.(Fragmento de "Os Perturbados de Porto Alegre")
Enquanto tu
brincava de bonecas da Xuxa, aquelas porcarias de plástico como ela, que me
custaram os olhos da cara; enquanto tu ouvia americanos do norte, moleca, eu feito cão sem lar chupava sexos
ensopados de mulheres, para te sustentar em escolas de piranhas rosários e
montessoris, caríssimas, de olho neles, e levava frutas, arroz, feijão, massa e
carne, tudo do bom e do melhor. O melhor que podia, abrindo mão de mim.
Lembra do
dentista que arrumou os teus dentinhos saltados, coelhinha? Quase o matei. Mas correu tudo
bem, não é? Quem perdeu a vida fui eu. Matei-me por ti, e nem sonhe que lidar
com puta é fácil, são pessoas, almas, muitas raivosas, em geral
psicologicamente abaladas como a maioria das pessoas.
Quando tu
ficou mocinha eu já tinha chamado um governador de covarde. A ele e a sua
tropa, gritando "Venham, filhos da puta, se forem bem homens". Agora, que tu é mulherzinha,
querida filha, nem sonha com o que fiz depois, coisas que jamais saberá.
Perdôo tudo,
menos ingratidão.
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