martes, 30 de noviembre de 2010

Udo Jürgens - Griechischer Wein

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Ainda passeando em alemão, lembramos de um austríaco que é patrimônio e orgulho da raça.

Udo Jürgens (30/09/1934, Klagenfurt, Áustria). Um dos mais populares artistas de língua alemã, sucesso em toda a Europa.

É duro ser famoso. Se aqui no Brasil o sujeito vira homossexual enrustido (o que nem sempre é mentira, mas já que não podem censurar a opção sexual, implicam pelo enrustimento), por lá as más línguas sussurram, quando não gritam, que Udo sempre foi muito mulherengo, e que anualmente centenas de mulheres reclamam paternidade para suas crianças. Os menos exagerados dizem que tem mais filhos que dedos no corpo.

Nada de espetacular, nisso de dedos no corpo empata com Juanito Matabanquero. Salvo  tratar-se do Corpo de Bombeiros de toda a Caríntia.

Mas é tudo mentira. E também não adianta inventarem que Udo é outro pinguço, garrafas e mais garrafas, de pau-d'água não tem nada, só bebe água mesmo. Bem, gosta de um vinhozinho grego, para aquecer os muitos namoros de que é acusado.

A música que vai, dele mesmo, certamente já foi ouvida por estas bandas, em outros idiomas.
 
Certo, germânica? Em breve estaremos bebendo vinho da Grécia (ela não é sua parente, Hans, relaxe, Carlito diz que anda por aqui de parentalhas).
 

sábado, 27 de noviembre de 2010

Sábado em Sampa com Ina Müller

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Depois de uma semana estafante, hoje tive tempo de folhear os jornais e espiar os noticiários.

De doer, mas conforme ameaçou Mr. F. Febraban lá em agosto, o que imediatamente cobrei da Mad Madam Mim, o Boquinha será mesmo o todo poderoso do governo. Deus mandou.

Vontade de voltar para o Burundi, mas por enquanto vou apenas encerrar as contas na Caixa Federal, algum gato gordo pode resolver fuxicar no que não é seu.

Melhor esquecer as patifarias e as desgraças, é tão linda esta noite de sábado.

Há profusão de fogos de artifício no bairro paulista em que estou, comemora-se algo. Logo imagino que alguém acertou na loteria, mas não, ninguém é doido de contar, e como o bairro é finório concluo que o mais provável é que seja aniversário de algum ricaço. Ou que tenha nascido mais um. Muitas felicidades.

Pela janela do quarto do hotel admiro o faiscante jogo de luzes lá embaixo no prédio em frente, colorido em verde, azul, vermelho, amarelo, violeta..., de longe parece a bola de fogo desaparecendo no horizonte visto do Gasômetro, as cores se fundindo, o inigualável por-do-sol do rio Guaíba.

Ao entrar no hotel pela manhã, momento em que não há como se disfarçar o rosto, a aparência não era assim tão vistosa. À primeira vista julguei que fosse uma casa de espetáculos, "Estação Cabaret", mas o acrílico pequenino a um canto, escrito "Relax for men" não deixou dúvidas, somente mais um puteiro muquirana. Todos o são, sabemos bem. Só mais caro.

Aguardo Carlito Dulcemano Yanés para um passeio e para depois visitarmos alguns amigos na Vila Mariana, e torno a pensar em Ju Betsabé, do seu jeito de andar, da insegurança escondida lá no fundo. Que vida.

Antes que eu resolva beber todas as garrafas do frigobar, Carlito aparece. Alegre, sorridente.

Diz que leu a postagem anterior e todo sarcástico emenda que tem pavor de alemão, mas ama as alemoas. Brincadeira, viu, Hans, mas ele não vai com a sua cara mesmo.

E como aqui tudo acaba em música, a sugestão ficou por conta de Carlito.

Recaiu sobre uma cabareteira alemã (de kabarett, Juanito, já chega o Estação aqui da frente. A que vai é casa de espetáculos, com monólogos, mímica, poesia, música, ...).

Ina Müller  (25/07/1965, Köhlen, Landkreis, Cuxhaven). A cantante alemã possui agenda de espetáculos lotada até março de 2.012.

Por alguma misteriosa razão, o Brasil não está e nunca esteve no seu roteiro.

Modestamente, acredito que a agenda do Brasil é que está com a boca e a cabeça cheia de chiclets envenenados, ou de "Clichets, goma de mascarar, sabor mental", como compôs Philadelpho Menezes.
 
A música que vai, "Was Passiert Mir Heut Nicht Mehr",  do Álbum "Weiblich, leidig, 40", (ou "Feminina, Cansada, 40" para os charruas que nos lêem), de 2006, é de uma considerável dor-de-cotovelo (letra ao final), lá na palafita jamais conseguimos ouvir uma vez só, hoje a sessão foi com cinco repetecos. A moça tem verve.
 
Carlito quer que a ofereçamos às irmãs e às primas do Hans, mas discordei, não faremos isso.
 
 
 
Was Passiert Mir Heut Nicht Mehr



es ist Samstag Mittag

eine Stimme klingt vertraut

im Supermarkt

dann seh ich dich mit Frau und Kindern

du bist inzwischen richtig grau

und trägst jetzt Bart

wieso ich damals so verliebt war

das wirkt auf mich ganz plötzlich so absurd

ich versuch′s noch mal zu fühlen

doch diese Art so zu fühlen schlich sich für immer fort


REF

dass ich nächtelang nicht schlafe

weil ich dich irgendwo gesehen hab

ich die Tage nicht mehr schaffe

ständig weine und zusammenklapp’

weil ich die ganze Nacht lang da saß

damit ich deinen Anruf hör

so ein Orkan im Wasserglas

so was passiert mir heut nicht mehr

wenn ich mich heute wieder mal

in irgendjemanden verknall’

dann nicht so laut

ich hab mein Herz unter Kontrolle

es hat seitdem in keinem Fall

mehr auf Sand gebaut

doch manchmal würd ich′s gern

ganz kurz zurückbekommen

dieses Verlangen

so′ne Herz-Schmerz-Tränen-Nacht

die ich ganz locker dann am Morgen

abstell′n kann

REF 2x

dass ich nächtelang nicht schlafe

weil ich dich irgendwo gesehen hab

ich die Tage nicht mehr schaffe

ständig weine und zusammenklapp

weil ich die ganze Nacht lang da saß

damit ich deinen Anruf hör

so ein Orkan im Wasserglas


so was passiert mir heut nicht mehr

so was passiert mir heut nicht mehr


 


Refresco com cantora norte-americana

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Em especial ao amigo Hans, que reclama por não apresentarmos artistas estadunidenses no blog, supostamente por sermos uns comunistas empedernidos.

