martes, 25 de febrero de 2014

Falando com Deus

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Caí de joelhos ao lado da cama, gritando:

- Eu queria tanto que existisse Deus! Onde está, onde está você que permite tanta maldade!?

Levei um susto ao ouvir uma voz, não era de homem nem de mulher, uma coisa estranha, metálica, mas que também lembrava notas tiradas de um saxofone, humana. Em bom português:

- Estou aqui, quer falar comigo?

Olhei para os lados, sacanagem a esta hora da manhã, eu, hein? Varri o quarto com os olhos, ansioso, ninguém. A voz veio de dentro da minha cabeça, ou do espaço, sei lá. Tímido, ainda pensei mais um pouco: vai que exista esse cara, vai que more em Plutão e sem querer acertei as palavras para invocá-lo, e raivoso atirei tudo para cima:

- Querer mesmo não queria, mas já que está aqui, quero sim, seu putão, quero muito falar com o senhor!

- O planetinha é Plutão, meu amigo.

- Putão ou Plutão, foda-se igual, seu irresponsável. Que inferno é este que inventaste? Que matança é esta, a fome grassando na África, dizimando milhares de crianças por dia, outros se matando por todo lado, aqui uns idiotas se rasgando pelo time do Corínthians para chupar o pau de falsos gladiadores, uns bichos tatuados levando homens supostamente sérios a cometerem tanta sandice, lá adiante meia-dúzia confabulando para ganhar mais um trilhão? Que merda é essa que tu fez?!

- Acalme-se, quanta revolta, expressões chulas, quanta falta de educação, para que isso? Passo aqui muito raramente, quando quero rir, na medição de vocês de mil em mil anos, como iria saber? Tenho muitos mundos para rodar, meu caro, isto é muito menos que grão de areia, é pó, porque o que vocês chamam de Via Láctea, onde esta bolinha não é um grão, pois essa Via Láctea dá meio grão num deserto imenso, e olha lá se der meio grão. Eu não tenho nada a ver com isso, vocês é que me inventaram para ter em quem derramar suas imperfeições. Aguente. Ou não agüente, mate-se, estou me lixando.

- Expressões chulas diz porque ainda não ligou o rádio para ouvir a Putazuda do Cu Piscando, senhor Deus, com todo o respeito, afinal a obra é sua. Mas então é assim, tá nem aí, na carinha?

- É, se não gostou, coma menos. Meu tempo está terminando, tenho que assistir a uns macumbeiros do futebol antes de pegar o buraco negro das onze, se der tempo rirei também na sessão das dez e meia da Universal, os larápios gritando meu nome, uma diversão. Fiquei de almoçar com o diabo lá... tu não entenderia, outro mundo. Olho de longe as mandingas e me divirto muito, rolo de rir, por mim que se fodam também. Que todo o mundo se foda, entendeu? Tiau.

- Peraí, não vá..., se tu pode andar de um lado pro outro assim na maior facilidade, se me deu a graça de levar um lero, não dava pra me fazer um favorzinho, só um?

- Depende. Qual?

- Bem... é pequeno, eu... eu quero que morram todos os que não acreditam em Deus. Tá, tá, sei que sou ateu, mas adoraria que tu existisse, é diferente, ou tu gosta dos caras que dizem acreditar e fazem tudo ao contrário do que ensinou Jesus? Pombas, um favorzinho de nada... sei que não vai fazer isso, os incréus são os que acreditam, dariam tudo para acreditar... Senhor, francamente, deixa outro, por favor...

- Diz logo, estou me atrasando.

Opa, parou pra me ouvir, deu certo chamar de senhor. Fui por aí.

- Queria que o senhor, por gentileza, só para começar, serviço fácil, pensou e deu, matasse os donos e altos funcionários e âncoras de televisão. Pera, tem a turma de apoio... melhor assim: mate todos lá. Se desse, o senhor também poderia afogar os ruraralhos em produtos químicos, empalar os banqueiros, desaparecer as armas atômicas, fuzilar os...

- Eheheh, estava pensando... não sei de qual Jesus tu falou, já mandei tantos, mas gostei de ti, pra burro não serve. Não precisa listar a todos, li teus pensamentos, logo diria os corruptos, os grandes empresários que cresceram mamando, sei, lista comprida, tu não pede pouco, hein, meio atrevido... 

- O senhor me fez assim...

- É, tinha esquecido. Vou pensar no assunto, tem grandes chances de sucesso, também já ando cheio dessa gentalha, acho que exagerei na dose. Mas não conte que eu acabe com o Congresso Nacional de vocês, pois isto significaria matar esse povinho, o que não vou fazer.

Oba. Animei-me:

- Ahn, amado senhor Deus, pera só mais um instantinho... - eu disse num encabulado murmúrio, não queria arriscar perder o que já poderia ter ganho.

- O que é agora?

Falei miudinho:

- Não terminei o pedido, seu Deus... Agora é favorzinho de nada: poderia desintegrar todos os estádios do mundo, ou transformá-los em centros esportivos de colégios? E matar a todos os que tem mais de um milhão? Veja, olhe, o senhor pode, é tudo roubado, mas ainda estou deixando um milhão de lambuja, quem roubou só isso será poupado, é muito mais que razoável...

