jueves, 31 de mayo de 2012

Non Ti Scordar Di Me

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Non Ti Scordar Di Me (D. Furno - Ernesto de Curtis), a bela canção napolitana, com o maravilhoso tenor Beniamino Gigli (Recanati, 20/3/1890 - Roma, 30/11/1957), em 1935.

(Como definir Beniamino, Veruschka? No hay como. Amor?)

Vai para a eterna menininha, boêmia desde o berço, Verinha Abreu, que me ensinou.



A menina vai para o PSOL

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Ontem à noite recebemos um longo correio eletrônico da senhorita Leila Ferro, que começou assim: "Tio Salito, resisti o que pude, mas não posso mais. Jogo fora as quinquilharias da infância, mudo a minha vida: vou-me filiar ao PSOL". E seguiu passando a limpo os seus 17 anos, emocionada ao narrar momentos inesquecíveis, ela lá, ainda uma criança, pela mão do seu pai, o Terguino, carregando bandeira do PT. As caminhadas das sextas-feiras, a solidariedade de uma geração.

"Foi apenas uma ilusão, Tio Salito, os malvados se infiltraram, e, ao se infiltrarem, corromperam muitos que tínhamos por bons, ou estes estavam nos enganando. Prefiro pensar que eram bons, que o poder e os seus novos amigos os tornaram fracos, pois a idéia de que nos usaram premeditadamente é muito repulsiva, me dói demais."

O pungente desabafo da menina me fez chorar. Dizer o quê? Tentar demovê-la da ideia? Argumentar que não é bem assim, que a maioria dos quadros dos Trabalhadores ainda é de gente de bem? Dizer que em sua trajetória nesta vida, que mal se inicia, a aguardam muitas decepções? Nem pensar. Bola para a frente, Leilinha. Cuidemos de nós, tratemos de estudar, de nos preparar, vamos precisar disto mais adiante, se quisermos mudar o nosso país.

Pela manhã, ao enviar as obras dos artistas do traço e do pensamento, escolhidas pelos boêmios, disse que gostaria que hoje, excepcionalmente, escolhêssemos a sua. Deixou-nos em sinuca de bico, mas lá vai. Duas, como fizeram os boêmios consoante sua autorização.

Newton Silva.

   

Pater, em A Tribuna (Belo Horizonte, MG).




O tema predominante no Beco do Oitavo, obviamente, foi a coordenadora Leilinha Ferro, a menina dos olhos da turma. Inteirados da sua decisão, cada um interpretou o gesto à sua maneira. Os boêmios iniciavam debates sobre os vagabundos dos negócios e da política, e logo voltavam ao assunto principal. Ainda estão amadurecendo suas ideias.

Tigran Gdanski: "Ei, lembrei agora, o rapaz que ontem me deu um panfleto do PSOL, o Gabriel Z., estava à procura da Leilinha."

De certeza apenas uma coisa, como expressou Mr. Hyde: "Ninguém aguenta mais essa podridão, nossos chefes se tornaram iguais aos bandidos que combatíamos".

"Chefes das negras deles, esses patifes vão desabar feito dominó, quem viver verá", contestou Lúcio Peregrino.

Ficaram com o Amarildo, da Gazeta Online (Vitória, ES).




E com o Dálcio, do Correio Popular (São Paulo, SP).




No Botequim do Terguino a movimentação foi maior. A todo momento alguém interpelava o Terguino, pai da Leilinha, sobre a decisão da guria. Ele com a mesma esquiva: "Eu não tenho nada a ver com isso, ela é quem sabe, sou apenas um dono de buteco".

Aristarco de Serraria disse que andou pensando em migrar para o PCdoB, "Mas agora, para se avançar nas fichas, eles deram de namoridar até a extrema-direita. Então vou sair, mas por enquanto só sei para onde não vou". O "namoridar" saiu em homenagem à Manuela Namorida, claro.

O Contralouco propôs largar "tudo isso que  está aí", com a fundação do PB - Partido dos Boêmios, com o slogan "Aqui vagabundo não entra". Então alguém lembrou do Nicolau Gaiola, que seria o primeiro vereador dos pinguços, vez que, entre seus projetos de imaginária  campanha, propunha colocar botequins e mesas de sinuca em bancos (de agiotas, não de praças), hospitais e faculdades. Para concorrer em São Paulo, o Contra ficou de convidar o Paulo César Peréio. Ficaram lá, montando o programa e as diretrizes do partido.

Na hora de escolherem as obras, grudaram no pé da nojeira da vez.

Erasmo, do Jornal de Piracicaba (Piracicaba, SP).






Cazo, do Comércio do Jahu (Jaú, SP).



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(A coluna A Charge do Dias leva esse título pelo seu idealizador, o mestre Adolfo Dias Savchenko, que um belo dia se mandou para a Argentina, onde vive muito bem. Sucedeu-o na coordenação a jovem Leila Ferro, filha do dono do botequim, quando os boêmios amarelaram na hora de assumir o encargo.)
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miércoles, 30 de mayo de 2012

Vania Abreu

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Festa na casa de Vania Abreu (Vania Mercury de Almeida, Salvador, BA, 30/5/1967).

Aqui com o clássico de Moacyr Luz e Aldir Blanc, gravado em 1999.


Feliz Aniversário, moça.

Tintim!


Os boêmios no PSOL? Na Charge do Dias

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Hoje pela manhã, no Beco do Oitavo, Gustavo Moscão e Nicolau Gaiola sentaram-se em mesas na calçada. Sabiam que no interior do bar a conversa estaria centrada nas grandes figuras da república, como Lula, Gilmar Mendes, Cachoeira, Palocci (sim, não o esquecem), Fernandinho Beira Mar, Sarney, José Dirceu, Daniel... Dantas (agora eu me atrapalhando com o nome), Lampião, Demóstenes, Cavendish, Madame Satã, Eike Batista e outros.

Moscão meteu a cara na janela e falou para os boêmios de dentro: "Ontem a gente avisou, chega desse papo furado, aqueles malandros lá podres de ricos e vocês aqui de masturbação mental".  Riu, gritou "Salta dois ferrinhos" ao portuga e voltou para a frente. Na verdade os dois queriam privacidade para acertar um treco de ajudar o Terguino, do outro bar, a dar um cagaço num gerentalha de banco. Essas coisas não se pode falar diante de Mr. Hyde, odeia extorsão - lembra de um agiota em especial, e já quer ir em casa buscar seus molotovs de estimação.

Mr. Hyde rugiu lá de dentro: "Alienados. Vocês têm mais que ir pra passeata da maconha!".

João da Noite estava muito ocupado, de modo que temos apenas alguns dos diálogos, quando não fragmentos.

