém em compensação ganhará rios de votos das direitosas, sei que as pesquisas vão mal para o teu lado.

O meu preço é de 20% de todos os gastos de campanha da família, só do por dentro. Isso deve dar uns 10 milhões. Esse é o piso, por menos não faço. Se as mulheres da família estiverem a fim dou uma geral de brinde.

O pedido que tenho é o seguinte: defina detalhadamente "mulher de direita", “mulher bonita” e “mulher higiênica”.

Abraço.
Adolf Savchenko

(segue)
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lunes, 24 de septiembre de 2018

Trocando em quase miúdos

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Anteriormente Lula, num discurso histórico na ONU, havia enquadrado George Bush, o criminoso de muito má lembrança, pelo menos para o cargo de presidente dos EUA um ser inexpressivo com dificuldade de caminhar e mascar chicletes ao mesmo tempo, mas com a estrutura do país mais poderoso do planeta, pelas armas e gente bélica por trás, ao clamar enfaticamente, com palavras duras, pelo livre comércio e autodeterminação dos povos. 

O Brasil iria negociar com todos, com os EUA mas também com quem bem entendesse na Ásia, na África e na Europa, para o bem da nossa e de outras nações, reciprocidade. Implícito estava a ampliação de negócios com a China, o gigante asiático que faz tremer o Império diante da iminência da desdolarização da economia mundial. O rosto do belicoso indivíduo, de ódio mal contido, declarou que iria cobrar caro a "ousadia", mas naquele episódio nada poderia fazer contra o Brasil, o momento político e o conceito do governo brasileiro no cenário internacional inviabilizavam qualquer retaliação. Os EUA é um país falido, vive de saques, rapina.

Precisavam esperar o momento "certo", o Departamento de Estado iniciou o planejamento de ataque ao Brasil. Veio Obama. No seu discurso de abertura da 68ª Assémbleia Geral da ONU, em sua frente Dilma disse coisas como: "Jamais pode o direito à segurança dos cidadãos de um país ser garantido mediante a violação de direitos humanos fundamentais dos cidadãos de outro país. Não se sustentam argumentos de que a interceptação ilegal de informações e dados destina-se a proteger as nações contra o terrorismo”. O mundo sabia a que ela se referia, os EUA invadiam dados até dos próprios aliados europeus, algo que estarreceu o mundo.

Obama não era um Trump, não tentou retaliar violentamente. Os EUA podem não ter parado, nunca pararam, de espionar aliados - inimigos eles espionam e se necessário matam, mas havia diplomacia. Talvez Obama, junto com Carter, tenha sido o seu melhor presidente desde muitas décadas. Ou menos pior, como queiram.

Veio o Trump, o cachorro louco que muitos americanos conscientes pensam em destituir do cargo, e com ele a diplomacia dos mísseis e dos golpes, o terror sobre o Brasil e outras nações. No caso da América Latina minando por dentro, pois como disse, com calma, voz tranqüila, certa vez Tancredo diante de uma ameaça velada de invasão: "O Brasil não é o Vietnã, senhor embaixador", casualmente uma guerra que eles perderam, isto é: tentem, entrar é fácil, quero ver sair. Fidel diria de outro modo: "Invadir a Nicarágua é fácil, quero ver invadir o Brasil de Tancredo". Aliás, estão novamente ensaiando invasão da Nicarágua, por razões geopolíticas, além da Venezuela pelo petróleo.

Tancredo, aliás, que deve se mexer no túmulo ao ver o verme, vendilhão da Pátria, que um sobrinho seu se tornou, sabe-se lá se devido às drogas ou à índole, ou ambas. De fato, o estadista também calçou pé na ONU contra a invasão da Nicarágua e fechou base militar americana no Brasil, daí que tem gente que acha que aquela doença que trouxe dos EUA não foi por acaso. Bem... voltando ao Trump: o Golpe viria dos seus capachos nacionais, como haviam feito no Brasil no pré-64. E veio, todos lembramos da Globo martelando sem parar, e da FIESP e outros colocando desinformados nas ruas, os tristemente famosos patos amarelos.

O que virá agora depende destas eleições, que já fraudaram com a prisão de Lula, mas que ainda assim não tem certeza de que a fraude funcione. Por que a prisão do Lula e o amordaçamento automático? O sujeito fala em Lula e um bobo repetidor da Globo pensa no retirante que fala nóis, mal sonha que por trás de Lula sempre esteve a nata da intelectualidade brasileira, a parte boa, humanista, nacionalista que deseja um país livre, rico, jamais escravo de quem quer que seja. O Lula, escolhido a dedo em manifestações sindicais, foi moldado à imagem dos bons para conduzir as massas, para tirar da escuridão brasileiros semi-alfabetizados, algo impossível para os pensadores, a sua inteligência e humanidade ajudaram muito, claro, ele é quase um milagre. Os erros? Ah, os erros, são nada diante do conjunto. Absolutamente nada.