Na interpretação da premiada cantora popular, dançarina e atriz norte-americana CHRISTINA AGUILERA (Christina María Aguilera, Nova York, 18/12/1980), um bolero com harmonia fortemente influenciada pelo jazz.

CONTIGO EN LA DISTANCIA é um clássico do cubano César Portillo de la Luz (Havana, 31/10/1922), idealizador do bolero filin, que foi estrondoso sucesso na voz do chileno Lucho Gatica, el Rei del Bolero.

Aqui um tantinho fiasquento na interpretação da bela cantante de Staten Island.

Para os desterrados, apátridas e fugitivos, com amor no ninho lá longe.

martes, 23 de noviembre de 2010

Versos tortos em Porto Alegre

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Por Alex Moraes *


Mormaço. É sete da noite em Porto Alegre.
No túnel, um barulho ensurdecedor de carros
que passam freneticamente.

Na universidade, vozes monocordes carregam o ar com conhecimentos seculares e mofados

Numa esquina qualquer, um pedinte imundo estende suas mãos à gente que passa: "uma moeda..."
No Hotel Plaza, servem coquetel suntuoso e falam em alemão, inglês e francês.

O boliviano, na praça da Alfândega, entoa cantos folclóricos em espanhol.
Cada pessoa tem seu cheiro.
Os odores mesclados produzem o fedor
da grande cidade.

Velhas e escatológicas galerias subterrâneas
são as veias que transportam
os fluidos da metrópole.

Fluidos expelidos no imenso
lago turvo sobre o qual a cidade
dorme debruçada.

Esticada ao lado da sua fossa de urina e fezes, a urbe cai em sono perturbado.

Porto Alegre sonha com meninas violentadas em praças sombrias,
com presos seviciados nas celas do Presídio Central,

Com crianças entorpecidas pelo solvente,
com homens que, no interior dos seus
palacetes, sorriem sorrisos limosos
e brindam à barbárie da qual dependem.




*Alex Martins Moraes (foto à Carlito Gardel), 15/06/1988, poeta, gaúcho de Porto Alegre, é estudante de Ciências Sociais, com ênfase em antropologia. O Rei da cidade.

Versos tortos em Porto Alegre

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Por Alex Moraes *


Mormaço. É sete da noite em Porto Alegre.

No túnel, um barulho ensurdecedor de carros

que passam freneticamente.

Na universidade, vozes monocordes carregam o ar com conhecimentos seculares e mofados.

Numa esquina qualquer, um pedinte imundo estende suas mãos à gente que passa: "uma moeda..."

No Hotel Plaza, servem coquetel suntuoso e falam em alemão, inglês e francês.

O boliviano, na praça da Alfândega, entoa cantos folclóricos em espanhol.

Cada pessoa tem seu cheiro.

Os odores mesclados produzem o fedor

da grande cidade.

Velhas e escatológicas galerias subterrâneas

são as veias que transportam

os fluidos da metrópole.

Fluidos expelidos no imenso

lago turvo sobre o qual a cidade

dorme debruçada.

Esticada ao lado da sua fossa de urina e fezes, a urbe cai em sono perturbado.

Porto Alegre sonha com meninas violentadas em praças sombrias,


com presos seviciados nas celas do Presídio Central,

Com crianças entorpecidas pelo solvente,

com homens que, no interior dos seus

palacetes, sorriem sorrisos limosos

e brindam à barbárie da qual dependem.




*Alex Martins Moraes (foto à Carlito Gardel), 15/06/1988, poeta, gaúcho de Porto Alegre, é estudante de Ciências Sociais, com ênfase em antropologia. O Rei da cidade.

domingo, 21 de noviembre de 2010

Uma ponchada de amigos - Mauro Moraes

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O simpatizante desconhecido do blog, Sr. Hans Hoff, envia um comentário pouco amistoso (mais um, Hans, puxa vida) em Lágrimas Negras (2).

Questiona a não apresentação de músicas norte-americanas no blog. Tem razão.

Este tipo de discussão não cabe aqui, Hans, daria um livro, mas diremos algumas palavras em atenção a ti, que mesmo rosnando não deixa de prestigiar o blog.

Meu caro, há grandes compositores e cantores nos Estados Unidos, mas o que você fala que toca nas rádios, em sua imensa maioria, é lixo puro. Como os maiores terroristas do planeta conseguem esse feito de controlar e doutrinar os nossos ouvidos 24 horas por dia? Simples, meu amigo: são donos das distribuidoras y de otras cositas más, incluindo muitas almas no Congresso Nacional, é o poder da grana, eles têm "bala na agulha" de muitas maneiras. Investiram muito nisso desde o pós-guerra, essa a razão de sermos uma colônia de descerebrados, ouvindo e vendo o que nos empurram goela abaixo. Rudimentar técnica de dominação dos povos. Até na roupa que vestimos e nos calçados que calçamos.

Em tempos recentes invadiram aquilo que chamávamos de música sertaneja, bela expressão do nosso homem do mato em alguns estados. Enfiaram no meio uma coisa que chamam de country, e aí temos os sertanojos uivando músicas de cabaré de vigésima categoria. A dominação pela grana, pela corrupção, e muito jabaculê, o conhecido "jabá", deram conta do serviço.

O amigo ligue a tevê aberta e procure um filme para assistir. Encontrou algum filme alemão, pátria que o seu nome sugere? Ou talvez tenha achado algum filme eslovaco, romeno, argentino, suiço, polonês, francês, indiano, paquistanês, italiano... arrole aí todos os países do mundo, à exceção "deles". Gostou de algum? Ou em todos topou com o sotaque de quem engoliu... deixa pra lá, e a bandeira "deles" tremulando desde o início da fita?