Carlinhos Adeva: "É como eu tava dizendo: claro que os governadores podem ir à CPI e responder a todas as perguntas e questionamentos. Basta o sujeito negar envolvimento com os mafiosos, responder 'Não sei' ao que não sabe e fim. O problema é outro: eles tentam evitar a ida a todo custo pela simples razão de que devem, têm culpa em cartório. Vejam bem, admitamos que o tal Cabral Guardanapo, do Rio, vá lá e negue que o governo dele, com sua interferência, ajudou a Delta a se avançar no dinheiro público. Ou diga que não sabia de algo que tenha suas digitais.  Nega numa boa, toma cafezinho, o lambe-ovo do Vaccarezza lambe os seus respectivos, e sai de lá babado, elogiado, palmadinhas nas costas, ah, que grande homem. O medo de quem deve é que no seguimento, com quebras de sigilo e o escarcéu, daqui a pouco surja uma prova cabal da sua participação, alguma ajudinha ao amigão dono da Delta, para não falar em coisa pior. E agora?

(toma um gole da sua caipirinha)

Agora, além de responder pela maracutaia, que nunca dá em nada, surge um fato incriminador gravíssimo, de que não poderá se livrar tão fácil: teria mentido a uma Comissão Parlamentar de Inquérito, mentido à nação dentro da Casa do Povo. Se mentir em tribunal comum dá cadeia, imaginem uma coisa dessa envergadura. Essa a razão por que correm como o diabo da cruz do depoimento na CPI. Depoimento ou testemunho que qualquer homem de bem tem a obrigação de dar, se convidado ou intimado, em respeito ao seu país, aos cidadãos do seu país. E autoridades fogem... Esses são os salafrários que nos governam."

(...)

Marquito Açafrão: "O Lula pode ser um deslumbrado, um abobado que não se flagra que deu pra ele, mas ao menos foi presidente pelo voto, e esse Gilmar Dantas é na base do Quem Indica."

Lúcio Peregrino: "Pera aí, Açafra, primeiro que isso de ter votos não quer dizer picas. Todo mundo sabe que ganha quem melhor iludir o povo da escuridão, marquetagem e caralho a quatro, e pra isso antes precisa do aval da Globo, dos empreiteiros, dos banqueiros... dos caras que mandam nesta bosta de país. O Lula baixou as calças pra eles, depois de a gente se matar para colocá-lo na vitrine. Depois que nos rasgamos trabalhando e lhe demos o povão, não precisava mais da gente. Os descontentes que se retirem... E por essas e outras se acha O cara..., tenha a santa paciência, se deslumbrar com o povão, que amanhã ou depois estará elegendo outro Collor, vá ser burro assim na puta...".

Marquito: "Ei, tá bem, Lúcio, não precisa gritar."

Mr. Hyde trovejou: "Pessoal, não vamos ficar brigando entre nós, essa gente não merece, temos é que pensar em alternativas. Para o seu 'idealismo' o Lula está certo, com os bolsos cheios, um filho que é um ás dos negócios, agora é Don Luigi 'Lula' Silveone. Mais um engano que cometemos, foda-se, ponto final. E agora?".

Com a elevação do tom, Nicolau Gaiola adentrou no buteco. Sentou e disse, lágrimas correndo: "Gente, PSOL?".

(...)

Tigran Gdanski disse ter achado graça ao receber, na rua, um panfleto de um moço do PSOL. Moço de ar sincero, forte, limpo. Perguntou, como é teu nome, rapaz: "Gabriel Z". E...

(...)

Quando Leilinha Ferro passou para pegar a obra do dia ainda estavam embatucados, muito difícil escolher. Então aplicaram na menina que hoje é o aniversário do Walter Schiru - festa à noite, e conseguiram o direito de postar mais de uma.

Sponholz, do Jornal da Manhã (Ponta Grossa, PR).




Aroeira.





Cláudio, do Agora S. Paulo (São Paulo, SP).





No Botequim do Terguino a turma ficou sabendo da colher-de-chá que a Leila deu aos camaradas do buteco de lá. Não deu outra, exigiram tratamento igual. Quanto às conversas sobre o PSOL, o Contralouco disse: "Ué, então resolveram oficializar?, azarados como são, periga se filiarem e no outro dia estourar um escândalo...". Informados do aniversário do Walter Schiru, ficaram quietos.

Bira. (Ei, Bira, esqueceste de quem se opôs, com ódio, a Lei da Ficha Limpa?)





Pater, em A Tribuna (Belo Horizonte, MG).




Clayton, em O Povo (Fortaleza, CE).




Leila Ferro para variar escolheu a obra do Duke, de O Tempo (Belo Horizonte, MG).




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(A coluna A Charge do Dias leva esse título pelo seu idealizador, o mestre Adolfo Dias Savchenko, que um belo dia se mandou para a Argentina, onde vive muito bem. Sucedeu-o na coordenação a jovem Leila Ferro, filha do dono do botequim, quando os boêmios amarelaram na hora de assumir o encargo.)


martes, 29 de mayo de 2012

Maurício Einhorn

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E Maurício Einhorn (Rio de Janeiro, 29/5/1932) chega aos 80 anos.

Saúde! Muitos anos de vida.

Lula e Gilmar Mendes na Charge do Dias

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A discussão que se feriu no Beco do Oitavo não podia ser outra. Não sabemos o que houve, todo mundo de mau-humor. Lá vamos nós...

Mr. Hyde: "E continua a briga de bugio entre o Lulalelé e o cara do Supremo. Vocês notaram como esse Daniel Mendes..., ã, vivo me confundindo, o Gilmar Dantas, é escorregadio? Ele teve a 'sensação' de estar recebendo uma proposta indecorosa. É possível se processar alguém por uma 'sensação' que disse que teve? Ora, todo santo dia eu acordo com a sensação de estar sendo roubado, com a sensação de que os altos postos do Brasil estão ocupados por gente ruim, que a maldade aumentou mais da noite para o dia. E roubado por todo mundo: bancos, políticos, empreiteiras, ministros, rurajestes, é máfia onde quer que se imagine, até no futebol, não escapa nem a mercearia Zaffurtari, e daí? E esse esperou um mês para ter a sensação...".

Lúcio Peregrino: "E o boca-grande do Lula, quem duvida, vai que o babaca ainda esteja se achando o cara, ainda ontem falei: por que não vai para casa e fecha aquela matraca? E vem cá, não foi a sua turma que comprou o partido do direitoso Alencar na calada da noite? Eta memória fraca, esquecem até a grana na cueca, o Waldomiro Diniz..., é uma tripa de maracutaias que o tadinho não sabia...".

Mr. Hyde: "Se fosse só o do Alencar não era nada. Mas neste caso ainda duvido. Só se o Lula estava bêbedo, ora, afinal conhece bem as posições desse Gilmar, não iria deixar na reta logo com ele".

