miércoles, 26 de agosto de 2015

Vim voando para Porto Alegre

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Eu estava em Belô quando minha filha bióloga-botânica me escreveu contando que o indivíduo e sua turma - a mesma do Britto - queriam extinguir a Fundação Zoobotânica do RS e outras entidades cruciais para nosso estado.

Quando a menina, lá pelas tantas, gritou (maiúsculas é grito, segundo convenção de emails e facebook, pois não?): NÃO ACREDITO NO QUE ESTÁ ACONTECENDO!, parei para pensar nos reflexos de tamanha barbaridade, senti que era diversionismo, o chamado bode na sala, desviarem a atenção para cometerem atrocidades maiores.

Pior: na hora do grito imaginei a guria chorando. A "minha" guria chorando por causa desses vândalos. Aí pensei onde escondi minhas armas de fogo, pero vim sereno, ainda não era e nem será motivo para tanto.

A turma foi à luta, e o mundo inteiro, literalmente, se manifestou contra o horror, desde a ONU, todos os países civilizados, até instituições de apoio à ciência e à biodiversidade também de todo o Brasil.

Fez bem o pessoal, pois dessa gente tudo pode se esperar. Vai que passe no Assembléia Legislativa o projeto inominável, que, mirem o escárnio, apresentado em regime de urgência, 30 dias para ser discutido e votado, pois sabemos como deputados são movidos, com as exceções de praxe que servem para confirmar a regra.

Estou de olho nos deputados ainda em cima do muro, da base de apoio desses elementos. Terão seus nomes escancarados aqui e no blog Ainda Espantado todos os santos dias, com detalhes de suas vidas políticas, se possível com o auxílio de humanistas de suas cidades de origem.


É o mínimo que posso fazer, já que mais não posso, são adultos demais para levarem varadas nas pernas.

(Na foto, que estraga o meu blog, o governador do estado do RS, que tirei para inimigo dos gaúchos, dela, até aí não dá nada, mas que tirei, principalmente, para meu inimigo).
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sábado, 15 de agosto de 2015

Bruno Contralouco contra a máfia do Gringón

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I

Em pleno inverno, 29ºC em Porto Alegre às 15:30h. Saí para uma caminhada no Parque da Redenção, pertinho de onde me escondo.

Já no caminho percebi que uns gringón de terno e gravata me seguiam. Andei pela Redenção, mas somente pelos lugares apinhados de gente. Logo decidi me embrenhar pela Cidade Baixa, ali ao lado. 

Ô vida boa, os bares lotados às quatro da tarde. Fui direto ao boteco do Capeta, uma festa, ele não me via há dois meses, pois fugi do frio, andei lá por cima do Brasil. Depois dos abraços falei:

- Capeta, me descola o 38 que tenho plantado no forro do bar, tem uns caras querendo sarna para se coçar.

Os sarnentos, convenientemente, haviam sentado em mesa ali fora do bar da frente. Também fui para uma mesa lá fora do bar do Capeta, sentando com o Chumbo, Tico da Antonieta e Filé, que pela noite tocam pandeiro, cavaco e violão:

- E aí, vagabundagem, ninguém trabalha mais nesta cidade?! - exclamei.

- Olha quem falando - respondeu o Filé.

- Bora buscarem os instrumentos, hoje vamos começar mais cedo - eu disse enquanto me convencia de que o primeiro tiro teria de ser no de camisa azul e dente de ouro, o mais perigoso.

II


Como sabem os amigos mais chegados, aqui em Porto Alegre o meu fogão é quase aquilo que chamam de "industrial", pois é muita boca para comer. Atualmente menos, isso porque com essa história de ficar viajando pelo Brasil por mais de dois meses perdi nove putiangas, das 27 agora tenho só 18, mas ainda assim muita gente. 

Deixa estar, as desgarradas hão de voltar chorando, aí a minha comissão sobre os seus ganhos, de apenas 65% do bruto (depois tiro as despesas, bóia, aluguel do meu rancho, plano de saúde, beijos, conselhos, etc), para elas subirá para 90.

Bueno, as 18 mulheres estão se virando na noite da Portinho, e o otário aqui encara o fogão, elas não comem nessas porcarias de boates... vá lá, passa por boate, nem de graça, são cuidadosas com a saúde.

Cinco quilos de mandioca - adoram mandioca, não posso perder o ponto, gostam durinha -, cinco de carne de panela e três de feijão, de feijão sou quem gosta mais. Arroz e saladas farei antes de chegarem às quatro da matina. Faço comida de "sustância" porque na minha ausência só comiam pizza e outras porcarias de restaurantes, tenho pavor de restaurante.

