jueves, 28 de febrero de 2013

De Rui Barbosa para Renan Calheiros e seus 56 rebotalhos

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Ficamos a imaginar o que diria Rui Barbosa aos desmoralizados que elegeram Renan. Sim, o sujeito não caiu lá por milagre: foi eleito à socapa, em 1º de fevereiro, por 56 mandaletes, e isso quando a grita já tinha tomado o País. Elegeram conscientemente, contra a voz da nação que se erguia inconforme. Apenas 18 senadores ouviram o brado popular e votaram em Pedro Taques, este um homem digno e capaz, pelo que se sabe. À margem, também ficaram homens como Pedro Simon, de uma meia-dúzia com currículo para dirigir a Câmara Alta. Optaram pelo lixo.

Rui Barbosa escreveu o texto abaixo em março de 1919. Dá para se ter uma idéia do que diria hoje aos 56 acumpliciados.

A VISÃO DOS MANDA-CHUVAS 

Se os manda-chuvas deste sertão mal roçado, que se chama Brasil, o considerassem habitado, realmente, de uma raça de homens, evidentemente não teriam a petulância de o governar por meio de farsanterias, como a com que acabam de arrostar a opinião nacional e a opinião internacional, atirando à cara da primeira o ato de mais violento desprezo, que nunca se ousou contra um povo de mediana consciência e qualquer virilidade.

Para animar esses gozadores inveterados nas covardias do egoísmo a esse rasgo de intrepidez contra os sentimentos de uma nação inteira, justamente quando esses sentimentos se estão patenteando com toda esta intensidade, havendo de supor que o vezo de se encontrarem com um país de resignação ilimitada e eterna indiferença os acostumou a verem nos seus conterrâneos a caboclada lerdaça e tardonha da família do herói dos Urupês, a raça despatriada e lorpa, que vegeta, como os lagartos, ao sol, madraçaria e lombeira dos campos descultivados.

O que eles vêem, sucedendo à idade embrionária do colono, dobrado ao jugo dos capitães-mores; o que eles vêem, seguindo-se à época tenebrosa do africano vergalhado pelo relho dos negreiros, é o período banzeiro do autóctone, cedido pela catequese dos missionários à catequese dos politiqueiros, lanzudo ainda na transição mal-amanhada, e susceptível, pelo seu baixo hibridismo, das bestializações mais imprevistas.

Eis o que eles enxergam, o que eles têm por averiguado, o que os seus atos dão por líquido, no povo brasileiro: uma ralé semi-animal e semi-humana de escravos de nascença, concebidos e gerados para a obediência, como o muar para a albarda, como o suíno para o chiqueiro, como o gorila para a corrente; uma raça cujo cérebro ainda se não sabe se é de banana, ou de mamão para se empapar de tudo que lhe embutam; uma raça cujo coração ainda não se estudou se é de cortiça, ou de borracha, para não guardar mossa de nada, que o contunda; uma raça, cujo sangue seja de sânie, ou de lodo, para não sair jamais da estagnação do charco, ou do esfacelo da gangrena; uma raça, cuja índole não parti- cipe, sequer, por alguns instintos nobres ou úteis, dos graus superiores da animalidade.

De outra sorte não poderia suceder que, precisamente quando se trata do ato mais vital de uma nação, a escolha da cabeça do seu governo, seja essa nação a que se elimine, para exercer as suas vezes o lendeaço dos seus parasitas. De outro modo não se conceberia que, justamente quando os mais obdurados e truculentos despotismos do mundo rolam pelo chão, arrastando na queda os mais velhos tronos e as dinastias mais poderosas, aqui, três ou quatro moirões de lenho podre até o cerne, se ponham rosto a rosto com todas as expressões do sentimento público, e as levem de vencida. 

De outra maneira não se explicaria que, exatamente quando se anunciava aos quatro ventos um movimento de regeneração dos costumes políticos, empenhados em corresponder à grandeza das dificuldades com a grandeza dos exemplos, tudo se resolvesse na comédia mais ignóbil, de que nunca foi testemunha a nossa História. 

Não, senhores, de outro jeito não se explicaria que, quando todas as nações andam à competência, no campo da honra, em dar, qual a qual mais, em modelos ao universo atento, os seus maiores homens, as suas maiores ações e as suas maiores qualidades, a política brasileira elegesse este momento, para assombrar o mundo com a sua inveja, a sua tacanharia, a sua corrupção e a sua cegueira; para juntar, aos olhos do estrangeiro, em uma só cena, como representação da nossa mentalidade e da nossa moralidade, um concurso de indivíduos, vícios e opróbios, que obrigariam a corar o mais desgraçado e o menos sensível retalho da humanidade.
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(A charge é do Paixão, de 29/jan/2013).

miércoles, 27 de febrero de 2013

Mônica Salmaso

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Hoje a festa é na casa da nossa sensacional Mônica Salmaso (São Paulo, SP, 27/2/1971), vida e mocidade a serviço da verdadeira música popular brasileira.

Aqui resgatando a belíssima Vingança, de Francisco Mattoso e José Maria de Abreu.

Tintim!




lunes, 25 de febrero de 2013

A força do dinheiro (O martelo de Thor), por Newton Silva

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Quase que íamos esquecendo. Os boêmios, devidamente autorizados por Leilinha Ferro, escolheram em separado, na sexta-feira, uma obra fora de concurso.

"Mandam dizer do profundo desgosto com a notícia, tio Salito, que é por essa e outras que dá vontade de sair quebrando tudo".

Entendemos os sentimentos dos confrades. Mas, pensando bem, pudera: Eike Maravilha von Minério e Márcio Thomaz Bastos formam uma dupla e tanto. E as "otoridades"..., deixa pra lá.

É do cearense Newton Silva (Fortaleza).




domingo, 24 de febrero de 2013

A tua vida é um segredo

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Sábado tivemos novamente carnaval de rua na Rua da República, nas proximidades da Olaria. Segundo estimativa do empinante Contralouco, por baixo cem mil pessoas brincando na Cidade Baixa, a zona boêmia de Porto Alegre que compete com a Lapa carioca. 

O pessoal gosta de carnaval de verdade, começou à tarde e se estendeu noite adentro, uma grande família se divertindo. Os únicos incidentes registrados foram longos beijos de língua, que por vezes atrapalhavam os cordões.

Por falar em carnavais de amor, Lucas da Azenha, o  boêmio que não bebe, gremista de fé, nobre auditor e funcionário público por muitos anos em Pernambuco, nos envia, junto a palavras de incentivo, uma inesquecível página de Lamartine Babo, que estourou no carnaval de 1933.

