lunes, 30 de julio de 2018

A mulher do tribunal

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Chamei os amigos Juanito Diaz Matabanquero e Carlito Dulcemano Yanés. Vieram de longe em meu socorro. Carlito entrou clandestinamente no País, os banqueiros do bicho da Av. Paulista querem lhe fazer a pele. Contei-lhes a história, ouviram-me em silêncio, as perguntas viriam depois.

Amigos, fui acusado. Vou tentar explicar, é meio surreal. A Carmélia da Olavo não fez uma reforma na casa que foi da Marli da Padre e que agora é da Keila da José. Cada nome que essas cafetinas arranjam... Bem, um belo dia eu estava bem feliz aqui na Vila, quando fui surpreendido por uma notícia da rádio Corredor: que o muquifo que foi da Marli, que agora é da Keila, que foi comprado com parte do dinheiro de oitenta e tantas malas achadas no apartamento de um assaltante, era meu, e que por via de consequência a reforma não realizada pela Carmélia também era minha. Nesse bolo tem um delator condenado a cento e tantos anos de prisão, mas depois chego lá, para não embolar o meio de campo.

Dei risada, não sabia do que estavam falando, nem conheço pessoalmente a Carmélia e a Marli, só de nome como todo mundo, muito menos a Keila, esta nem de nome conhecia. O gordo das malas eu conheço de vista, é meu inimigo. Deve ser gozação da turma, pensei, pois brinquei com os camaradas outro dia, quando um falou que gostaria de comprar o Moulin Rouge, que é um cabaré bem diferente destes, pois tem a letra "t" no final.

Também estou acostumado com a maldade alheia, já me atribuíram a propriedade de palacetes, frigoríficos, aviões, bancos e não sei mais o que de Porto Alegre. Em certo momento eu era dono até do Beira Rio, da Praça da Alfândega e da Igreja da Matriz, como chamamos a Catedral Metropolitana. Mais uma bobagem, concluí, e esqueci o assunto.

Quando chegou a intimação ainda ri, deve ter sido o Bruno, o sacana acumpliciado com o oficial de justiça, para rirem da minha cara quando eu fosse ao tribunal. Com a mesa do bar cheia joguei em cima a papelada, e aí, malandros, querendo me fazer de bobo? O pessoal leu e todos ficaram sérios. Isto é de verdade, disse Carlinhos Adeva. O Bruno jurou de pés juntos que nada tinha a ver com o assunto.

Eu não sabia, mas os meus problemas estavam recém começando. Eram os caras da MPL - Máfia Preta do Lenocínio - fazendo a sua parte, não contentes com os seus puteiros queriam entrar no meu negócio, deslocaram até o meu domicílio.

(segue)
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A DIREITA EM ZUGZWANG

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(Fragmento)

Certos jogos são para homens e mulheres de alma nobre, de palavra, fibra e respeito. Assim é o xadrez, como também é o por extensão chamado de “xadrez da vida”.

Na imagem a posição após o lance 83 das brancas, na célebre partida entre José de Jesús Nogueiras Santiago e Maikel Gongora Reyes, jogada em 4 de abril de 2001 em Las Tunas, Cuba, no torneio de onde sairia o campeão nacional. O tabuleiro é visto pelo ângulo de visão das brancas de Santiago, como é praxe nas imagens de livros sobre o jogo-ciência.


As negras estão em zugzwang, que no xadrez diz-se da posição em que qualquer movimento feito pelo bando a quem cabe jogar é perdedor. No caso é mortal, pois as peças negras tem apenas um lance possível, perdedor: leva o xeque, mais um lance e a resposta é fatal, xeque-mate.

Como no Brasil em muitas ocasiões e principalmente agora. Esquerda x Direita. A Direita atual (Fiesp, Fascistas, Judiciário, Banqueiros, Agronegócio, Mídia, Entreguistas, etc., EUA como pano de fundo), ciente de que com Lula levaria um histórico xeque-mate dos humanistas e nacionalistas, gritou “Não jogo mais com essas regras!” e derrubou o tabuleiro violentamente, impedindo o final da partida de modo legal, com a plateia do mundo todo estupefata.

Fugiu da batalha com as calças caindo, rasgando o contrato social, apelando para um “xadrez” infame, abjeto, torpe, lance desesperado pensado também num 4 de abril, executado dia 5. É muito difícil, mas talvez perca igual com qualquer regra que imponha, o tempo não para, a ferida não sara e os ludibriados à força aglutinam energias.

Naquele ano de reis em Las Tunas Maikel Gongora Reyes foi homem, não um covarde traiçoeiro: deitou o seu Rei, admitindo a derrota: “Abandono. Gens una sumus”, e apressou-se a apertar a mão do adversário.

No xadrez da vida, quando não há perfídia, traição nem maldade, os erros não são tão grandes que não possam ser corrigidos. Reyes iria procurar melhorar o seu desempenho, errar menos, com honra, para no futuro... quem sabe?
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