Aí toca o telefone, é Bruno Contralouco. Está num bar da Cidade Baixa cercado pelos meganhas de um mafioso chamado de Gringón, querem lhe fazer a pele. Será a Camorra? Pombas, já a expulsamos muitos anos atrás. Diz que eram somente cinco caras, ia encarar sozinho, mas chegaram mais cinco, todos armados, dá para notar o volume nos casacos e nas pernas, pede ajuda.

Digo-lhe não saia daí do Bar do Capeta por nada deste mundo, desligo as panelas, pego a Magnum e a Glock e vou lá, ando doido para apagar um gringón. 

Na saída telefono para o Gustavo Moscão: pegue o AK 105 e tente se posicionar no telhado do bar da frente do Bar do Capeta, os gringóns estarão de costas, eu vou ficar de frente pra eles, me avise quando estiver pronto que vou atravessar a rua. Vão ver o que é tocaia.

III

(...)

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martes, 11 de agosto de 2015

Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul (2) e os moleques

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MOLEQUES

Caros amigos

Ainda sobre essa história de uns políticos quererem extinguir a Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul.

Tenho um lado pessoal envolvido e tal, conforme e-mail da minha filhoca Natividad que antes transcrevi, afinal a guria interrompeu um segundo doutorado, onde ganhava uns cinco mil limpinhos de um órgão federal (bolsa) para entrar para a FZB (concurso público, sim senhor, eu os meus nunca mamamos em "quem indica") ganhando bem menos. Uma boa troca: promessa de estabilidade e fazer o que sempre quis, pois é bióloga de doutorices e tudo. Com emprego certo, endividou-se comprando apartamento financiado e se embrenhou no trabalho.

Realizou o sonho: passa dias e dias pelas campinas e matas do RS, vestes rudes e chapelão na cabeça - no verão o sol é inclemente - pesquisando plantinhas e não sei mais o quê, o que tem risco de extinção e tal, não entendo do riscado, apenas acompanho de longe a sua luta.

Há alguns meses, quando um bundão começou o terrorismo, me disse: "Paiê, não se trata de eu perder o emprego apenas, como tu diz a gente sempre se vira, posso lecionar, posso fazer outra coisa, aprendi contigo a não ter medo de nada, é que isso será o maior crime perpetrado contra a biodiversidade, é inimaginável o dano, choro só de pensar".

Terrorismo, sim. Ameaça psicológica doentia. Irresponsáveis, não são homens sérios. Comigo a conversa será outra, pois reitero: enquanto brincavam de bonecas eu morava em prostíbulo de favor, enquanto eu lia Nietzsche davam a bunda ou chupavam pirulito em lares gordinhos.

Ora, claro que cá comigo tenho certeza de que isso é bode na sala, armar um gritedo com um absurdo desses para passar outros absurdos aparentemente de menores danos, mas com lucro certo para quem os palhaços obedecem.

Verei direitinho quando chegar em Porto Alegre. Mas vai que, tal a qualidade da "base de apoio" desse "esperto", o projeto passe? Quem cuidará da biodiversidade do pampa e das florestas? Quem cuidará do Jardim Botânico situado em Porto Alegre? A Monsanto?

No particular, o que ela não gosta de falar mas eu falo: seja quem for o beneficiário do disparate, ele devolverá a taxa de inscrição que a menina pagou para fazer e ser aprovada no concurso público, montes de gentes que prestaram para duas vagas, pois nem biólogos a FZB tinha, quem devolverá? Quem a indenizará pela interrupção da Bolsa de Estudos?

Sim, quem iniciou a estruturar ou reestruturar, com seriedade, a Fundação Zoobotânica foi o governo anterior.

Ainda não sei como será, mas vai se preparando, Sr. Sartori & Cia., o revide, de minha parte, é certo que virá. De qualquer modo que venha, o senhor não vai gostar nadinha. 

Processe-me pelo que quiser, como sempre faço quando "querelado" vou lá e digo ao juiz: "Sim, confirmo que o chamei assim, e tenho umas coisinhas a acrescentar que não quis dizer em público".

De ladrão, o que seria grave, não o chamei, ainda não sei. Estou muito tranquilo, mas podem ir perdendo o sono.


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Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul (1)

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Oi, pai

Tudo bem? Te enviei mensagem pelo celular de Dia dos Pais. Não sei se recebeste.

Espero que esteja tudo bem por aí. Te desejo tudo de melhor.

Bom, o motivo deste e-mail é a gravidade da situação que envolve a minha instituição Fundação Zoobotânica - FZB do RS. Enviei um e-mail ontem para todos os meus contatos, inclusive para ti. Ali tem tudo explicadinho.