A tua vida é um segredo, na voz do grande Mário Reis.

Abraço!, Lucas.




Corinthians, horda de barbados bárbaros?, n'A Charge do Dias

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Pela manhã, quando os boêmios ainda não tinham mexido com os espetos para o churrasco dominical do Beco do Oitavo, Lúcio Peregrino ameaçou iniciar as Notícias do Notibuc: 

- Gente, atenção, notícias da semana: Lulalelé, o bundão deslumbrado e intrometido, chamou a atenção da Dilma grosseiramente durante o regabofe do petê, defendendo o amancebamento com Maluf, e...

Uma estrondosa vaia o interrompeu. Domingo ninguém quer saber dessa gente, de modo que Lúcio fechou o nóti e pediu ao Portuga uma batida de limão.

O bate-papo dos amigos do Botequim começou mesmo com uma pergunta delicada do filósofo Aristarco de Serraria:

- Digam-me uma coisa, o moleque que leva ao estádio um sinalizador de uso das forças armadas, obviamente proibido aqui, na Bolívia e em todo o mundo, tem pai?

- Se tem, não merece esse nome -, responde Jezebel do Cpers.

- Deve ser filho de mãe solteira, e a pobrezinha logo perdeu o controle, como quase sempre ocorre com o teteinho egoísta e malvado, só com a mãe se torna um porra-louca -, emenda Chupim da Tristeza.

- Ele diz que o disparo foi acidental. Acidental? Mas para que levou o artefato proibido, se não para disparar? -, indaga Silvana Maresia.

- Esse negócio de um menor assumir a autoria do assassinato está me cheirando mal, de repente está encobrindo algum bandidão, pois tem cada metralhão lá, de 30 anos pra cima. Uns bichos desses deveriam arranjar namorada, só punheta enlouquece, ora andar feito doido em função de onze machos... - reclama Tigran Gdanski. 

- Se pudessem levariam metralhadoras, os débeis mentais, será que não viram o que uma bosta dessas, só de fumaça, causou em Santa Maria? -, diz Wilson Schu.

- Bando de loucos... bando de criminosos, isso sim, não é de hoje que promovem barbaridades, por onde passam é terra arrasada, desta vez deixaram um menino dentro de um caixão para uma família, deveriam trocar o nome para Bandidos Filhinhos da Mami -, arremata o Contralouco.

- Calmaí, gente, não dá para generalizar, tem menino bom lá no meio -, torna a falar Jezebel.

- Só sei que isso é muito triste -, lamenta Jussara do Moscão.

- Além da falta de pai, são as leis que estimulam a irresponsabilidade. Não viram aquele monstro, matou friamente a mãe e o pai e saiu a passo do tribunal para recorrer em liberdade, com um caminhão de anos nas costas. Quando o trancafiarem, irá cumprir um sexto da pena, três anos e pouco, e sairá rindo. A mesma pena daquela coitada que roubou uma lata de leite em pó para alimentar o nenê -, diz, pesaroso, Marquito Açafrão.

- Esse é adulto, tomara que façam a pele dele na cadeia, lá as leis funcionam e as penas são executadas integralmente, roubar vale, afinal no fundo se trata de recuperar o que lhes foi surrupiado pelos políticos e empresários ladrões, mas isso de estuprar ou matar os pais a turma não gosta... -, roga Carlinhos Adeva.

- Tinha era que a gente mesmo quebrar a pau -, diz Gustavo Moscão, elevando o tom.

Walter Schiru chega com a carne. Hoje será costela de ovelha e algumas picanhas. Para a criançada, dê-lhe coração de galinha. Aí a conversa descambou para o Grenal de logo à tarde, em Caxias do Sul. O Grêmio vai com os reservas, de medo de queimar os titulares, embalados depois da goleada sobre o Flu pela Libertadores, de titulares só o Dida e mais um. O Contralouco estimou em 8 a 0 para o Inter, diz que bem feito para o Dida, quem mandou casar com a Márcia Fu. Vá lá, um certo exagero, chega a inventar casamento. Moscão diz que 1 a 0 já estará de bom tamanho.

A turma do som já está no aperitivo -  dyabla verde, com violão, cavaquinho e pandeiro ainda intocados.

Leila Ferro pede que votem logo as obras do dia; mais tarde, com caixas e caixas de loiras geladas, ficarão, digamos, já sem a presteza necessária para uma boa escolha.

O Contralouco fez uma alaúza em torno da obra do Nani. - Gente, o Passaralho vem a ser primo dos irmãos Carpano e Carpel, e paulista é tudo viadinho prevalecido com quem não pode se defender, homem eles não enfrentam, tem que dar uma enxada para esses filhinhos de pápi, antes que morram de per si. 

Deu unanimidade. 





E a turma pegou gosto, putaria, principalmente, e roubalheira sempre é assunto no botequim. Agora com o... Nani. De novo. Só dá Nani! 




E se vieram com o Rico, do Vale Paraibano (São José dos Campos, SP), sobre um ser..., vocês sabem.




Arremataram com o Amâncio, de O Jornal de Hoje (Natal, RN), detonando um dos horrores do nosso país. Sempre que a turma escolhe o Amâncio, lá do Rio Grande do Norte, a nossa outra face, paramos para pensar no continente que é o Brasil. Desde o Rio Grande do Sul, vai um abraço aos amigos lá de lejos.




Miss Leilinha Ferro apresentou as suas. Chegou à mesa central da calçada e cochichou no ouvido da mestra Jezebel (que depois contou aos boêmios): - Tia Jêze, quem é o Carpano? Jezebel cochichou de volta: - É um caralho enrolado num pano. E Carpel é... - Já imaginei, tia, obrigado.

Ficou com o J. Lima, do Jornal Opção (Goiânia, GO). Ferro neles!, Leilinha.





E torna a lembrar os trogloditas, com o Brum, do Tribuna do Norte. Oba, de novo Natal (RN). Essa menina é fogo.




 A coluna A Charge do Dias leva esse título pelo seu idealizador, o mestre Adolfo Dias Savchenko, que um belo dia se mandou para a Argentina, onde vive muito bem. Sucedeu-o na coordenação a jovem Leila Ferro, filha do Terguino, quando os boêmios amarelaram na hora de assumir o encargo. Antes eram dois butecos, o Beco do Oitavo e o Botequim do Terguino, que há poucos meses se..., bem..., se fundiram (veja AQUI), face a dívidas com o sistema agiotário. O novo bar manteve o nome de um dos butecos: por sorteio ficou Botequim do Terguino, agora propriedade dos ex-endividados António Portuga e Terguino Ferro.

