domingo, 20 de septiembre de 2020

QUERO SER COELHO

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Quando menino em certo momento coube a mim alimentar os coelhos, varrer e lavar, tirar seus cocozinhos, eles presos lá. Eram muitos num espaço de quinhentos metros quadrados. Coelho come tudo o que é vegetal que vê pela frente. Por ordens do patrão eu levava-lhes braçadas de funcho molhado que eu mesmo cortava à facão, um vegetal que não custava nada ao cretino. Eles amavam funcho, era o que tinha, comiam tudo rapidamente com os seus dentinhos ágeis, crã, crã, crã. Animaizinhos queridos, apeguei-me tanto que pedi demissão quando o cretino disse que iria matar alguns para comer, e vender outros tantos para os açougues da vida.
Já moço em Porto Alegre festejei quando entrei na casa do Nadir, dono do bar-sinuca da Rua Zé do Patrô que havia ao lado da Igreja Sagrada Família. Ele e a mulher moravam num apartamento na Av. João Pessoa, de frente para a Redenção, e tinham um coelho de estimação, como temos gatinhos e cãezinhos. Tinha a caixinha de areia dele, tudo certinho, o coelhinho amoroso como só, como o casal que o adotou e o alimentava com múltiplos vegetais, cenoura, vagem, alface e tudo.
Na correria da vida nunca mais vi coelho nem funcho. Ontem o querido gringo Pedrinho, da mercearia da Av. Venâncio Aires, me deu um litro de cachaça em conserva de funcho, já tomei metade. Os coelhinhos estavam certos, coisa mais boa, embora eu goste mais com losna, o absinto de pobre.

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