Nicolau Gaiola, que queria falar da arrecadação de fundos para a sua peça teatral: "Pessoal, há séculos já chegamos à conclusão que esses caras, quando se insultam mutuamente, estão cobertos de razão. Qualquer que vença, o povo vai tomar no cu sempre, eles querem é se acomodar. Se não mudarem de assunto em vou embora".

Gustavo Moscão: "Eu também, esbucetearam a conversa, hoje não tou a fim".

Foram interrompidos pela chegada de Terguino Ferro, à procura do Lúcio Peregrino. Pediu para levar um lero em particular, a respeito do gerentalha do banco.

Mudaram de assunto, mas só depois de escolherem a obra do dia. É do Frank, de A Notícia (Joinville, SC).



Os empinantes do Botequim do Terguino preferiram rir da vida, já meio chumbados às onze da manhã. Aristarco de Serraria saiu-se a filósofo: "Ah, que tempos vivemos, como são tristes e ridículos os personagens que nos representam".

Ficaram com o Aroeira, de O Dia (Rio de Janeiro, RJ).




Leilinha Ferro hoje novamente nos surpreendeu. A tribo da palafita fechou com a obra escolhida. 

"Matou, esse treco é pior do que sonhou Orwel, ganha bilhões para penetrar e conduzir as ovelhas", disse Miquirina Segundo, que andou lendo 1984.

É grana demais para os invejosos aqui.

João da Noite expôs os nossos sentimentos com "Tomara que aquele Mark Não Sei do Que se exploda, e leve junto os 'investidores' no negócio da china".

E vai se despedaçar, só esperamos que não demore. Pessoalmente tenho as minhas dúvidas, se, em vez de George Orwel, não estaria mais para Aldous Huxley.

Dez a zero para o Miguel, do Jornal do Commercio (Recife, PE).




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Anand x Gelfand em Moscou

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Hoje à tarde (8 h do Brasil) tivemos em Moscou a 12ª e última partida do Mundial de Xadrez (World Chess Championship Match), entre o campeão Vishy Anand e o desafiante Boris Gelfand, com mais um empate antes do trigésimo lance. Tudo igualado: dez empates e uma vitória para cada um.

Uma pasmaceira. Nunca se viu um match pela coroa mundial tão chato e covarde. O medo de perder segue, como nunca na história, maior que a vontade de ganhar. Muito mais atraente foi a simultânea lá fora, Sergey Karjakin contra dez menininhos, Um deles conseguiu empatar com o prodígio ucraniano.

Na foto (da bela Anastasiya Karlovich), os contendores iniciando a 12ª partida, assistidos pelo outro lado do vidro por uma penca de jornalistas do mundo todo (o careca é o célebre espanhol Leontxo García, do El País). Claro que estávamos brincando outro dia, sobre a presença da Plim-Plim em Moscou, essa gente nem sabe que dia é hoje. 



A decisão vai se dar em partidas rápidas (penaltis?), os tie-breaks, primeiro em 4 partidas curtas de 25 minutos para cada um, mais 10 segundos por movimento, depois jogos de 5 minutos mais 3 segundos. Se ainda persistir o empate, teremos o Armageddon (moedinha?), também conhecido por morte súbita. O Armageddon consiste em 5 minutos para as brancas e 4 para as negras, cores por sorteio. Em caso de empate vencem as negras. Isso vale nada, é o cúmulo, para os amantes do jogo-ciência.

Os dirigentes da FIDE devem saber o que fazem, mas nós seguimos achando que o ideal, em caso de empate nos jogos normais, seria o campeão manter o título. Não faz sentido o sujeito desafiar e ir lá jogar pelo empate, na esperança de que Moisés o ajude se chegar na morte súbita.

Enfim...

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lunes, 28 de mayo de 2012

Cyro Monteiro

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Cyro Monteiro (Rio de Janeiro, 28/5/1913 - 13/7/1973). O homem era o espetáculo.






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Lula Porcorrico na Charge do Dias

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Repercutiu muito mal entre os boêmios do Beco do Oitavo essa história de o Lula cometer o despautério de ir pedir ao Supremo Tribunal Federal para segurar o mensalão. Aliás, o mensalão que ele, o José Dirceu, o Delúbio e os piores cegos dizem que não houve. O pessoal ficou sem saber o que dizer. 

Lúcio Peregrino, furioso: "Tou esperando que o Lulalelé se manifeste. Ou admite ou chama o ministro do STF de mentiroso, ao menos, ajuizando o processo por calúnia e difamação. Só não entendo uma coisa: por que o Lula não cala a boca, já foi presidente e tudo, com os métodos dos inimigos, pronto, fez filminho sobre a droga da sua vida, quer mais o quê, vai, seja feliz, é tempo de passar o deslumbramento".

Mr. Hyde ponderou: "Por essa VEJA não dou um centavo, é a tropa de choque da extrema-direita, mas o Daniel Mendes, apesar de ser o cara que conhecemos, sendo um ministro da mais alta Côrte, mentiria à nação em um tema tão grave?".

Silêncio. Todos atônitos, como aliás também estamos aqui na palafita.

Ficaram com a obra do Sponholz, do Jornal da Manhã (Ponta Grossa, PR). João da Noite, que pula de um bar ao outro, e que vive chamando o Sponholz de reaça, desta vez acompanhou o voto da maioria.



Os empinantes do Botequim do Terguino ficaram com o Marco Aurélio, de Zero Hora (Porto Alegre, RS).



Leilinha Ferro escolheu o Nani.


Fernando Gabeira: Coisa Nossa

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Texto publicado em seu SITE em 25/5/2012.

(Nos ambientes onde por vezes transito, Fernando, ninguém chama o sujeito pelo nome da certidão, é Vacaralho mesmo, lixo humano - coisa de boêmios exasperados - prova viva e cabal da falta de caráter do "Chefe", aquele covarde: cercar-se de nulidades, ladrões, para manter a ilusão de que é grande. Cães de rua apenas obedecem. Todos são assim, no Brasil estadista não chega lá. Pois não?)



Desaparece, progressivamente, o espaço de uma filosofia solar que nos encarava como pessoas dotadas de uma confiança natural diante do desconhecido. E o tempo em que acreditávamos na sua palavra, exceto se tivéssemos alguma razão especial para duvidar dela.

Vivemos outra era, tão bem expressa pelas novelas da Globo e pelos reality shows. O que ensinam eles? Segundo Zygmunt Bauman, a mensagem é clara: a vida é um jogo duro para pessoas duras. Cada jogador joga por si próprio, mas a fim de obter certos resultados é preciso cooperar. O fundamental é tirar os adversários do jogo: primeiro, os que competem diretamente; em segundo lugar, os aliados ocasionais, depois de extraída sua última gota de utilidade.

