Se deixar as mulheres compram qualquer porcaria que lhes
surge à frente, parecem crianças, então quem toma conta da grana sou eu. Elas
andam com no máximo cenzinho na bolsa, para um táxi e alguma miudeza, nada de
cartão de débito ou crédito, conta bancária só eu tenho, a poupança está no meu
nome. Levo-as em rédea curta e confiro no que gastam.
Então fazem compras na padaria e dizem "Depois o meu
marido vem aqui e paga, a gente mora ali adiante". O mesmo na mercearia,
no açougue, na farmácia, na loja de roupas femininas da esquina. O pessoal da
Cidade Baixa já me viu com algumas delas, às vezes vou junto. Em janeiro passado
andamos de bando pelos bares da Rua da Olaria, da Rua da República, nas festas
de verão.
Meu marido pra cá, meu marido pra lá, mandei pararem com essa
frescura, ora. Não adiantou, agora entro na mercearia e o dono exclama feliz:
"Oba, chegou o Marido!". No açougue o cara diz: "Chegaram umas
costelas lindas, Marido". O mesmo em todos os lugares, até na sinuca, a
malandragem não perde nada: "E aí, Marido, vai entrar nesta
matadinha?".
Na tabacaria: "Então, Marido, vai uns cigarros
paraguaios?". Na semana passada cruzei com o cartunista Santiago lá na Rua
João Alfredo e ele me me gritou do outro lado da rua, enquanto acenava:
"Tá sumido, Marido, há um ano não te via". Devolvi o aceno de amizade
"Abraço, meu irmão", e segui pensando putz, até o Santiago! No outro dia o Aristeu, chefão do jogo do bicho, me viu no boteco e veio pro abraço: "Boa, Marido, pegou no quinto prêmio outro dia, hein?".
Os guardadores de carro, os moradores de rua, até na loja de
roupas a moça me disse outro dia: "Oi, Marido, veio pagar? Beleza". É
assim na agência bancária: "Veio depositar a féria, Marido?". É com
os ambulantes da Redenção. Chegou aos ouvidos do médico e do dentista que
cuidam da saúde das onças, passei a ser Marido.
Acho que vamos ter que mudar de bairro, estou pensando em
Petrópolis e Ipanema, o "Marido" chegou até no Mercado Público lá no
Centro, no Menino Deus, daqui a pouco toda a Porto Alegre vai me chamar de
Marido. Chato pacas, tenho nome, ora.
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