Indignada emoção em Portugal

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Os Indignados de Portugal, pessoas que protestam contra o seu governo de vendidos e aproveitadores (por que será que isso me soa familiar?), de quem já falamos em A rede e o cerco do parlamento em Lisboa (AQUI) novamente dá mostras do seu descontentamento com os malfeitores que estão no poder, ajoelhados diante de vendilhões representados por gente como Angela Merkel. Desta vez entoando - revivendo - uma velha canção, o emocionante Hino da Revolução dos Cravos. A estúpida senhora que dirigia a sessão tentou impedir o gesto democrático, despudorada.

O antigo canto de pronto espalhou-se pelos bairros e confins da pátria lusitana, sendo tocado em todos os lares, à exceção dos palácios onde se escondem os múmios.

Vai um abraço. Indignados somos.

Nosso condomínio

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Por Pedro Simon, senador da República.



Quando ingressei na vida pública, há cinco décadas, eu apertei o botão de subida do elevador da política, no seu sentido mais puro. E ele subiu. Parou em muitos andares. Abriu e fechou. 

Muitas vezes, parecia que as portas emperravam, presas a grades e a paus-de-arara. Mas, mesmo assim, abriam-se, com o esforço de todos os passageiros. 

Havia uma voz, que anunciava cada etapa dessa nossa subida, na busca do destino almejado por todos nós. "Liberdade", "democracia", "anistia", "diretas-já". Não era uma voz interna. Ela vinha das ruas, e ecoava de fora para dentro. 

Vi gente descer e subir, em cada um dos andares deste edifício político. Comigo, subiram Ulysses, Tancredo, Teotônio. Já nos primeiros andares, vieram Covas, Darcy, Fernando Henrique. Mais um ou outro andar, Lula, Dirceu, Suplicy. Outros mais, Marina, Heloísa. 

De repente, o elevador parou entre dois andares. Alguém mexeu, indevidamente, no painel. Parece que alguns resolveram descer e fizeram mau uso do botão de emergência. O Covas, o Darcy, o Ulysses, o Tancredo, o Teotônio já haviam chegado a seus destinos. 

Sentimos, então, uma sensação de insegurança e de falta de referências. Apesar dos brados da Heloísa, parecia que nada poderia impedir a nossa queda livre. A cada andar, uma outra voz, agora de dentro para fora, anunciava, num ritmo rápido e seqüencial: "PC", "Orçamento", "Banestado", "Mensalão", "Sanguessugas" , "Navalha", "Xeque-Mate". Alguns nomes, eu nem consegui decifrar, tamanha a velocidade da descida. 

E o elevador não parava. Nenhuma porta se abria. Haveria o térreo, de onde poderíamos, de novo, ganhar as ruas. É que imaginávamos que seria o fundo do poço do elevador da política. Qual o quê, não sabíamos que o nosso edifício tinha, ainda, tantos, e tão profundos, subsolos. 

Daí, a sensação, cada vez mais contundente, de que o baque seria ainda maior. Quantos seriam os subsolos? Até que profundezas suportaríamos nessa queda livre? 

Mais uma vez de repente, o elevador parou, subitamente. Uma fresta, uma sala, uma discussão acalorada. Troca de insultos. Uma reunião da Comissão de Ética da Torre Principal do Edifício. 

O Síndico teria pago suas contas pessoais com o dinheiro do Condomínio, através do funcionário do lobby de um outro edifício. E, por isso, teria, também, deixado de pagar pelos serviços de manutenção do elevador. Mais do que isso, o zelador também não havia recebido o seu sagrado salário, para o pão, o leite, a saúde e a educação da família. 

Idem o segurança. 

Mas, havia algo estranho naquela reunião: os representantes dos condôminos, talvez por medo de outros sustos semelhantes, em outros solavancos do elevador, defendiam, solenemente, o Síndico. 

Ninguém estava interessado em avaliar a veracidade das suas informações. Nem mesmo as contas do Condomínio. Queriam imputar culpa ao zelador e ao segurança. Ou, quem sabe, teria o tal Síndico informações comprometedoras, gravadas nos corredores soturnos do edifício, a provocar tamanha ânsia solidária? Não se sabe, mas, tudo indica, isso jamais será investigado, enquanto vigorar a atual Convenção de Condomínio. 

Há que se rever, portanto, essa Convenção. Há que se consertar esse elevador. Há que se escolher um novo ascensorista. Há que se eleger um novo síndico. Há que se alcançar o andar da ética. 

A voz das ruas tem que ecoar, mais alto, nos corredores deste edifício. A voz de dentro, parece, insiste em continuar violando os painéis de controle. Até que não haja, mais, subsolos. E, aí, o tal baque poderá ser irreversível. Não haverá salas de comissões de ética. Porque não haverá, mais, ética. Quem sabe, nem mesmo, edifício.
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(A ilustração não é do original)

Regalame esta noche, a cuarteto

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Pois não é que Dolores Sierra gostou tanto da música que ontem lhe foi ofertada, que enviou a mesma com outros intérpretes. "Eu aqui neste friozinho de Barcelona, a solas bebendo campari na sala, quase morri de saudades, aí dei de fuxicar no youtube, nas proximidades da música que me enviaste, que agora te reenvio, a cuarteto".

A de ontem é a gravação original, Dolores. Depois milhares de vozes a propagaram, o bolero é um clássico latino-americano (originário da América do Norte, México) e mundial. Em breve o ouviremos juntos, antes preciso acertar umas pontas com uns monstros de Florianópolis. A seguir marcharemos para tierras de España, Carlito Dulcemano, Juanito Diaz Matabanquero, eu e mais alguns dos irmãos da palafita.

Besos.



Regalame esta noche

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Para Dolores Sierra, lá em Barcelona.
Luciano.






O bolero é de Roberto Cantoral, um dos integrantes da famoso trio, que se completava com Chamin Correa (o homem do sensacional requinto) e Leonel Galvéz.

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Noel Rosa, quem diria, acabou em tango

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A instigante matéria é de Júlio Chiavenato, publicada no jornal A Cidade, de Ribeirão Preto (SP), em 23/jun/2012.


Garçom virou ‘garzón’; média, ‘café cortado’; requentado, ‘recalentado’. E o que era carioca dançou.


