lunes, 30 de septiembre de 2019

CARTA AOS EX-AMIGOS

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Vi por aí, com o título de "Carta aos Bolsonaristas", atribuída a autor desconhecido. Cometi pequenas alterações e subscrevo o que disse o desconhecido.
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Ele disse que praticou zoofilia... e você votou nele. Ele disse que a ditadura deveria ter matado uns 30 mil... e você votou nele. Ele disse que sonegava mesmo, tudo o que pudesse... e você votou nele. Ele disse que não estupraria uma mulher por não considerá-la atraente e que, por isso, ela não merecia o estupro... e você votou nele.

Ele disse que trabalhador tem que optar por emprego sem direitos ou por direitos sem emprego... e você votou nele. Ele enalteceu a figura de um dos piores torturadores do Brasil, Carlos Alberto Brilhante Ustra. E fez isso em rede nacional... e você votou nele.

Ele confessou que usava a verba do auxílio moradia para "comer gente"... e você votou nele. Ele defendeu e homenageou as milícias... e você votou nele. Ele fugiu de todos os debates, por saber que não tinha condições mínimas para debater com os demais candidatos... e você votou nele.

Ele disse que preferia ver morto um filho seu que se tornasse gay... e você votou nele. Ele demonstrou ódio e desprezo por negros, por pobres e por nordestinos... e você votou nele. Ele esteve sempre rodeado dos piores seres humanos... e você votou nele.

Ele posou com maçons, com católicos, com evangélicos, para enganar você... e você votou nele. Ele convidou você a metralhar petistas... e você votou nele.

Ele nunca proferiu uma palavra de paz para a sociedade... e você votou nele. Ele fingiu que levou uma facada, com objetivo de fugir dos debates... e você votou nele.

Ele é misógino, homofóbico, preconceituoso, miliciano, covarde, mentiroso, corrupto, odioso, incompetente, entreguista, traidor da pátria, lambe-botas do Trump, mafioso... está doando o nosso País, e é o Presidente do Brasil porque VOCÊ VOTOU NELE.

Ex-amigos: eu gastei a voz avisando, e desprezaram o respeito, a amizade, insultaram a minha inteligência, a minha trajetória e a minha honra. Por favor, nunca mais me olhem no rosto.

Eles e vocês tem a mesma culpa. Ele não enganou vocês. Estava tudo às claras; mas vocês, por se identificarem com ele, o elegeram para o cargo público mais importante do país. Vocês cometeram o pior dos crimes que um eleitor pode cometer: trair as futuras gerações.

(Ilustração do belga Luc Descheemaeker)
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miércoles, 25 de septiembre de 2019

BRUXO

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Trim.

- Alô, pois não?
- Gostaria de falar com o Antônio.
- Quem deseja falar com ele?
- Aqui é a Patrícia, da Net.
- Sobre o que tu quer falar com ele, Patrícia?
- O senhor é o Antônio?
- Não, sou o Ricardo, primo e secretário dele, me chamam de Bruxo, fala pra mim.
- É uma proposta para mudar de Plano...
- Mudar? Entendo, ele vai ganhar dinheiro com isso, né?
(Silêncio por alguns segundos)
- Bem... é uma proposta diferente, mais opções de canais e...
- Sei... Direi a ele que a Patrícia, branca, cabelos castanhos claríssimos, olhos cinza-azulados, 1,67m, 61 Kg, ligou para ajudá-lo a ser feliz sem gastar mais do que já gasta, pois ele anda puto com o preço dessa droga, 170 contos por mês só pela internet, pois ele não tem tevê.
- Como tu sabe que sou assim!? Acertou...
- Assim como?
- Branca, cabelos, altura, tudo...
- Ah, falei isso? Se falei foi por instinto, branca de pé pequeninho, gostei da manchinha que tens na bunda, é que já morri na guerra.
- Ai, Ricardo, está me assustando...
- Assustei, é? Pega esta então: tu tem 26 para 27 anos, fará aniversário no dia 4 de dezembro e anda corneando o marido.
(Um grito)
Clic.
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viernes, 20 de septiembre de 2019

BRUNO PARA O TRIBUNAL

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- Trim.

- Alô, Supremo, Gabinete da...

- Tu é bozálio? Se for não quero papo.

- Do que o senhor está falando?

- Ora, bozálio é adjetivo e substantivo masculino. Refere ao natural ou habitante da Bozália, território de bestas-feras. Acento agudo na penúltima sílaba por ser paroxítona terminada em ditongo crescente ou coisa parecida.

- O senhor é doido?

- Mais ou menos. Chega de enrolação, quero falar com o ministro Totó!

- Aqui no gabinete não tem ninguém com esse nome, senhor, quem fala?

- Ué, aí não é do Ínfimo Trivenal Federal? Aqui é o Rei da Cidade Baixa.

- O senhor ligou para passar trote? A ligação será rastreada e o senhor responsabilizado.

- Ahahah, tou louco de medo. Nada disso, meu amigo, tava brincando. Me falta o nome do Totó agora, andei bebendo, deu branco, mas é aquele que anda lambendo os ovos e dando a bunda pros milicos, e...

- Clic.

- Putz, me deixaram falando sozinho, um desrespeito ao contribuinte que sustenta essa corvada.
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(Imagem meramente ilustrativa ao telefonema do Bruno, nem sei se o Totó está ali, obra do Renato Aroeira)


viernes, 6 de septiembre de 2019

DE PESCOÇO DURO


(...)

Depois de dez cervejas e de ao amanhecer botar as freiras em seus ninhos, dormi de mau jeito no sofá, com a cabeça torta na beirada. Acordei cedo, três da tarde - elas acordam às quatro, e no ato percebi que não conseguia mexer o pescoço, doía na alma, um lado ficou duro. Ao despertarem contei alto: estou de pescoço duro! Elas correram para me acudir. A sóror Mariana de Rosário, a índia da Serra do Caverá, disse: não se mexa, vou te esfregar rabo de foguete. Pensei outra coisa, mas é como ela chama arnica do campo. Esfregou a pomada e não adiantou. A noviça Raquel Welch quis mostrar serviço e me esfregou outra porcaria que a avó dela ensinou, nada. Queriam me levar para o hospital, hummm... com enfermeiras sempre me dei bem, mas só de imaginar um médico bozo – detesto esses filhos da puta, hei de matá-los um dia – tocando em mim, enojei: só vou se me levarem inconsciente ou morto. Isso ali pelas seis da tarde, já noite, antes delas saírem para o trabalho às sete. De tanta dor chegou um momento em que enchi o saco: saiam daqui, piranhas, vão trabalhar, eu me viro. Disse eu me viro e virei o pescoço, quase morri de dor. Tudo nesta vida tem remédio, para quem sabe. Depois de beijos cuidadosos e recomendações elas se foram para a batalha, fiquei sozinho. Sozinho não, com a Raquel Welch, que ainda está em fase de treinamento. Então abri uma garrafa de vinho e servi uma dose de veneno. Estou na terceira de vinho, quinto veneno, dançando feliz, que pescoço nada, a Raquel então... a escandinava nasceu sabendo, eu que estava sem paciência, o seu remédio funciona. Não é só rabo de foguete: é boca de foguete, frontal de foguete, uma maravilha.
(...)