Resumo: o Sartori enviou na sexta passada à Assembléia projeto de lei de extinção da FZB/RS e demissão de todos os funcionários, em caráter de urgência, isto é, a ser votado em até 30 dias. NÃO DÁ PARA ACREDITAR NO QUE ESTÁ ACONTECENDO.

Estamos mobilizando todos que conhecemos. ONGs, universidades, estudantes, etc, estão todos nos apoiando. Peço que leia o material que te enviei no e-mail anterior.

Venho pedir o teu apoio, em especial. No teu Blog, onde puder. Se tiver algum contato político que possa ajudar entre os deputados, pessoa conhecida na mídia, etc.

Bom, estou muito triste, porque não é um trabalho qualquer - é o trabalho que eu amo, e uma instituição muito importante pro RS.

Bjão!

Dra. Natividad Ferreira Fagundes
Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul

viernes, 7 de agosto de 2015

Drible de Corpo

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Um dos baiões mais lindos que ouvi na vida, autoria do mineiro Toinho Gomes. No vídeo pelo sensacional cavaquinho de Ausier Vinícius, que inventa, adapta, esse é "doido".
Estou certo de que o baião logo será reconhecido como um clássico nacional.
Os créditos de todos os músicos vão ao final do vídeo, inclusive com Sô Tião do Bandolim, que faleceu neste 2 de agosto.
Li em algum lugar, ou alguém me disse, que o título do baião foi posto por SÔ TIÃO DO BANDOLIM. É que tem certo momento em que o violonista que acompanha leva um drible, periga se perder.

Toinho Gomes, grande instrumentista como também compositor, já compôs, e entregou partitura, emocionado, em homenagem ao Sô Tião, tempos atrás.
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jueves, 6 de agosto de 2015

MORTE LENTA

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Giuseppe Artidoro Ghiaroni ((Paraíba do Sul, RJ, 22 de fevereiro de 1919 - Rio de Janeiro, 21 de fevereiro de 2008).


Ninguém morre de repente.
Quando dizem que Fulano
faleceu subitamente,
morreu estupidamente,
é engano,
é puro engano!

Pode ser que a ave ferida
ou a árvore abatida
ou a casa demolida
ou outras coisas assim
deixem de súbito a vida
(vida ou coisa parecida),
achando um súbito fim.

Mas quanto aos seres humanos,
nenhum morre de repente.
É um processo inteligente,
lentamente, lentamente,
Leva meses, leva anos.

Leva o tempo em que a viúva
faz a presença do ausente.
A saudade permanente
é um longo dia de chuva.
Lembramos diariamente
o bar que ele freqüentava
os cigarros que fumava,
as coisas que planejava.
Tudo aquilo que era dele
volta à baila noite e dia.
O mundo ficou sem ele
como uma casa vazia.
As canções que ele cantava!
As piadas que dizia!

Passam anos... Cinco... Sete...
Quem ainda se lembrava?
O bar que ele freqüentava
virou uma lanchonete.

As canções que ele cantava
são do tempo do Chalaça.
As piadas que contava
hoje não teriam graça.
O mundo se modifica.
Os cigarros que fumava
Nem a fábrica fabrica.
A viúva, conservada,
Está de novo casada,
E dizem que ficou rica.

Agora sim, falecido!
Agora sim, faleceu!
Anos após ter morrido,
Só – de todos esquecido –
Depois que tudo o esqueceu!


Ninguém morre de repente.
Quando dizem que Fulano
faleceu subitamente,
morreu estupidamente,
é engano,
é puro engano.
Gente morre lentamente,
lenta e dolorosamente,
dia a dia, ano após ano!
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lunes, 3 de agosto de 2015

Variante

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Recordo das aberturas e variantes de xadrez que me incendiaram a vida em horas de calma.


É de 
Flora Vasconcelos, desde o Distrito do Porto, em Portugal.


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Na variante 
enfeitam-te a casca
Vais 
ao desfile frenético
dobras a esquina desviante
e tentas à rasca
sem mais nem ais
acompanhar o coro alfabético 
enquanto te destroem a alma
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Os usurários provisórios
das medidas difíceis
ensinam às gralhas assustadas
a palavra calma 
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Na calma levedam os empórios
poupam-se mísseis
para outras paradas
que é sôfrega a ordem
espinhosa a aresta
árida a frase
falíveis as jornadas
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Mas comentário à parte 
acaba-lhes a festa
Que as bestas acordem
que provem que mordem
e corpos à vista
na urgência da vida
um rude grito arraze
os resíduos do dia 
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E o caminho de ida
para quem arrisca
se desdobre limpo aberto à alegria 

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Afiches

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Música: Atilio Stampone. Letra: Homero Expósito. 
Canta JOSÉ Teodoro LARRALDE, “El Pampa”.