- Hummm... já está abusando, um pedido se transformou num monte, mas vou pensar... no fundo também ando com vontade, principalmente da segunda parte. Tiau, até a próxima.

Entreguei-me, arrastei os joelhos no assoalho chorando, e bradei:

- Não vá, não vá... só mais uma coisinha, pelo amor de... do senhor.

- Tu já está me dando nos nervos, haja paciência, vai, diz logo, o que foi desta vez?

- Pensei melhor, meu Deus, esqueça tudo o que falei antes. O senhor poderia apenas explodir o mundo, acabando com este horror?

- Ah, ah, ah... Como és bobinho. Não se tocou ainda? Essa tarefa deleguei a vocês, que, aliás, estão se saindo muito bem!


Acordei urrando sozinho no quarto, ensopado de suor.
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Saudades de Lourdes Rodrigues, a Dama da Canção

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Essa mulher que vai, sobre quem quase nada tem no youtube (queria vê-la cantando tantas), deve ter uns 25 anos a mais do que eu, por baixo. Foi e é minha amiga, embora não a veja há tanto tempo (soube que morava ou mora em Imbé, litoral do RS), última vez que a vi, Ain junto, foi quando comemorou 50 anos de carreira no Se Acaso Você Chegasse, lindo bar do seu Lupinho que Porto Alegre, deixa pra lá. 

Falamos pouco, ela estava em noite de homenagens. Menti aos circunstantes que fui eu quem a ensinou a beber e a "namorar" e ela caiu na gargalhada de nojo do babaca, mas bem feliz, e caí fora também rindo pra não atrapalhar os festejos dos 50. Para mim, uma das senhoras mais doces que conheci, amiga sincera, que como eu era mordida de mentiras.

Como eu e quase todos, que são muitos os humanos de bem, tinha e ia pelo instinto: não pestanejava se o ambiente lhe surpreendesse, corrida de rainha, ignorava o ruim, sorria com reservas ao bom recente. Postura, meu caro. Mesmo em casa, ao lhe responder uma pergunta que me fez nem piscou quando lhe falei das fomes que havia passado, só me abraçou e acarinhou meus cabelos. Nunca saberei como ela adivinhou que o único jeito de me tranquilizar, e eu não era fácil, seriam dedos deslizando por dentro dos cabelos, de leve..., enquanto eu controlava os soluços. Eu andava apavorado, havia descoberto como o Delfim Netto e seus aspones operavam, auditor sofre. 

Mesmo diante de pessoas vulgares ela se mantinha deusa marrom, e o seu ar encolhia vagabundos, os ricos lalaus, nunca pobres, pois estes, os pobres de Porto Alegre, eram dos nossos, nunca incomodaram e se incomodassem o esforço era nada para trazê-los à luz. Dava-se com todo mundo, pois como sabemos 99% do povo é bom, nós que só vemos, votamos em, talvez nos relacionemos, com quem, deixa pra lá, só pergunto se os amigos conhecem algum político filho de pobre, a sério? Digo a sério porque em época de eleições todos os ricaços contam que foram engraxates, guardadores de carro, alarifes, chupadores de pi, picolé, o diabo. Tiririca não vale, animal que serve a eles. Pobre é corrupto por falta de instrução, levando algunzinho ama votar e fazer campanha de filho da puta? Ah, deixa pra lá.

A conheci quando moço... eu tinha 21 anos, no Chão de Estrelas da José do Patrô, era uma diferença e tanto, essas duas décadas e meia ou mais. Mas ali pelos meus 33 ficamos amigos para sempre, eu visitava a sua casa (apê na Rua General Canabarro, lá em cima, para quem sobe da Rua da Praia, na dobrada à direita, mais um pouquinho e estará no cerne do Alto da Negra Bronze, Centro, morro coração de Porto Alegre), ela com os netos no colo, contei no blog que nessas ocasiões eu acabava bebendo meu uísque todo, e todas as cervejas, acabou, aí batia na garrafa de campari que levava para ela, que era chegada num vermelhinho mas bebia pouco. Isso em dias de folga, dela e minha, alguma segunda-feira, na outra noite ia vê-la cantar, se pudesse (eu viajava muito a trabalho), em ambientes finos ou em bares mais simples, estes minha predileção, sem frescuras de donos ou clientes. Com regional! Bandolim ou cavaco, flauta, violões, pandeiro, batuques...


Quando inventei de "namorar" uma sobrinha dela, a mais novinha, queria dar em mim. Que eu me lembre, foi só um abraço meio apertado demais. Eu abaixo de pau verbal me defendia: "Mas eu tenho 34, Lourdes, a guriazinha tem 49 pra 50 e uma penca de filhos, pombas!", não adiantava, eu não prestava. Mas passou, em poucos meses já ria sobre o ocorrido, mas avisava as outras sobrinhas nem tão "novinhas" para me evitarem, é um cão sem dono. Gostei do sem dono.

Enfim, hoje achei uma postagem. Preciso deixar de ser loco e aprender a postar músicas no youtube, pois tenho pelo menos uma raridade em CD: ela, como outros artistas de Porto Alegre, cantando em Buenos Ayres, cosa de cinema. 
Botou a platéia abaixo cantando um tango emblemático, "Sin Palabras". Arrematou com "El Último Café", só se via corações argentinos arrebentados.