Um dos maiores sucessos de Noel Rosa, "Conversa de botequim" (com parceria de Vadico), foi descaradamente plagiado pelos argentinos Charlo e Enríque Cadicamo e transformou-se no tango "Y qué más".

A letra em castelhano, que Cadicamo impingiu em "Conversa de botequim", praticamente é uma tradução literal do português, com pequenas mudanças para não alterar o ritmo da melodia, esta simplesmente a mesma, sem mudar uma nota, transposta de samba para tango por Charlo.

Noel Rosa compôs "Conversa de botequim" em 1931 e sua primeira gravação é de 1935. O plágio de Charlo e Cadicamo foi gravado em Buenos Aires no dia 2 de junho de 1937.

É um plágio tão evidente que não há nenhuma dúvida das intenções dos artistas argentinos. E não se trata de picaretas: são figuras exponenciais da história do tango.

Segundo Julio Nudler, um dos mais destacados pesquisadores da música argentina, depois de Carlos Gardel "Charlo é o mais importante cantor que nos deu o tango (...) embora não tenha se convertido em um mito popular".

Charlo foi o cantor que mais gravou na Argentina e, segundo Nudler, "contribuiu para estabelecer um estilo emocional, mais austero, isento de modismos, de perfeita afinação e refinada musicalidade". Também foi compositor de sucesso.

Enrique Cadicamo dispensa apresentação. É um excelente letrista. Viveu quase cem anos e compôs inúmeros sucessos, gravados pelos maiores cantores argentinos. Uma obra-prima da música popular de todos os tempos é "Los Mareados", que Cadicamo "letrou", sob um velho tango de Juan Carlos Cobián. Foi gravado por Astor Piazolla e Amelita Baltar. No Brasil um dos seus tangos mais conhecidos é "Nostalgia", gravado por Gardel.

Se não bastasse, era um poeta "lunfardo" (dialeto do submundo buenairense) cujo poema, "El cuarteador" foi transformado em tango e serviu de modelo para Jorge Luis Borges compor seu personagem don Nicanor Paredes.

Então, a pergunta: porque esses dois personagens cometeram um plágio tão descarado? Como tiveram a "coragem" de gravá-lo, dando-nos a prova do crime?

Em 1935, conta o jornalista argentino Federico Garcia Blaya, no site Todotango, Enrique Cadicamo e Charlo, com uma equipe de cinema argentina e artistas, permaneceram oito meses no Rio de Janeiro.

"Era uma época de esplendor, com uma ebulição artística sem precedentes", segundo Blaya, com os cassinos da Urca, de Copacabana e o Atlântico. A trupe argentina naturalmente conheceu os artistas brasileiros. E, como não poderia deixar de ser, Noel Rosa.

A conclusão, de quase todos os pesquisadores argentinos, é que Charlo e Cadicamo ao ouvirem "Conversa de botequim" não resistiram e plagiaram.

Em Buenos Aires, dois anos depois, gravaram o "crime". No entanto devem ter se assustado com a façanha, porque "Y qué más", embora de apelo popular e de fácil assimilação para os portenhos, ficou esquecido.

Como Charlo e Enrique Cadicamo são dois mitos do tango, na Argentina todos fingem que não viram nem ouviram a malandragem. Talvez, os dois tenham acreditado no que dizia o sambista Sinhô: "Samba é como passarinho, é de quem pegar". Eles pegaram, transformaram em tango, mas o espírito do Noel Rosa deve ter-lhes aparecido...




sábado, 23 de febrero de 2013

Me dá a penúltima

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Vai para a meninada boêmia do Beco do Oitavo. Não sei se os mais "passadinhos" de idade, como Lúcio Peregrino nos seus 39 e Wilson Schu nos seus 52, belíssimas vozes, já  cantaram o samba-canção para a cambada de "antes dos 30", que lá comparece de 6 a 29, em alguma madrugada festiva, aposto que sim. 

Alô, bundão broxura que lucra com o bafômetro, ei, governador, prefeito, congresso, conjunção anal, de merda do Rio, e SP, e RS? Seu "bobo", se faz, a droga é o problema que vocês criaram, aqui os de 8 ou 14 só olham, bebem suco, papai e mamãe ao lado, amam música boa, e pensam lá consigo um dia eu chego lá: serei boêmio, vou trabalhar também, e muito, vou salvar o Brasil, as crianças do Brasil. Enquanto não vem os 18, depois 21, o neguinho trabalha e estuda, lê os clássicos e tudo; aqui na palafita, com 34 crianças, a última sessão musical no pátio foi com Mahler. A leitura foi um diálogo de Sócrates, pela alma de Platão. E é pouco, o ideal é todos os dias. Mania de mudar de assunto.

O moleque será fogo, será foda, ai aquele chapéu na cabeça do moço sério ao passar de madrugada, quieto, com pudor e respeito, modéstia sincera, mas que pelo andar está escrito "aqui, não"... derruba os corações das moças do Beco da Fonte. Das semelhantes. Nas marias-chuteiras, marias-boates, maria-carro, etc, haja maria para tudo o que não presta, pobres meninas despreparadas, ele não gasta o leite, que se fodam, que vão fazer filhos com burros jogadores de futebol ou lutadores de luta-livre, nem todos, nada de generalizar, ou pior, com os Eikes vômitos de ruins, o lindo do carrão do papi, aqui sim é geral, nessas é preferível uma punheta bem batida, pensamento lá naquela falsa magra de óculos... 

Embora, ao descer as escadarias do Beco da Fonte, o menino se comova com o peso por dentro do paletó, em cima do coração. 

No lado do coração, em cima, mas só para se defender, seu moço, a gente ensina, jamais dar um tiro no presidente do Senado - merece doze -, ou cobra equivalente, nada de "ministros", aqueles cacacas asquerosos e covardes, nem em ninguém. 

Defendam, se preciso, guris, os que não podem se defender. Tenham, é só o que queremos, a síndrome de Jesus Cristo que todos os boêmios têm, e nada mais.

É do poeta maior Aldir Blanc (letra), a voz e aparição principal no vídeo, em parceria com João Bosco (música). Temos na discoteca da palafita na voz grave da lendária cantante Nora Ney, pero infelizmente não a encontrei cantando essa jóia no youtube. 

