Até a semana passada, eu
sozinho na casa da mãe, o maldito telefone não parava. Atende e é um (011) que
cai sem dizer nada.
Pior ainda as instituições
ditas de caridade querendo morder a velha. Ela pagava uma mensalidade para uma,
e os malandros repassavam seu nome e telefone para outras, estas para outras,
no fim umas mil: "Lá tem uma velhinha fácil de tirar os trocos".
Para estas, como são
caridosas, me limitei a mandá-los tomar no cu: vai trabalhar, vagabundo.
Não tenho telefone celular
de há muito, os malditos credores não me deixavam em paz. Cansei de atender e
responder: vou descobrir onde tu mora, advogadinho de crédito podre, e tu vai
morrer junto com o dono desse banco-agiota.
Pararam aqui na mãe, pois
desliguei da parede, não dava conta de tanto "Vai tomar no cu".
Comecei a perder a paciência e a falar em "Tu vai morrer".
Hoje recordei de um colega
auditor e religuei, resolvi tentar manter a calma e fazer como ele.
Em pleno carnaval em Belém,
madrugada alta, eu tinha segurado três andares de funcionários de um poderoso
banco estatal lá da Amazônia. Precisava emitir o Parecer dos Auditores até a
Terça Gorda, devido a uma liminar concedida por um juiz federal comprado pelos
caras, que na quarta-feira seria derrubada, mas já então com tudo publicado, os
espaços no Diário Oficial e outro de grande circulação já reservados, tudo
pronto, só faltava o Parecer, o que não vem ao caso.
Um dos meus colegas, que
estava trabalhando numa das subsidiárias do bancão, soube e me disse: "Vou
aí ficar contigo em solidariedade, não vou para o hotel ficar lá sem nada para
fazer, aí pelo menos posso te ajudar fazendo cafezinho, se mais não puder".
Um figuraço, o Marcos Adolfo.
Dois diretores deles de plantão, com
seu bando de advogados, também lá, apertando o ânus pelo que poderia sair no
Parecer. Um dos advogados, metido a luminar em legislação societária, tentou um
lero estranho comigo e o expulsei do prédio sem levantar a voz; aquele, que não queria ir, deve
ter ido para o carnaval.
O Marcão frio, com aquele bigodão, muito sério, quieto
ao meu lado, olhando feio para eles.
Recém era uma da madrugada e
juntou uma centena de pessoas na frente do prédio: era maridos, esposas,
namorados, namoradas, etc., todos esperando os seus que estavam trabalhando lá
dentro, só da informática eram uns trinta funcionários, para caírem no
carnaval.
Os telefones começaram a
tocar, ele atendeu um, um cara o xingou. Atendeu outro, idem. Mais um, nova
xingada, mais grossa. Ele me disse, rindo: "Fagundes, em três ligações
virei corno, sem vergonha e filho da puta".
Parou de atender. Os
telefones tocavam, o Marcão sorria e exclamava:
"Pode rinchar que eu
não te atendo!"
Liberei o pessoal só às seis
da manhã, quando o céu de Belém explodia em fogos, uma tradição deles ao
amanhecer de noite de carnaval. Os amigos podem imaginar o número de pragas que
nos rogaram.
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