jueves, 24 de septiembre de 2020

AMADO URUGUAY

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Pobre de mim, indo pelo Chuy só conheci um pouco de Melo, Rocha e Lavalleja. Virei o auto para ir a Treinta y Tres, entrei e na divisa faltou combustível. Botei um galão de álcool que tinha no porta-malas, era o que tinha, lá não vendiam gasolina em postos, eu não sabia. O carro era de gasolina, virei o volante para a direita, consegui entrar de novo em Rocha e logo a fubica quebrou. Noite escura, azar: abaixo de chuva entrei a pé campo adentro, andei dez quilômetros até achar viventes, cheguei de madrugada batendo palmas na frente da casa, já de abraços e lambidas com os cães de guarda, eles gostam de mim. Um pinto de molhado, foi o que viram quando vieram com lampiões acesos. Uma família boa, numerosa, agricultores tipo MST, todos me ajudaram, tinham um velho trator e uma filha dos velhos e irmã dos rapazes madurinha.
Gente da minha raça, hospitaleiros, decentes, rebocaram o carro e tudo. Casei com a Ariana Comesaña, fiquei lá com eles por cinco anos. Ali, aos 33 anos, idade de Cristo como diziam, fechei 33 filhas com as cinco que ganhei de Ariana. Com eles "Aprendi filosofía, dados, timba, y la poesía cruel de no pensar más em mí". E de ovelhas, a tosquia e o bem querer. Pretendia chegar a um Cafetín de Buenos Aires, mas fui primeiro para Montevideo aos 38 anos, com um 38 e um punhal por dentro do paletó. "Con el pucho de la vida / Apretado entre los labios...". A Ariana entendeu quando eu disse "Não demorarei muito, meu amor, vou voltar, só preciso terminar um serviço". Em Montevideo e na Av. Cataluña tudo mudou. Como en las calles Durazno y Convención, muito amor mas precisei pegar em punhal. Anos depois eles fugiriam para Porto Alegre quando Mujica botou ordem na casa, com amor e argumentos irrefutáveis.
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