Os outros são antes de tudo competidores. Estão sempre tramando, lançando cascas de banana, cavando buracos, montando armadilhas para nos fazerem tropeçar e cair. Nesse sentido, nada mais próximo de um reality show que a CPI do Cachoeira. Nela, como no reality show, a câmera e seus movimentos desempenham papel essencial.

No Big Brother, ela desvenda movimentos rítmicos sob o edredom; na CPI, escrutina outras superfícies digitais, a tela de um telefone celular, por exemplo. A frase que a câmera do SBT captou no telefone do deputado Cândido Vaccarezza é de uma clareza invejável: “Não se preocupe, você é nosso e nós somos teu”. A CPI do Cachoeira não é apenas regida pela câmera, mas sua filosofia, na frase de Vaccarezza, é a de um reality show, um jogo de “nós contra eles”. Quando surgiu, com tantas promessas de vingança, eu a chamei de CPI do “ai se eu te pego”.

Num reality show, Vaccarezza iria para o paredão. No entanto, ele prestou um serviço. A blindagem que armou para o governador do Rio, Sérgio Cabral, não é de aço temperado, mas de um latão que mais expõe do que protege. Uma frase no monitor de cristal líquido desnudou o companheiro que queria encobrir.

Sou suspeito em tudo o que falo sobre Cabral. Fomos adversários nas duas últimas eleições. A essência dessa disputa, na visão dos estrategistas da esquerda, é o choque do proletariado em ascensão contra a burguesia decadente. Cabral faz o papel do glorioso proletariado e eu, o da burguesia decadente. Sua primeira vitória, em 2008, foi comemorada “no melhor Alain Ducasse do mundo”, ao lado de um grande doador de campanha, o dono da Delta, Fernando Cavendish. A segunda foi mais fácil porque envolvia o interior e deve ter comemorado perto de casa, no Antiquarius.

Ao longo da campanha de 2010 ofereci aos jornalistas evidências de que se travava uma guerra suja na internet. Seu lado mais visível eram sites caros com o objetivo único de ridicularizar o adversário. Mas o lado subterrâneo era a contratação de empresas especializadas que inundavam a rede com comentários a seu favor. A divulgação dessas manobras não teria nenhuma importância no favoritismo de Cabral. Mas era um alento para pessoas que se veem bombardeadas por mensagens negativas na internet e acham que o mundo está contra elas.

Às vezes, essas campanhas são feitas por empresas que acionam seus robôs. Contestá-las é tão inútil quanto discutir com uma gravação ao telefone. O mérito da frase de Vaccarezza foi o de revelar como Cabral teme responder a perguntas elementares que talvez não estejam diretamente ligadas a Cachoeira. Mas certamente estão ligadas à Delta e a seus métodos de corrupção de políticos.

Em torno das placas de cobre e zinco com que Vaccarezza envolveu Cabral há uma blindagem muito mais poderosa, de um aço mais fino. Só ela poderia ter tornado possível que, ao cabo de seis anos de governo, Cabral nunca explicasse suas viagens. No princípio tende-se a supersimplificar a blindagem com o fato de o governador gastar milhões em publicidade. Mas a liga é muito mais complexa no aço que o blinda. Nela há componentes subjetivos, como o medo da Globo da vitória da oposição, a vontade de fortalecer uma política de segurança com êxitos pontuais.

Depois do escândalo das fotos de Paris, repórteres descreveram o paraíso do condomínio de Cabral em Mangaratiba e concluíram o texto com uma cena lírica: o governador e a primeira-dama oferecendo carona aos vizinhos, numa tarde de chuva. Não perguntaram quanto custou sua mansão. E ele não teria outra resposta: R$ 200 mil. Foi o que declarou ao TRE como candidato. Ao questionar esse valor, tive como resposta uma tentativa de processo penal. Acusação: má-fé.

Cabral invalidou nosso programa com imagens em que cantava num palanque ao lado de líderes da milícia. Retirou do ar um texto que dizia ser ele amigo de Cavendish e precisávamos estar atentos ao que fariam no Maracanã. Felizmente, não prosperou no TRE a acusação de má-fé: expressei uma dúvida e ela é a antítese da fé, boa ou má. Certas coisas nem juízes amigos podem determinar.

Foi tanta a proteção a Cabral que ele passou dos limites. Uma tragédia na Bahia e as imagens de Paris começam a corromper o aço que o protege. Acontece que a CPI do “ai se eu te pego” se tornou a CPI do “vamos recuar os zagueiros”. Entraram na retranca. Não convocaram governadores, fogem da Delta como o diabo da cruz.

Cabral está marcado por perguntas não respondidas e vai conviver com elas por muito tempo. E a CPI, de tanto evitar o tema Delta, acaba se enrolando nele. No início era apenas Cachoeira. Depois a Delta, mas só a do Centro-Oeste. Com as evidências de que o dinheiro clandestino tinha origem e autorização na matriz da empresa no Rio, só gente muito sem-vergonha tem coragem de restringir as investigações. E essa gente sem-vergonha é maioria esmagadora.

O único consolo que destinam a si próprios e a Cabral é o fato de que tudo repercutiu na classe média, não chegou aos mais pobres. A desinformação é a esperança do PT de Cabral e de Cabral do PT. No passado, a esquerda ao menos se dizia aliada das luzes. Hoje, no Brasil, sonha com as trevas, bons advogados, marqueteiros que fazem do limão uma limonada e legiões de robôs para insultar os adversários. Coisa Nossa.

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sábado, 26 de mayo de 2012

Alceu Valença em Manaus

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Foi bom os boêmios do Beco do Oitavo comentarem a respeito do Alceu Valença (postagem anterior). Alceu se apresenta hoje no espetacular Virada Cultural 2012 em Manaus. Aqui de tão longe matamos a saudade pelo iutiúbe.


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Alceu Valença na Charge do Dias

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Sábado gris em Porto Alegre, temperatura de 18 graus. Aos poucos o veranico de maio dá sinais de que está se despedindo. Como sabem os butequeiros, dias assim provocam sensações de calma, união, cumplicidade, recordações, uma felicidade diferente. Marquito Açafrão vai até a porta, espia o céu fechado e volta sentenciando: vai chover. Em outras palavras, nada de churrasco na rua, se o tempo não abrir.

"Em homenagem à chuva, hoje vou de caipirinha de vodka", diz Lúcio Peregrino. Os outros decidem acompanhá-lo. O portuga do Beco do Oitavo começa a cortar os limões para doze.

"Que chuva coisa nenhuma, daqui a pouco vai abrir um bruto solão", discorda João da Noite.

Alguém comenta o desaparecimento do Contralouco, na última vez que o viram ele saiu dizendo que iria pesquisar a vida pregressa do advogado do Cachoeira.

"Morrer não morreu, que isso é notícia que corre ligeiro, deve estar ainda pesquisando, deve dar um livro...", diz o Marquito.