Mas atenderemos ao pedido, implícito na reclamação, colocando um vídeo com música de uma "nação" brasileira que sempre tentou e tenta reagir à invasão.

Com o homem de Uruguaiana, espetacular Mauro Moraes, para um domingo de churrasco entre amigos, Campo Rimado (Mauro Moraes). Y que vengan!

sábado, 20 de noviembre de 2010

Lágrimas Negras (2)

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Bem, emocionados recebemos postagem de Jacqueline Viúva Negra, amiga do blog (valeu, Jacque), e telefonema da homenageada, Dolores. Precisamos repetir a música.

Agora com o famoso cantor (de frente: sin bailadores) de flamenco Diego Ramón Jiménez Salazar (Madrid, 27/12/1968), ou simplesmente Diego, El Cigala, acompanhado do espetacular cubano Bebo Valdéz (Havana, 09/10/1918), viejo pianista que Marisa Monte e Carlinhos Brow já curtiram, aqui fundindo o ritmo cubano com o flamenco.

Entramos de corpo e alma no flamenco e na Espanha de Dolores.



E já que chegamos a Diego, El Cigala, torna-se obrigatório vermos a sua exuberante passagem por Buenos Aires. En esta tarde gris. (Mariano Mores - Buenos Ayres, 18/02/1918, y José María Contursi, 31/12/1911 - 11/05/1972. Ah, Marianito Mores, ah Contursi.



Lágrimas Negras



Lágrimas Negras é um bolero-son de 80 anos composto pelo cubano Miguel Matamoros (08/05/1894 - 15/04/1971), componente do famoso Trio Matamoros.

É uma das músicas mais tocadas de todos os tempos. Cantada por grandes artistas, numa passada revemos Los Guaracheros de Oriente, Sarita Montiel, Barbarito Diez (La voz de Cuba), Celia Cruz, Vania Borges Ochoa (um show!), Bebo Valdéz com a voz rasgada de Diego El Cigala, Buena Vista Social Club, Ibrain Ferrer a solas, uma infinidade de talentos.

No vídeo com Javier García (Nació en Madrid, 1974).

A história deste bolero se conta assim:

En el año 1930 Matamoros viajó a Santo Domingo. Allí se hospedaba en la casa de Huéspedes de Luz Sardaña.
Un día en que oyó los quejidos de una mujer desde unos de los cuartos de la casa preguntó a Luz por qué lloraba aquella mujer de forma desconsolada.
Ella le respondió que su compañero la había abandonado por otra. Allí mismo Miguel inspiró este bolero-son.

LAGRIMAS NEGRAS

Aunque tu,
Me has echado en el abandono
Aunque ya,
Han muerto todas mis ilusiones
En vez de maldecirte con justo encono
En mis sueños te colmo
En mis sueños te colmo de bendiciones
Sufro la inmensa pena de tu extravío
Siento el dolor profundo de tu partida
Y lloro
Sin que sepas que el llanto mío
Tiene lagrimas negras
Tiene lagrimas negras como mi vida.

Lagrimas Negras es la obra que marca el afianzamiento de esa tercera variante de la trova cubana, la cual se caracteriza por expresar el constante elemento temático procedente del tango bonaerense, que posteriormente a la Primera Guerra Mundial se extendió con amplitud por Europa y nuestra América en cierta competencia con el Jazz y sus sucedáneos y la música cubana.

Salito toma a liberdade de dedicar a señora Dolores, que passou ao pôr do sol. 

viernes, 19 de noviembre de 2010

Refresco

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"Quantas lágrimas" ("Manacéa" - Manacé José de Andrade, Rio de Janeiro, 26/08/1921 - 10/11/1995), com o autor acompanhado de Paulinho e da Velha Guarda.


miércoles, 17 de noviembre de 2010

Fuego en el tablero!

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Na companhia de Sultan Khan, Miquirina Segundo, Raúl Capanegra, Kafil M'Oba e Carlito Dulcemano, que nos honram com suas presenças em Porto Alegre, ontem assistimos Direto de Moscou o desenrolar do Mundial de Xadrez Rápido. À exceção de alguns, notadamente Anand, Topalov e Ivanchuk, lá estão os melhores cérebros do planeta.

O prodígio norueguês, o "Mozart do Chess" Magnus Carlsen (30/11/1990) lidera, juntamente com o armênio Levon Aronian (06/10/1982), com 10 pontos, após as 14 rondas de ontem.

Para postar no Youtube imediatamente, alguém filmou com celular, cremos, o confronto entre Nakamura e Carlsen, na primeira ronda.

Loucura! No vídeo dá para sentir a tensão reinante, e o cacoete de Nakamura no "pega-larga" um infante abatido.

No dizer do site Chessdom:

Magnus Carlsen got off a fantastic start with victory against his arch rival in blitz - Hikaru Nakamura, followed by wins against the ex World Champions Ponomariov and Kramnik, and Sergei Movsesian. Just when everyone thought Carlsen is on a roll to an easy first place in day 1, the junior champion Vachier-Lagrave and the World Cup winner Boris Gelfand stole two consecutive points away from the chess prodigy. Carlsen recovered again with wins against Caruana, Karjakin, Mamedov, Svidler, and a draw against Aronian, and just then surprisingly he lost against Grachev to bring up yet another lock at the top of the table.

Aronian had a random start - draw, lose, win, draw, win, win, draw, draw to leave him with only 5,0/8, a full point behind the temporary leader Svidler. Then Aronian completed one of the longest winning streaks of the day defeating Mamedov, Grachev, Andreikin, Savchenko, and Nepomniachtchi. Everyone thought the Armenian will for sure have the lead, but Nakamura stole a full point in the last round, leaving Aronian with the same points as Carlsen.

Sultan admite que teria alguma dificuldade para vencer os mais jovens, se fosse na sua época.

A luta prossegue hoje, a partir das 10 da manhã (horário brasileiro de verão), sem quartel!


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martes, 16 de noviembre de 2010

O ex-mágico

Murilo (Eugênio) Rubião (Carmo de Minas, 01/06/1916 - Belo Horizonte, 16/09/1991) é considerado o maior autor de realismo fantástico no Brasil.

Sua obra não é extensa, apenas 50 contos, pois era daqueles que escrevia, rasgava, escrevia, reescrevia, rasgava..., calma e obsessivamente, tinha de achar o "ponto" e as palavras "certas".

