Chamei os amigos Juanito Diaz
Matabanquero e Carlito Dulcemano Yanés. Vieram de longe em meu socorro. Carlito entrou clandestinamente no País, os banqueiros do bicho da Av. Paulista querem lhe fazer a pele. Contei-lhes a história, ouviram-me em silêncio, as perguntas viriam depois.
Amigos, fui acusado. Vou tentar
explicar, é meio surreal. A Carmélia da Olavo não fez uma reforma na casa que
foi da Marli da Padre e que agora é da Keila da José. Cada nome que essas
cafetinas arranjam... Bem, um belo dia eu estava bem feliz aqui na Vila, quando fui surpreendido por uma notícia da rádio Corredor: que o muquifo que
foi da Marli, que agora é da Keila, que foi comprado com parte do dinheiro de
oitenta e tantas malas achadas no apartamento de um assaltante, era meu, e que
por via de consequência a reforma não realizada pela Carmélia também era minha.
Nesse bolo tem um delator condenado a cento e tantos anos de prisão, mas depois
chego lá, para não embolar o meio de campo.
Dei risada, não sabia do que
estavam falando, nem conheço pessoalmente a Carmélia e a Marli, só de nome como
todo mundo, muito menos a Keila, esta nem de nome conhecia. O gordo das malas
eu conheço de vista, é meu inimigo. Deve ser gozação da turma, pensei, pois
brinquei com os camaradas outro dia, quando um falou que gostaria de comprar o
Moulin Rouge, que é um cabaré bem diferente destes, pois tem a letra
"t" no final.
Também estou acostumado com a
maldade alheia, já me atribuíram a propriedade de palacetes, frigoríficos,
aviões, bancos e não sei mais o que de Porto Alegre. Em certo momento eu era
dono até do Beira Rio, da Praça da Alfândega e da Igreja da Matriz, como
chamamos a Catedral Metropolitana. Mais uma bobagem, concluí, e esqueci o
assunto.
Quando chegou a intimação ainda
ri, deve ter sido o Bruno, o sacana acumpliciado com o oficial de justiça, para
rirem da minha cara quando eu fosse ao tribunal. Com a mesa do bar cheia joguei em cima a papelada, e aí, malandros, querendo me fazer de bobo? O
pessoal leu e todos ficaram sérios. Isto é de verdade, disse Carlinhos Adeva. O
Bruno jurou de pés juntos que nada tinha a ver com o assunto.
Eu não sabia, mas os meus
problemas estavam recém começando. Eram os caras da MPL - Máfia Preta do Lenocínio - fazendo a sua parte, não contentes com os seus puteiros queriam entrar no meu negócio, deslocaram até o meu domicílio.
(segue)
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