E o assunto estava posto.  

Empolgados, os boêmios comentam o que disse o Alceu Valença, sobre o advogado Márcio Thomaz Bastos (que o Jorge Braga chama de Márcio Tô Mais Abastado). O Alceu falou que não é uma prática moral e ética arrancar os 15 milhões do Cachoeira, porque é dinheiro que vem de trambiques e do arrombamento de cofres públicos.

"Grande Alceu!, soltou os cachorros no cara", diz Tigran Gdanski.

"Mas é bem isso, o larápio rouba da gente e a grana vai acabar no bolso do advogado", ruge Mr. Hyde.

"De quebra, cheio de influências como é, periga livrar a cara do bandido. Vocês não viram?, ele lá na CPI, mandando o Cachoeira ficar de bico fechado, ao lado do bandido, e os deputados só faltando lhe oferecer a bunda", engrossa Gustavo Moscão.

Mandaram um abraço para o Alceu Valença e escolheram a obra do Casso, do Diário do Pará (Belém, PA).



No Botequim do Terguino os empinantes fecharam com o Nani. E há quem não creia em transmissão de pensamento.




Leilinha Ferro, verde como só, ouviu bem o que disse o diretor da Fundação S. O. S. Mata Atlântica, Mário Mantovani, sobre os vetos ao Código dos Monstros da Motossera: "Os cortes apresentados pela presidente não atendem aos princípios elementares de sustentabilidade socioambiental e vão na contramão dos anseios da sociedade".

Mas ela disse que vai esperar a publicação de tudinho, antes de se manifestar. 

Pelo sim, pelo não, ficou com o Dálcio, do Correio Popular (São Paulo, SP). 


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Jovens de Brasília: socorro!

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O senador Pedro Simon ontem deixou bem claro que o seu partido  (PMDB), faz parte de um "esquema" para barrar a convocação de governadores flagrados de amores com o facínora Carlinhos Cachoeira, bem como a quebra do sigilo nacional da construtora Delta na CPMI.

Ele também afirmou que o governo está apavorado diante da possível abertura das contas da divisão nacional da construtora, pelo que estamos mortos de curiosidade para saber o que tem lá que não pode ser visto.

E o senador conclamou:

“Jovens das chamadas redes sociais, terça-feira, às dez horas, vocês devem estar aqui, na frente do Senado, vocês devem vir aqui, porque a presença de vocês, com as mãos limpas, tornou-se realidade. Com a presença dos senhores, a ‘Diretas Já’ se tornou realidade. Com a presença dos senhores, o presidente que tinha de ser afastado foi cassado. Com a presença dos senhores, a reunião de terça-feira abrirá as contas da Delta e abrirá as contas dos que devem ser policiados”.

Chega a ser patético, um homem velho conclamando a moçada, quase uma súplica para que a juventude, o repositório nacional do desassombro, do arrojo, do destemor, saia à rua para lutar contra tão flagrantes descalabros.  Ou alguém imagina que pessoas da estatura moral de um Cândido Vaccarezza poderão varrer a sujeira que inunda gabinetes de maus político e maus empresários?

Cadê a União Nacional dos Estudantes, os seus dirigentes ainda estão bem pendurados em cabides de emprego no governo? E a moçada que elegeu esses elementos como seus representantes, vai deixar por isso mesmo?

Neste sábado tivemos duas mil almas na Marcha da Maconha, ali dá de tudo, desde hijitos de pápi, passando pelos pirados até chegar aos despolitizados, todos inocentes. A que ponto chegamos. Nada contra o fumo, que fumem até bananeira com gordura de tubarão, mas não se envergonham ao ouvir o menino Pedro Simon, mais jovem e mais idealista que eles em tudo? E... deixa para lá.

Não será fácil para a moça ou o moço do Rio Grande do Sul ou do Amazonas, de lugar algum, se fazer presente em Brasília na terça-feira. Porém, isso já muda se falarmos em Goiás, que é o estado, aliás, onde se alojou o tumor a ser extirpado, com todas as suas ramificações no corpo da nação. O tumor da vez, pois os há em todos os estados da federação.

Poucos de outras plagas poderão viajar à Brasília, além do haja grana, do não dá para faltar ao trabalho, a distância é considerável. Mas, pera aí, para empurrar essa corja da CPMI a cumprir o juramento que fizeram basta a rapaziada de Brasília.

Alô, alô, Brasília: que moçada nada, levem o vô junto, vai logo todo mundo! Viram o que o homem disse: desarmados!

.Capa nesta data:

O capítulo do dia são os pecados do Cachoeira. Que já foram os do tesoureiro da campanha; que já foram os dos anões do Orçamento; que já foram os dos sanguessugas das ambulâncias, dos precatórios, das privatizações, dos Correios, da compra de votos nos fundos de pensão, do mensalão, dos bingos, dos cartões corporativos. Tudo indica que outros capítulos virão, no rastro da impunidade que já se desenha, mal começada a CPI. (Pedro Simon)

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viernes, 25 de mayo de 2012

Laura, Trio Nagô

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Raridade: Trio Nagô (Evaldo Gouveia, Mário Alves e Epaminondas de Souza), com o clássico de Alcyr Pires Vermelho e João de Barro, gravação de 1957.



O advogado do Cachoeira na Charge do Dias

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No Beco do Oitavo os boêmios começaram cedo, na base do chimarrão e uns tirambaços de losninha (para os cazaquistaneses que nos lêem: aguardente branca de Santo Antônio da Patrulha, que fica verdinha com as folhas de losna em conserva) para rebater.

O Carlinhos Adeva chegou todo alegrão e se apoderou da palavra. Pediu a atenção da tigrada e contou que ao amanhecer foi levar a sogra na rodoviária, despachar a velha cruzeira para Cruz Alta.

- Adivinhem quem encontrei lá na rodo, esperando um interestadual para o Mato Grosso?

O pessoal ficou olhando para ele, esperando a conclusão.

- O Márcio Thomaz Bastos.

- Ah, não brinca, Adeva - disse Nicolau Gaiola.

- Juro. Aproveitei e levei um lero com o camarada,  ele foi com a minha cara, afinal somos colegas. Aí me disse que está pegando outros casos difíceis, alguns já encerrados, de injustiças cometidas. Desde que alguém possa pagar, claro. 

Tigran Gdanski gostou do papo e colaborou:

- A é? E que casos seriam esses?

- Aí que tá, antes ele precisa procuração das famílias, assinar o contrato, o adiantamento e coisa e tal, anda se batendo atrás, viajando pelo Brasil de ônibus, chapéu enfiado nos olhos, capa preta, para não chamar a atenção.

De novo Tigran:

- Tá, espertinho, mas quais seriam os casos, tchê, diz logo...