"O Convidado" levou 26 anos para ser concluído. Iniciou em 1945 e terminou em 1971. Sobre esse conto, Paulo Mendes Campos escreveu uma crônica maravilhosa (como todas as suas crônicas), chamada "Um conto de 26 anos". Aqui O Convidado não vai porque não está em domínio público.

O "Ex-mágico" é de 1947, bem antes de alguns latinos mergulharem no mundo fantástico, e nos dá uma ótima idéia da genialidade do mineiro.

Aqui na palafita tornamos a discutir o ex-mágico e novamente nos convencemos de que o entendemos muito bem. Infelizmente.
 
O ex-mágico da Taberna Minhota
 
Murilo Rubião
Inclina, Senhor, o teu ouvido, e ouve-me;
porque eu sou desvalido e pobre.
(Salmos. LXXXV, I)


Hoje sou funcionário público e este não é o meu desconsolo maior.

Na verdade, eu não estava preparado para o sofrimento. Todo homem, ao atingir certa idade, pode perfeitamente enfrentar a avalanche do tédio e da amargura, pois desde a meninice acostumou-se às vicissitudes, através de um processo lento e gradativo de dissabores.

Tal não aconteceu comigo. Fui atirado à vida sem pais, infância ou juventude.

Um dia dei com os meus cabelos ligeiramente grisalhos, no espelho da Taberna Minhota. A descoberta não me espantou e tampouco me surpreendi ao retirar do bolso o dono do restaurante. Ele sim, perplexo, me perguntou como podia ter feito aquilo.

O que poderia responder, nessa situação, uma pessoa que não encontrava a menor explicação para sua presença no mundo? Disse-lhe que estava cansado. Nascera cansado e entediado.

Sem meditar na resposta, ou fazer outras perguntas, ofereceu-me emprego e passei daquele momento em diante a divertir a freguesia da casa com os meus passes mágicos.

O homem, entretanto, não gostou da minha prática de oferecer aos espectadores almoços gratuitos, que eu extraía misteriosamente de dentro do paletó. Considerando não ser dos melhores negócios aumentar o número de fregueses sem o conseqüente acréscimo nos lucros, apresentou-me ao empresário do Circo-Parque Andaluz, que, posto a par das minhas habilidades, propôs contratar-me. Antes, porém, aconselhou-o que se prevenisse contra os meus truques, pois ninguém estranharia se me ocorresse a idéia de distribuir ingressos graciosos para os espetáculos.

Contrariando as previsões pessimistas do primeiro patrão, o meu comportamento foi exemplar. As minhas apresentações em público não só empolgaram multidões como deram fabulosos lucros aos donos da companhia.

A platéia, em geral, me recebia com frieza, talvez por não me exibir de casaca e cartola. Mas quando, sem querer, começava a extrair do chapéu coelhos, cobras, lagartos, os assistentes vibravam. Sobretudo no último número, em que eu fazia surgir, por entre os dedos, um jacaré. Em seguida, comprimindo o animal pelas extremidades, transformava-o numa sanfona. E encerrava o espetáculo tocando o Hino Nacional da Cochinchina. Os aplausos estrugiam de todos os lados, sob o meu olhar distante.

O gerente do circo, a me espreitar de longe, danava-se com a minha indiferença pelas palmas da assistência. Notadamente se elas partiam das criancinhas que me iam aplaudir nas matinês de domingo. Por que me emocionar, se não me causavam pena aqueles rostos inocentes, destinados a passar pelos sofrimentos que acompanham o amadurecimento do homem? Muito menos me ocorria odiá-las por terem tudo que ambicionei e não tive: um nascimento e um passado.

Com o crescimento da popularidade a minha vida tornou-se insuportável.

Às vezes, sentado em algum café, a olhar cismativamente o povo desfilando na calçada, arrancava do bolso pombos, gaivotas, maritacas. As pessoas que se encontravam nas imediações, julgando intencional o meu gesto, rompiam em estridentes gargalhadas. Eu olhava melancólico para o chão e resmungava contra o mundo e os pássaros.

Se, distraído, abria as mãos, delas escorregavam esquisitos objetos. A ponto de me surpreender, certa vez, puxando da manga da camisa uma figura, depois outra. Por fim, estava rodeado de figuras estranhas, sem saber que destino lhes dar.

Nada fazia. Olhava para os lados e implorava com os olhos por um socorro que não poderia vir de parte alguma.

Situação cruciante.

Quase sempre, ao tirar o lenço para assoar o nariz, provocava o assombro dos que estavam próximos, sacando um lençol do bolso. Se mexia na gola do paletó, logo aparecia um urubu. Em outras ocasiões, indo amarrar o cordão do sapato, das minhas calças deslizavam cobras. Mulheres e crianças gritavam. Vinham guardas, ajuntavam-se curiosos, um escândalo. Tinha de comparecer à delegacia e ouvir pacientemente da autoridade policial ser proibido soltar serpentes nas vias públicas.

Não protestava. Tímido e humilde mencionava a minha condição de mágico, reafirmando o propósito de não molestar ninguém.

Também, à noite, em meio a um sono tranqüilo, costumava acordar sobressaltado: era um pássaro ruidoso que batera as asas ao sair do meu ouvido.

Numa dessas vezes, irritado, disposto a nunca mais fazer mágicas, mutilei as mãos. Não adiantou. Ao primeiro movimento que fiz, elas reapareceram novas e perfeitas nas pontas dos tocos de braço. Acontecimento de desesperar qualquer pessoa, principalmente um mágico enfastiado do ofício.

Urgia encontrar solução para o meu desespero. Pensando bem, concluí que somente a morte poria termo ao meu desconsolo.

Firme no propósito, tirei dos bolsos uma dúzia de leões e, cruzando os braços, aguardei o momento em que seria devorado por eles. Nenhum mal me fizeram. Rodearam-me, farejaram minhas roupas, olharam a paisagem, e se foram.

Na manhã seguinte regressaram e se puseram, acintosos, diante de mim.

— O que desejam, estúpidos animais?! — gritei, indignado.

Sacudiram com tristeza as jubas e imploraram-me que os fizesse desaparecer:

— Este mundo é tremendamente tedioso — concluíram.

