lunes, 31 de diciembre de 2012

Mário Reis, 105 anos, canta Chico Buarque

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Hoje recordamos o nascimento do espetacular Mário Reis (Mário da Silveira Meirelles Reis, Rio de Janeiro, 31/12/1907 - 5/10/1981). Há matéria sobre o grande artista neste blog, clique AQUI.

Hoje com o samba "Bolsa de Amores", do Chico, que foi censurado pela ditadura militar, gravado em 1971. A estupidez dos censores da "Redentora" não aliviava nem as nossas antigas glórias nacionais.

Para Jucão da Maresia, que diz não entender bulhufas de Bolsa: a composição, ainda que pouco difundida, é mais uma excepcional sacada do Chico, falando na Bolsa de Valores, lote de ações, ação ordinária (e não preferencial) ao portador, filhote (bonificação em ações), lucro, oscilação de mercado - no caso, queda na cotação, dividendo e bonificação em dinheiro, e evitando, sabiamente, falar em subscrição...

A respeito do samba, o Dicionário Cravo Albin esclarece o pretexto usado pelos milicos para censurá-lo:
 
A comparação entre a "moça fria e ordinária" com o mercado de ações na época em que se vivia o "Milagre Brasileiro" fez com que o samba fosse taxado de ofensivo à imagem da mulher brasileira. A gravação de "Bolsa de Amores" só seria lançada mais de dez anos após a morte do cantor, em 1993, no CD "Mário Reis canta suas criações em hi-fi", que contém os LPs gravados em 1960 e 1971.

Incomodado com a censura ao samba o cantor insistiu para que a faixa fosse mantida no disco, ainda que sem o som da gravação, numa clara atitude de protesto. O disco foi lançado num show no Golden Room do Copacabana Palace em três apresentações com casa lotada, tendo sido aplaudido de pé por mais de dez minutos. Foi uma de suas últimas aparições públicas.

 

 

Deu Inter no gol do ano

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De lá da praia, recebemos um "em tempo" dos boêmios. Resolveram eleger o gol do ano.

Deu Fabrício, lateral-esquerdo do Internacional de Porto Alegre. Segundo os empinantes, por 39 votos a 1.

Quanta imparcialidade...

Está aos 7m26s do vídeo.



Feliz 2013, n'A Charge do Dias

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E chegamos, enfim, ao convencionado último dia do ano. O "enfim" saiu pela tentação de reclamar da vida, dizendo algo como: "Eta aninho bem filho da puta este, para  nós foi péssimo", como deve ocorrer com muitos dos amigos que passam por aqui.
 
Mas peraí, e nisto o pensamento foi ágil: estamos vivos, pombas, e sem doença aparente. O que não correu bem em 2012 já é passado, depende da gente construirmos dias melhores.

Já que desistimos do velho sonho de assaltar uma agência de agiotagem, isto é, um banco, vamos levando assim mesmo, aos trancos e barrancos, vai que de repente role a quina da Loto. Mega Sena não convém, só de pensar em andar pelos  butecos cercado de seguranças é o suficiente para afastar a idéia (voltamos a usar o luminoso acento agudo na palavra idéia, pois sem ele as idéias ficam murchinhas, vez que foi postergada a entrada em vigor da droga do Acordo Ortográfico, deveriam era revogar essa porcaria).
 
Os boêmios seguem de churrascadas e fuzarcas na praia. O Contralouco desde cedo anda pra lá e pra cá todo feliz, com o gato no ombro e um galho de arruda atrás da orelha. Galho nada, uma árvore. O primeiro galho, ou árvore, secou em vinte minutos, e não foi devido ao calor, segundo a mestra Jezebel do Cpers, que entende de mau-olhado e outras energias negativas.
 
Neste momento, 15 horas,  estão "acordando os porcolinos pururucos" - no dizer do Gustavo Moscão, referindo-se aos dois leitões -, que estão há 7 dias marinando, vão fincá-los na churrasqueira do "Bar dos Amigos" pelas cinco da tarde. Tomaram conta do bar, vão lá dentro e se servem, ninguém pede nada ao Joel, o dono, que juntou-se ao bando como se fosse visitante, considerando-se em férias, no meio da turma nas mesas de fora, dê-lhe gaita e cantoria. O Joel tinha 1.032 cervejas, 630 em garrafas e o restante em latonas, para acertarem o consumo depois é só contar o que restou, se restar alguma. O mesmo para águas e refris.
 
Mr. Hyde se meteu a fazer lentilha. A maionese é por conta de Tigran Gdanski. As mulheres só riem da sujeirada que os malucos promovem na cozinha. O arroz e outros pratos rápidos serão feitos bem mais tarde, por elas, vez que nessas alturas os boêmios já não serão de confiança.

Leila Ferro instou-os a escolherem logo as obras do dia. Vão em desordem.

Ikenga. Esta irá para a parede do botequim, em POA.

 
 
 
 
 Fausto, do Jornal Olho Vivo (Guarulhos, SP).

 
 

Sinovaldo, do Jornal NH (Novo Hamburgo, RS).



Marco Aurélio, de Zero Hora (Porto Alegre, RS).



Leilinha Ferro escolheu o Duke, de O Tempo (Belo Horizonte, MG).





Hoje era para publicarmos as melhores obras do ano, porém os empinantes decidiram deixar para lá, sob a alegação de que estão muito ocupados com cervejas e banhos de mar. Somente o Contralouco não abriu mão da sua escolha, estava guardadinha no compi da Leilinha. Do Nani.