- Bem, ele me disse, mas lembro somente alguns: o Lúcio Flávio, o Maníaco do Parque, a Suzane von Richthofen, o Alexandre Nardoni, o goleiro Bruno... deixa ver, hummm..., o Hildebrando Pascoal, o Castor, o Nem... ah, não me lembro dos outros, mas parece que também o Barrabás e o Al Capone.

Recebeu algumas vaias, uns vaiti à merda, e saiu rindo comprar um sonho na padaria da esquina.

Os outros ficaram comentando se haveria possibilidade real disso se concretizar. Nunca se sabe. Esperam que o Contralouco hoje apareça no buteco, estão ansiosos para saber no que resultou a pesquisa sobre a vida pregressa do advogado. Uma gravíssima nódoa já é de conhecimento público; como o Meirelles e o Palocci, foi ministro do Lula.

Os malucos escolheram a obra do Zope.




Os empinantes do Botequim do Terguino discutiram novamente o Código Florestal. Bem, não o código, mas a Mad Madam Mim (como chamam a Dilminha, que barbaridade). Acham que ela precisa vetar tudo: ou enfrenta agora os ruralistas, quando tem imenso apoio da sociedade, ou vai se incomodar depois. Todos acham isso, mas outra coisa é o que ela vai fazer, seu governo tem aquele negócio que herdou do Lula, de querer ficar de bem até com o demônio. Aristarco de Serraria não se conforma, dizendo que infelizmente "Há brigas das quais não se pode fugir". Clóvis Baixo: "E se esses rurajestes de merda derrubarem o veto, nunca mais sairão pra rua, de medo de apanhar". 

Deu buquiméqui. Onze disseram que vai vetar somente algumas partezinhas, dois - Aristarco e Clóvis Baixo - disseram que veta tudo. A ver.

Ficaram com a obra do Paixão, da Gazeta do Povo (Curitiba, PR). 






Miss Leila Ferro ficou com o Duke, do Super Notícia (Belo Horizonte, MG).



João da Noite, o Infiltrado, mais uma vez conseguiu que a coordenadora da coluna, Leila Ferro, o deixasse colocar "só uminha". A sua uminha também é do Duke, de O Tempo (BH, MG).






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jueves, 24 de mayo de 2012

Casuarina: Cabelos brancos


Bem, sexta-feira (será, depois da meia-noite, né), férias de uma semana... Acabo de me vestir. Há pouco, ao sair do banho, ouvi aquela vozinha doce, murmurando: "Salito, vem, vem, querido...". É ela, a loira, me chamando à distância, lá de dentro do bar na Cidade Baixa, supergelada.

Me voy. Apressado, deixo aos eventuais passantes o Casuarina. Depois complemento com os créditos da obra. Não, pera, essa sei de cabeça, é parceria de Herivelto Martins e Marino Pinto, fica faltando datar.





Boêmios de ressaca com o advogado da máfia na Charge do Dias

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No Beco do Oitavo os boêmios se convenceram de que não são mais os mesmos. Marquito Açafrão, garrafa de água mineral à frente, resumiu o estado da turma: "Putz, isso de ficar até às cinco horas da matina falando em riqueza quase acabou comigo". Lúcio Peregrino observou: "Não é pela hora, Açafra, a gente não tinha nada é que ter misturado uísque com cerveja, isso sim". Lúcio também encarando uma sem gás. Isso na parte da manhã. Daqui a pouco, com o verão que faz em Porto Alegre, a quinta vira sexta-feira, dia de lobisomem, noite de cantoria no Beco, não resistirão às loiras geladas. É sempre assim, se começa com uma para tirar a ressaca, depois é um abraço.

O Contralouco como muitos não apareceu pela manhã. Ontem, por conta de uma pergunta do Antoninho Geográfico, da turma dos jovens boêmios, sobre o advogado da máfia, Márcio Thomaz Bastos, ele saiu dizendo que há tempos anda com a cabeça enguiçada com esse indivíduo, hoje iria pesquisar.

Mr. Hyde não perdeu a oportunidade: "Ué, Contralouco, agora que enguiçou? Achei que fosse de nascença...".

A pergunta do menino foi algo como: "Alguém sabe a ficha desse adeva?, quero entender porque os deputados ficaram lhe lambendo os ovos durante o interrogatório do Cachoeira, uma vergonha aquilo".

Na saída eu disse ao Contra o que sabia: que antes de ser colega do Paloffi-gato-gordo, aquele amigão do Lula e da Dilma, esse cidadão era especializado em defender os grandes sonegadores de impostos.

Hoje Nicolau Gaiola telefonou ao Contralouco por volta do meio-dia, por conta de um assunto que precisam resolver juntos, e confirmou: estava em casa, pesquisando.

Nosotros também vamos perguntar por aí, de repente o nobre cidadão defende pobres também, vai que nem cobre, naquela de tirar dos grandes ladrões para redistribuir metade, me engana que eu acho bacana, doçura para tentar tirar o fedor da alma, ah, mas vai que... mas sabe como é, esses jornais, só falam de podridão.

Com quorum reduzido, escolheram a obra do Pelicano, do Bom Dia (São Paulo, SP).



Os empinantes do Botequim do Terguino hoje tiveram algum trabalho com o próprio Terguino Ferro, dono do buteco e pai da Leilinha. Aristarco de Serraria e Clóvis Baixo tiveram de pegá-lo no meio da rua, meio que à força, quando se encaminhava a agência bancária, idéia firme de dar um tiro no gerentalha.

Algo a ver com um empréstimo a juros assassinos contraído no ano passado, o corno (Lúcio Peregrino certa vez, irritado com o cara,  deu uma geral na senhora sua esposa) do banco faz cu-doce para renegociar em condições razoáveis. Repetiram mil vezes que "Não adianta, Terguino, o cara só cumpre ordens" e nada de o dissuadir. Surtiu efeito quando Nicolau Gaiola, que estava chegando, o chacoalhou pelos ombros e lhe disse que "quem merece um tiro é o dono lá de São Paulo, é essa merda de Banco Central, vamos pra dentro, o que será da Leilinha, homem!". Ufa.

Lá dentro, nervoso e cansado, Aristarco de Serraria, aquele para quem tudo gira ao seu redor, disse que a garrafa não sossegava, mal a via de tão rápida.

Escolheram a obra do Marco Aurélio, de Zero Hora (Porto Alegre, RS).



Leilinha Ferro ficou com o Sinfrônio, do Diário do Nordeste (Fortaleza, CE).




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Os meninos do Beco do Oitavo e a riqueza

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Ontem visitei o Beco do Oitavo. Noite amena neste veranico de maio, dei a sorte de topar com boêmios de três gerações. Alguns com idade para ser meu pai, outros irmãos e os que poderiam ser filhos. É uma alegria ouvir a moçada, são surpreendentes, sempre se aprende muito, daí que os coroas deixam que só eles falem.

