miércoles, 21 de octubre de 2020

QUE O MUNDO CAIA SOBRE MIM (Fragmento)

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Madrugada alta em Porto Alegre, trovões roncando ao longe, aviso e promessa, sabia que não iria demorar. Tirei o terno e botei um calção do Peñarol de Montevideo que ganhei de um amigo. Saí só de calção amarelo e preto, pés descalços. Azar, tormenta e chuva não perco por nada, até para provocar os supostos deuses. Luísa da Cruz gritou vou junto e me alcançou correndo só de calcinha. Quando chegamos lá na rua o mundo já descia em água. Rindo ensopados na esquina da Rua Olavo Bilac com a Rua da Olaria, abraçados, vi que a sua calcinha branca estava preta pelos seus pelos molhados. Azar, a rua estava deserta. Ela viu que eu olhava, veio e me beijou a boca com força, como eu estava tonta ao som do ribombar dos trovões e relâmpagos no céu, este que finalmente se decidiu, rugiu feio e explodiu de modo assustador: os raios. Ela se agarrou mais em mim e a abracei forte, Luísa não tenha medo, e mentalmente pedi ao suposto diabo que se ali caísse um raio que fosse em cima de mim, dela não. Vieram três queimando tudo, um destruiu uma árvore mais adiante e os outros foram absorvidos pelos para-raios das proximidades. Então o céu se derramou de maneira anormal, pressenti que a cidade ficaria submersa, era um dilúvio que iria encher o rio e a água subiria até os morros. Eu sabia que os céus e os subterrâneos queriam me matar, mas não seria naquele dia, eu mal estava começando, tinha uns serviços por terminar.
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