domingo, 17 de julio de 2016

Meninas

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Ao ver a imagem dessa menininha a memória me trouxe algo.
Certa vez, num domingo vazio, quase sem trânsito, ali pelas três da tarde uma das minhas - tinha uns seis ou sete anos -, ficou brabinha com alguma proibição, fez uma mochilinha com duas ou três pecinhas de roupa, pegou a sua bruxinha e disse que ia embora. 

A sua mãe correu a dissuadi-la, mas não adiantou, estava decidida. Falei: "Deixa ela ir". A moça sentiu que algo eu pretendia e deixou.

A pequeninha abriu a porta, desceu as escadas e saiu. Ficou parada lá na calçada, e agora? A gente espiando pela janela. Esboçou um início de caminhada em direção à Av. João Pessoa e parou. Eu pronto para sair correndo e buscá-la, se fosse mesmo.

Ficou lá uns bons quinze minutos. Então desci: "Querida, vai abandonar o pai e a mãe, vamos ficar tristes, sozinhos...".

Salvei-a, mas respondeu: "Ta bom, vou outro dia então". Voltamos para dentro de mãos dadas, ela super feliz. Teimosinha como só, não deu completamente o braço a torcer, nem eu pretendia quebrar a sua coragem. Mesmo assim depois fiquei me sentindo um bandido.
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sábado, 9 de julio de 2016

Recuerdos da bola - Na querida Palmeira das Missões dos meus verdes anos

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Naquela vez, como em outras, o Zanchi, zagueiro de exuberante categoria, além de excelente amigo, que era o titular ao meu lado, não estava, não lembro a razão, e o nego Tazico foi de novo meu companheiro de zaga, eu pela direita, ele pela esquerda.

Na época pela direita era zagueiro-central; pela esquerda, mais adiantado para o primeiro combate, na cobertura quando a meia-cancha e a lateral-esquerda fossem vencidas, era quarto-zagueiro. O central era o último, cobrindo a lateral-direita e a matar na proteção do goleiro. A formação era 4-2-4, nada de retranca.

Mas a gente jogava lado a lado, um passeio, meninos passeando, por vezes brabinhos, por vezes sorrindo.

Um jogo ardido, 2 a 2. Escanteio a nosso favor pela ponta direita, onde tínhamos o Gilba, excepcional ponteiro, e com uma paulada no pé que sai da frente. Ele foi bater o escanteio.

No centro da área grande inimiga, sabíamos, aquele agarramento de defensores com atacantes, cansei de zombar dizendo que deveriam ir para um motel, ora, ali era futebol, e isso que era quase nada diante dessa galinhagem que hoje em dia enoja, na cara de juízes cegos.

Daí que estava combinado com o Gilba: eu iria para a área deles caminhando normalmente, sem que eles percebessem, e ficaria a três metros da área grande. Ele daria a paulada para o risco da área e eu entraria a milhão.

Com um sinal de cabeça disse pro nosso centromédio, acho que era o Tide, pra ficar cuidando as nossas costas, e falei pro Tazico:

- Vamos a passito pra lá, sem acordar os gansos, fazer o gol e decidir logo este jogo, negão.

O agarramento lá começava quando começamos a andar, silenciosos. O Tazico se posicionou a um metro da risca, eu quatro metros atrás. O Gilba, que demorava a bater esperando eu chegar, tomou distância.

Aí o negão gritou:

- Cruza que te furo a "brusa"!

Puta que pariu, denunciou que a gente foi lá pra fazer. Deu vontade de lhe dar uma porrada.

Tirou a concentração, mas o Gilba já corria e bateu, não veio por cima, como o combinado pra fazer de cabeça, veio queimando à meia altura exatamente para o risco de cal extremo da grande área. Grande Gilba.

Quando ele bateu me movimentei, avancei e meio voando consegui pegar de lado, peito do pé, explodiu no meio do travessão deles, voltou quase no meio de campo.


Depois eu dizia: nego fiadaputa, errei por culpa tua.

Ele se finava de rir. O Tazico, além de bom de bola, era um piadista natural.
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martes, 5 de julio de 2016

CARLOS LÚCIO, O LIVRO, A PINGA E EU

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Volto à efeméride de ontem à noite na Galeria de Arte Paulo Campos Guimarães, da Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa, em Belo Horizonte: o lançamento do 18º livro de Carlos Lúcio Gontijo, o seu "Tempo Impresso" (388 páginas, Ed. CLG).

Ontem mesmo postei fotos no facebook ganhando o autógrafo do autor e outras. Ao final do evento, com muita gente ainda lá, o Carlos Lúcio, em pé no salão da Galeria, proferiu brevíssimo discurso, com o bom gosto e sinceridade que o caracterizam.

Amabilíssimo, logo comunicou que iria sortear uma garrafa da célebre cachaça Maria Andante - um luxo, com poema do Carlos no invólucro, como se vê nas fotos -, além de dois quadros. Falei para a Luíza Mansur, minha acompanhante: "Sorteio de cachaça nunca perdi, é minha, essa ninguém me tira"

O Carlos Lúcio às cegas botou a mão na sacola que a sua esposa Nina lhe estendeu, e puxou um dos papeizinhos. Leu e anunciou: Antônio Salazar Fagundes.