Não consegui refrear a raiva. Matei-os todos e me pus a devorá-los. Esperava morrer, vítima de fatal indigestão.

Sofrimento dos sofrimentos! Tive imensa dor de barriga e continuei a viver.

O fracasso da tentativa multiplicou minha frustração. Afastei-me da zona urbana e busquei a serra. Ao alcançar seu ponto mais alto, que dominava escuro abismo, abandonei o corpo ao espaço.

Senti apenas uma leve sensação da vizinhança da morte: logo me vi amparado por um pára-quedas. Com dificuldade, machucando-me nas pedras, sujo e estropiado, consegui regressar à cidade, onde a minha primeira providência foi adquirir uma pistola.

Em casa, estendido na cama, levei a arma ao ouvido. Puxei o gatilho, à espera do estampido, a dor da bala penetrando na minha cabeça.

Não veio o disparo nem a morte: a máuser se transformara num lápis.

Rolei até o chão, soluçando. Eu, que podia criar outros seres, não encontrava meios de libertar-me da existência.

Uma frase que escutara por acaso, na rua, trouxe-me nova esperança de romper em definitivo com a vida. Ouvira de um homem triste que ser funcionário público era suicidar-se aos poucos.

Não me encontrava em condições de determinar qual a forma de suicídio que melhor me convinha: se lenta ou rápida. Por isso empreguei-me numa Secretaria de Estado.

1930, ano amargo. Foi mais longo que os posteriores à primeira manifestação que tive da minha existência, ante o espelho da Taberna Minhota.

Não morri, conforme esperava. Maiores foram as minhas aflições, maior o meu desconsolo.

Quando era mágico, pouco lidava com os homens -o palco me distanciava deles. Agora, obrigado a constante contato com meus semelhantes, necessitava compreendê-los, disfarçar a náusea que me causavam.

O pior é que, sendo diminuto meu serviço, via -me na contingência de permanecer à toa horas a fio. E o ócio levou -me à revolta contra a falta de um passado. Por que somente eu, entre todos os que viviam sob os meus olhos, não tinha alguma coisa para recordar? Os meus dias flutuavam confusos, mesclados com pobres recordações, pequeno saldo de três anos de vida.

O amor que me veio por uma funcionária, vizinha de mesa de trabalho, distraiu-me um pouco das minhas inquietações.

Distração momentânea. Cedo retornou o desassossego, debatia-me em incertezas. Como me declarar à minha colega? Se nunca fizera uma declaração de amor e não tivera sequer uma experiência sentimental!

1931 entrou triste, com ameaças de demissões coletivas na Secretaria e a recusa da datilógrafa em me aceitar. Ante o risco de ser demitido, procurei acautelar meus interesses. (Não me importava o emprego. Somente temia ficar longe da mulher que me rejeitara, mas cuja presença me era agora indispensável.)

Fui ao chefe da seção e lhe declarei que não podia ser dispensado, pois, tendo dez anos de casa, adquirira estabilidade no cargo.

Fitou-me por algum tempo em silêncio. Depois, fechando a cara, disse que estava atônito com meu cinismo. Jamais poderia esperar de alguém, com um ano de trabalho, ter a ousadia de afirmar que tinha dez.

Para lhe provar não ser leviana a minha atitude, procurei nos bolsos os documentos que comprovavam a lisura do meu procedimento. Estupefato, deles retirei apenas um papel amarrotado — fragmento de um poema inspirado nos seios da datilógrafa.

Revolvi, ansioso, todos os bolsos e nada encontrei.

Tive que confessar minha derrota. Confiara demais na faculdade de fazer mágicas e ela fora anulada pela burocracia.

Hoje, sem os antigos e miraculosos dons de mago, não consigo abandonar a pior das ocupações humanas. Falta-me o amor da companheira de trabalho, a presença de amigos, o que me obriga a andar por lugares solitários. Sou visto muitas vezes procurando retirar com os dedos, do interior da roupa, qualquer coisa que ninguém enxerga, por mais que atente a vista.

Pensam que estou louco, principalmente quando atiro ao ar essas pequeninas coisas.

Tenho a impressão de que é uma andorinha a se desvencilhar das minhas mãos. Suspiro alto e fundo.

Não me conforta a ilusão. Serve somente para aumentar o arrependimento de não ter criado todo um mundo mágico.

Por instantes, imagino como seria maravilhoso arrancar do corpo lenços vermelhos, azuis, brancos, verdes. Encher a noite com fogos de artifício. Erguer o rosto para o céu e deixar que pelos meus lábios saísse o arco-íris. Um arco-íris que cobrisse a Terra de um extremo a outro. E os aplausos dos homens de cabelos brancos, das meigas criancinhas.

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domingo, 14 de noviembre de 2010

Na Roda

Na semana que vem (21/11) estaremos em Sampa. Uma passada no Bar Chora Menino será obrigatória, para dar um abraço na turma. Alguns bares da Vila Mariana estão no roteiro.

Já no dia 04 de dezembro a visita será para a Roda de Samba do Ouvidor, no Rio, agora acompanhados de Dolores. Aliás, a agenda no Rio será apertada, só em Vila Isabel...

Como todos sabem, no primeiro e terceiro sábado de cada mês aquilo lá pega fogo, com Thiago Prata (violão de sete cordas), Anderson Balbueno (pandeiro), Gabriel Cavalcante (cavaquinho e voz) e Fábio Cazes (surdo e voz). Além de bambas, o pessoal também pesquisa muito, pelo resgate de pérolas em maxixes, lundus, choros e samba, que sem gente como eles estariam fadadas ao esquecimento. A partir das 15 h (oremos para que não chova!) é só felicidade na esquina da Rua do Mercado com Rua do Ouvidor.

O ingresso desta vez será meio litro de "merengue" não perecível.

Por falar em Gabriel Cavalcante, o Gabriel da Muda (aparece no vídeo, barriguinha de muito chopinho, abraçado ao cavaco e cantando), esse talentoso jovem amigo e meio que "protegido" do Poeta da Guanabara Moacyr, no dia 09/12 teremos o lançamento, no Teatro Rival, do seu primeiro CD, "O que vai ficar pelo salão". Imperdível. Sobre o CD e esse grande cara o blog  Samba do Ouvidor traz uma excelente matéria.