Rubens Santos, antigo parceiro de Lupicínio, também estava nessa, entre outros grandes artistas. Seu Rube, que é outro esquecido, nessa ocasião quase matou os hermanos, cantando "Uno" duas vezes, em espanhol e em português, só gritavam El Negro, el Negro! Bravo!, pedindo que voltasse ao palco.


Abaixo, minha velha mulata, a DAMA DA CANÇÃO de Porto Alegre, com orquestra (prefiro com regional e tal, mas ficou bem assim), interpreta a relíquia de Foquinha e Paulo Coelho (é outro cara, pelo amor de Deus, este Paulo Coelho era pianista), Alto da Bronze, canção que por alguma razão de carinho é lembrada no conto-título do meu livro "Um amor em Porto Alegre", ainda no prelo.


Guardo a eterna lembrança
do tempo feliz em que eu era criança,
do tempo em que a vida era
da minha infância a grande quimera


Hoje eu pobre profano
me lembro de ti e dos meus desenganos
Oh! meu Alto da Bronze dos meus oito anos

Rascunho apressado de Nervos de Aço, com Paulinho

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"Roberto Jefferson está preso, finalmente.
Ex-deputado, que delatou o mensalão, deve cumprir no Rio de Janeiro pena de sete anos e 14 dias de prisão".
(Manchete do jornal O Povo, de Fortaleza, Ceará).

Esqueçamos o jornal, só foi uma idéia da maioria, pois o mesmo jornal, no golpe militar de assassinos civis e militares, já disse assim em primeira página:

"A paz alcançada. A vitória da causa democrática abre o País a perspectiva de trabalhar em paz e de vencer as graves dificuldades atuais. Não se pode, evidentemente, aceitar que essa perspectiva seja toldada, que os ânimos sejam postos a fogo. Assim o querem as Forças Armadas, assim o quer o povo brasileiro e assim deverá ser, pelo bem do Brasil”

(Editorial de O Povo - Fortaleza - 3 de Abril de 1964);

Em frente, queremos mesmo é falar de um samba.

O criminoso, criminoso há décadas, mas só um e nunca o maior, amigão de gatunos que estiveram no poder desde sempre, não me surpreendeu. Admito que ele e seus maus sentimentos ajudaram a democracia, ao desandar o horror dos bastidores.

Entendo. E vi mais, então só queria que ele, como o esquema gigantesco de proteção mútua (e ainda há, protegem-se, os que ainda não foram presos e seguem ativos... aí se alguém entregar os que vinham de antes.... ai meu Dem, digo, Diós), esse sujo de malas em hotel e seus cupinchas morressem. Fim. Só queria que morressem. Sei dos sacos de grana, das imensas fazendas que compraram, sei da grana depositada no exterior, no total 600 bilhões ou mais. O “pemedemismo”. Vejo nos aeroportos suas putas analfas e ricas nas intermináveis filas para Orlando, em Guarulhos dá vontade de chorar, ou matar, para darem a bunda para o Mickey com dinheiro roubado, mas Mickey é só um brinquedo, alguém explique a essas damas sem cérebro que isso não existe, pois nesse passo seus filhos serão uns bostas ladrões, insossos como os pais, e casarão com insossas... Não vai adiantar, ninguém diga.

Aceito que sejam assim, mas com o nosso roubado, chega, enjoei, e as crianças que morrem silenciosas, já contei que a fome no fim tira a voz, né? Pretendo pegar em armas, e não só pegar, insuflar a turma. Já sei: serei terrorista procurado, só por dizer isto, sem nunca ter pego num punhal para matar um sujinho desses. Certo, entendo.

Por isso o Jeff está tão tranquilo, cadeia será hotel de luxo, telefonará, receberá mulheres, bem, mulheres não, por... deixa pra lá, mas terá tevê de gelatina enorme na parede, assistirá as mentiras de jogos de inverno nas Sochis, aquele horror de mentiras que custa a vida de tantos, pela CNN, os de verão na Tonga da mironga, rirá aquele riso gutural de felicidade, encherá a pança até comitar com comida trazida dos melhores restaurantes. Lá será protegido, não haverá rebelião que lhe corte a cabeça. Ele e os canalhas que denunciou comprarão também o PCC, será amigo dos guardas, como os outros detentos especiais, pagará por proteção, sai no mijo, com os outros, corrupção é com eles, ah, o dinheiro... 

Mandam matar desafetos na hora em que quiserem.

Enfim, será feliz, porque sua vida era uma prisão, otário broxa mentindo diariamente. Como a um outro louco que mudou o rosto. Agora estará solto, lá dentro, enquanto os vagabundos lá fora comerão as suas supostas mulheres, elas escondidinhas para não perderem a grana, essa a parte ruim, mas faz parte, já que não comia mesmo, de repente respirará aliviado porque pararam de incomodar com aquele papo de estou com tesão, vem meu amor, me coma pelo amor de Deus.

Pausa. Preciso relaxar, dois dedos de canha. Bem... quatro.

Perdôo o brutal desgraçado, desde que morra na cadeia, do coração ou do que quiser. De preferência no mesmo instante em que os canalhas de cara cortada que denunciou, também presos. Mais os outros que ainda o serão. Eu vi criança morrer de fome, e quando cheguei não dava tempo de salvar, seus... seus...

