lunes, 20 de octubre de 2014

Pai, estou chegando agora

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O samba é assexuado, ai que samba, de homens para mulheres, de mulheres para homens, mulheres para mulheres, homens para homens. Almas para almas. Eu dormia numa rede cearense, lá perto da Praia do Futuro, e sonhei, me senti culpado. Fui culpado. Larguei tudo e vim para o Sul.

Cantei para o meu pai. Talvez o velho gostasse mais de um tango, ou de uma milonga, mas eu vinha da boemia... Ele entendeu... sei que sim, daquela vez em que lembro bem.

Da vez em que sozinho num entardecer de verão, quase sete da tarde ou noite, eu não achava o túmulo do pai, eu fui lá fazer não sei o quê, se ele estava morto. E não achava, não sabia o número, o escritório do cemitério já fechado. Chegado de viagem direto.

Mas queria achar, depois de cinco horas de ônibus, outras tantas antes de avião desde o Ceará, então me deu uma coisa, fechei os olhos e saí andando naquele cemitério cheio de percalços, um descidão, caí muitas vezes e fui indo, me machuquei numa queda pior, me arrastei, levantei, mas não abri os olhos. e segui feito bêbedo, bailando por entre cruzes, tropeçando, pedindo desculpas e cego voltando e as colocando em pé novamente, pelo tato, ao voltar e arrumar sentindo que os seres ali depositados ficaram meus amigos, sonho meu, como amigos, mas sentia que diziam vai em frente, nem precisa arrumar cruz velha, não mesmo, jamais, com as mãos e unhas cheias de terra eu arrumava.

Até que parei, é aqui, abri os olhos e estava na frente do seu tumulozinho. Nervoso depois contei às minhas irmãs e elas me olharam duvidosas, eu também estranharia, mas aconteceu, e sei que não sou bruxo, não quero ser, ninguém é. Mas aconteceu.

Hoje meu amigo Paulo Vicente entendeu o que falei, entenderia isso que falei acima se fosse meu amigo na época, porque ele tem o paizinho, e vai cuidar, abre mão de Porto Alegre pelo ser que, com a mãezinha que já partiu, o cuidou.

Almas. Suponho que Paulo pense algo semelhante.

Eu cantei em frente ao tumulozinho, e os funcionários do lugar não me estranharam quando vieram atraídos pela canção, ao contrário, vieram dar abraços, toques de mãos, mãos acariciando meus cabelos de passagem, não fique nervoso guri. Todos homens e mulheres feitas, de algum modo me entenderam. Então lembrei que o pai era um cara bom, simples, de dividir o pouco que tinha, e repeti a canção, agora dedicada a cruz do meu pai e a todas as cruzes que me trouxeram aqui, e pedi perdão de joelhos por não dizer seus nomes que não sabia.

Ninguém pensou que eu era louco, pai, como me achavam em outros lugares.

E desta vez os funcionários cantaram juntos, passava mais de duas horas que deveriam ter fechado o lugar, era nove e meia da noite.

Outro dia volto. Torno a lhe pedir desculpas pela incompreensão, eu era uma criança. Perdão. 

Estou chegando agora, pai, e não saio mais.

jueves, 16 de octubre de 2014

Amigos para siempre

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Hoje li que o reflexo das eleições no facebook é desastroso: é um tal de eu te excluo, tu me excluis, nós nos excluímos... O mesmo para o verbo "bloquear".

Não acho que a palavra "desastroso" seja adequada, pra mim é muito normal. Note-se que levo muito a sério a palavra "amigo", se o idealizador do espaço quisesse "conhecido" assim teria chamado aos viventes que adicionamos em nossas vidas.

Como começamos uma amizade? Alguém nos apresenta a alguém em um bar, num aniversário, em qualquer ambiente social, e começamos a conhecer a pessoa, e ela a nós, com nítida vontade de ser amigo, isto é, começo dando nota dez para a pessoa, que pode se manter ou diminuir à medida que a conheço.

Isso para desconhecidos, mas também para pessoas que não vejo há séculos, amigos de infância por exemplo. Amigos não, colegas de infância, que a lembrança da infância nos faz pensar em amigos. Amigos eram o Pato, Ivens e outros, que não por acaso eram petistas ou comunas de carteirinha, fundadores do PT os manos citados, eu era PCB na infância.

Aí que de repente me surpreendo com um amigo novo, ou de infância, defendendo a ditadura militar, por exemplo. Como ele não é analfabeto, obviamente que sabe o que se passava nos porões da Redentora. Francamente, meu amigo jamais será, daí que simplesmente o excluo do meu rol, nada mais normal. Sem raiva, naquela de fica na tua que eu fico na minha, camarada. Do mesmo modo que passaria a evitar aquele que me foi apresentado num bar ou num aniversário e no seguimento se mostrasse meu oposto, com características que desprezo.