A escolha dos "Piores da Raça" foi realizada (o Framboesa de Ouro dos butequeiros). Aqui fomos nós que demos para trás, nos recusando, ditatorialmente, a dar publicidade ao evento, devido a alguns títulos dos troféus, premiando personalidades da república. Como eles calçaram pé em manter as denominações, nada feito. Ora, imaginem, troféu Chupa Pus, e lá o nome do ganhador. Depois Cu na Estaca, e o nomezinho do ilustre político. Corninho Brasileiro, e outro político. Sonegador do SUS, e lá o senhor empreiteiro, Ladrão Sujo, e aqui o famoso empresário. O lixo do Mark Putenberg, ex-dono do feicebuc, ganhou cinco troféus. Um deles podemos declinar: O putinho mais filho da puta do reino. E há piores. Deixemos assim, é processo criminal na certa, aí é aquele negócio: não pegam Salito por calúnia, pela exceção da verdade, mas pegam por injúria ou, pelo menos, por difamação.

Por falar nisso, tornamos a agradecer aos artistas do traço e do pensamento a permissão para a reprodução das obras.

Feliz 2.013 a todos!



(A coluna A Charge do Dias leva esse título pelo seu idealizador, o mestre Adolfo Dias Savchenko, que um belo dia se mandou para a Argentina, onde vive muito bem. Sucedeu-o na coordenação a jovem Leila Ferro, filha do Terguino, quando os boêmios amarelaram na hora de assumir o encargo. Antes eram dois butecos, o Beco do Oitavo e o Botequim do Terguino, que há poucos meses se..., bem..., se fundiram (veja AQUI), face a dívidas com o sistema agiotário. O novo bar manteve o nome de um dos butecos: por sorteio ficou Botequim do Terguino, agora propriedade dos ex-endividados António Portuga e Terguino Ferro)



 

sábado, 29 de diciembre de 2012

Só dá Newton Silva, e Gatolino, n'A Charge do Dias

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Os boêmios se apoderaram de um bar no litoral gaúcho. Com o Contralouco presente - acompanhado da ex-noiva de outro, a gostosa do Beco do Oitavo -, fazer amizade com o dono foi a coisa mais fácil do mundo. O bolicheiro se chama Joel do Facão e o buteco "Bar dos Amigos". Falamos do Contralouco porque a frase e o gesto mais instigantes, de que temos notícia, saíram de suas mãos e boca, opa, pela ordem, ao contrário.

Chegaram de madrugada, dormir nos alugados.

O Contra às seis da manhã passeava solito pela areia molhada, logo com água pela cintura, tentando ensinar o Gatolino a nadar, atirava perto, miava, buscava, atirava de novo na onda, vai seu gato puto, a onda levava o Gatolino para dentro, e de novo, de repente um ondão, o mar levando o bichinho lã adiante, o Atlântico matou, aí ele furava a onda, nadava e buscava, depois da rebentação, trazia o Gatolino na cabeça, eta marzinho traiçoeiro.

Aqui na areia verificava, acariciava. Cinco minutos e vamos de novo, e pegava o Gatolino pelo gorgumilo e entrava correndo mar adentro. Atirava, vê se nada, seu broxa, seja home, tou te cuidando...

Numa dessas, de pé aqui na beira, na volta de uma ondona, muito maior que o ondão, o Gatolino parecia que já era, e ele dando tapinhas nas costas, chupando e depois dando ar pela boca, para tirar a água salgada, água demais pode fazer mal ao tadinho, viu lá longe o homem abrindo o bar.

Foi até lá, antes que a china acordasse, com o Gatolino no ombro, recuperado, médio, do aprendizado, mais parecia uma estátua de coruja, se firmando com a patinha esquerda nos cabelos do professor de natação. Já estava quase na hora de voltar, se quisesse, e o Contra queria, jurou que ia dar certo com a branca que dormia de sorriso mole.



Só Deus sabe o que conversaram, ele e o Joel, eu dei uma saída para reconhecer o terreno, mas vi que Joel em seguida foi lá dentro buscar uma coisa para mostrar, e mais um lero e se abraçaram, e umas conversas sem fim, fotos do Peñarol, do Inter, do América do Rio, olhei no relógio e era nove da manhã, perdeu a mulher, o otário, não acredito, bebendo cerveja e contando histórias a esta hora, e Joel já foi começando fogo na churrasqueira. Voltei e pulei no ombro. Para me sacanear, pensa que não sei, virou a cabeça olhando o ombro direito e disse: meu gato é destro, deixa sempre livre a mão boa, mas se faltar lenha, pode servir de combustível. Ninguém achou graça. FDP.

Eu, o Gatolino corujo afogado, ainda duro de frio na alma, sem entender porra nenhuma, lá olhando... Bateram uma caixa de cervejas, garrafas de 24, com tiros de losna (o Joel tinha!), acabaram de fechar todas, Joel e Contra odeiam latinhas de viados. Pelo papo de viados, isto é, gremistas, corintianos, mengos, pó de arroz de puta velha, a ceva pegou. Desde que esse tal de Joel não goste de tamborim puro, para mim está bom.

Depois, enfim, se deram uns sopapos nas costas e vamos embora, vou buscar a turma, voltamos em uma hora.

Enquanto o Bruno Contra saía para os alugados, e eu junto, o Joel, já cercado há horas pelos seus parentes machos e mulheres e crianças - a criançada toda sentou no colo dele, que inventou um brinquedo de palavras o que está vendo no ambiente, endoideceu os pequenos - ã, o Joel botou música da boa, bem alta, Paulinho da Viola, e soltou foguetes, cuidado meu, miei, fogo é fogo, quase morri certa vez, não fosse este louco voar e parar com a mão e o rosto a chama que viajava em minha direção, para não falar daquela vez... miau mi Diós...

Das águas, em que eu era meio nenê, ia sumindo no bueiro quando ele voando - o que gosta de voar - me puxou pelo pezinho, se arrebentando nas pedras, eu fui arrancado com força, fui ao ar, e caí no seu peito, e chuva que Deus mandava, no maior desastre chuvístico na história de Porto Alegre. O sangue escorria da sua cabeça, caiu mal, não tinha outro jeito.

