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Madrugada alta em Porto Alegre, trovões roncando ao longe, aviso e promessa,
sabia que não iria demorar. Tirei o terno e botei um calção do Peñarol de
Montevideo que ganhei de um amigo. Saí só de calção amarelo e preto, pés
descalços. Azar, tormenta e chuva não perco por nada, até para provocar os
supostos deuses. Luísa da Cruz gritou vou junto e me alcançou correndo só de
calcinha. Quando chegamos lá na rua o mundo já descia em água. Rindo ensopados
na esquina da Rua Olavo Bilac com a Rua da Olaria, abraçados, vi que a sua
calcinha branca estava preta pelos seus pelos molhados. Azar, a rua estava
deserta. Ela viu que eu olhava, veio e me beijou a boca com força, como eu
estava tonta ao som do ribombar dos trovões e relâmpagos no céu, este que
finalmente se decidiu, rugiu feio e explodiu de modo assustador: os raios. Ela
se agarrou mais em mim e a abracei forte, Luísa não tenha medo, e mentalmente
pedi ao suposto diabo que se ali caísse um raio que fosse em cima de mim, dela
não. Vieram três queimando tudo, um destruiu uma árvore mais adiante e os
outros foram absorvidos pelos para-raios das proximidades. Então o céu se
derramou de maneira anormal, pressenti que a cidade ficaria submersa, era um
dilúvio que iria encher o rio e a água subiria até os morros. Eu sabia que os
céus e os subterrâneos queriam me matar, mas não seria naquele dia, eu mal
estava começando, tinha uns serviços por terminar.
(...)
Muito bom és um escritor nato.
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