martes, 2 de abril de 2019

MORRER EM PORTO ALEGRE

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Capítulo A RITA (Fragmento)

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Foi quando encontrei a Rita, bem vestida, mas bem mais velha, trinta anos se passaram... Desgastada, rosto sombrio, que Deus me perdoe: um caco de gente. No shopping onde fui fazer a entrega de uma arma para um maluco, maluco modo de dizer, um cara muito sério, que iria invadir uma das lojas, apagando o dono. Ela junto a um sujeito mal-encarado, ele com ares de “tenho dinheiro, sou bem sucedido”, conheço de longe bandidos bombachudos.

Ela tentava correr atrás, com dificuldade, muito pesada, de dois moleques atrevidos que cuspiam em qualquer cor vermelha, derrubavam coisas, julgando-se poderosos como o tipinho que deveria ser o pai, ou avô. A Rita... aquele lindo corpo sumiu levando junto o sorriso. Ela também me viu, no mesmo momento, e num átimo desviou o rosto numa instintiva careta de raiva ou sofrimento. Arrependimento? Vá saber. Ela foi para o lado direito na via, em direção à loja que seria dizimada, eu saí pela esquerda.

Entreguei a mercadoria, carregador, silenciador e tudo, falei pro cara "Mulher leve livre" e me mandei de lá a passo, logo caminhava devagar pelas ruas do bairro, mentalmente cantando uma música do Chico: “... não levou um tostão porque não tinha não, mas causou perdas e danos, levou os meus planos, meus pobres enganos, os meus vinte anos...”. Rolaram lágrimas, eu feito pedra sem mover um músculo, sem um ai. Toquei na Magnum na axila esquerda, para me sentir melhor.

Na metade do caminho esqueci o incidente. As mulheres, felizes, me esperavam na Cidade Baixa.

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