Quanto à Roda do Ouvidor, pelo vídeo dá para se ter uma tênue idéia de como fica a esquina no sábado à tarde. Moacyr Luz, depois do almoço e muitos chopes, estava lá nesse dia.




viernes, 12 de noviembre de 2010

Carlito Dulcemano Yanés na rua do Perdão

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A foto ao lado é a melhor que conseguimos arrancar do compañero Carlos Yanés (as antigas obviamente ele não autorizou a exposição), de tão acabrunhado que anda, um sofrimento sem fim.

Anteontem, noite de festa na Portinho, desviou-se de uma venezuelana maravilhosa, nunca tínhamos visto tal coisa, o imenso rio Uruguay, rio dos rios, rejeitando água. A noite toda sumido com o chapéu pelo nariz, ouvindo os bandoneons e entornando quieto umas bebidas fraquinhas, respondendo por monossílabos, sim, não, talvez.

Nosotros, com a liberdade prudente de muitos anos de amizade, em certo momento dissemos: "Acorda Alice" (Sérgio Bittencourt - Rio de Janeiro, 03/02/1941- 09/07/1979). Carlos sabe que nos referimos à velha música gravada pela rainha da fossa, Waleska (Maria da Paz Gomes - Afonso Cláudio, ES, 29/09/1941).
Esse samba-canção, de 1970, por alguma razão na época foi proibido pela ditadura militar. A ferro e maldade e prevalecimento, se reclamar morre, mas hoje, ai que vida,  ouço e penso em amor e dor.

Em março, na volta da praia, a gente coloca o bloco na rua, até lá Carlito será outro.

Entrementes, já que não houve consenso, resolvemos colocar em votação o nome do bloco para nos divertirmos no carnaval 2011, no sábado à tarde (e noite adentro) na rua do Perdão (Rua Sofia Veloso, na Cidade Baixa), pelo menos aqueles que estiverem em Porto Alegre. Vamos simplesmente alugar um barzão inteirinho e tomarmos até a calçada, com sopros, surdos, atabaques e tudo o mais.

Duas opções, os amigos do bloguinho estão convidados/intimados a se manifestar:

(1) Bloco Dança na Mesa, e
(2) Bloco Se Me Der Eu Como.

A turma da farra aqui não hesitou, mas, como eu disse, houve algum dissenso.

Os(as) desenhistas, chargistas, etc, que quiserem colaborar sugerindo o modelo da camiseta merecerão a nossa eterna gratidão.

Na cama de outro - Parte 4 (final)

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Por Síndia Santos*

Vaguei pelo quintal num mês de separação. Quintal que guardava poeira, mato que crescia entre as pedras, subia pelas paredes. Quintal que sussurrava em ameaça: a vida reivindica seu espaço, não há como escapar!

Uma teia de aranha cortava o teto da garagem. O perverso inseto negro estava lá, longas pernas desconfiadas. Negra e ágil. Negra. Negra e bela. E com sua beleza caminhava devagar. Dia após dia alimentei-a com baratas e moscas mortas. A aranha causava-me arrepios no interior da pele, punha cada pêlo em polvorosa. Seu movimento cuidadoso me seduzia; havia algo de atroz que seqüestrava meu olhar. Ela era uma aranha, um ser negro venenoso de medo, com pernas longas de raízes de medo. Mas medo do que?

Todas as noites ela se arrastava em busca dos insetos que sua teia colhia durante o dia. Medo de quê, se essa traiçoeira agia pelas costas, recolhia-se amedrontada ao canto do telhado sempre que sua teia balançava.

Medo, ela tinha medo e passou a vida inteira no canto do telhado até que um pássaro, num vôo premeditado a capturou. O fim, no bico de um passarinho, bicho frágil que não causava medo. O passarinho com o seu canto não tinha medo de viver. Voava e mesmo que uma pedra o fizesse cair dos céus, ele voara a vida inteira.

Eu não era passarinho, mas feito o mito do passeio das almas de Platão ganhei asas, num amor que me trouxe lembranças de acontecimentos que vi quando andava pelo paraíso. As asas me tornaram anjo-pássaro-purificado. Anjo capaz de amar; amor é tudo o que move, diz a letra da canção. Eu me movia.

Tanto amor e fim. Fui embora. Ficar só era desejo latente. São Paulo, a maior metrópole da América Latina, cidade fria e cruel me acolheu. Fui embora porque nem amor nem ódio seguravam-me de pé. Fui-me porque não estava mais perdida, perde-se aquele que quer se encontrar, me encontrara. Restava saber o que era aquilo em vertiginosa existência à minha frente.

Aquilo era alguém que olha pela janela, num vazio tremendo, buraco sem passado, barco à deriva, folha ao vento, alguém que olha pela janela em busca de vida, de outras histórias, alguém que ri quando o marido desajeitado varre a casa com afinco, que se comove quando a mãe sai à varanda em busca de ar com o bebê nos braços, a amamentá-lo, alguém que se distrai com o porre dos adolescentes na festa do apartamento em frente, alguém que ouve o galo dos chineses da mercearia suja cantar, transformando a noite em dia. Que alívio, o dia!

A claridade trouxe a miragem de uma bruxa com lenço amarrado na cabeça e calças mijadas, com pés de unhas grandes e enegrecidas que pisavam na calçada suja, agitando-se de um lado ao outro em gritos de coisas incompreensíveis, numa voz ritmada de menina que destoava das rugas do rosto.


Foi a última imagem que vi antes de me atirar do nono andar, do número 180 da Barão de Campinas. Uma queda rápida na ansiedade de descobrir quem eu era. E eu não era a mesma pessoa que olhou para baixo e teve fé ao não acreditar. Pisei no nada sabendo que aquele vácuo não me sustentaria. No dia anterior, numa esquina, uma moçoila, de saias curtas e barriga saliente fez-me um convite à diversão; as suas costas uma escadaria encardida. Um homem vestido de mulher, tão desencontrado quanto eu naquela vida.

Parei. Havia prazos que não poderia cumprir, não estava pronta; amores que não poderia amar, não estava pronta. Na vida, eu era uma prostituta sem malícia que não poderia sobreviver.

