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(Ficciones - Fragmento)
A proposta consistia apenas em torturar e matar negros,
índios e homossexuais. Era pouco, então Herr Koyzo, numa noite de primavera em
que seus devaneios provocados pela psicopatia chegaram ao paroxismo, teve um
sonho grandioso, um plano que ordenaria o mundo. Saltou da cama com as ceroulas verdes caindo, aos berros de "Sou um gênio". Puxou as
ceroulas, tinha vergonha do pênis pequenino, chegou à sala e deu andamento às
fantasias.
Não haveria mais escolas, um custo altíssimo que seria
evitado, aquele dinheiro seria usado em armas. As crianças arianas seriam
alfabetizadas via internet. Os professores brancos ainda não seriam
completamente extintos, pois por algum tempo, até que os robôs os
substituíssem, alguns poucos lecionariam pela rede mundial. Nada de livros,
cadernos e contato pessoal, este muito perigoso pelo homossexualismo. No início
a transmissão será pela TV, tem uma pronta, não, agora duas, mas depois seriam
banidas, pensou.
Milhões de lares sem acesso à rede mundial era um problema a
ver depois, caso restasse algum após a limpeza racial. Ah, a limpeza, teria que
ser rápida. O que fazer com a carne e o sangue dos eliminados, adubo? Não, que
nojo, contaminariam a terra e logo as plantas. O mar? Não, contaminariam as
águas e os peixes que comemos. O que fazer? Já sei, enviarei para o cosmos numa
grande nave espacial! Exultou com a própria sabedoria, esfregando as mãos e
rindo desbragadamente.
Os professores excedentes com suspeita de mestiçagem seriam
enviados para cultivar as lavouras envenenadas da nação, até que houvesse a
completa robotização. O mesmo com os auxiliares de escolas, todo o complexo
estruturado seria desmanchado. Sendo assim, as escolas e os professores não
mais existiriam, todos desde a infância até a idade adulta estudariam e se
tornariam doutores sem sair de casa. Casas? As casas seriam construídas pelos
escravos d'além perímetro, que seriam mantidos enquanto necessários.
O pensamento foi evoluindo, como seriam os doutores, os
tribunais virtuais, as execuções... Como se formariam os carrascos? Haveria
curso pela internet. Artistas? Seriam descartados, todos uns pervertidos E os
cientistas, como se formariam? O seu cérebro prosseguia veloz, alegremente
descobrindo métodos, fórmulas, paradigmas.
(segue)
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