Perdôo por tudo, torno a dizer, seus maus sentimentos ajudaram a democracia que recém nos aparece, só o vulto da dama, não ainda plena, longe disso. Graças a ti, Jeff, o povinho viu o vulto dela, em vermelho, azul, verde, branca... multicolor em transe dançando na penumbra deste túnel sem fim.

Tudo perdôo, mas nunca ao mal às crianças, e à miséria que paga toda essa riqueza mal havida, ah, isso não perdôo. A nenhum de vocês. E os pegarei um dia, ou os que ficarem depois de mim pegarão, senão vocês, seus mortos-vivos, aos zumbis que vocês pariram e serão iguais.

Haja nervos.

E não o perdoô, Jeff, por sair pelas noites de Brasília com o meu, e pelos inferninhos de vagabundos se dizendo cantor e assassinando Lupicínio, muitas vezes acompanhado por artistas que de artistas só tem a mentira, não são, artista cuida do seu povo. Isso não perdôo. Lupicínio Rodrigues não merecia. Nem eu. Tu é um bicho, Jeff, canta mal, sem melodia, erra na letra, um fiasco, mas, pagando, certos bares finos, aqueles, o toleravam. Finos para animais, como são a maioria, de restos humanos como tu e de donos de bares, uns criminosos, salve boate Kiss, é assim em todo lugar, uns lixos bem vestidos, e impiedosos quando estão por cima de um povinho que freqüenta esses lupanares de luzes e alegria fingida, se soubessem passavam direto pela frente, firmando a mão da namorada sem olhar para dentro.

Um dia contarei sobre os bares da Cidade Baixa de Porto Alegre, hoje em dia. Vai faltar fígado pra moçada ler até o fim. Sem querer o cara entra no boteco onde, por trás dos panos o dono é o Maluf, ou um nazista do agronegócio do veneno químico das múltis, um do RS. Outro dia conto.

Esqueçamos isso. Voltemos ao título. Nervos de Aço. Haja, mas relaxo.

Um marceneiro chamado Paulinho pode cantar o samba-canção, só nos engrandece, lindo. 

Com o perdão que já vou pedindo, não é bem assim, seu Paulinho, pelo menos no meu tempo (posterior a esse senhor querido de que falas? Não creio). No meu tempo recente o regional já entrava matando, coisa que só aparece, pouco quase nada, no finzinho do teu show. Um dia lhe explico, mas adianto que era como gravaste na primeira, só que sem as paradinhas, e outros músicos, faltou o regional, as paradinhas do tam-tam~tam-tã até entravam, não a paradinha somente, ela e o preparo que a antecedeu, mas com regional. Bom é regional pegado, Paulinho, sem invenção, tu sabe, ao menos em abolerado gaúcho.

Bem, agora o papo é outro, Paulinho da Viola: um brasileiro como poucos em honestidade e bravura, profissão, músico. Em casa, é ou foi marceneiro.

Glória nacional e exemplo de humildade, para citar o principal atributo de um homem de bem. Salve, seu Paulo!


lunes, 24 de febrero de 2014

Manga e os tubarões

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Deu-se que o famoso goleiro Manga era chegadinho numa jogatina, amanhecia em carteados, e numas pinguitas de vez em quando, e as más línguas dizem, no que não creio, que não podia ver mulher que saía fazendo loucuras inomináveis. Moramos na mesma rua, na Francisco Ferrer, próxima ao Hospital de Clínicas, em certo tempo, eu menino ainda, e sempre nos víamos, ao anoitecer, numa pequena mercearia daquela ruazinha. Chamou-me a atenção os vincos no seu rosto (pareciam furos), como sua altura, claro, e o tamanho da mão... dedos retorcidos, umas mãozonas pavorosas!

Ele vinha de treino no Inter, já tinha amizade com o dono, que, honrado com a presença daquele gigante atencioso, guarda-metas idolatrado, também já era seu botequeiro, e ali entornava suas pingas sem ninguém ver, só a gente que era de casa, por assim dizer. Enrustia o liso atrás da balança, e, quando a mercearia estava livre de estranhos, pegava e taiaiau de uma só vez, e lá ia o copo pra trás da balança, onde o dono tornava a encher. Tomava umas quantas purinhas e saía inteiraço. Tentei imitá-lo em certa noite e quase me afoguei, olhos em lágrimas. De outra feita comprei mais tomates que o dinheiro dava, e ia devolver dois para acertar e ele não deixou, completou a grana, dizendo em portunhol (sim, voltou de cinco anos no Uruguay, onde foi campeão de tudo pelo Nacional de Montevidéo, incluindo um Copa Intercontinental e uma Libertadores, falando espanhol, tinha esquecido o português, que foi recuperando aos poucos): aceite, não leve a mal, outro dia tu me paga, guri. Enfim, era dos nossos.

