domingo, 13 de marzo de 2022

A SUTILEZA DO MENINO DE LONGOS CABELOS

(Crônica dominical, hoje familiar)


No 11 de março o Fran fez 9 anos. Passei a tarde lá, não o via desde o início da pandemia, nesses dois anos e picos só falamos horas por telefone. Na sala ele, os pais, minha irmã carioca que veio para a efeméride e eu. A mana o presenteou com uns jogos de montar, complicados, e eu com um livro de cultura geral super colorido, na dureza em que ando mesmo se quisesse mais não poderia.
Num lado os pais dele conversavam com a minha irmã Maria de Lourdes, no outro o Fran e eu de papo, aqueles papos reservados de amigos de longa data, que quando a gente reencontra conta tudo, bebe (no caso não) e desabafa. De repente ele saiu-se com esta, exclamou:
- Vô Antônio, na minha aula todos tem celular, menos eu!
Amigos, foi difícil resistir à vontade de rir da reclamação implícita, pois do outro lado todos ouviram e silenciaram. O Lucius e a Carolina, os pais, só se olharam. Rapidamente ponderei que a gente vai à aula para estudar, e num átimo virei o assunto, perguntando o que estavam ensinando nas matérias da escola, em português, matemática, etc., e logo passei para o xadrez desta vida, a falar da Defesa Siciliana, 1. e4, c5, ou 1. P4R, P4BD em espanhol, c5 ou P4BD para ele que gosta de jogar com as peças negras, a famosa e complicada Defesa de quem está por baixo já na abertura, pela vantagem teórica das brancas. Vantagem téorica é eufemismo, meu fiinho, pois as brancas vencem na esmagadora maioria das vezes, tem a iniciativa.
Prometi-lhe dois livros de autores russos sobre a Siciliana, um em espanhol e outro em italiano (no Brazil colônia dos EUA a gente não encontra no original, em russês), livros velhos que tenho em casa, que também o ajudarão a ser bom de línguas, pois vai que ele um belo dia se encaixe com alguma castelhana, russa ou siciliana, blanca o negra.