Fechei os olhos, estava no coração de São Paulo, com suas ruas que levavam a canto algum. Sentia batidas pulsarem em minhas têmporas e inundarem meus ouvidos. Tum-tum, tum-tum, tum-tum, Srvam, bibi-bibi. Uma pomba parou perto da janela, nos encaramos por alguns instantes, não nos reconhecemos. Cansada ela se lançou ao ar alçando vôo para longe. Não muito. Várias outras apareceram e seguiram o mesmo caminho.

Algo acontecia dentro de mim que não sabia explicar. Era uma mutação que horas me envelhecia e horas me punha insana. Não cria mais no que via, podia passar através de portas, mas esse encontro doía. Doía porque me modificava e porque não queria me misturar à madeira da porta, madeira morta. Queria passar através dela.

Lá embaixo os carros continuavam a enviar sangue ao coração de São Paulo numa música sem ritmo que entontecia.

Lá na frente, meu marido caminhava de um lado ao outro. Passos de um homem que mergulharia com maestria num novo corpo, descobrindo com sutileza outros prazeres, avançando e conhecendo.

O que me tortura é o bálsamo de meu coração. Meu marido não é mais o que foi; a criança ingênua que dormiu em meus braços, que chorou sobre meu corpo não existe mais. Morreu quando meu sofrimento me renasceu.

Lá atrás, deitamos numa cama de areia e o céu nos presenteou com estrelas que caiam. Um pedido!

- Alguém com quem eu possa sentar e olhar a linha do horizonte.

É possível tocar um coração fragmentado. Minha alma foi banhada com lágrimas pontiagudas que se perderam num instante que eu não poderia alcançar. Era longe, tempo de terra seca que não quer ver o mar contido num olhar, aquele primeiro que nos uniu.

Marejou, meu corpo inteiro marejou. Quem rachou o céu que nos protegia? Sim foi amor, agora posso ver na pontinha do rastro do cometa que nos transformou.


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* Síndia Santos é jornalista e escritora e vice-versa. Catarinense ao brotar, mas se houvesse um lugar chamado Humano eu diria que é humanista, que o é acima de tudo, cavouca até sangrar as mãos e o coração e tudo para que seja aqui na Terra esse sonhado lugar, hoje radicada no Rio de Janeiro. Alma do blog "Fiandeira" e "louca", que é como nosotros sem predicados chamamos os iluminados de atar com estrelas inquietas rodando na alma, essas meninas cintilantes não param e me confundem. O conto dispensa comentários, 


Síndia tem muitos nomes mas tuaregue não é, é minha amiga de longe e logo estará explodindo com livro na praça. Saúde, Síndia! Amada! Sou teu fã.

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Fossa da madrugada

Noite de Paz (Dolores Duran)



Noite de Paz


Dá-me, Senhor

Uma noite sem pensar

Dá-me Senhor

Uma noite bem comum

Uma só noite em que eu possa descansar

Sem esperança e sem sonho nenhum

Por uma só noite assim posso trocar

O que eu tiver de mais puro e mais sincero

Uma só noite de paz pra não lembrar

Que eu não devia esperar e ainda espero.

jueves, 11 de noviembre de 2010

Manhã de Carnaval

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Salito hoje ia para as Canárias. Hoy en sueños. Depois de ver a menina espanhola... Ai que vida.

A espanhola y su amistad.

Deixei-a cantando para si mesma: "Levo um lero, que o bolero é longo, e a vida num dado momento...".

Um olhar vale por tudo. O bem-querer. A confiança sem explica. Sal lá pensando longe:  a espanholita sorri para a vida.

Aí chegamos em casa (é como aqui se chama um lugar, o mais próximo, com conexão e algum trago), e dou de cara com muitos afagos.
Deus meu.
Falamos ontem sobre Antônio Maria, e  dissemos pouco.
Citando al pasar sobre uma parceria com Luiz Bonfá.
Sobre Luiz falaremos outro dia.
Hoje, madrugada alta demais, atendo ao pedido da turca paulista. Puxa, Vanda, prefiro em outra voz, mas é legal ver austrÍacos (alemães?)...
Taí, Manhã de Carnaval, do Antônio Maria e do Luiz Bonfá.
Em outros pagos, não deram o crédito, nem grana do autoral.
Meninas... Ah, espanholita.

miércoles, 10 de noviembre de 2010

Se Eu Morresse Amanhã De Manhã


Na noite passada, vendo a chuva acabar pela noite de Porto Alegre, o nosso amigão Walter Schumacher, violonista, apreciador de música, vinhos e mulheres, pela ordem que surgirem, nos lembrava um velho samba-choro, sucesso na década de 50, chamado "Ninguém me ama" (Antônio Maria/Fernando Lobo), que dispensa apresentação dado que só quem não ouviu ao menos uma vez na vida são os nenéns da creche Garoto Sapeca, da Rua da República. Ou talvez tenham ouvido...

O samba-choro suscitou lembranças e comentários sobre um dos seus autores.

Antônio Maria (de Araújo Morais, Recife, 17/03/1921 - Rio de Janeiro, 15/10/1964), entre outras coisas foi comentarista esportivo, cronista, poeta e compositor. Mais um esplêndido patrício, nascido em Pernambuco mas carioquíssimo, autor de muitas obras-primas como, mero exemplo, "Manhã de Carnaval", em parceria com Luiz Bonfá (outra glória nacional).

De Antônio, inolvidável o seu amor pelas mulheres, o gosto pela boemia, a inteligência, o bom humor e o charme, naquele Rio de Janeiro libertino dos anos 50.

A propósito de "Ninguém me ama", certa vez o nosso herói ficou falando sozinho. Em parceria com Ary Barroso, tinha um programa de sucesso: "Rio, Eu Gosto de Você", na TV Rio, em 1957.  Maria provocava os entrevistados: perguntou a Sandra Cavalcanti, então candidata a deputada, se era mal-amada. A candidata respondeu à altura: "Posso até ser, senhor Maria, mas não fui eu que fiz aquela música 'Ninguém me ama'". Dizem que Antônio Maria ficou bebendo e rindo até alta madrugada por conta da presença de espírito da candidata.

Do seu diário de 40 dias apenas, em 1957, dá para pinçar coisas "inacreditáveis".