O palhaço se voltou para o samba e ensaiou passos de dança: Tá legal, eu aceito...

Se conhecessem este ombro em que me alojo... Prefiro água, aprender a nadar, uma afogadinha que outra não dá nada.

Já sei, vai chegar cantando: Tá legal, eu aceito o argumento, mas não me altere o samba tanto assim, olha que a rapaziada está perdendo a calma... ops, sentindo a falta.

A branca panaca vai se jogar nos braços dele sem reclamar, dizendo apenas que estava com saudades e com medo que a tivesse abandonado. China é china, como sempre digo à gata do apartamento de cima, a Egípcia.

Cada doido, vá entender. Vou comer minha ração, já sei que estarei fudido nesse churrasco que irá até a meia-noite. O único que me dá carne, que eles comem, é o Contra, espero que hoje não me falte, nunca me faltou.

Odeio estas comidas de plástico das múltis estrangeiras, americanas. Tudo por dinheiro, pelo menos isso é o que Contra diz.

Por que eles podem comer bife, de um bicho morto, ou peixe morto, e eu não?

Além de me caparem (desculpe, Egípcia, morro de vergonha, mas precisava te contar: na época eu era nenê, não conhecia o Contralouco - conheci  nas águas levando tudo, no bueiro, mas sei que ele não deixaria, nunca, nunca, nunca, que fizessem o que fizeram comigo), e os assassinos ainda querem que eu coma este lixo.

Só falta me levarem para fazer as unhas em institutos de putas.


 
 
Lúcio Peregrino vem lendo as notícias do notibuc diariamente, como de costume. Felizmente, os amigos decidiram nada enviar ao blog, pelo que agradecemos de coração. Não queremos saber de mensaleiros que vão assumir, nem da Tatcher assassina, da Globo, de pastores eletrônicos, de mortes, Maradona pó, mentiras, bostas de milionários do futebol, nada.

Aqui só entram bondades, até 2013. Escapou algo que não entendemos, que o troféu Chupa Pus (na eleição dos Piores da Raça, no dia 31, o Framboesa dos boêmios) já foi escolhido: seria um tal de Imbessinha, chargista. Não sabemos de quem se trata. Pulemos isto.
 
O Portuga e o Terguino se mandaram visitar parentes lejos, mas a Leila, guria do Terguino, com o seu namorado Z do PSol, acamparam ali por perto. Terguino deixou-a aos cuidados da confraria, uma bruta responsabilidade, todos os cachorrões e cachorronas, no bom sentido, de olho, mas Gustavo Moscão, com a sua profa Jussara, levaram a sério demais, não largam do pé da menina. Até beijo no rosto do Z requer autorização.
 
O Contralouco já estava de saco cheio das perguntas dos amigos e admiradores (o pessoal da Praia do Quintão lê diariamente esta coluna), entre si e aos demais, e inspirou-se no cearense Newton Silva (Salve, Fortaleza do Newton; Salve, povo cearense) para abrir a coluna A Charge do Dias.
 
Claro, o Contra foi educado com o pessoal, que riram a não mais poder, pensando "Esse não é falsificação, é o próprio Bruno Contralouco, de corpo e alma". Primeiro, pediu licença ao Joel do Facão, foi lá na frente e pendurou uma placa, que encontrou numa rua de Porto Alegre e botou no porta-malas.
 
 
 
Voltou e escolheu a obra do Newton. Hoje escolheram muitas, visto que amanhã estarão com dor-de-cabeça, pausa para estarem em forma na segunda-feira, e os artistas também (a folga amanhã).
 
 
 
 
Depois o negócio deu uma enroscada, por alguns dos temas lembrarem banditismos e irresponsabilidade, mas seguiram firmes, sem comentários.
 
Com o Aroeira, de O Dia (Rio de Janeiro, RJ). Jucão da Maresia caiu de joelhos no bar e disse de mãos postas: "Derruba logo essa árvore de mentira, Dilma". Silvana Maresia, que inicialmente estranhou vê-lo desabar de rodillas, ao ouvir a frase caiu junto, repetindo o pedido. Já estavam meio altos.
 
 
 
O pessoal tratou logo de evitar aprofundamento no assunto. Vieram com o Marco Aurélio, de Zero Hora (Porto Alegre). "Acho que o Marco está falando de sexo", opinou Mr. Hyde. O bar foi abaixo em gargalhadas, pois todos sabem, pelas estórias contadas por Lúcio Peregrino - comedor de mulheres e asponas de políticos, tudo gelol, diz -, que políticos e grandes empresários são impotentes. "Atracar em outra coisa", sugeriu Tigran Gdanski. lembrando o que diria depois a amada Jezebel.
 
E tentam compensar o leite retido, matando e roubando, etc, etc, já cansei de explicar isto aqui, chega, deu.
 
 
 
E, surpresa, de novo com Newton Silva. Só dá Newton Silva. Houve quase unanimidade, entre os empinantes, na interpretação da obra. Foram muitos os pronunciamentos, que resumimos: Ora, ativo e passivo, que bobagem, não existe só ativo, quem come dá, normal, e o artista cearense fala de presídios, pois uns que se acham os tais, que fingem comer enquanto lesam e condenam crianças esfaimadas, verão que tem os coitados que moram lá por roubar uma galinha ou matar um engravatado, e detestam esse tipo de gente que são e que em breve a eles se juntarão; mais, sonham que deveriam ir todos os ministros atuais e anteriores do Brasil, esses covardes mandaletes de ladrões.
 
"Sei não, entendi diferente: estou com dó dos cofres públicos de 2013, a razão da miséria e do analfabetismo", disse a velha mestra Jezebel do Cpers, única voz a contestar.
 
 
 
 
Leilinha Ferro, depois de muito confabular baixinho com Z do Psol numa mesinha na frente do bar, ficou com as seguintes:
 
Geraldo Passofundo (tem um dedinho do Z). Brilhante.
 