Conto a história com minhas palavras, foi mais ou menos assim, antes, no Rio de Janeiro:

Com esse amado estilo de vida, natural que andasse sempre apertado de grana, o que ganhava como goleiro do grande Botafogo não dava pra nada. Começou a se recusar a entrar em campo, isso a poucos minutos de enfrentar um Vasco, Flu ou Mengão, jogos importantes (os dirigentes do grande Inter dos anos 70 devem recordar dessa sua mania), alegando nervosismo com as dívidas, que andava sem nenhum no bolso, que não tinha cabeça pra nada, uma pouca vergonha viver assim... Os dirigentes descolavam algum, aí imediatamente passava o abatimento, ele entrava lá e fechava o gol.

Daí que um dia alguém lhe sugeriu fazer um empréstimo bancário, iria pagar em módicas prestações e tal. O Chico Anysio, grande botafoguense, e um velho jornalista esportivo da Globo que não recordo o nome lhe serviram de avalistas. Pá, foram lá, assinaram, ele pegou o dinheiro e saiu bem feliz.

Se pegou 12.000,00, em doze vezes, pensou que ia pagar prestações de 1.000,00 por mês.

No mês seguinte foi pagar a primeira e lhe fincaram 1.050,00 ou 1.100,00, na época a extorsão já corria solta. Emputeceu, queria matar o gerentalha do banco, este que, mero empregado do tubarão, trêmulo, alegava que estava no contrato, o senhor não leu?

Chico Anysio custou a acalmá-lo. Ficou uma noite inteira tentando lhe botar na cabeça o significado de "juro", e não conseguiu. É ladroagem, Chico, botem o nome que botarem, a gente precisa é chamar a polícia, dizia. Mas, instado pelo amigo, que teria que responder por ele, deixou pra lá e pagou até o fim.

Porém, todos os santos dias, na ida para o treino do Botafogo, abria a porta da agência bancária e gritava para o gerente, chamando a atenção de toda a clientela: Ladrão! Ladrão! Ladrão! Ainda te meto a mão na cara!

Fechava a porta com estrondo (na época era porta comum) e seguia seu caminho para o velho estádio de General Severiano.


Lembram do tamanho da mãozinha do Manga? Consta que o gerentalha agüentou duas semanas e foi transferido para outra agência, bem para longe dali, depois de Jacarepaguá.
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domingo, 23 de febrero de 2014

Minha viola foi pro fundo do balaio

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Três e picos da manhã, já domingo. Chove na capital, chuvinha fina. Eu muito feliz, ao amanhecer chegarão Carlito Dulcemano Yanés e Juanito Díaz Matabanquero, há meses não nos vemos, embora nos falemos por telefone quase todos os dias. Ah, lembro de avisar aos centenares de amigos, alguns do feicebuc, preocupados com o destino da cozinha depois que a invadi para fritar os peixes y hacer otras cositas más nesta linda noite de sábado em Porto Alegre, que correu tudo às mil maravilhas. Ao final ficou parecendo um campo de guerra, após a guerra, mas pelo menos não explodi o prédio. Dolores Sierra riria muito ao apreciar a bagunça, se estivesse aqui e não em Barcelona.

Antes fiz feijão, bem, não fiz, pois deixei o produto com temperos e couro de porco fervendo na panela de pressão - esses feijões que nos vendem são duros pacas, umas porcarias que só na pressão mesmo - e fui tomar uma cerveja ali no bar do Janjão, o José João Alfinete, velho amigo. Deus é de fato um cara muito gozador, pois o Janjão, com um metro e sessenta abriga cento e quarenta quilos no corpinho, com o sobrenome de Alfinete. Depois de dois tiros de branca com losna, tomei só quatro ou cinco cervejas, ou seis, sete, vá lá, também sou filho de Deus, cantei poucas músicas junto aos boêmios e boêmias da Praça Garibaldi, ai-ai-ai, uma morena que eu não conhecia, gostosa, cantou Linda Flor me olhando zombeteira: “Aioiô, eu nasci pra sofrer, foi oiar pra ocê meu zoinho fechou...”, eu casaria com a fresca hoje mesmo não fosse o armário de doze portas que a acompanhava, e logo voltei pra casa, muito contra a vontade, mas sabe como é, precaução, sou um cara precavido, pois ainda era cedo. Cheguei bem a tempo de impedir os bombeiros de arrombarem a porta, perem aí, camaradas, tenho a chave, perderam alguma coisa na minha moradia?

Pensei em dar voz de prisão aos elementos, mas eram uns dez, e com ferramentas nas mãos, e eu desarmado, aí já viu. Torrou tudo, acho que botei pouca água na panela, mas dava nada, só fumaceira que os cagados dos vizinhos pensaram que era incêndio. Fiquei abalado de ver os bombeiros me enchendo o saco com recomendações, deixando planfletinhos, ora vão sifuder, exclamei de repente, furioso, e eles se mandaram, pelo que servi um triplo de uísque depois que os de verde e vermelho foram embora, o que os salvou foi o vermelho, pois milico só verde me dá alergia, teria feito uma bobagem. Em meia hora eu era outro cara, sorri, botei um disco do Trio Cristal no prato, brindei à vida e encarei os peixes, sou fino nisso.

