Amigos, estou arrasado.
Desconfio que sou alcoólatra, hoje mesmo irei me inscrever ali no AAA no anexo
da Igreja Sagrada Família, na Rua José do Patrô. Se é que ainda existe.
Explico.
Há mais de trinta dias,
talvez uns quarenta, não bebo um gole de nada. Só água, suco de uva com água,
suco de laranja, essas porcarias que fazem mal à saúde. Pois nesta madrugada,
além do pesadelo onde os boches tinham vindo me dar uma coercitiva por crime de
opinião - ofendeu o juiz Tio Sam que não sabe falar inglês e muito menos
português, quando acabei numa cela de dois por dois cheia de ratos, também tive
um sonho, este baseado em fatos.
Eu tinha 22 anos
incompletos, 21 e meio, e morava de favor num quartinho que um amigo me cedeu
num apê da Rua Francisco Ferrer, ali perto do Hospital de Clínicas. O Luís Fernando Carvalho morava sozinho com a sua mãe, não lhe custou me dar abrigo por alguns dias, eu evitando ao
máximo incomodar, jamais fiz refeição com eles - não por falta de convite,
comia na rua, procurava ser invisível, grato pelo catre que me disponibilizaram
no quartinho que seria o da empregada se a tivessem.
Procurando emprego, disposto
a não voltar para a putaria, nas horas vagas ficava zanzando pelo bairro,
comecinho de Petrópolis, arrastando a asa para as domésticas - as moças
finórias mal me olhavam, a roupa era gasta, feia, creio que também me achavam
muito magro, sentiam o bolso vazio, sei lá, não gostavam de mim.
Não demorou, o destino se atravessou e fiz amizade com
o dono da mercearia quase na esquina com a Av. Protásio Alves, ia passando
quando fedeu lá dentro, senti o drama, o assaltante saiu correndo e o peguei na
saída, meti o braço no cara. Sem querer ganhei o velho. Grana e mercadorias
recuperadas, a PM levou o ladrão. A convite do seu J passei a
frequentar o lugar. Tomava um liso de pinga às bicadinhas e deu.
De jeito nenhum ele aceitava
pagamento, na hora de ir embora ia até a porta com o braço por cima de mim. É
aquele negócio, o diabo sabe mais por velho do que por diabo, ele bateu os
olhos em mim e sentiu que eu era um guri bom (naquela época ainda era) e andava
numa eme danada, oferecia comida, que nunca aceitei para não abusar, ali eu já
sabia que a gente sobrevive legal comendo um ovo por dia.
Foi lá que conheci o seu
Manga, então goleiro do Internacional, ele morava ali por perto. Eu colorado até morrer. Já contei esta
história da amizade com o Manga. Um sujeito de não muitas palavras, divertido,
com muito mundo, para se ter uma ideia é o atleta brasileiro com mais participações na Libertadores de América em todos os tempos. Para falar com ele eu tinha que olhar para cima, e olha que eu
tinha um metro e oitenta. Não ficava até tarde, sabia que tinha treino no dia
seguinte, jamais o vi bêbado, nem “tocado”, o índio era forte. Aparecia somente
quando por alguns dias não haveria jogos.
Aqui importa dizer que ele
ficava com um lisão de pinga atrás da balança, o liso regularmente abastecido pelo seu
J, que era amigo e admirador do grande goleiro. Conversa vai, conversa vem, em
pé na frente do balcão, subitamente ele metia a mão, e que mão, sem exagero dava cinco da minha, lá atrás da balança, pegava o
lisão e taiaiau, ia tudo numa sentada. Eu ficava arrepiado de ver, se eu
fizesse aquilo morreria, ou no mínimo me afogaria.
Pois o sonho desta madrugada
foi esse, eu "via" o Manga dando o tirambaço no liso alto, pá, fundo
branco. Acordei com um ardume na garganta.
Às 10h, há pouco, não
resisti, servi um lisinho e imitei o seu Manga. Entrou tudo, estremeci, logo me
deu uma tonturinha e um calorão, cheguei até a me enganar pensando que sou
feliz.
(Hoje, 26 de abril, Manga completa 81 anos. Última notícia que tenho é que mora em Salinas, no Equador. Saúde e paz ao Manguita, glória do desporto nacional, ó Internacional que eu vivo a exaltar. Ele é mesmo internacional. Feliz Aniversário!)
(Hoje, 26 de abril, Manga completa 81 anos. Última notícia que tenho é que mora em Salinas, no Equador. Saúde e paz ao Manguita, glória do desporto nacional, ó Internacional que eu vivo a exaltar. Ele é mesmo internacional. Feliz Aniversário!)
.