sábado, 17 de marzo de 2018

A irmã do Potinho

.

Fui dormir na casa do amigo Potinho, os seus velhos pais estavam viajando. Tava só ele e a irmã em casa. Bebemos, comemos, jogamos cartas até tarde. Modéstia à parte, com cartas sei mexer, e de sorte tiro a carta que quiser de qualquer baralho viciado ou virgem.

A guria Jussara de saia curta cruzava as pernas de um jeito... e depois me olhava com um olhar de queimar, fiquei em chamas mas me controlei.

Irmã de amigo meu pra mim é homem, eu fora. Dormimos tarde, nós dois num quarto, ela no outro.

Quando acordei pela manhã ele tinha se mandado, pegar cedo no batente, deixou um bilhete: Tá em casa, mermão, fique aí, vou levantar uma grana, ao entardecer eu volto, e vou falar com uns caras pra ver se te arranjo um emprego. Minha mana gosta de ti, se ela escorregar, execute, bem vindo à família.

Que filho da mãe o Potinho, sou melhor em cartas mas ele sabe mais do que eu.

Li o bilhete, botei água esquentar no fogão pra fazer café, e passei na frente do quarto da guria. Tava nua na cama, agora os olhos em fogo me olhando, ela siriricando sem o menor pudor.

Não lembro o que fiz, só recordo dos gritos dos vizinhos pelo cheiro do metal da chaleira derretendo no fogo.

O Potinho é nosso padrinho de ajuntamento, que virou casamento cinco anos depois, a gente lá casando com as meninas gêmeas daquela manhã pela mão.

Mulher é bicho de Deus mas também do Diabo. Até hoje quando chego em casa ela me olha, os olhos se incendeiam, e de saia curta cruza as pernas daquele jeito.
.

sábado, 10 de marzo de 2018

EU DEIXO

.


Ao sair antes para comprar um presentinho pro meu priminho que amanhã completará cinco anos de idade, na volta vim por lá e dei uma parada no bar do Nadir, ali perto da igreja Sagrada Família na Rua José do Patrocínio. Tava superatolado de gente, digo, superlotado.

As mulheres de rodar a bolsa - umas novas na parada, ui, o pessoal do AAA da Igreja, estes tomando água mineral, os malandros, as travecas lindas e perfumadas, a turma da punga lá no Centro, todos pularam em mim aos beijos e abraços de corpo inteiro.

Salito, seu malandrão, onde andava por todos estes anos? Que saudade, eu era apaixonada por ti! E aí, camarada, conseguiu fazer a vida? Tinha 17 filhas, quantas tem hoje, maluco? E por aí vai, muitos choramos.

Todo mundo feliz. Respondi tou morto e a corvada em roda, mas sabem como é, a gente dá um jeito, ainda não precisei pegar em arma. As próximas dez cervejas são por minha conta, Nadir, exclamei feliz.

O que vocês estavam fazendo quando cheguei, amontoados lá no fundo? A gente tava vendo uma notícia na Internet, uma vagaba Carmen Lúcia, que mal sabe tocar siririca e chupar pau, livrou a cara de mais um ladrão podre.

Mudei de assunto. Alguém quer jogar sinuca? Há anos não pego num taco, dou a sete livre. O Julião da Maleva saltou: só a sete não tem graça, é covardia, Sala. Então dou a cinco, a seis e a sete. Uma das bonecas novas se escalou.

O Nadir trouxe a caixa de bolas, do às à sete. Ela encaminhou-se ao taqueiro, escolheu um taco enquanto dizia: é hoje que te como, fama tu tem, quero ver.

Eu vou deixar, pensei.
.

QUANDO PRECISEI

..

Maldito o dia em que precisei, sem emprego por ser honesto demais, ora demais, ou se é honesto ou não é.

Sumiram todos. Todos eles e elas: amantes, parentes e amigos.