Houve o incidente com o meu amado Gatolino, que aproveitou uma distração que tive ao namorar o copo com demasiada paixão e me surripiou uma posta inteira de viola, pelo que o persegui por meia hora no apartamento até encontrá-lo dentro do balaio, hoje vazio, de roupas sujas. Com a viola no fundo do balaio, hein, malandro? Parece samba do Paulinho, falei a ele com cara de vai me pagar, eu numa raiva de ter batido perna por todo o apartamento sem o encontrar, o filho da mãe arranja cada buraco impensável para se esconder. 

Recuperei parte da viola e decidi, enfim, tirar-lhe o couro. Para quem sabe do que estou falando, ainda dava tempo de esticar, secar e tal, de modo que o tamborim saísse ainda neste carnaval, a Academia de Samba Praiana teria um som muito melhor daqui a uma semana, mas o indivíduo novamente evadiu-se ao me ver de adaga na mão. Soube que anda lá pelos lados da Tristeza a esta hora, pedindo pouso ao meu compadre Walter Schumacher até que eu me acalme. Abobado, acredita em tudo, não iria lhe tirar o couro coisa nenhuma, só lhe cortar a garganta. 

Pensando bem... acho que na hora desistiria, ao pensar que Vanda Turco, Haidee Branco, Regina Baumgart e Letícia Fagundes, em represália, cometeriam um salitocídio com requintes de crueldade. E com tristeza confesso: maldade não está em mim, e logo meu Gatolino, mas haveria de dar-lhe um castiguinho, tipo forçá-lo a ler um livro do Paulo Coelho. Andei bebendo, esqueçamos isso também, pois teria que traduzir para o gatês, aí eu também seria punido ao ler e de quebra traduzir antigos escritores da humanidade. Sim, se sei a língua de nenês imagine se não saberia gatês, ora, só o miau tem 879 significados e/ou acepções, a depender do tom de voz, digo, do miado. Só dos choros de gato registrei 195 variações, que vão desde tango a rock demência, como denominei. O chorinho mais lindo, pro meu gosto, é o foxtrot gateado, é quando está com vergonha de contar alguma arte que fez. Abolerado é quando está apaixonado e com tesão. Com ciúmes de corno sai da frente, lá vem com choro sertanojo de Goiás, é mortal. E aquele que sai do fundo da garganta, hummmiiióóó é situação nova, ainda não tenho certeza, mas creio que está dizendo que não sabia dessa mas acho que estou gostando, ou, e isso é de doer, é saudade da gata mãe. Bah, uma infinidade, e recém comecei os estudos, suspeito que há mais cinco mil significados, sem contar as variantes de cada tema.

O disco do Trio Cristal tava terminado há tempos, arranhando no fim sem levantar e clic pro seu lugar, toca-discos antigo é foda, fica lá, empacado. Tirei e botei o Moacyr Luz em cd, ai, Saudades da Guanabara. Servi mais um triplo e esvoacei leve para a cozinha, lembrando da doce baiana da rua Tonelero que se alucinava e gritava isso, me beija, me esporreia seu loco. Ui.

Quando rodou Pra que pedir Perdão o espectro físico de Dolores invadiu o covil, algodão brilhando, quase desabei, não me vi bem na parada, derramei por engano meu copo na frigideira e tomei um talagaço do vidro de azeite de oliva. Cruzes, cheguei a tontear, mais do que já estava, mas lembrei que pior foi quando os antigos, como chamávamos pais e tios e tias, me deram goela abaixo um colheirão de óleo de fígado de bacalhau, que curaria sei lá o quê. Suportei, segui mais firme que palanque em banhado. 

Ainda tava temperando os aquáticos quando deu outro probleminha: eu tinha ligado a boca mais forte do fogão, mas esqueci de apertar no tzzz, e ela ficou apagada soltando gás, a pequeninha do lado acesa, dali a pouco Bum, voou tudo o que tinha em cima, eu caí pra trás. 

O estouro novamente deixou as pessoas do prédio apreensivas, ô gente assustada, ouvi exclamações pouco elogiosas a meu respeito. Fui até a sacada dos fundos e gritei não foi nada, seus babacas, não se pode mais nem estourar um balão na própria casa?! Depois me sentei um pouco e ri muito. Tive leves escoriações no rosto por uma tampa que me pegou em cheio, nem tão leves, minha camiseta regata branca do Inter ficou vermelha de sangue, pelo menos combinou as cores, mas ruim mesmo foi o cheiro da parte dos meus cabelos que pegou fogo, fedor de osso, guampa queimada, melhor não lembrar daquela ingrata da Rua Vasco Alves, tomara que ela morra.

Com os imprevistos contornados abri uma cervejinha Coruja de litro e resolvi dar mais uma pulverizadinha de sal nos peixes, que já estavam ardidos de tanto, mas nunca é demais, e caiu a porra da tampa do saleiro, tapando a peixaiada de branco. Rei do peso. Fiquei puto e atirei os ovos batidos e a farinha de rosca para dentro da vasilha dos peixes que tava no buraco embaixo da torneira, joguei em cima o monte de pimenta-do-reino que havia esmagado com meu copo, sim, troquei de copo em seguida, tinha uns cinco copos, misturando tudo, na confusão se foi a dupla de uísque do copo novo para dentro também, a Coruja esquecida caiu de lado e ficou derramando dentro da vasilha. Salvei meio litro da cerveja, o resto já era. 