O idiota, absolutamente incapaz, Bolsonaro interessa aos americanos, afinal sabemos de onde veio o dinheiro para milhares de computadores, estratégias e mão de obra para fakes 24 horas por dia, campanha caríssima de um partidinho ridículo feito de trogloditas e rufiões, pois o monstrengo até já declarou o desejo de lhes entregar a Amazônia, sob a alegação de que não temos condições de mantê-la, algo inimaginável, mas fez, dirá tomem, é de vocês.

Aí teríamos outro país dentro do nosso, se quis dizer entregar toda então perderíamos 65% do nosso território, a Amazônia dos EUA seria maior que o Brasil. Casualmente é onde se situam as nossas maiores riquezas, que aliás vem sendo assaltadas desde o Golpe. Ora, uma loucura dessas não passa no Congresso, diria alguém de bom senso. Que Congresso, o mesmo que rasgou a Constituição? Com campanha maciça da Globo passa qualquer coisa.

Alguém sabe o que disse Temer na abertura da Assembleia deste ano?

(segue)
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miércoles, 12 de septiembre de 2018

Heróis não matam, General, eles morrem

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Por Henrique Mann

Mais uma vez o truculento e ignorante General Mourão despeja estupidez e ódio sobre os brasileiros. Em defesa de torturadores disse que “heróis matam”. Não. Quem mata são pessoas em legítima defesa, no estrito cumprimento do dever ou assassinos e bandidos, heróis jamais. A menos que o General esteja a falar do Rambo e dos maníacos de Hollywood.

Eu poderia citar vários heróis benfeitores da humanidade que não mataram ninguém, claro que Gandhi ou Cristo seria demasiado para alguém tão mundano quanto o General e os torturadores a quem ele se refere. Então vou citar apenas um outro militar, um seu colega de farda, seu superior, um Marechal.

Chamava-se Cândido Rondon. Seu lema era “morrer se preciso for, matar nunca”. Ele não era um covarde, nem torturava gente algemada, mulheres e crianças. Era um Marechal. Deve ter uma vergonha imensa de ver sua farda manchada por bandidos assassinos.

Definitivamente, heróis não matam e também não golpeiam o próprio povo com desculpas esfarrapadas de combater o “comunismo”. Tem um outro colega seu de farda, General, outro Marechal, homem honrado e de grande valor. Chamava-se Marechal Lott. Também deve envergonhar-se do que fizeram os senhores usando o nome das Forças Armadas. 


E quando mais não fossem Marechais, não esqueça, General, que um simples Alferes chamado Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, Patrono das Polícias Militares e Patrono Cívico do Brasil, forças a que o senhor serve, disse que se “mil vidas tivesse, mil vidas daria”, e ao que se saiba, não torturou nem assassinou ninguém. 

Os seus heróis não morreram de overdose (talvez... é possível), mas assassinaram gente inocente como Zuzu Angel, Vladimir Herzog ou Rubens Paiva. E o General sabe a origem da palavra “assassino”? Uma das versões mais aceitas é de que derivaria de “haxixe” ("haxixin”, fumador de haxixe) e estaria ligada à seita ismaelita em que os assassinos consumiam esta droga para perpetrarem seus crimes. 

É uma história controvertida, é verdade, mas combina bem com os heróis do General. Assassinos e bandidos como os que botaram as bombas no Rio Centro em 1981, como os que mataram covardemente Herzog e Zuzu.

Então, General, não desonre a farda das Forças Armadas Brasileiras. Este manto que já esteve sobre os ombros de homens honrados, heróis de verdade como Rondon e Lott, não merece a vergonha de um farsante como o seu candidato ou de assassino covarde como o seu “herói”.
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jueves, 23 de agosto de 2018

Vacina contra a maldade

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Agressão irresponsável do jornal O Globo ao programa de vacinação

Em seu afã de procurar culpados pelo atual surto de sarampo que afeta alguns estados, o jornal O Globo em seu editorial de 22 de agosto sob o título “ Ativismo e má gestão prejudicam vacinação no país”, ataca a credibilidade de um dos pilares da saúde pública brasileira, o Programa Nacional de Imunizações. Causa espécie neste momento em que o grupo Globo faz uma campanha contra fake news o jornal faça exatamente o contrário, produzindo de modo irresponsável uma grande Fake News que ofende os milhares de profissionais que ao longo de décadas construíram esse patrimônio da saúde brasileira.