Olhem a turminha de irmãos paus d'água que os cercam, ao Aldir e ao João: Moacir Luz e até alguns que não conheço (sou muito novinho), mas que não será difícil descobrir, pois a gente, meus companheiros e eu, em férias, aqui pendurados no Sul do mundo nos segurando para não cair sem pára-quedas no Burundi, sabemos os nomes dos bambas, vida e obra, mas alguns nunca vimos, o Brazil colônia mostra outros talentos, vocês sabem, como diz o Ancelmo Góis.

Peguem aí, ó notívagos, a quem tanto faz se é noite ou se é dia. 

Chorem, lembrem-se daquele amor que perderam, quando ela subiu nos tamancos e pela janela jogou as roupas na rua. Tadinha, depois entrou numa fria que parecia quente e hoje, reclamando ao pinguim da geladeira, morre de arrependimento. 

Essa do pinguim lembro quando casei com uma onça italiana da serra gaúcha, casei por uns tempos, tempos indefinidos, claro, como ela também fez, e um belo dia ela me aparece com um enorme pinguim para a geladeira, num cubículo que havíamos alugado para sermos felizes. Ficou lindão, o pinguim instalado na branca. 

Não hesitei, com um bolero do Aldir Blanc rodando no teto: na hora botei nome no bicho: Aldir Blanc. Todo dia eu acordava, entrava na cozinha e saudava: E aí, Aldir, paradão assim acho que não comeu ninguém, meu chapa. Eu e a tua dona cometemos horrores nesta madrugada, tou até com vergonha, cada absurdo... 

Se tinha que sair para trabalhar, eu passava café; se não, verificava se havia limões, uma caipa cairia bem com chimarrão.

Ela ria, ria, de felicidade ao acordar, nesses dias em que eu não saía para trabalhar. O Aldir, obviamente, ficava calado. Ciumento como só, ainda não me conhecia, normal. Depois se tornou meu amigaço, e eu dele, dividi mulher, grana não, pois ele preferia não sair para gastar.

Depois o negócio de sou só tua (traduzindo: tu é meu e já ficar em casa) começou a me dar nos nervos. Prisão não era comigo, e ela não queria sair junto para ouvir flautas e cavaquinhos, bandoneóns, saxofones, trombones, violões, na noite, blocos de sujos, ela com minha roupa, paletó à Ébrio do Celestino e chapéu Bogart, eu de odalisca com os sapatos dela. Queria me aprisionar, ao tempo em que me gastava na cama, meu Deus, haja fogaréu naquela cidadã, e brincar de casinha, não sai daqui. A primeira era comigo mesmo, mas a segunda, muito novo, despreparado... Burro, ou não, não queria brincar de casinha, precisava ver o mundo. 

Daí que eu chegava de madrugada, ela pelada na cama se fingindo de dormindo. Eu tirava a roupa, sapatos, na saletinha, sem ruído, entrava na cozinha pisando em ovos e via o Blanc na hora de pegar a penúltima, esquecia de andar em ovos, o silêncio para "não acordar" e saudava, alto e bom som: - E aí, Aldir, como foi a noite?, tu tá muito quieto, meu caro! O que te falta é uma pinguina!

Eu mudava a voz, falsete, fininha, e respondia por ele: - Uma droga, meu camarada, só eu e essa gringa pelada, nervosa, morta de tesão, puta que pariu, não há o que chegue, se ao menos me despregassem daqui... eu encestava de tudo o que é jeito. 

Então eu ficava de papo com meu amigo querido, o Aldir Blanc, sentado num banquinho da diminuta cozinha, ìamos longe. - O que tu acha daquela vizinha da mercearia, Aldir? "Ele" respondia: - Parece tarada, mas muito ruim de cabeça, um perigo, sai fora, tu é casado e ama a Gringa, é um moço honesto, sincero, sofrido, não vale a pena, nem pensar. - Quantos vagabundos comeram a minha gringa pelada lá na cama, Blanc, me conta? - Homem do céu, essas coisas ela não faz aqui dentro, não sei, tire esses maus pensamentos da cabeça, meu amigo.

Matando no cansaço. A gringa aguentava uma hora, ou menos. Na primeira demorou três. De repente saltava de lá do quartinho, pelada, ui, e dizia: - Tu pare de ser bobo, aí com o Aldir, os dois, deixa ele quieto, vem pra cá, vem, meu amor, pára de brigar...". Eu ia. Naquelas alturas, queriam que eu fosse onde?

Com o passar do tempo, ela permitiu que entrasse no seu coração o que supunha descaso, aí Aldir Blanc e eu amanhecíamos conversando. O fim.

Num amanhecer a gringa foi para a cozinhazinha do muquifo, de roupa, nada da nudez que adoravámos, e insultou, a plenos pulmões, a eu e ao Aldir, que estávamos numa boa, nessa madrugada eu havia lhe dado um copão de uísque, acho que bebeu, pois quando vi estava vazio. E ela não parava. Não gostei de vê-la vestida.

No meio da sua indignação, eu quieto, ouvimos um ruído de cabo de vassoura batendo no teto (venho de longe, conheço batida de vassoura), alguém batia no chão lá em cima, ela parou o gritedo por um segundo, mas logo continuou. Eu tinha alugado o morredor firme de que os moradores de cima raramente apareciam, como me atochou o cara da imobiliária. Eu estava pelado, só de chapéu, então coloquei a minha roupa e disse: - Vou lá em cima ver o que está acontecendo, ruiva, na minha ausência não judie do Aldir, se não na volta fico de mal.

Subi e bati na porta. O sujeito abriu de facão na mão esquerda, ameaçador. Falei: "O senhor me desculpe, mas isto não são horas de trocar o piso da sua cozinha, eu e minha mulher estamos começando a brigar, é seis da manhã recém, dá um tempo, amigo".

Ele respondeu: "Bati por causa do discurso da tua louca, e eu sou o dono de tudo aqui, eu que aluguei".

Tua o quê?

Tua louca, aquela avariada mental.

A imobiliária me mentiu. Ora eu morar num apê embaixo do dono, valentão e cioso de suas propriedades. Era um porão de quartinho, saleta e banheiro, este que para entrar só de lado, na cozinha só cabia fogão de duas bocas. Num átimo decidi deixar para pegar o corretor e o dono da imobiliária depois. Respondi, já ficando feliz: "Pois é, senhor proprietário, seu filho da puta, só que desta vez errou de homem, eu até ia levar livre, mas louca é a tua mãe".

Mexeu o braço do facão e lhe dei dois tiros, o segundo já no vôo de costas. Voltei, pelo lado dos canteiros de flores. A gringa e o Aldir estavam quietos.