Se a ex-sogra velha que virá amanhã não pode com pimenta por problemas anais, uísque e cerveja por causa da pressão, azar o dela, que diabos, se é pra esculhambar é comigo mesmo.

Enfim, a cozinha pode estar um campo de guerra, feijão só quando Dolores voltar, mas as violinhas ficaram uma delícia, comi três pedaços dos trinta. Amanhã se elas, que nunca me visitam graças a Deus, fizerem arroz branco e saladas, fecha todas, o prato principal eu fiz, sou o cara. E não dou a receita.

Algo me diz que ando diferente, nervos meio à flor, e sei que é de saudades dela. Boto a Valsa Rosa, com a Camila Costa, que ela tanto gostava. Vai voltar.

Penso em abrir a vodka, única que restou, mas resisto, chega. Ela vai voltar, sim.



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lunes, 17 de febrero de 2014

Em Buenos Ayres, chegando mal

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Certa vez por meses guardei dinheiro para casar com a Maria Amelia. Isso bem antes, mas foi em 1.999 que fui. Ela tinha 12 anos a mais que eu, e era famosa cantante. Eu não sabia dos 12, e pouco me importaria se soubesse, e o resto era café pequeno, eu também era famoso lá na Vila das Nuvens. Eu lembrava de cosas antíquas.

Viajei a Buenos Aires.

Foi educada ao atender o telefone, liguei de un teléfono público da Corrientes. Para o juncal 12-24. Eu no 831 da Corrientes, mas sabendo que ela morava no 348. Eu estava no ano de 1934, mas senti que ela estava em 99, irritada, envelhecida, mas não podia.

Ouviu-me quieta, falei em português, boa noite, sou o teu amor. Riu. Caí mal. Aí lembrei-a, com calma, para não assustar, do desmaio em quarto azul, nuestro cuartito azul, em 1962. Ela paralisou, nerviosa ralhou com alguém, voz de homem, cala a boca, e me pediu para repetir. O quarto azul, aquela vez em que morreremos, em outra vida, te acuerda? Sou o teu par, lembra dos espelhos negros que virão, dos lençóis? Pelo barulho de cadeira senti que ela caiu.

Voltou com voz trêmula, diga mais... Eu sincero, contei tudo, que a amava, que não era brincadeira, falei dos sonhos, ela gelou, lembrou deles, falei que o loco era eu... Mandou beijos, desabou, chorou, compadecida de mim e dela, mas não posso, moço que nunca vi a não ser em sonhos, pois esta vida...

Entendi. Falar desta vida, dos problemas que arranjamos... Desta vida entendo um pouco.

Buenas noches, meu amor, adiós, eu disse, e saí da cabine e tomei um fogo num bar da Lavalle, só o garçom me via, para lavar a alma, depois desintegrei, cheguei em Porto Alegre feito um caco, por milagre. Ela achou que foi assombração.

Nunca a esqueci. Jamais a esquecerei. Ao chegar em Porto Alegre entrei no Mercado Público, meu lugar, para a minha mesa do Naval, e sorrindo me tornei fumaça, que subiu aos céus, lá de cima eu, anjo perdido, adoro ver o Arquipélago, miro a Ilha da Pintada com amor. 


Dia destes voltarei, mas não em 1999. Antes, bem antes, quando ela, sem saber ainda, acreditava.

domingo, 9 de febrero de 2014

Nunca mais, Antônio Augusto Santos

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Meu amigo mineiro, Antônio Augusto Santos, o homem que de música sabe tudo, vem de sem querer me trazer à memória amores perdidos. Manda-me um samba-canção, que é como nosotros, brasileños, apelidamos o bolero produzido entre choros na pátria amada. Justamente num ameno sábado de verão. Temperatura ainda estival, mas molhada de toró, noite agora muito fresca, como uma mulher.

Hoje vi de longe a dama, no Campo da Redenção, passando pelo outro lado do lago, andando de mãos dadas com um senhor careca. Pelas frestas da multidão que passeava no pulmão de Porto Alegre a entrevi. Está conservada, uns 45 anos, alguns quilinhos a mais, imperceptíveis para quem não a conheceu nua em noites sem fim.

Em certo momento Antonio atacou de Lupicínio, entre outras de todo o Brasil e do mundo, com uma mulher cantando, interpretação comovente, uma fina cantora.

O Gatolino, empoleirado no meu ombro (desisti de tentar convencê-lo de que não é pássaro) lá no Campo da Redenção sentiu meu estremecimento e ouviu-me balbuciar Nunca, ao tempo em que apertava o passo, me afastando rápido sem olhar novamente para o lado de lá. Soltou um miau diferente, creio que disse calma, ao pressentir alguma coisa de tempos em que ele ainda não era nascido.

O careca tratará de matá-la, se preciso, eu fora.

O Gatolino agora se escondeu em alguma gaveta, sumiu, foi dormir ou chorar sozinho em algum canto. Eu aguento aqui, rodo a mesma música. Mas com voz de homem, tem horas que a gente precisa honrar as vestimentas de macho. Sem uma lágrima, todas já se foram com o copão de uísque.

Vou ligar para Dolores Sierra, a loca que é o meu amor, vem com parentalha, esse ônibus nunca chega.


