viernes, 20 de agosto de 2021

ALI ONDE EU CHOREI QUALQUER UM CHORAVA. Vai ter volta.

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Ontem foi um dia corrido desde as 5h, acordei espiritado mexendo na cozinha para não pensar - não adianta - e às 8h fui a POA. Depois de tomografias e não sei mais o que andei horas pelas ruas de Porto Alegre, desde o bairro Medianeira até a amada Cidade Baixa. Meu Deus, tudo mudado em apenas... desde a efetivação do Golpe... uns 4 ou 5 anos, no último par de anos então nem se fala. Onde havia bares e belas lojinhas agora tem as placas "Vendo ou alugo", em muitas Briques e Brechós instalados, só em uma quadra vi uns dez trastes de roupas, móveis velhos e de tudo. Já na ida pra Av. Carlos Barbosa quase chorei ao passar pela Av. da Azenha e ver o Estádio Olímpico do Grêmio: o "Velho Casarão" de 1954 até onde a vista alcançava se corroendo atirado às traças, e isto que sou colorado, só imagino o que os irmãos tricolores sentem quando passam por lá, palco de tantas emoções no coração da capital. Ainda bem que não fui até o nosso Eucaliptus, esse vem de longe a venda, outros tempos, mas vá saber o que fizeram. Na Av. João Pessoa a Panambra parece que desapareceu. Andando em direção à Rua Sebastão Leão tudo fechado com Vendo ou Alugo, o único negócio que se mantém bem, asseado, pela aparência tudo certinho, ataúdes de boa qualidade à mostra além da porta de vidro, é a Funerária Santa Rita quase na esquina com a Sebastião, que sempre foi boa, aliás. Em quem estoura primeiro? Segui pensando na massa de desempregados e suas famílias. E assim fui até a Rua Luiz Afonso, onde entrei em direção ao meio da Cidade Baixa. Novamente precisei me controlar para não chorar na Rua da Olaria. Caminhei por tudo, fui parar na Rua da República, voltei pela Rua João Alfredo. Fui até a Praça Garibaldi visitar a "minha" árvore, tirei fotos dela e com ela. 


Ali pelas 16h voltei de Uber para o Convento das Freiras Libertinas. Libertárias. Tranquei-me na sala do som e chorei feito criança, sem ninguém ver, não iria deixar as religiosas verem, como todos já andam nervosas, poderia abalar os seus alicerces.

Depois dei de pensar no fascismo que o genocida deseja ao lembrar os 85 anos do assassinato de Federico García Lorca, em 18 de agosto de 1936. Até onde sei o seu corpo segue desaparecido. Alguns dizem que a foto é falsa. Pode ser, me contem como foi, pior?


"Lorca declamando o seu último poema em frente a um pelotão de fuzilamento fascista em agosto de 1936. Para que nunca esqueçamos o fascismo e as suas tesouras compridas. Para que nunca esqueçamos o que nos ceifou e continua a ceifar. Para que compreendamos o que faz à cultura e, como consequência, à mente e ao coração dos homens livres. Porque quando se janta com o diabo deve-se levar uma colher comprida...".

Chorei de novo. E mais que aqui não convém, do medo disfarçado estampado no rosto das pessoas, dos pedintes cobertos de lona suja em farrapos. Velhas, mulheres, homens, crianças, a cada passo que dava, submissos pela ignorância, com a mão estendida "Uma moedinha, por favor". Não estou com medo, nunca tive mesmo em momentos de horror, e agora aos 68 anos é que não iria envilecer.

É outra coisa que se remexe em fogo por dentro, eu sei.

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