Arrume tua mala, mulher, em dois minutos estamos fora daqui, hoje descobri que odeio a rua Voltaire Pires. Anda! Por esses milagres da natureza, ela obedeceu, veloz, talvez tenha ouvido algum estrondo, 38 longo é foda, não iria pensar em  trovão, ou nove paus de São Pedro jogando bolão com Judas em tempo bom.

Deixamos tudo, ela saiu de malinha e com o Aldir debaixo do braço, ele feliz por ter sido despregado da gelante. Larguei-os na casa de seus parentes e saí feito doido pela cidade, à procura de um cachorro morto, gaúcho não manda peixe. Demorei mas achei. Pendurei no pescoço um papel escrito os próximos serão vocês e mandei para os filhos do filho da puta, informei-me e soube que moravam juntos ali perto, liguei as coisas. Pendurei o cão morto com o papel na porta deles. Dali fui ao presídio visitar os camaradas da ala perigosa e me tranquilizei.

Ufa. Pena mesmo, ela ser tão precipitada. Se concordasse, me acompanhasse pela noite, eu acabaria brincando de casinha ao natural, tudo tem a sua hora. Nunca mais a vi, sumiu levando o Aldir.

Mania de mudar de assunto. Voltando.

E lembrem-se, amigos, acima de tudo, das noites e mulheres que ainda nos acariciam nestas doces madrugadas de Porto Alegre.

Alô, Jota Germano Pagliosa, de Bagé, vai, diz que uma flauta de quem sabe não entraria bem...




Estas mal-traçadas, verídicas pela metade (se conto tudo nunca mais arranjo namorada), pretendeu homenagear o fantástico artista e boêmio brasileiro, um homem de se tirar o chapéu quando passa, Aldir Blanc Mendes (Rio, 2/9/1946), nascido no Estácio mas homem de todos os bairros de todas as cidades do mundo, que muito cedo tornou-se e sempre será uma glória nacional.

Marta Suplício n'A Charge do Dias

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Na mesa da janela, Lúcio Peregrino abria o computador no Botequim quando Tigran sibilou:

- A putianga da Marta Suplício está vindo pela calçada de lá, fecha isso, todo mundo olhe pra dentro, aquela piranha é insuportável.

O nome é Marta, ninguém sabe o sobrenome. Marta Suplício, o apelido que lhe deram os boêmios, é pela semelhança física com uma changa de São Paulo, que virou Ministra da Educação. Pasmem, o Contralouco crê em similitude também mental, que barbaridade.

A Suplício da Cidade Baixa já foi convidada a se retirar de muitas mesas dos bares da Rua da Olaria, pois sentava nas e só falava em sexo, nada sério, uma besteira atrás da outra, deslumbrada como seu chefe, um baixinho enrolador, burro que é uma porta. Ninguém lembra exatamente qual a sua especialidade, porém o Contralouco jura que é punhetóloga, especialista em masturbação mental.

Vez em quando aporta no Botequim do Terguino, para desespero dos beberantes.

Não deu outra, atravessou a rua, apesar da torcida do pessoal para que seguisse em frente. Uns olharam para dentro, outros levantaram, indo para a sinuca nos fundos, para desestimula-la, mas não adiantou.

- Puta que me pariu - disse Marquito Açafrão - ela tá vindo.

Debandada geral para a sinuca dos fundos.

Lúcio Peregrino tinha fechado o nóti e entregue para o Portuga esconder sob o móvel do caixa. No caminho para a sinuca dos fundos, disse: "Pior que não sabe nem chupar". 

O Contralouco, o ouvido de lobo da turma, ouviu o cochicho de lá de longe, antes de dar a tacada de abertura, e perguntou alto ao Lúcio: - Como é que tu sabe?

Silenciou o bar, Lúcio remendou: - Ah, sei lá, alguém falou no Mercado Público certa vez...

Não adiantou fugirem, ela foi atrás, pegou 30 boêmios encerrados em torno das 3 mesas de sinuca, muitos encostados no balcão. E nada de falar em sexo. Logo os  empinantes descobriram que ela estava encostada na Prefeitura, de aspona. Souberam também que o argentino sem-vergonha que a usou caiu fora. Ela, encantada com as próprias besteiras, a fazer propaganda do vale-cabaré, seu projeto para, com cartão magnético, o povinho esfaimado assistir shows de sexo ao vivo. Enfim, chegou na dela, o sexo.

E não parava de falar.

Ninguém deu a mínima, mas ela conseguiu. De tanto que falou merda, a turma pegou o espírito da coisa, mesmo de costas, quem corre menos ali voa.

Ela queria o seguinte:

Pausa, acabamos de receber as obras escolhidas pela turma. Esta história da Marta Suplício conto direitinho outro dia. 

Às obras.

Mário, da Tribuna de Minas (Belo Horizonte, MG). Jezebel do Cpers tomou a palavra defendendo a obra, com fortes argumentos, um deles é que "A imagem me traz à memória um certo elemento... hummm, quanta coincidência, parece que foi político, antes de sair se fresqueando mundo afora". Disse outra coisa, que trocamos por "se fresqueando". Ô palavreado, hein, doutora?





A seguinte foi defendida por Aristarco de Serraria: "Belíssima obra. Pois é assim: os políticos metem a mão, a previdência dá preju e a bomba estoura no colo do povo. Se depender dos renans da vida o sujeito só conseguiria se aposentar com a morte". Com o Amarildo, da Gazeta Online (Vitória, ES).




Carlinhos Adeva estava enlouquecido. Ex-simpatizante e ex-eleitor da Marina, descobriu que, além do ricaço que sustentou a campanha passada, ela agora também conta com o apoio da maior casa de agiotagem do país, esta que já alimenta os cofres dos partidos tradicionais, como o PT, PMDB e PSDB. "Se não é esquerda nem direita, então essa bosta é como os tradicionais, isto é, nada a não ser um amontoado de interesseiros". Com o Miguel, do Jornal do Commercio (Recife, PE).



Esta dos cuequeiros e mensaleiros hostilizarem a cubana detonou a paciência de todos, deu unanimidade na obra do Thomate, de A Cidade (Ribeirão Preto, SP).



Leilinha Ferro, a coordenadora da coluna, não deu explicações e ficou com as suas duas.

Repetiu um artista já escolhido pelos boêmios: Miguel, do Jornal do Commercio.



E com o Nani. Ao ver a escolha da menina, o Contralouco não se conteve: "Seu eu pego um cara desses...".