Fui lá receber o prêmio, com toda a pompa, e falei a todos que tinha cantado a pedra antes. Uma festa. Outro dia vai foto da entrega do troféu ao beberante, obra do fotógrafo profissional que cobriu o evento.
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domingo, 3 de julio de 2016

Falta

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Joaquim Viúva Negra teve um sonho turbulento. Em certo instante do pesadelo era meio-campista de um time de camisas vermelhas. Perdendo o jogo de 1 a 0. 

No último minuto da partida investiu em velocidade pelo lado direito do campo, deixou o lateral adversário para trás e viu que invadiria sozinho, quando prestes a entrar pela quina da grande área o quarto-zagueiro inimigo deu-lhe uma voadora.

Falta e expulsão. Na emoção falou aos companheiros: deixem que eu bato, mesmo sendo destro. A posição recomendava um canhoto para bater direto, ou ele mesmo cruzar para a fogueira. No pouco tempo que tinha para refletir, empolgado decidiu bater direto.

O jeito, pensou, seria bater com o lado direito do pé pelo lado esquerdo da barreira como a via, torneando a bola, de modo que ela fizesse a curva e caísse no ângulo de lá do goleiro, e tinha que ser forte, uma paulada.

Correu para a bola e no momento fatal escorregou, tocando nela, que escorreu passando da barreira. Um fiasco. Todos os companheiros o olharam com censura, sérios com ponta de raiva.

Despertou amargo, desgostoso, foi lá no outro quarto e matou a mulher.
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Yo en Montevideo

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Naquela quarta-feira as mulheres chegaram do trabalho na boate às quatro e meia. Risos, tititi, cócegas, despertei irritado, ora vão... mas vi um mar de sorrisos e um copo de champanhe gelado na minha frente, pela mão da argentina Jacqueline Bel.

"Arianita" Mores, a caixa, me alcançou a grana, avisando: ganamos plata, pero Peñarol se fue cuesta abajo, Juanito!

Tinha que me trazer notícia triste. Fingi que não ouvi, ora se eu não iria saber que o Peñarol foi goleado em casa. Enquanto faturavam os trouxas eu assistia o jogo, pombas.

Contei, treze mil. Senti que a Frida e outras que andam se olhando demais enrustiram mais uns oito. Depois verei com calma.

Sorri e disse média de quinhentos por mulher, tá bom por hoje, vão tomar banho, descansem, queridas.

Ofrezco la vieja canción Doña Soledad por conta de Ariana Mores, que morava num muquifo da Av. Cataluña antes de ser meu amor.

A conheci por acaso, andando solito pela Cataluña de madrugada quando na esquina da Manuel Alonso vi um sujeito a espancando. Fui para cima e apunhalei o bandido, dez fincadas no pescoço. Desde então temos pacto de sangue.

A canção é o modo que tenho de dizer que sinto muitas saudades quando elas não estão, sonho acordado.

Como eu Alfredo Zitarrosa nasceu e morreu em Montevideo. Ele ganhou o mundo, enquanto eu..., deixa para lá, não é como eu queria mas está bom assim.


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Segredo

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Bem, amadas amigas minhas e..., ahn, estimados amigos seus, preciso sair comprar trago, alguém andou bebendo tudo o que tinha aqui

E preciso tirar o lixo, para evitar posteriores reclamações das mulheres, no bairro Caiçara de Belô o caminhão do lixo passa somente às terças, quintas e sábados. Imaginem 28 pessoas, o que produzem de lixinhos. Tirar lixo é comigo, só eu.

Pra isso eu sirvo, além de ser discotecário, varrer e lavar a pensão, ir na feira, fazer comida e comprar trago. E consolar as tiangas, sempre tem alguma choramingando pelos cantos. 

É de lei, elas que trabalham - nestas horas já estão lá na boate - preciso fazer jus aos meus 95% dos seus rendimentos.

Deixo um samba com os sensacionais Casuarina, Áurea Martins e Nilze Carvalho. Todos maravilhosos, mas amei rever a D. Áurea, hoje com 83 anos, há muito tempo não a ouvia, parece gaúcha pela pegada em samba-canção.

Autoria dos grandes Herivelto Martins e Marino Pinto.


(do facebook)

sábado, 2 de julio de 2016

Na pensão da Rua Rosinha

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Aqui no "convento" as mulheres são foda. Deitam fofoca de tudo e de todos, rindo desbragadamente. Hoje só pegarão (hummm) no batente às seis da tarde, então andam pra lá e pra cá em trajes menores fazendo piada de tudo ao tempo em que começam a se pintar.

Mostrei-lhes uma notícia da atriz ou ex-atriz brasileira Luiza Gourmet, que diz apanhar do marido. Pra quê!

- Casou com um trilionário que poderia ser seu avô, bem feito! - exclamou a baixinha Mirinha de Brumadinho.

- Apanha há anos, agora reclama, tem mais que sifuder - disse a gaúcha Mariana de Rosário, a minha índia da Serra do Caverá.


- Mas se é tão velho, como consegue surrar a interesseira? - perguntou Jacira de Carbonita.


- Ele deve ter contratado um fortão pra comer e espancar a dona, a primeira parte ela amou, a segunda agora deve ser de mão fechada - arrematou Marijuana de Salinas.

Com as 27 explodindo em risos, eu também, expulsei-as da salinha do computador, ora me deixem em paz, já lá pra sala grande.


Essas mulheres inventam cada uma quando estão de folga. Tadinha da dona Luiza Gourmet, morro de dó...

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