 
 
 
E M. Jacobsen. Sin palabras.
 
 
 
 
(A coluna A Charge do Dias leva esse título pelo seu idealizador, o mestre Adolfo Dias Savchenko, que um belo dia se mandou para a Argentina, onde vive muito bem. Sucedeu-o na coordenação a jovem Leila Ferro, filha do Terguino, quando os boêmios amarelaram na hora de assumir o encargo. Antes eram dois butecos, o Beco do Oitavo e o Botequim do Terguino, que há poucos meses se..., bem..., se fundiram (veja AQUI), face a dívidas com o sistema agiotário. O novo bar manteve o nome de um dos butecos: por sorteio ficou Botequim do Terguino, agora propriedade dos ex-endividados António Portuga e Terguino Ferro)

A Esposa Virtuosa de Bagé

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Hoje abrimos espaço à Esposa Virtuosa, pela edificante mensagem que nos enviou (Aqui), como faz em todo fim de ano, plena de compreensão e amor:

"Boa noite queridas!!! "NÃO COBREM DE SEUS ESPOSOS AQUILO QUE SÓ DEUS PODE LHES DAR": Geralmente tentamos receber segurança e afirmação de nosso esposo em vez de receber essas coisas de Deus, e depois nos perguntamos porque o nosso esposo não é capaz de resolver os nossos problemas. Pensem nisso!!!"

Forçoso reconhecer que a mensagem parece destinada às 26 mulheres deste Salito que vos fala, pelo que as damas agradecem penhoradamente. Mariana de Rosário e Jacira de Uruguaiana, em nome de todas, pronunciaram belas palavras sobre a Esposa Virtuosa, para ao final homenageá-la com vivas. Conceição do Cativeiro Dourado ergueu brindes com campari. A haitiana Sibylle, que é chegada num vudu, prometeu espetar em locais estratégicos quem quer que venha incomodar a essa elevada alma.

A inimitável portuguesa Carminda, psicóloga e professora de línguas, inaugurando a lingerie roxa que ganhou de Natal, com seus olhos argutos leu e releu a mensagem, para ao final observar, calmamente, que a Virtuosa pode ter alguma obsessão, em sonhos, por formas pontiagudas, talvez por gemidos e gritos, devido ao pontão de exclamação grande e bem duro, e este bem duro provocou risos lascivos nas parceiras, com aquele pingo na ponta, e que os prefere, ao ponto e ao pingo, em início de frase em espanhol (alô, moscovitas e bakunenses: para cima), mas são apenas fálicas conjecturas, esse pessoal de psicologia não bate muito bem, parecem com os loucos do botequim, com a ressalva de que isso de loucos é como os chamamos nosotros, os plebeus de vistas curtas e orelhas longas, ao toparmos com espíritos despreendidos de frívolos sentimentos terrenos, esses doidos que, no fundo de eu, desconfio enxergarem longe, como dizia o Freire, o psiquiatra anarquista, amado escritor, amigo que caiu fora em 2008: sem tesão não há solução.

Bem, após uma década de recados de pontudos incentivos, chegou o dia (quem mandou Salito bobão contar às suas mulheres): a nobre missivista despertou tanto interesse na comunidade desta palafita, mas tanto, que decidimos investigar a sua vida. Este "decidimos" significa que elas decidiram, eu obedeço, encrenca com 26 não mesmo.

O rastreamento da mensagem nos levou à (a crase vai por instinto) cidade de Bagé (RS). Para lá se deslocaram os detetives, todos gentis guaranys, bem armados, de automáticas e cultura, bem entendido, Salito é espada e não anda medindo os dedos dos seus companheiros, aqui ninguém manda salvo pelos mundo vivido, e nessa parte, modéstia à parte... Pronto, o chefe desta bagunça sou eu.

Eles não são como os artistinhas dos filminhos do invasor, para iludir analfas, é sem trucagem nem dublês: os gestos do oponente, o jeito de se mover, o esgar do rosto, os olhos, decidem se leva um abraço ou um tiro. Palavras são inúteis, só podem piorar. Foi fácil descobrir o seu nome, que não declinaremos devido ao seu evidente desejo de anonimato, porém adiantamos que é pomposo, tipo Madame de Pompadour, posto que evita o título, cassado no Brasil, de marquesa.

Vamos chamá-la de Anita G., para não ficar sem nome, e pelo recuerdo da heroína Anita Garibaldi, que as mentes de má índole mentem que tapou de chifres a cabeça de um humilde e desarmado sapateiro, o que seria prova inequívoca de que as mulheres gostavam, à época, de ricos mercenários, chamados de violentos assassinos pelos pobretões ciumentos da sua riqueza. Ainda que essa torpe calúnia seja difundida por maus historiadores, estes admitem que tudo está mudado, como prova a dignidade da culta viscondessa do Brasil, a senhora Andressa Cachoeira Tourinho, e nossos programas de televisão de pedros biais, gugus, faustões, ratinhos e eikes batistos do pápi. E nossos governos pedem ao povinho que entregue as poucas armas, enquanto os homens sérios da nação as tem estrangeiras. Isso é que é governo de gente séria. Homens sérios.

Ã..., onde andava?, ah, prosseguindo: mesmo com parcas informações, hoje Anita G. não ficará sem pai nem mãe. Ah, sobre Bagé, saibam, ó Anita e povo bageense, que mesmo sem nunca termos aí pisado, amamos essa cidade. Recordamos até que, por alguns minutos, fomos amigos do peito do pajé Telmo de Lima Freitas (AQUI), hoje com 80 anos bem vividos. Iremos atualizando este pequeno texto à (idem, instinto, agora fraco) medida que os dados forem chegando, pois hoje recebemos uma ninharia de informações, todas sobre o seu - dela, né - impecável esposo.