 A coluna A Charge do Dias leva esse título pelo seu idealizador, o mestre Adolfo Dias Savchenko, que um belo dia se mandou para a Argentina, onde vive muito bem. Sucedeu-o na coordenação a jovem Leila Ferro, filha do Terguino, quando os boêmios amarelaram na hora de assumir o encargo. Antes eram dois butecos, o Beco do Oitavo e o Botequim do Terguino, que há poucos meses se..., bem..., se fundiram (veja AQUI), face a dívidas com o sistema agiotário. O novo bar manteve o nome de um dos butecos: por sorteio ficou Botequim do Terguino, agora propriedade dos ex-endividados António Portuga e Terguino Ferro.

jueves, 21 de febrero de 2013

Tropa de sem-vergonhas, n'A Charge do Dias

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Os habitantes da palafita estamos todos em férias, possivelmente até maio, ou mais, se o assalto der certo. Porém às sextas e sábados faremos uma retrospectiva da semana.

Abrindo um precedente, hoje a escolha é do povo do blog, amanhã virão as obras escolhidas pelos cantineros.

Tratamos do senso de rídículo (a falta de), da ignorância, e também de uns lalaus filhos da..., bem, vocês sabem, filhos das mães deles.

Com o Laílson.



O Nicolielo, do Jornal de Bauru (Bauru, SP).



E com o Sponholz, do Jornal da Manhã (Ponta Grossa, PR).


Os limites da pátria

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É difícil saber se a senhora Marina Silva é uma pessoa ingênua e de boas intenções, ou se optou, conscientemente, por defender os interesses das grandes potências que, sob o comando de Washington, exercem o solerte condomínio econômico  do mundo e pretendem o absoluto império político. Há uma terceira hipótese que, com delicadeza, devemos descartar: desmesurada ambição de poder, sem as condições concretas para obtê-lo e exercê-lo.

Os admiradores lembram sempre sua  origem modesta, o que não quer dizer tudo, mas não podem, com a mesma convicção, dizer que ela tenha mantido, ao longo da carreira, o que os marxistas chamam “consciência de classe”. Suas alianças são estranhas a esse sentimento. Ela se tornou uma figura homenageada pelos grandes do mundo mas, sobretudo, do eixo Washington-Londres. Se ela mantivesse a consciência de classe, desconfiaria desses mimos. Para dizer a verdade, nem mesmo seria necessária a consciência de classe: bastaria a consciência de pátria.

A senhora Silva, como alguns outros brasileiros que se pretendem na esquerda, é uma internacionalista. O meio ambiente, que querem preservar tais verdes e assimilados, não é o do Brasil para os brasileiros, mas é o do Brasil para o mundo. Quando a Família Real Inglesa e os círculos oficiais e financeiros norte-americanos cercam a menina pobre dos seringais de homenagens, usam de uma astúcia velha dos colonialistas, e fazem lembrar os franceses na aliança com a Confederação dos Tamoios, e os holandeses em suas relações com Calabar.

Os tempos mudam, os interesses de conquista e domínio permanecem, com sua própria dinâmica e solércia. Os limites intransponíveis da razão política são os da pátria. Todos os devaneios são admissíveis, menos os que comprometam a soberania nacional.  Não são apenas os estrangeiros que adoçam os sonhos da defensora da natureza. São também brasileiros ricos e conservadores que, é claro, procuram dividir a cidadania, para que  fiéis servidores políticos mantenham sua posição no Parlamento e nos outros poderes. Há informações de que  grande acionista de banco poderoso se encarregou das despesas do espetáculo de lançamento do partido de dona Marina, que não quer ser chamado de partido. E não se esqueça de que quem sempre a financiou é um industrial enriquecido com a biodiversidade amazônica.

Não há coincidências em política. Os mentores da senhora Silva querem que seu movimento, como ela anunciou, não seja de direita, nem de esquerda, e muito menos de centro — que é o equilíbrio pragmático entre as duas pontas do espectro. É interessante a ilogicidade da proposta. Como é possível dissociar a ideologia da política e, ainda mais, a ideologia do viver cotidiano? Esquerda e direita existem na vida dos homens desde as primeiras tribos  nômades, e são facilmente identificáveis na postura solidária de alguns e no egoísmo de outros. Sempre que pensamos em igualdade, somos, menos ou mais, de esquerda; sempre que pensamos na superioridade, de qualquer natureza, de uns sobre os outros, estamos na direita.  Mais ainda: ideia é a imagem que construímos previamente na consciência, seja a de um objeto, seja a de uma conduta social e política.

Não é possível viver sem um lado. A doutrina da mal chamada Rede (apropriação apressada e ingênua do mundo da internet, que é um meio neutro) oferece essa aporia: é um partido sem partido, uma realidade sem geometria, uma ideia sem ideia.




NE: A ilustração não consta no original.

domingo, 17 de febrero de 2013

A desgraça do alcoolismo

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Hoje trazemos o breve depoimento de um ex-alcoólatra (modo de dizer, pois não existe ex, existem alcoolistas que não bebem, como insiste o pessoal do AAA), publicado na Folha em 25/jan/2013, hoje objeto de comentários de Suzana Singer, na mesma Folha. 

Saltou à memória que aos 39 anos - idade em que ele abandonou o vício - meus amigos e eu empurrávamos uma rama firme, sai da frente. 

Eu era famoso por deter o recorde de chopes do antigo Bar e Restaurante Pampulha, aqui em Porto Alegre, que havia na esquina da Av. João Pessoa com a Rua André da Rocha (esta rua o célebre Beco do Oitavo): 42, tendo como tira-gosto apenas um pratinho de frango à passarinho, tapado de alho dourado, comido com as mãos. Ali se fez o registro, mas batia o recorde em qualquer bar. Num domingo, numa prainha de Niterói, no Rio, certa vez foram 25 caipirinhas de vodka, mas nesse caso com muitos espetinhos de camarão. 

Era bebum de fim de semana, durante a semana não dava, imagine fazer uma incorporação de empresas atolado de trago. Tendo de trabalhar no dia seguinte, pouquíssimas vezes tomei uma cerveja. Bêbedo só na "profissão" de contista, e assim mesmo no outro dia tinha que refazer, suprimindo besteiras e exageros.

Daí que caí de costas com a história do cara, aliás um conhecido escritor brasileiro, que com seu gesto corajoso certamente contribui para a reflexão dos amantes da marvada. Outro dia um famoso chargista já me deu o que pensar, quando me disse: "Hoje sou bêbedo em seco, nada de trago, em outros tempos creio que deixei o fígado em mesa de bar". Vai como respeitosa advertência à moçada do Botequim do Terguino e a todos nós, que cada um faça lá as suas contas.