Sobre Di Cavalcanti e Oscar Niemeyer:

"Veio depois o Di. Estava bêbedo. Voltava de uma 'suruba' oferecida por Oscar Niemeyer aos arquitetos que vieram, da Europa, julgar o plano urbanístico de Brasília. Dez mulheres nuas. Di desenhou duas delas."

Sobre uma carta que Vinícius de Moraes lhe escreveu, depois de brigarem por causa de uma mulher:

"Vinícius me escreveu, de Paris. (...): 'Que diabo, meu Maria! Pegue um papel e me escreva uma carta bem terna, dizendo que não há nada, e esqueça os imponderáveis da vida. (...) Você me disse que a única coisa que poderia quebrar nossa amizade seria uma mulher. Eu estou certo de que nem isso'.
Acho que esta carta me desmagoou inteiramente. Escrevi-lhe, suponho que ternamente. Mas continuo achando que mulher nos separa; que mulher separa, querendo ou sem querer, quaisquer amigos."

Obviamente bebia muito bem e era mulherengo ao exagero, afinal era boêmio dos bons. Morreu do coração com apenas 43 anos (proclamava-se "cardisplicente", uma mistura de cardíaco com displicente, era gordo e não se cuidava nadinha).

Dedicamos o samba-canção que segue a Carlito Dulcemano Yanés, que anda mui aburrido por causa de mulher, enquantos os demais andamos pensando na Roda de Samba da esquina da Rua do Mercado com a Rua do Ouvidor (o ingresso é um litro de cangibrina não perecível).

De Antônio Maria, nas vozes de Clara Nunes e Nana Caymmi, "Se eu morresse amanhã de manhã" (entremeada com "Solidão", da Dolores Duran):
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De que serve viver tantos anos sem amor

Se viver é juntar desenganos de amor

Se eu morresse amanhã de manhã

Não faria falta a ninguém

Eu seria um enterro qualquer

Sem saudade, sem luto também

Ninguém telefona, ninguém

Ninguém me procura, ninguém

Eu grito e um eco responde: "ninguém!"

Se eu morresse amanhã de manhã

Minha falta ninguém sentiria

Do que eu fui, do que eu fiz

Ninguém se lembraria

martes, 9 de noviembre de 2010

Refresco

O refresco vai com os doidos da Orquestra Típica Fernández Fierro.
"Lo más rockero en la historia del tango, lo más tanguero en la historia del rock".
 

lunes, 8 de noviembre de 2010

Na cama de outro - Parte 3

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Por Síndia Santos


Mais uma vez a porta bateu, encerrando-me agora num sepulcro cheio de sombras. A pena era aplicada: a insuportável vida latejava.

Um passo fazia a carne vibrar em toneladas de energia, olhar pedia uma força que a consciência não liberava. Agora, sim, a culpa.

Redimi-me ouvindo o que tinha para ser dito em ligações que cortavam a madrugada em xingamentos. Nenhum sentimento me tomava, eu era a pura abstração aprisionada no sentido de cada palavra: fraca, inconstante, volúvel, insatisfeita; porém desperta.

Não havia como me esconder da própria existência. A prova do meu crime eram as marcas em meu corpo. A ferro e fogo imprimi-as sobre a pele como castigo por ousar existir. Não, não havia como dizer que não era nada, contudo só valeria a pena se fosse amor.

Fechei os olhos em busca de amor num dos quartos de motéis que se misturavam em minhas lembranças.

Meu amante nu, sentado à beira da cama, sorria enquanto estendia as mãos entregando-me um copo de suco de laranja. Deitei-me de bruços ao seu lado, enquanto ele acariciava os cabelos que se esparramavam por minhas costas.

- Acho que nunca amei ninguém, ele me dizia.

Um perfeito estranho com o qual me sentia à vontade. Um homem que mal me conhecia e não fazia questão de me conhecer. Eu também não queria perguntar quem ele era, queria apenas sua mão escorregando por minhas costas nuas, queria o desejo refletido em seus olhos, queria o mistério que sua boca encerrava. Queria descobri-lo sem palavras.

Sua partida não causou saudade, causou estranheza, como letras sem significado num livro. Ele fechou os olhos, e me cegou. Valores, princípios e idéias, ele trouxe o vácuo que fez o mundo perder todo o sentido. Sem querer, a descoberta de hábitos que não eram meus, deuses que não era meus, mas que estavam lá, em algum lugar de mim.

Amor era sentimento nada abstrato que não se contenta em ser palavra; uma vez chamado ganha forma, vida, como havia me ensinado Virginia Woolf. Amor é a oração que nos faz dar um passo adiante, ato de fé.

Tomei coragem e disquei os números.

- Sua esposa ligou para o meu marido.

Meu amante ficou mudo e depois negou. Sua esposa estava deitada sobre a cama, remoendo a dor por ter lido nossas confidências. Sabíamos disso, mas em nome do que iríamos desestabilizar a mentira que a fazia sentir-se segura?

Pus-me de joelhos num altar sem velas. Espaço vazio de desejo morto, sem pernas. Arrastava-me nas afiadas ruas da lembrança, o meu deus se misturava a mim, abençoava-me, me tornava humana.

Sorte. Há pessoas que levam a vida inteira sem perceber que não têm vontades, desejam o que esperam que desejem. Meu deus é feito de carne e osso, repleto de imperfeições e tristezas, meu deus finge ser feliz porque almeja ser feito de éter; e é. O meu deus precisava ganhar sentido.

(Segue e termina AQUI, uma pena, ficaria a lendo por anos)
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sábado, 6 de noviembre de 2010

Anahí

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Anahí, filha de Salito, que anteontem completou mais uma primavera, é a moça da foto, ali desfilando numa passarela em Hong-Kong.
Faltei às comemorações por muitos e complexos motivos, minha adorada, dentre os quais se destacam a ilusão e o estar longe, para não dizer coisa pior.
Estava longe, mas pensando em ti todas as horas, todos os minutos, todos os segundos, sabendo dos lados bons da vida que vivemos, um tê-la ensinado, e permitido, a andar pelo mundo, por si mesma, desde os 14.
E, como Salito, ver a vida, fora da janela.

Meu amor, minha menininha, eu te amo, vida minha.
Beijos.
Pai.