Entre os meninos e meninas boêmios e boêmias, temos, como diz João da Noite, "Filosóficos, Linguísticos, Antropológicos, Históricos, Comunicativos, Biológicos, Advocatícios, Sociológicos, Políticos, Geográficos e Psicológicos Soçaites", a maioria em pós-graduação, alguns já no doutorado. Todos "à procura de uma atividade laboral", no dizer do mesmo João da Noite, para não dizer procurando emprego. 

À exceção de Brumi e Ju Betsabé, que arrepiam na quinta dose de gim com laranja, os estudiantes são pra lá de bons de copo. Na curva da meia-noite, quando estavam com a palavra molhada, no ponto em que a verve flui quente, bela e erudita, a conversa escorregou para a riqueza.

Cada um discorreu sobre o fascinante tema sob o ângulo de sua formação. Não um de cada vez, que isso é impossível em quatro mesas unidas no centro de um buteco, com alguns falantes nas mesas do entorno, tendo Lúcio Peregrino a provocar lá da ponta, mas apesar da balbúrdia ouviu-se a opinião de todos que a tinham.

Então - doce vingança - a molecada passou a interrogar os "velhos" sobre o mesmo assunto.

Mr. Hyde, que é "Medicinal", rugiu que "Pra mim a ganância traz um problema mental em sua origem, como disse o Pedrito", remetendo sua fala para a exposição do Pedrito da Psicô. Pedro que um dia será consultor da ONU, homem feito, por mérito sem politicagem, olhar duro para as injustiças, implacável com ministros de lama.

Lúcio Peregrino, o peregrinador de camas de políticas, expert no Kama Sutra, livro que está atualizando, com ar de quem está com preguiça disse que "É punheta mental", saindo pelo mesmo caminho. O Contralouco fez maravilhosa explanação de poucas palavras: "Eu só quero que esses caras se fodam".

Chegaram em João da Noite.

"Esse tema me é muito caro. Direi alguma coisa com a escola das ruas. Não reparem se eu me emociono."

Disse isso já com o semblante carregado, com marcas até então desconhecidas do pessoal, mescla de sofrimento e decepção. O buteco silenciou, em respeitosa atenção.

"Desde menino desconfio de tudo o que é demais. Bastou ler a primeira meia-dúzia de livros para afirmar a estranheza instintiva. O pior veio depois, quando, devido a uma profissão que exerci, tive acesso a documentos sigilosos, oficiais e particulares, aí descortinou-se em sua plenitude o horror que suspeitava. Certa noite chorei muito, e molhado de lágrimas ri com amargor das palavras da velha mãe nos meus oito anos: "Estude, meu filho, estude, sendo honesto e capaz poderá um dia chegar a ministro."

Aqui precisou parar um pouco, de um só trago esvaziou o que restava do seu duplo de uísque.

"Jamais sonhou, a pobre, que para tanto é necessário outros talentos. Passei a ter desprezo ao vil metal e a bens materiais, acho até que exagerei, pois rebusco os bolsos e encontro poucos caraminguás, mas até amanhã tenho bóia garantida, depois vamos ver, está bem assim, houve tempo em que foi muito pior."

Aqui parou e gritou ao portuga que iria pendurar a conta. "É bom ter crédito", disse depois, tentando um sorriso impossível. Eu pensava na minha mãe, mesmíssima esperança, palavras quase idênticas.

"Pessoalmente adquiri a convicção de que a ganância extremada tem razões específicas. Os caras que não trepam, por exemplo, têm aí uma boa razão para dirigir as energias para futilidades com aparência de grandeza, na ânsia de compensar."

Aqui Lúcio atravessou, para desanuviar o ambiente: "Taí, foi o que eu disse: punheta mental, né, Hyde?".

Alguns risinhos abafados. João continuou.

"Acho que é um conjunto de motivos, o medo da vida é outro componente importantíssimo, como referiu o Alex Sociológico. Se o preço da riqueza é esfolar os semelhantes, roubar, mentir - e é esse o preço, então acho mais gostoso andar sem dinheiro. Este assunto é penoso, pois além da criação de cada indivíduo acabaremos por discutir a existência de alma, almas boas e almas rudes. Eu os perdoaria pela fraqueza, aos rudes, não fosse a devastação que promovem, mortes, desgraças e fomes que espalham por tabela. Almas de pobres coitados."

Ameaçou continuar, relutou, mas murmurou um "chega" e deu por encerrada a sua contribuição. Brinquei que ele exagerou na dureza, pois possui um quitinete, mais que a maioria dos brasileiros. Arranquei-lhe um meio riso, prova de que estava afastando os maus pensamentos.

Aí chegou a minha vez. O João havia falado em criação, em almas rudes, então disse-lhes que a fala do João me fez lembrar uma matéria que li do jornalista Hélio Fernandes, irmão mais velho do Millôr. "Meninos, disso vai tratar a minha intervenção, não das motivações, que isso todos abordaram de modo esplêndido. Trata-se da prática, de como se fica podre de rico, para a situação do indivíduo conformar-se à alma". Fiz uma breve apresentação do articulista e contei.


Hélio Fernandes (Rio de Janeiro, 17/10/1920) é um dos grandes no minúsculo universo daqueles que se pode chamar de Jornalista. A bem da verdade, nunca foi fácil ser jornalista, pois com o patrão o negócio funciona na base do dá ou desce, se não dançar a sua música está fora, e o pessoal precisa comer... Salvo por esta maravilha que é a internet, que há de sepultar os jornalões conservadores, isto é, todos os jornalões. As embrutecedoras redes de tevê seguirão dizendo mentiras, mas também terão a sua hora. Quase desvio o assunto, que mania.

Para não nos estendermos muito sobre Hélio Fernandes, que o objetivo aqui é outro, a riqueza, a ambição desmedida, digo que era o dono do jornal Tribuna da Imprensa.

No buteco dei a biografia que recordava no momento. Aqui fiquemos com algumas palavras do Wikipédia:

Jornalista sempre polêmico e com idéias de esquerda, começou a ser perseguido logo após o Golpe Militar de 1964. Foi o redator do manifesto pela Frente Ampla, lançado por Juscelino, Lacerda e João Goulart e chegou a ser candidato a deputado federal pelo MDB, mas teve seus direitos políticos cassados em 1966.

Com a violenta censura à imprensa imposta principalmente com o AI-5 em 1968, foi preso várias vezes, inclusive no DOI-CODI, foi afastado compulsoriamente do Rio de Janeiro e obrigado a passar períodos de exílio interno em Fernando de Noronha ou no Pantanal.