Segundo nossos investigadores, a Esposa Virtuosa vem a ser viúva de um marquês, este descendente de Juan Bu Lavalleja e Pierre Xo Armour, que, digamos, cruzaram com umas alemoas que chegaram falando espanhol e francês vindas não se sabe exatamente de onde, não obstante os cochichos da ralé, sugerindo que uma foi importada da Guiana francesa e outra da Argentina, onde labutavam em ambientes de cortinas carmim. Na origem, da Alemanha, supõe-se, a julgar pelos "ich" e "geld" que volta e meia deixavam escapar, e pela frase tantas vezes repetida pelo Sr. Bruno Contralouco, ao constatar a predominância ou grande número de indivíduos da mesma raça, mesmo que de japoneses: “Nunca vi tanto alemão como na Alemanha”.

Mariana de Rosário do Sul, pálida, avermelhou seus lindos olhos castanhos ao ouvir um dos sobrenomes, o Armour, lembrou-se de um inglês Swift, que teria estuprado uma sua tia-avó. Amparei-a dizendo educadamente esquece, meu amor, já morreu, esse filho da puta, calma. Morreu mas deixou um monte de descendentes, quero que eles morram "temem", respondeu já choramingando. Contornei, eu, hein, conheço as minhas changas, passei as mãos nos seus longos cabelos, que vão até a sambiqueira, dizendo: A gente não deve, e não é justo, Mariana querida, culpar os filhos pelos crimes dos pais. Ela empacou afirmando que eles não tinham mudado, os Swift, e desatou em pontos, digo, prantos de exclamação.

Puta que me pariu. As companheiras acorreram todas, abraçaram, fizeram chá de cidreira, e nada, continuava louca. Então mandei todo mundo calar a boca. Silêncio. Cedi, para contemporizar, prometendo matarmos alguns, quando aparecessem por aqui. Num fiozinho de voz chorado me respondeu, afastando timidamente os cabelos da frente dos seus olhos vermelhos, olhando com miúda esperança para o meu lado, beicinho tremendo: "Alguns não, todos...".

Sei. Entendo. Matar a todos, só isso. Quanta indulgência da índia da Serra do Caverá, deve ser o espírito natalino. É sempre assim, a gente dá o dedo e querem o braço, mas concordei: certo, tá bom, vou matar a todos. Snif, promete? Prometo. Jura? Juro. Ufa. Acalmei-a. Tomara que não me apareçam. 


Depois, o ambiente novamente alegre, música no ar, fiquei com aquilo: ver um amor chorar me deu uma coceira no polegar e no indicador, e pensei nos ferros. Ela não é china de rua, salvei-lhe a vida muito novinha, numa desgraça que é melhor não contar. Tomara Deus que eles me apareçam. Por via das dúvidas, vou descobrir por onde andam. Levantei o telefone.


Bueno, ã, voltando: as germânicas se banhavam solitas no rio Camaquã quando foram, digamos, interceptadas pelos nobres, que, diga-se, eram fãs de carteirinha de outro marquês, o de Sade. Eles surgiram na curva do rio, pretendiam adquirir terras na região e o percorriam a bordo de uma pequena embarcação, em busca de locais aprazíveis. As alemoas ficaram doidinhas para entrar na piroga, o que ficou para depois. Cada um pegou uma e se enfiaram no meio do mato, à procura de morangos silvestres maduros. Neste ponto recebemos sinais de fumaça de Palmeira das Missões, era o Itiberê Fagundes dos Santos, sugerindo que as tiangas queriam bater bagos no meio do mato. Hummm... bagos, uvas. Não nos consta que haja vinhedos em Bagé, mas vai saber, pode ser, Berê Branco, que já deve estar tinto de véio.


Voltando. Os frutos da interceptação, imagina-se consensual, não foram bem morangos silvestres, ultrapassaram a ingenuidade das mocinhas do limite com Dom Pedrito, mais ainda a mordacidade da indiada de Bagé, uma vez que no mato as coisas se complicam, ai aquela moita ali, olha o ananás na frente, que grande, madurão, se derramando, vou lamber e chupar antes de comer tudo... e as alemoas eram criativas, depois ainda queriam porque queriam experimentar a piroga no meio do rio. 

Resultado: um menino e uma menina, que um dia também interceptaram-se, de forma assemelhada, procurando borboletas nas clareiras da mata numa ensolarada manhã, ah, outubro, primavera, os vinhedos que não sabemos se existem lá parados, o ventinho sacudindo moitas, ai que borboleta gostosa. Desta última interceptação foi que surgiu o Marquês de Comichão, o ilustre marido da Esposa Virtuosa, agora Anita G. (nada de ponto G, olha o respeito com a dama, é bom alertar aos arriados do Botequim do Terguino Ferro, e sim G ponto). 

O Marquês de Comichão, um sujeito alto e desengonçado, fisionomia de drácula, que herdou dos avós materno e paterno as melhores características de moral e caráter, além da grana, era obviamente, como sói acontecer com os marqueses, podre de rico, porém, diferentemente da maioria dos exploradores do povo, não era cheio daquela pose artificial, prova cabal de egoísmo, brutalidade e ignorância ferradas na alma que nem PhD retira, como vemos todos os dias ao ouvirmos nossos supostos dirigentes da nação, a julgar não pelo que dizem, e sim pelo que fazem.

Ao contrário, era muito dado, atencioso e caritativo. Por essa razão, passava mais tempo na Chácara da Cristina do que em casa, o que chegou a despertar a suspeita, pelos invejosos de Bagé, de que fosse sócio daquele singelo recanto de ninfas desprotegidas, muitas "de menor". Isto para não falar das suas constantes viagens a Porto Alegre, em seus projetos humanitários na noite da capital. Morreu de congestão, o insigne e atlético benfeitor, no dia em que distraiu-se e meteu-se a praticar, ensinando as cortesãs, severos exercícios físicos, após um lauto jantar na residência da Condessa Carmen, da rua Olavo Bilac. Morreu sem ler o telegrama da Esposa, recebido há dias, que dizia que os empregados não recebiam há meses e que já tinha vendido as jóias para lhes conceder vales-alimentação.