Em seus 45 anos, o programa vem acumulando êxitos, reconhecimento nacional e internacional continuamente. Não se trata de obra de um governo, mas conquista histórica da população brasileira, cuja gestão tem sido de continuidade até os dias de hoje. Os autores do editorial desconhecem a complexidade de um programa dessa natureza, a multiplicidade de investimentos e de processos de trabalho envolvidos.

As vacinas e a vigilância em saúde pública permitiram a erradicação da varíola e a interrupção da transmissão da poliomielite. Há nove anos o País está livre de casos de rubéola e, há dois, teve reconhecida a eliminação do sarampo, que hoje volta a nos ameaçar.

O sucesso de um programa de vacinação pode ser medido pela população alcançada e pelas doenças prevenidas. Nessas duas dimensões, o período de maior crescimento do PNI foi justamente aquele em que Lula e Dilma estiveram na Presidência do Brasil, com incorporação de novas vacinas e ampliação das parcelas da população beneficiadas.

As vacinas oferecidas na rede de atenção básica, que eram 14, em 2002, passaram a 20, nas gestões Lula e Dilma. Foram incorporadas, entre outras, aquelas que protegem contra a meningite C, contra a diarreia causada pelo Rotavírus que evitou a morte de 1.800 crianças por ano no país, contra o pneumococos e a do papilomavírus, que previne o câncer de colo de útero, produzida pelo Instituto Butantan, do Governo do Estado de São Paulo, e sobre cujo processo de aquisição não paira qualquer tipo de suspeita. E em 2010 foi realizada a vacinação contra a gripe H1N1 com 88 milhões de pessoas protegidas.

No período, inúmeras iniciativas aprimoraram a capacidade de gestão do programa, como o Projeto Inovacina, iniciado em 2006, a implantação do monitoramento rápido de coberturas vacinais, do “vacinômetro” e do novo sistema de informações, que permitirá conhecer a situação vacinal das pessoas, e não somente o número de doses aplicadas, como sempre se fez.

Nesses governos, começou a construção da nova fábrica de vacinas de Bio-Manguinhos, inaugurada então na gestão Temer, e investiu-se, por meio de parcerias entre laboratórios privados e produtores públicos, na nacionalização de diversos produtos que eram importados, propiciando economia, desenvolvimento tecnológico e assegurando estabilidade no suprimento para o programa público nacional.

O programa, no entanto, passa por ameaças. Em situações como a inclusão da vacina contra do dengue no Estado do Paraná, estado do então Ministro da Saúde, em 2016, o governo agiu sem suficiente respaldo técnico e hoje tal vacina só é recomendada pela Organização Mundial de Saúde - OMS para quem já teve infecção por dengue. Os cortes orçamentários causados pela emenda constitucional 95 comprometem a sustentabilidade da atenção básica e o trabalho das equipes de saúde da família. Por mais que os sistemas de aquisição, suprimento e armazenamento de imunobiológicos funcionem bem, são os profissionais desses serviços que acompanham a situação vacinal das pessoas de suas áreas, convocam, visitam as casas e efetivamente administram as vacinas, trabalho que está prejudicado.

O Programa Nacional de Imunizações brasileiro é uma obra coletiva, que envolve milhares de serviços e profissionais das três esferas de governo, o apoio dos mais reconhecidos especialistas do país, presentes no Comitê Técnico Assessor, o reconhecimento das sociedades profissionais, dos Conselhos de Secretários Estaduais e Municipais de Saúde e da Organização Mundial de Saúde.

A política de vacinação é orgulho da saúde pública brasileira a ser preservada e aperfeiçoada e não merece ser atacada de modo leviano e sem base em qualquer evidência científica.

Assinam: José Gomes Temporão, ex-ministro da saúde e Membro Titular da Academia Nacional de Medicina e José Agenor Alvares da Silva, ex-ministro da saúde.
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viernes, 17 de agosto de 2018

Papo de bar insurgente


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Em Assembleia Geral Extraordinária, os sócios da IBEBO - Irmandade dos Boêmios Encantados do Beco do Oitavo, hoje à noite decidiram lançar um manifesto para toda a Cidade Baixa, extensivo à cidade de Porto Alegre, ao Rio Grande do Sul e ao Brasil.

É uma lenga-lenga de três páginas, na prática oficializou o que já vem ocorrendo, a novidade são os atos de rebelião propostos. Aqui vai o que é possível levar a público.

"MANIFESTO CONTRA O FASCISMO

Irmãos proletários, a hora é de união, esqueçamos eventuais atritos. Após as eleições a gente se dá umas arranhadas, mas a partir de hoje estão suspensas quaisquer ameaços de irritação entre os membros da confraria, ainda que fraquinhos. Todos os humanistas se darão de corpo e alma ao bom combate.