A pessoa sabe que precisa ir ao agiota, digo, ao banco, tirar o saldo. Com medo não vai, diz pra si mesma vou amanhã, e os dias passando, amanhã vou sem falta, e não vai. Gasta pouco na mercearia com cartão de débito, de crédito não tem, um quilo de arroz, um pé de alface, um toco de fumo em corda e uma garrafa de pinga mucufa.

Passa o cartão morrendo de medo que diga que não tem o suficiente, uns 15 reais. Ufa, passou.

Hoje vou lá tirar o saldo, naquela de seja homem já que a vovó Marica não foi.

*
(Fragmento do conto "Quando precisei")
.

FUI MAS NÃO FUI

.

Eu lá deitado no meio da capela 6 do São Miguel e Almas, deixando o tempo passar, curtindo a experiência nova. Alguns choros no entorno, de lágrimas e instrumentos musicais. Bem belo, despreocupado, chega de problemas, pra mim deu. Com padreco não preciso esquentar a cuca, minhas filhas não deixarão pisar no ambiente, muito menos abrir a boca.

Brigaçada de mulheres, ele era meu, sua vagabunda, teu coisa nenhuma, era meu, tapas, gritos, tinha umas trinta se agredindo verbal e fisicamente, até garrafada saiu. Eu quietinho na minha, não sou bobo. Acalmaram as onças, por enquanto.

Imaginei as minhas 37 filhas roxas de vergonha pelo gritedo das tiangas. Ouvi alguém dizer a elas: deem uma saída, meninas, fazer um lanche, descansar um pouco. Lá se foram elas, pois parou o choro lacrimal que tinha do meu lado esquerdo.

Chega um amigão, me olha e diz: "Enfim parou de beber e fumar, né, loco, vai com Deus, meu irmão, não demora estaremos novamente juntos". Até políticos apareceram, nunca fizeram nada por mim e vem fazer média, os filhos da puta.

Foi então que um sujeito que não ia com a minha cara inventou de dar discurso, exaltando as minhas supostas qualidades. "Um gênio, teria ganho um Nobel de Literatura se fosse jornalista e as editoras publicassem os seus livros...".

Foi demais, não aguentei, sentei no caixão: "Deixa de ser hipócrita, meu chapa, tu fez de tudo para me prejudicar na vida!".

Foi uma correria danada. Ficou só a nega Zilda, com os olhos arregalados. Desci de lá, quase derrubei o esquife, e perguntei: "Onde é o bar mais próximo, minha nega, tou com sede, vamos juntos?".

(A ilustração é do Edra Amorim)
.


sábado, 3 de marzo de 2018

AMO

,

Hoje a solas com a Jacira e a Aline demos de contar histórias, verídicas. As gurias me saíram com cada uma, das tarinhas dos caras no tempo em que elas rodavam a bolsa na rua, desde chupar o dedo mindinho do pé até pedirem introdução de garrafa de Coca-Cola no ânus. Teve até um presidente de um famoso clube de futebol que pedia para fazerem cocô em cima dele.

Eu contei uma singela, pois taradices, se as tenho, são leves. 

Duas da madrugada. No covil estavam eu, a nega Eliete, 26 anos linda e gostosa, recém separada, uma baixinha enfermeira de 30, tarada como só, e uma dona boazuda de 29 que levantei na PUC, esta que fazia eventuais programas para poder pagar a faculdade, conosco estava no amor. Só gente fina e amorosa.

Eu resisti na cama grandona mas elas me acabaram, era demais para a minha bola, leite pra todo lado, lamberam, chuparam o pau já meio mole, ui que delícia. A Eliete em noite de estréia não vacilou, as outras a chuparam e beijaram até cansarem e ela foi decente e valente, retribuiu. Falei vou lá na sala tomar uma cerveja e botar uma música, sigam de festinha. 

Elas continuaram de beijos e chupações. Abri a cerveja, sentei no sofá da sala e fiquei ouvindo o disco. Ouvia os gemidos de lá do quarto, palavras de assim, mais para cima, puta, ai querida, aperta...