Uma observação desnecessária, mas que se mostra importante ao lembrarmos que entre os trilhões de leitores deste blog (de Bagé duas pessoas acessaram) há aqueles que nunca jogaram cartas até o amanhecer, nem sabem que diabo de cortina carmim é aquela que o espantado falou, se cantar Cada parente, cada amigo era um ladrão, me abandonaram e roubaram o que amei... o sujeito pode pensar esse rock não conheço. Então: o nome Comichão é falso, pombas, pois se déssemos o nome verdadeiro cairia a casa da Anita G. 

E diz-se Comichão de novo pela malvadeza alheia, as más línguas, detestamos entrar nessa parte do mato, pombas, mas é que alguns invejosos de Bagé e cidades vizinhas, sempre eles, os invejosos, sussurravam que o homem tinha coceirinhas num lugar que na época não era apropriado, que era mentalista, mágico, fazia cobra desaparecer, engolia, fazia miséria, tinha recuerdos ao contrário daquele ananás grande, durão, molhado na ponta, daí suas viagens e tal, tudo calúnia, certamente, eta discriminação, e mais claro que isto não podemos ser, sob pena de sermos taxados de... sinceros. Isso dá cadeia. Se inventássemos de dizer que o homem era gremista, aí sim, fusfugaria tudo.

(Olha o direito autoral: O verbo fusfugar é invenção de Camila da Praia, parece fazer e correr, ou só fugir, mas não, é fusfugar e isso diz tudo na doce inocência dos 12 anos da inventora, que um dia se apertou, olhinhos arregalados, para dizer que duas pessoas, João e Maria, estavam sifu lá no quarto e saiu assim, estavam se fusfugando)

Temos que explicar tudo, cansa, ufa. Vamos lá saber se o cara, o Comichão, não o João, que já sabemos que amava a Maria, andava de ré ou se era colorado, até aí os investigadores não foram, mas pelos sinais era gremista com certeza, diz o guarany albino de Palmeira das Missões. Ora, vai te fusfugar, daqui a pouco falará mal da hinchada do Peñarol, e aí não vai dar certo.

Sobre a marquesa Anita G., que é o que no momento nos interessa, o cognome adotado diz tudo: Esposa Virtuosa. Modelo de pudor e castidade. Em agradecimento aos seus conselhos a palafita lhe dedica uma música antiga que o finado marquês adorava, pedia que a tocassem todas as noites na Chácara da Cristina. Com um dos parceiros dos devaneios noturnos do marquês, que em suas idas ao Rio de Janeiro ia sempre assisti-lo: o gaúcho de Santana do Livramento, Nelson Gonçalves, na inspirada e inocente composição de Adelino Moreira.

Salito, pessoalmente, isto é, eu, agradeço com fé no amanhã, pois odeio lupanares e trás de moitas, por ter vivido em ambos na tenra idade sem ter para onde correr, as esposas sabem disso, e elas, que já eram pacienciosas comigo, ficaram mais.
https://www.youtube.com/watch?v=q4LJtrolW60

viernes, 28 de diciembre de 2012

Da turminha da Madame Min, n'A Charge do Dias

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Os boêmios escolheram as seguintes obras:

Aroeira, de O Dia (Rio de Janeiro, RJ).




E Amarildo, da Gazeta Online (Vitória, ES).




Leilinha ficou com o Duke, de O Tempo (Belo Horizonte, MG).
 
 

 
 
 
(A coluna A Charge do Dias leva esse título pelo seu idealizador, o mestre Adolfo Dias Savchenko, que um belo dia se mandou para a Argentina, onde vive muito bem. Sucedeu-o na coordenação a jovem Leila Ferro, filha do Terguino, quando os boêmios amarelaram na hora de assumir o encargo. Antes eram dois butecos, o Beco do Oitavo e o Botequim do Terguino, que há poucos meses se..., bem..., se fundiram (veja AQUI), face a dívidas com o sistema agiotário. O novo bar manteve o nome de um dos butecos: por sorteio ficou Botequim do Terguino, agora propriedade dos ex-endividados António Portuga e Terguino Ferro)

jueves, 27 de diciembre de 2012

Forno Alegre, n'A Charge do Dias

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A turma do botequim está no litoral, porém hoje Lúcio reativou o notibuc. Para compensar, vieram em dose dupla: quatro obras pelos malandrões e duas pela Leilinha. Primeiro os boêmios:
 
Iotti, de Zero Hora (Porto Alegre, RS). Os amigos, bebendo cervejinhas geladas à beira-mar, souberam dos 47º C registrados no dia de Natal, às 4 da tarde no centro da  capital.
 
 
 
Amâncio, de O Jornal de Hoje (Natal, RN).
 
 
 
Newton Silva (Fortaleza, CE).
 
 
 
E Aroeira, de O Dia (Rio de Janeiro, RJ).
 
 
 
 
 
Leilinha Ferro ficou com o Erasmo, do Jornal de Piracicaba (Piracicaba, SP).
 
 
 
 
E com o Atorres, do Diário do Pará (Belém, PA).
 
 
 
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(A coluna A Charge do Dias leva esse título pelo seu idealizador, o mestre Adolfo Dias Savchenko, que um belo dia se mandou para a Argentina, onde vive muito bem. Sucedeu-o na coordenação a jovem Leila Ferro, filha do Terguino, quando os boêmios amarelaram na hora de assumir o encargo. Antes eram dois butecos, o Beco do Oitavo e o Botequim do Terguino, que há poucos meses se..., bem..., se fundiram (veja AQUI), face a dívidas com o sistema agiotário, como eles dizem. O novo bar manteve o nome de um dos butecos: por sorteio ficou Botequim do Terguino, agora propriedade dos ex-endividados António Portuga e Terguino Ferro)

Dez anos, êxitos e autocrítica

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Por Valdo Cruz*, na Folha.