Um por todos e todos por um contra os golpistas. Por enquanto todos por três: Lula, Haddad e Boulos. Oportunamente, ainda antes do primeiro turno, fecharemos questão em nova assembleia.

Aprovado um voto de desconfiança absoluta ao Poder Judiciário, transformado num antro de traidores da Pátria, com as exceções de praxe.

Conclama-se as tribos boêmias, beberativas ou não, de todas as localidades, etc., etc., etc., etc., etc., etc., para:

a) Etc.
   b) Etc.
   c) Etc.
   d) Etc.
   e) Etc.

(Os “etc.” são segredos, não podem ser revelados, visto que contém atos e datas, somente as entidades participantes saberão.)

Nomeados redatores das propagandas e manifestos à população os boêmios Luciano Peregrino, Nicolau Gaiola e Salito. Como comandante do ativismo de rua o Rei Bruno Contralouco, assessorado pelo boêmio Gustavo Moscão. Etc, etc, etc (uns dez cargos). Secretariando os trabalhos a Srta. Leila Ferro."

O Bruno reclamou que fizeram assembleia pra não decidir porra nenhuma, ora três por três, e quer saber quem vai supervisionar a impressão do material de campanha na sua gráfica, se ele vai estar na rua. Nada que não tenha solução, disse o mestre Aristarco, o filósofo decano que presidiu a reunião. A sessão foi encerrada com o Hino Nacional e com o da Internacional.

Saímos do salão da sinuca, que ficou fechado durante a convenção sob a guarda do Sr. Negrote, que ficou à porta para coibir enxeridos ou espiões do Parcão querendo ouvir as graves tratativas. 

Todos com sede para as mesas do salão da entrada do botequim. Juntaram-se as mesas e desceram dúzias de cerveja, a temperatura está feito Primavera na capital. Não existe homem assíduo e pontual como as mulheres, em se tratando de reunião política, estavam todas lá. Falavam das suas atividades futuras, cuidando a língua para que estranhos não sacassem, quando chegou o Cirrose de Gato, o nome do cara é Júlio, mas pouco sabem disso.

O Cirrose é membro, digamos, intermitente da IBEBO, de modo que não tem direito a voto nem participa das reuniões. É eleitor do Ciro, o que todos respeitam, embora alguns tenham passado a chamá-lo de Cirro, em vez de Cirrose. Pois num momento em que as mulheres pararam para respirar ele pegou a palavra: gente, aqui todo mundo já ouviu alguém dizer "Fulano está com o cu na estaca", né? Pois então: pensem na situação dos golpistas, imaginem que o Lula morra preso injustamente dentro daquela cela de merda. Alguém vai acreditar que ele faleceu de morte natural?

A fala do Cirro deu muito assunto, um mais pessimista que o outro, que Deus nos ajude. Passaram-se duas horas e rolou outro papo gozado. 

Tem um malandro de uns lances de assalto, coisa pesada, nada de pegar transeunte, gente boa mas se nota que anda sempre ferrado... hummm, ferrado é com uma bruta pistola por dentro da roupa, que às vezes pinta no bar rapidamente, em geral pra comprar cigarros, vez que outra acaba ficando para uma cerveja ou duas em pé no balcão, até tocar o celular.

Bem relacionado com o Contra, que certa vez esclareceu as coisas: desde que não assalte aqui na zona tu e os teus serão sempre bem vindos. Os teus porque o cara entra e ficam dois mal-encarados na porta e outros tantos lá na rua. 

Hoje de lá do balcão disse ao nosso Rei, toda a mesa ouviu, que se fosse ele, na boa, imprimiria na oficina carteiras falsas de filiação ao partido do Aecinho. Ficaria rico vendendo como salvo-conduto pro caso do cara ser apanhado pela justa. O Contra disse pois é, interessante, e desconversou, foi dar um abraço numa alemoa que chegou em outra mesa.

Antes de sair voltou ao assunto: se tu topar eu me encarrego das vendas pra moçada dos morros e dos mocós mais longe, quem sabe até a gente consiga exportar pra Sampa e pro Rio. O Contra disse que ia pensar.

Depois que o camarada saiu o Rei nos disse que não achou uma boa ideia: a clientela vai se tocar que é mais fácil ir lá no partido e conseguir uma carteira verdadeira. Com a folha-corrida que tem serão aceitos na hora. Acrescentou que seguiria pensando no caso, outras possibilidades, lembrou que o sujeito do balcão tem uns cinqüenta homens, vamos precisar de gente na campanha, nada de armas, sei que aqui todos detestam isso, mas poderão ajudar de alguma maneira, disse.

Fiquei quieto para não contrariar o Rei em público, mas depois vou demovê-lo dessa ideia esdrúxula, não iria acabar bem.

(...)
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