Ao contrário de outros donos de jornal, nunca aceitou a censura e nunca deixou de tentar publicar as notícias do período. A sede do jornal chegou a ser alvo de um atentado a bomba, poucos dias antes do Riocentro, já na época final da ditadura militar, em 1981, mas no dia seguinte o jornal estava nas bancas.

Um dos generais da ditadura, Hugo Abreu, em suas memórias relata:

E a Tribuna da Imprensa, por que é que teve dez anos de censura?
O general: “Ah, bom, porque eu não consegui falar nunca com o jornalista Hélio Fernandes. Eu telefonava e ele mandava dizer que não estava. Uma vez eu telefonei e ele mandou um recado perguntando se eu podia telefonar dentro de cinco anos."

Falei: O seu nome, o talento, aliados à irreverência e ao destemor, bem lembra Millôr, não é? Mal de família. Vejamos o que Hélio Fernandes diz da riqueza, não quanto aos motivos, e sim quanto aos métodos.

E narrei o artigo com minhas palavras. Abaixo vai como o seu Hélio escreveu, com as maiúsculas e os post scriptum, quando estava há poucos dias de completar lúcidos 90 anos, em 2010.

quarta-feira, 08 de setembro de 2010

Eike Batista: “Paguei meu imposto de renda com um cheque de 670 MILHÕES DE REAIS. Deve ser verdade. Mas de onde vem essa fortuna, que segundo ele, é a maior do Brasil? Do pai, o melhor do Brasil?
 
 
Ninguém duvida, as dúvidas estão todas na sua vida, ou melhor, na vida do pai, que montou sua herança, antes mesmo dele nascer. Ninguém tem uma trilha (que gerou o trilhão) de irregularidades tão grande quando Eliezer Batista. E em toda a minha vida profissional, nunca escrevi tanto e tão vastamente sobre irregularidades, prejuízo ao Brasil, ENRIQUECIMENTO COLOSSAL, quanto sobre Eliezer. E logicamente nem uma vez de forma POSITIVA, sempre naturalmente NEGATIVA.

A partir do “Diário de Notícias” (1956/1962) e depois já na “Tribuna da Imprensa”, Eliezer era personagem quase diário.

O roubo das jazidas de manganês do Amapá, assunto exclusivo deste repórter, ninguém participava, Eliezer era tão GENEROSO com os jornalões, como foi depois com o filho. O Brasil era o maior produtor de manganês do mundo. Como era de outros minérios, todos controlados por ele, presidente eterno da Vale.

Eliezer devastou o Amapá, entregou todo o manganês aos americanos, a “preços de banana” (royalties para o presidente dos EUA, Theodore Roosevelt, que inventou essa expressão para identificar os países debaixo do Rio Grande. Isso em 1902).

No Porto de Nova Iorque, os navios que vinham do Brasil com manganês, atracavam lá longe para não provocar comentários. E este repórter dava o número dos navios, os nomes, o total da carga, o miserável preço da venda, EMPOBRECENDO o Brasil, ENRIQUECENDO os “compradores” e o grande VENDEDOR (sem aspas) Eliezer.

Está tudo no arquivo da “Tribuna”, fechada por necessidade de silenciar o jornal que contava tudo. Os jornalões, servos, submissos e subservientes, exaltavam as vendas destruidoras, elogiavam o PROGRESSO DO AMAPÁ, por ordem de ELIEZER e da VALE. Diziam: “O Amapá abre estradas, constrói escolas e hospitais, os pobres estão muito mais atendidos e alimentados”.

Mistificavam a opinião pública, queriam convencer a todos, que EXPLORAR AS RIQUEZAS do então Território, deixando os milhares de pobres habitantes sem comer, sem morar, sem hospital e escola. Tudo transitório, enquanto ESBURACAVAM todas as terras, EXTRAÍAM o manganês e DOAVAM tudo aos trustes. (Como se chamavam, na época).

Gostaria de reproduzir tudo isso, a corrupção praticada pelo pai, beneficiando e enriquecendo ele mesmo e acumulando para o filho bem-aventurado. (Mas como o jornal está fechado, tenho que ESQUECER essas matérias de 40 e 50 anos, mas a-t-u-a-l-i-z-a-d-í-s-s-i-m-a-s. Quem nasce Batista se reproduz na riqueza de outro Batista. Só o manganês não se reproduz, dá apenas uma safra).

Mas como Eliezer foi sempre muito PREVIDENTE, controlou todos os minérios, que deixou para o filho, de “papel passado”, ou então em indicações DEBAIXO DA TERRA. Mas com os mapas atualizados e do conhecimento APENAS DO FILHO, A MAIOR FORTUNA DO BRASIL, ANTES MESMO DE NASCER.

(O Brasil tem quase a totalidade da produção desses minérios, como tinha do manganês, raríssimos. E como tem do NIOBIO, ainda mais raro e IMPRESCINDÍVEL, 98 por cento de tudo o que existe no mundo).

Alternando de pai para filho, afinal onde termina Eliezer e começa o Eike? O pai já completamente identificado, mesmo com presidente, “DONO” da Vale, embora já carregasse como propriedade pessoal, a ICOMI, fundada para concorrer com a própria Vale. Utilizando a ESTATAL para produzir lucros PARTICULARES.
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PS – O filho Eike nasceu rico e poderoso. Se descuidou, foi preso em casa pela Polícia Federal. Seguiu a receita de Daniel Dantas, “só tenho medo da Polícia, lá em cima, eu resolvo”, resolveu. Ninguém sabe onde está a conclusão do ato de prisão.

PS2 – Para o HOMEM MAIS RICO DO BRASIL SER PRESO, é necessário que a acusação esteja fundamentada. ESTAVA. Mas as providências LÁ DE CIMA, também ESTAVAM.

PS3 – Eike “funda” empresas que provocam notícias e permitem a concessão de favores. Nem é pelo lucro, e sim para exibição.

PS4 – Fora a herança “que meu pai me deixou”, abriu ou comprou restaurantes, hotéis, espalhou através dos amestrados, “estou DESPOLUINDO a Lagoa Rodrigo de Freitas”. Continua a mesma, ninguém conhece a Lagoa como este repórter. Mas as pessoas acreditam na DESPOLUIÇÃO. Ha!Ha!Ha! Não riam, é a tragédia da corrupção.

PS5 – É preciso que alguém obrigue Eike Batista a explicar como se tornou O HOMEM MAIS RICO DO BRASIL. Acho que quem pode fazer isso é a RECEITA FEDERAL.


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"Capa" de ontem:

Do prefeito Fortunati, candidato a reeleição, referindo-se à Manuela namorida, sua adversária no pleito: "O eleitor de Porto Alegre não leva em consideração beleza e juventude. Ele quer saber o compromisso dos candidatos com a cidade". Vai atrás, diz João da Noite. Sarcástico, João arremata: Ele esquece que quem ganhou a eleição passada foi uma musiquinha.