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viernes, 7 de febrero de 2014

Gatolino com calor

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Deu-se que cheguei do botequim com nove cervejas, de garrafa, numa sacola. Arrisquei-me a morrer ao atravessar a rua, e não de atropelamento, como a pobre da Iracema, que eu nunca mais esqueci e a quem eu dizia cuidado ao atravessar essa rua (eu falava mas você não me escuitava, não), e sim de derretimento, mas fui, tava com sede. Saí salvo pela contramão.

Ufa, voltei, ao desabar na entrada do prédio segui engatinhando, nadando no corredor, o chão em brasa, o ar irrespirável, subi as escadas de bunda, degrau por degrau, mas voltei. Entrei no covil num estado lastimável e o Gatolino exclamou:

Pera, primeiro vamos esclarecer alguns pontinhos. Alguém aí entende a língua dos gatos? Como já falei, entendo a de nenê, bah, e como, e agora entrego tudo: entendo a língua dos gatos também. Já notaram aquela tremidinha na orelha direita? É depoimento. Em especial sei da linguagem do Gatolino, o coitado é gago, mas o rabinho parece um ventilador, fala melhor com o rabo. Pego leve, falo manso, aí o rabo começa devagar, mas se ele ficar nervoso adeus, tal a velocidade do rabicotinho, como digo, o covil se enche de redemoinhos. Li a patinha esquerda, bem...

Ele exclamou: Salito, pegue a faca e me tire o couro, faça um tamborim para a amada Academia de Samba Praiana, não aguento mais de calor! Ou crie vergonha e roube um ar-condicionado!

Como não sei roubar, e ando mal de dinheiro, estou pensando onde deixei minha faca Coqueiro, a única de fio bom aqui em casa.

Ele não perde um piscar dos meus olhos, sente o drama e solta um miau meloso, me faz um carinho e diz que só tava brincando.

Vai brincando, vai, vai brincando.
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Os Filhos da Puta (7)

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Alô, Brasil. 

Está criado um problema danado com os ônibus urbanos pelo Brasil todo. O roubo descarado sendo trazido à luz. Os financiamentos de campanhas para os nobres vereadores e prefeitos os tribunais e auditorias sabem mas ainda calam, mas hora destas vaza, a nojeira durou tempo demais, agora ninguém segura. Chega de crianças da periferia passarem por baixo da roleta, encabuladas, humilhação que jamais será esquecida, enquanto os ladrões enchem piscinas num calor como hoje.

Ao que me consta a revolta começou em Porto Alegre, mas a turma de outros estados e cidades grandes já estava por aqui.

Pois saibam que o GRANDE GOLPE ainda não veio à tona (alô, distante primo Pedro Fagundes Ruas): os ônibus intermunicipais e interestaduais, estes, então, quando o povo souber, a bronca será muito maior que os urbanos. Mas muuuuuuito maior.

Todos os contratos estão vencidos há muitos anos, e grana correndo por baixo dos panos para os políticos. A Dilma quis arrumar, ainda tenta (não foi ela que me disse, sei por ver, nunca mais falei com ela desde que foi para a Brasília, o "a" os palmeirenses entendem), mas é complicado, as "forças" aquelas, dentro do PT até, são terríveis. Os donos da golaço (aquela onde o dono, se você denunciar, simplesmente manda te matar), se apoderaram de grandes empresas em todo o País, como outros também, ele é só um. Falei de aérea mas o assunto é rodoviário!

Eu falo porque ainda tenho contrato em vigor, tentem me matar... De fome, que era a intenção, pelo isolamento, desemprego neste mundo covarde, quase, mas até agora não conseguiram. Existe gente boa.

Enfim, é foda. Basta mexer, quem pode, e o horror chegará ao conhecimento dos esfaimados. Alô, senador Suplicy! Alô, senador Randolfe. Dá um estrago, se mexer nessa vespeira, eu comecei agora, até podem me matar, no pavor, no escuro sem saber quais políticos e empresários o meu contrato levará junto, e serão muitos, mas levar a todos aviso que não dá.

Com honestos e sinceros senadores da república o papo é outro, esses, se não tiverem rabo preso, podem levantar o País pelo certo.

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A coluna é inspiração dos boêmios do Botequim do Terguino, que esclareceram, em Termo assinado no dia 15 de abril com o Sindicato das Trabalhadoras do Sexo, que isso não tem nada a ver com mãe nem com puta que mereça esse nome. Vide Os Filhos da Puta (AQUI).
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martes, 4 de febrero de 2014

Zeca Pagodinho, 55

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Isto posto, que ainda nada se pôs, vamos com um samba de 1947, autobiográfico, do lendário Alcides Malandro Histórico (Alcides Dias Lopes, da Velha Guarda da Portela. Rio de Janeiro, 17/12/1909 - 09/11/1987), talvez com alguns versos incorporados por Candeia (Antônio Candeia Filho. Rio de Janeiro, 17/08/1935 - 16/11/1978), o primeiro a gravá-lo, em 1978, pouco antes de ele mesmo morrer, com o desabafo do velho malandro. 


Com ele, o cara: Zeca Pagodinho (Jessé Gomes da Silva Filho, Rio de Janeiro, 04/02/1959), acompanhado da Velha Guarda.



Zeca que hoje cumpre 55 aninhos!


Salve, seu Zeca!