HÁ 25 ANOS

Por Ruy Castro



Foi num dia 25 de janeiro, como hoje. Enquanto Alice tirava o carro, abri a geladeira e, tremendo muito, servi-me de quatro copos de vodca - pura, gelada, do freezer. Copos, não doses. Cheios, cada qual tomado de um gole, e que, como sempre, desceram como água. O tremor nas mãos não traía nervosismo. Tremia porque acabara de acordar e estava sem beber havia horas. Ainda não descobrira como beber dormindo.

Acordado, bebia um mínimo de dois litros de vodca por dia, só em casa - o consumo na rua era difícil de calcular. Uma vez por semana, a empregada botava os cadáveres para fora, à espera do garrafeiro. Os vizinhos deviam achar que os moradores daquela casa bebiam muito. Se soubessem que um único morador engolia aquilo tudo, não acreditariam.


Dali a pouco, estávamos na rodovia Raposo Tavares, rumo a Cotia, a 31 km de São Paulo, onde eu então morava. Sabia que, no lugar para onde Alice me levava - uma clínica para dependentes químicos -, não haveria bebida. Os quatro copos teriam de bastar até o fim do dia. Mas, e o dia seguinte? E os 30 dias seguintes? Não tinha ideia, nem me preocupava. Afinal, não vivia dizendo que "bebia porque gostava" e "seria capaz de parar quando quisesse"?


Os primeiros cinco dias foram de horror - o organismo reagindo ao corte súbito do suprimento com tremores pelo corpo inteiro, agitação, insônia, diarreia, taquicardia, suores, possibilidade de delírio. Nas palestras, as vozes dos terapeutas soavam muito longe e o que eles diziam, um mistério. Os colegas de internação, fantasmas sem rosto. Mas, aos poucos, o horror passou e, em menos de duas semanas, foi sendo substituído por uma sensação quase insuportável de lucidez, vigor físico e vontade de viver - como nunca antes. Até hoje.

Enfim, foi hoje, há 25 anos. Mas hoje é apenas mais um dia.





(A imagem Bêbado triste foi pinçada do blog Arteurbe)

Os ratos do Senado, n'A Charge do Dias

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Hoje teve, ainda tem, churrasco no Beco do Oitavo. Clóvis Baixo assumiu o tonel no canteiro da rua. O assunto é um só: o incidente com Mr. Hyde, logo no início da manhã, o que ensejou a sua hospitalização, a família entendeu por bem essa providência.

Ocorreu que Mr. Hyde chegou no botequim às nove da manhã, trazendo uma mala que parecia pesada, pelo esforço do grandalhão em carregá-la. 

- Vai viajar, Hyde? -, perguntou o Contralouco.

- Não, pedro bó, a mala tá cheia de coquetéis molotov, depois vou levar pro Salito, vi o que ele falou das casas de agiotagem no blog ontem.

A turma já estava espalhada pelas mesas da calçada, aperitivando e tomando mate. Em seguida chegou Lúcio Peregrino, dando conta de que o pedido de impeachment do Renan está quase batendo em 1.600.000 assinaturas (ajude, assine AQUI), e logo abriu o noti e se pôs a selecionar as demais Notícias do Notibuc, para mais tarde apresentá-las aos boêmios.

Nisso passou na calçada uma alemoa com um pretinho pela mão. Mr. Hyde falou na cara da moça, com aquela sua voz de trovão:

- Fudendo com negão, hein?

Comoção geral, ninguém acreditava que tinha ouvido aquilo. Aristarco de Serraria foi o primeiro a se recuperar, e exclamou, com voz ríspida:

- Mas o que é isso, Hyde, enlouqueceu, isso é coisa que se faça?!

Chupim da Tristeza não deixou por menos:

- É meu amigo há 15 anos, e só agora descubro que tu é um maldito racista!

Porém a Profa. Jezebel do Cpers, que vem de longe, cochichou aos parceiros da sua mesa, que logo passaram adiante:

- Gente, olhem para ele, vejam como está estranho, o rosto, os olhos...

Aí todos se deram conta de que realmente havia algo de muito errado com o empinante. Hyde não disse mais nada, como se não tivesse captado as reclamações, levantou-se e foi ao banheiro. O Contralouco voou para a sua mala e a abriu, aí sim é que a turma caiu para trás: atolada de coquetéis molotov embrulhados em jornal.

O pessoal ficou de olho nele, enquanto Gustavo Moscão e Jussara saíram apressados em busca da sua família, ele possui um irmão também médico, saberia o que fazer. E soube: levar à força um homem daquele tamanho causaria um estrago dos diabos, por isso o seu irmão lhe pediu uma ajudinha com um paciente no hospital, e se foram. Lá o pegaram.

Isso tirou o ar de festa dos churrascos dominicais. Por volta do meio-dia o irmão médico passou lá e disse que Hyde estava medicado, amanhã teria notícias mais consistentes sobre o motivo da viajada.

Leilinha pediu que fizessem um esforço e escolhessem as obras do dia. 

Pensando em Mr. Hyde, os amigos começaram escolhendo o Mariano.



Depois ficaram com o Frank, de A Notícia (Joinville, SC). Aqui Wilson Schu lembrou que os molotovs poderiam ser usados para matar os ratos do senado.



Choraram e obtiveram de Leilinha o direito a mais uma, sob a alegação de que a primeira fora em homenagem ao Hyde. E se vieram com o Sinovaldo, do Jornal NH (Novo Hamburgo, RS).



Miss Leilinha Ferro, hoje com o namorado Z dando uma mão no boteco, ficou com o Newton Silva (Fortaleza, CE).



 A coluna A Charge do Dias leva esse título pelo seu idealizador, o mestre Adolfo Dias Savchenko, que um belo dia se mandou para a Argentina, onde vive muito bem. Sucedeu-o na coordenação a jovem Leila Ferro, filha do Terguino, quando os boêmios amarelaram na hora de assumir o encargo. Antes eram dois butecos, o Beco do Oitavo e o Botequim do Terguino, que há poucos meses se..., bem..., se fundiram (veja AQUI), face a dívidas com o sistema agiotário. O novo bar manteve o nome de um dos butecos: por sorteio ficou Botequim do Terguino, agora propriedade dos ex-endividados António Portuga e Terguino Ferro.