O PT completa, neste final de 2012, dez anos no poder - oito de Lula e dois de Dilma Rousseff no Palácio do Planalto.
 
Período de avanços inegáveis, especialmente na área social, com redução das desigualdades e emersão de nova classe média. Além da manutenção da estabilidade econômica, que muita gente achava que o PT jogaria pelos ares.
 
Mas também foi um período em que o partido revelou-se mais do que igual aos demais, loteando o governo entre amigos e aliados e com filiados flagrados em casos de corrupção.
 
Para que os petistas não digam que somos injustos, fiquemos com as palavras de um deles. Em entrevista ao jornalista Kennedy Alencar, o ministro Gilberto Carvalho listou êxitos sociais e econômicos do petismo, mas não deixou de fazer uma sincera autocrítica sobre o PT no poder.
 
"É muito doloroso para nós vermos companheiros nossos que foram se enriquecendo ao longo desses anos", disse o ministro de Dilma e amigo de Lula. Declaração grave vinda de assessor tão próximo do poder. Só faltou citar os nomes dos companheiros - o que, convenhamos, seria sinceridade demais.
 
Para ele, petistas foram tomados pela "vaidade" e pela "arrogância". Reconheceu ainda que houve, de fato, casos de corrupção. A diferença, diz, é que houve punição.
 
Gilberto foi além. Admitiu falhas na ocupação de cargos públicos no período petista. Citou o caso das agências reguladoras. "Houve um critério de baixa exigência [nas indicações], falhou o filtro."
 
A despeito dos erros e falhas do PT nesta década, que não foram poucos, o governo Dilma segue muito bem avaliado. E as pesquisas apontam a própria Dilma e o ex-presidente Lula como os dois candidatos mais fortes para a sucessão de 2014.
 
Sinal de que, no balanço de perdas e ganhos, a população ainda enxerga mais pontos positivos do que negativos no PT. E de profunda incompetência da oposição.
 
 

Valdo CruzValdo Cruz é repórter especial da Folha e colunista da Folha.com. Cobre os bastidores do mundo da política e da economia em Brasília. Escreve às terças-feiras no site da Folha.

lunes, 24 de diciembre de 2012

Eu pensei que todo mundo fosse filho de Papai Noel

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Passou.

E passei por Carlos Galhardo, ouvi. Maravilha.

Mas havia falado em Maria.

Então vai: Assis Valente, na voz de Maria de Betânia.


Boas Festas, Assis Valente

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Assis Valente morreu de solidão, numa manhã de março de 1958.

Despediu-se da vida por iniciativa própria, cumprindo a promessa que fizera mais de uma vez aos conhecidos em noites de trago, amigos não tinha. Na época, como hoje, as pessoas fingem ser amigas, se você estiver bem-vestido e com gaita no bolso. Assis via isso. Ele era amigo de todos, era gritar e estou lá.

De tanto que os conhecia, a essa malta nojenta, não esperava por eles. E ele tinha o grave defeito de ser talentoso, e, bem, vocês sabem o que isso provoca em almas brutas, mesmo em embaixadores, um concursinho no Rio Branco, vá se saber as marcas das cartas.

Assis Valente morreu, já se vão mais de cinco décadas, mas, no Natal, ele está mais vivo do que nunca, na música de sua autoria que os corais das lojas e xópins interpretam, ouvi no penúltimo fim de semana na rua, depois no Mercado Público, eu que odeio xópins, a prova cabal da falência dos homens de bem, da covardia, antro de covardes. Logo mais as estações de rádio, propriedades mal-havidas de políticos, começaram a tocar. Os espertalhões usam José Assis Valente.

Todo ano é assim.

Música natalina, genuinamente brasileira, de versos tristes e melodia alegre, um aparente paradoxo, como sugeriu Ricardo Albin. Paradoxo para ele, de se supor que não sabe o que é passar fome em Natal, andando pela rua e aspirando o cheiro de penosas assadas, a pele da barriga quase encostando nas costas, um buraco.

“Eu pensei que todo mundo/ fosse filho de Papai Noel/ E assim felicidade/ Eu pensei que fosse uma/ Brincadeira de papel/ Já faz tempo que eu pedi / Mas o meu Papai Noel não vem/ Com certeza já morreu/ Ou então felicidade/ É brinquedo que não tem”.

Assis Valente nasceu em Santo Amaro (BA), foi roubado dos pais biológicos e já adolescente vagou pelo interior da Bahia com o elenco de um circo; em Salvador trabalhou como farmacêutico e foi se virando, até que um dia se encontrou com a música.

Tornou-se, já morando no Rio de Janeiro, um dos maiores compositores brasileiros de todos os tempos; algumas de suas criações eternizadas, a exemplo da música natalina de que hoje falamos, como Brasil Pandeiro e Camisa Listrada, para citar as de maior chamamento popular.

O seu talento não reverteu em grana. Não conseguiu viver da música. Não era gatuno, o oposto: um mão-aberta, não podia ver uma criança com fome na rua, pagava comida, dava a roupa. Contumaz de chegar em casa sem camisa e sem sapatos. Enquanto alguns de seus intérpretes enriqueceram, Carmen Miranda, aquela..., aquela... (faltou-me a palavra, ainda bem), por exemplo.

Um gênio doce, sem maldade. Aos olhares do mundo, só um bobo de quem poderiam se aproveitar. A maldade trabalha durante a noite. A ambição quer sangue.

E a inveja dos que o cercavam... sai da frente. Inveja da sua alma boa, isso incomoda aos chacais. Cara bom vocês sabem: é o cara que é bom mesmo quando ninguém está olhando. Tornar-se como ele? Impossível. Então, fazer o quê?