Uma hora depois elas se exauriram, vieram peladas para a sala, bem felizes. Aí a Eliete, com os olhos brilhando me beijou a boca e com a singeleza dos simples, era a que tinha menos estudo ali, sorrindo me disse:

- Eu não sabia, meu amor, mas não é só pau, eu também amo chupar buceta.

Ficamos rindo dessa tirada até o amanhecer, quando depois de comer pizza reiniciamos os trabalhos.
.

viernes, 2 de marzo de 2018

LA HIERBA

.

Teve um presidente que dizia que fumou mas não tragou. Mentiroso e burro que é uma porta, molengão e guampudão de Paris.

Eu confesso, com 33 anos disse: não vou morrer sem experimentar. Uma tragada só e tonteei, pouca-prática dei um fumadão naquele baseado grosso, a advogada que me deu me apertou o nariz. Pagou caro, pois dali em diante eu não parava de rir, e bateu um tesão dos infernos.

Isso à meia-noite no Alto da Bronze. Sete da manhã e eu ainda ria, ouvindo a Quinta Sinfonia de Mahler via as aves pernaltas dançando num lago imaginário, ela pedindo pelo amor de Deus, tou morta de cansada, saia de cima de mim, eu vou por cima. Pegadeira, não ia me deixar mal, mete cadelinha tesuda.

As aves, a música, a mulher a mil por cima... Primeira e última vez que pitei, uma só tragada. Ela, experiente com a erva e outros caras, que me disse tu não pode, energia estranha, o nego que já sonha acordado sem fumar, imagine fumando, vai pro hospício.

Tou de olho na parte da medicina, vai que amanhã ou depois a erva me salve a vida.




COMO É LINDO O RIO GUAÍBA

.


Sou bobinho pero nem tanto, então não guardo papéis da vida profissional em casa. Muitos deles perigosos, digamos. Aqui podem encontrar centenas de contos mal ou bem acabados, nada mais. A papelada perigosa está distribuída por aí em muitos lugares, muitas cópias, milhares de papéis, dezenas de caixas. Prevenção daquela bobagem de se algo me acontecer eles se fodem. Os originais estão parte num cofre em outro estado da Federação, outra parte em outro cofre em Montevideo.

Hoje ao meio-dia saí da Cidade Baixa, dei voltas de despiste indo a Teresópolis, mania de perseguição, mas eles são otários, há meses percebi que me seguem. Levaram o drible lá na Vila Cruzeiro, saí deitado dentro de uma fubica de uns assaltantes de banco meus amigos.

Ali pelas três da tarde estava dentro de um barco indo para o Arquipélago. Rever uns documentinhos antigos que envolvem até o pescoço um gaúcho ladrão da quadrilha do Temer. Há anos não via a nega velha que guarda, só lhe mando uma graninha trimestral, ano passado nem mandei, desamoroso. Levei hoje, junto com as rosas amarelas e brancas.

Estou lá vendo os documas, tomando uma cerveja que a neguinha velha comprou no bolicho, e de dentro de uma mascada caiu um cheque de um tal Banco do Progresso S. A., agência de Cuiabá, nominal a mim. "Dois mil seiscentos e cincoenta cruzados novos", datado e assinado em 29 de novembro de 1989.

Na dureza que ando caí pra trás. Hoje essa grana, com correção pela merreca da poupança dá mais de vinte mil contos, pela inflação real uns cinquenta, por que diabos na época não descontei o cheque? Vá lembrar. O emitente, amado, ainda é meu credor por outras desta vida.

Botei o cheque de volta no meio dos papéis, fica de lembrança. Pedi para a netinha de 14 anos da nega ir lá adiante tirar vinte xerox. Fiquei mais duas horas na ilha, tomando cerveja e relembrando com a negada os velhos e bons tempos.

Voltei de barco com os documas dobrados no bolso interno do casaco, com estes o "Fodão" da Odebrecht se fode comigo.

Meu Deus, como é lindo o Rio Guaíba.
.