Matá-lo. Sai daqui, a cada vez que te vejo me lembro que sou um reles chacal. Não quero mais te ver.

Assis Valente viveu afogado em dívidas; na sua carta de despedida pedia que o público comprasse seu novo disco, Lamento, e, pior, pedia a Ary Barroso que pagasse os aluguéis atrasados. Logo quem, o Ary gritão "penso só em mim".

(Isso quem diz, de pedir, é Ricardo Cravo Albin. O gritão do Ary eu assumo)

Não disse mais nada: “Vou parar de escrever, pois estou chorando de saudade de todos, e de tudo”. (Ricardo, sem fonte)

Seu "bom amigo", o embaixador Paschoal Carlos Magno, em croniqueta no semanário Politika, do notório Sebastião Nery, na edição de 26/6/1972, lembrou a aflição do compositor, uma tristeza que tinha raízes mais profundas do que o sentimento fraterno poderia imaginar. (fonte: Ricardo Cravo Albin, de novo)

“Era mais de meia-noite. Eu morava em Santa Teresa. O telefone furava o silêncio (bom o estilo, o telefone não corta mais, agora fura). Era Assis Valente que me pedia socorro. Precisava com urgência me ver, àquela hora mesmo... Assim que entrou na sala de nossa casa parecia mais calmo. Olhou, como era seu costume, para os santos antigos, os oratórios e para o quadro de minha mãe, pintado por Rescala. Esperava que me revelasse alguma coisa muito séria que o afligia”. (idem)

E o grande artista teria desabafado em seguida: “Toda vez que me sinto perdido, desesperado, venho para sua casa. Sempre foi assim. Eu vivo obcecado pela morte, um dia me mato doutor, um dia me mato”. (de novo, RCAlbin, pela voz do outro, o Paschoal)

Paschoalzinho prossegue: “Nunca me contava as razões de seu desespero. Fui buscar água. Ao voltar o encontrei chorando, com o rosto escondido entre as mãos abertas. Não bebeu a água que havia pedido. Então me deu um abraço grande e falou: me desculpe doutor, me desculpe. Estou melhor. Esta noite não me mato mais. Vi o senhor, vi o retrato de sua mãe. Ainda tem muita gente boa neste mundo”. (ibidem)

Um amigo de verdade faz falta. Não amigos de mentiras de redes sociais de egoístas. A voz de uma só pessoa, no caso o tal embaixador, é pouco, Ricardo, não que duvidemos da sua franqueza e honestidade, mas não é assim que funciona. Ai o oratório da mami... Amigo chega abrindo a geladeira, ou exclamando "Bah, meu, nem te conto, me dá um uísque primeiro",  tem cama e comida. Conversa mole, seu Ricardo.

Estudiosos de Berlim constataram: homens com cuca além de seu tempo tendem à solidão, falar com quem neste mundinho? No caso do Assis, com a banana Miranda? Faça-me o favor. Com os obcecados por dinheiro, "amigos"? Um lixo só. Como ainda ocorre hoje.

Algumas semanas após o suposto episódio, no dia 6 de março de 1958, Assis Valente se matou, ao amanhecer. Pulamos os detalhes, Deus o tenha. Noite de solidão. A solidão dos gênios, mas este um gênio amoroso, um anjo, sem amigos e sem mãe a quem gritar. Papai Noel, naquele momento, estava ocupado com alguns políticos no Catete.

- Certamente ele me telefonou de madrugada - supôs Paschoal - na certa ele me chamou ao telefone muitas e muitas vezes, como costumava fazer, eu tinha tomado remédio e não acordei. Sozinho, sem ter seu irmão mais velho para amparar-lhe a queda, matou-se. (de novo o embaixador "amigão", por Ricardo Cravo Albin).

Que decepção, Ricardo! Isso é um insulto!

Mas que "certamente", cara-pálida?

Passo a colocar em dúvida tudo o que tem no seu dicionário. Já coloquei no caso do seu Lindomar Castilho, um crime cometido pelo seu dicionário da MPB, uma vileza sem tamanho.

Fosse amigo da casa, teria dito que no calor da paixão, uma vagaba e um primo traidor tiraram o homem do sério, em momento ruim. Não estamos aqui a dizer que são ou foram vagabas e vagabos, estamos dizendo somente que o papel aceita tudo.

Papai Noel naquele momento estava dividindo os lucros com os políticos donos de xópins, talvez estendendo algum para a cultura nacional dos "ricos, e o povo desgraçado, feito cordeiro, com míngua no bolso, comprava sei lá o quê para homenagear Jesus Cristo do mercado d'eles.

O mercado que Jesus teria destruído, segundo a estória contada por eles mesmos, com o corpo: socos e pontapés.

E riam, os malditos, ao som de Boas Festas, do Assis Valente.

Clicando no nome, acima, terá o passante uma ideia de como Carmen Miranda é até hoje elevada pelas "grobos" da vida, e uma ponta de entendimento do fim do Valente.

Tentaram, e tentam, incansavelmente, nos incutir no cérebro o jingobel, jingobel, não tem mais papel... porém a alma do povo brasileiro arde, treme, quando ouve o legado maravilhoso de Assis Valente.

Que mundo.


E ao procurar uma gravação desato a chorar, assustando o Gatolino e quiçá os vizinhos, quem mandou escrever essas bobagens maiores que vida e morte, que são abandono e desespero, pela futilidade dos donos de tudo, os bichos que mandam em tudo, roubam tudo, sem saber por que diabos estão metidos nesta Terra.

Esbarro na Maria de Betânia, a cantora baiana, depois em muitas gravações à capela, a seguir orquestras, e enxergando sob um dilúvio que desce nos meus olhos, fico, contrariado, com o Pato Fu, uma coisa muito esquisita, mas que me parece, neste momento, menos triste e que não vai fazer mais ninguém chorar.