Perdi uns cinquenta, aliás, perdi não, pois nunca os tive. Alguns, confesso, com o coração sangrando de decepção. Porém ganhei setenta.

E assim, ao fim e ao cabo, os que restarem e eu, após nos conhecermos, a cada dia mais, seremos amigos para sempre. Eles serão "dos meus", e eu serei "dos deles". Quando mencionar os seus nomes, ou eles mencionarem o meu, todos diremos com alegria e orgulho: "Esse é dos nossos!".

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Post Scriptum: Já contei isto em algum lugar, mas vem a propósito. O maior elogio que recebi na minha vida aconteceu no bar Carpe Diem, em Brasília. Estava eu e a Dora Kramer (Doramaria Tavares de Lima Kramer, a Dorucha que não é de esquerda, mais pra centro-direita, mas sempre me respeitou, sempre teve honestidade intelectual) e umas 20 mulheres de imprensa, JB, Globo News, Band, etc. 

Os machos eu mandava sentar longe, lá do outro lado do bar, eu de chapéu sou perigoso, e como ninguém queria levar um tiro, obedeciam. Uma festa: eu no meio do mulheril declamando Quintana (entre outras: "Ó, senhora minha, eu vos peço, permitais, que eu coloque aquele com que mijo, naquela com que vós mijais"), elas lá os seus, e cantando mpb, fomos do meio-dia de um sábado até a meia-noite, quebramos o boteco, tiveram que buscar mais barris de chope, foi quando provei às amigas e ao bar inteiro que Nei Lisboa dava de dez a zero no Caetano, ao cantar "Deixa o bicho". 

À meia-noite elas cochichavam antes de sair, e nomearam Carmen Kozak para falar em nome de todas. O discurso foi breve, Carmen se levantou, respirou fundo, disse o básico de prazer e tal pelo dia de hoje e exclamou o recado que os cochichos combinaram: "Sala, tu é das nossas!" O burraldo aqui ficou tão emocionado que esqueceu de convidá-las, todas juntas, para um motel.
PS2: Não briguei com ninguém, só sorrisos. Apenas os machos que mandei se sumirem, aqueles babacas. Na verdade não pensava em engrossar, mas o primeiro deles se chegou metido a engraçadinho, a maldade exposta, aí... Lembrei, ele em pé diante das mulheres, procurando cadeira pra puxar naquele mundão de mesas juntas: "Dora, esgotou o estoque de Brasília e está importando gaúcho?". Teve sorte de não levar o tiro ali mesmo, por abobado e porque sou calmo, a Dora era apenas amiga. Olhei sério pro sujeito e disse: "Vou contar até dez, se não sumir morre agora". E comecei: um, sete,...

Ele viu que eu era ruim de fazer contas, perigava do sete cair no dez, e se fugou.
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domingo, 12 de octubre de 2014

E a nave vai


Felizes somos nós, que as temos, em todas as formas, como sobrinhas, como adotadas, como supostamente próprias, do jeito que Deus quiser, desde que tenhamos amor pelas criaturas.

Dia de Criança é todos os dias.

Às minhas meus sentimentos passarão despercebidos, mas elas olharão e ouvirão um dia, pois a elas vai uma música, já nem sei se posso, afinal talvez não seja do dominador ingreis, ah, deixa pra lá, vou botar sim.

Salvo o início, vai meio fora de ordem de nascimento, sei mas agora não vejo razão alguma para me esforçar, lembrar, andei bebendo.

Carmen Matamoros, Maria Helena Mendonça, Regina Lemos, VivIane Moreira, Karina Martins, Dione de Jesus, Jucilene Quiroga, Sônia Sem Nome, Catarina dos Santos, Maria Sem Nome, Luciana Dal Vitta, Vilma Conceição, Zilda Rodrigues, Lunera Paraguas, Lunera Aflición, Julia de Rosário, Carolina Herrera, Natividad Ferreira, Silvia da Silveira, Libertad del Rio, meu deus, onde botei as certidões das outras meninas, deixei na outra caixa?

Todas com o sobrenome Luna. Se não fui o pai que deveria ter sido, jamais deixei faltar comida, tentei ensina-lás a viver, a dançar rindo com o paizinho o bolero La Barca, troquei suas roupinhas, passei paninho úmido nas partes, cresceram, falei para se cuidarem com malandrinhos malcriados, comprei livros, música boa, ah, Mozart, e botei a cara e o corpo por elas com os olhos arregalados quando preciso, de punhal ou pau de fogo na mão. Dei tudo, fiz o que pude. 

Todas, negras, morenas, malaias, brancas, me saíram e eu vi ao nascer, de olho azul. Gen recessivo, seu moço de olhos castanhos, me disse uma cientista quando uma duvidosa mulher - dos seus atos - foi atrás para saber: todas minhas, DNA. Que pouco me importava, eu criei, seriam minhas ainda que o exame dissesse outra coisa.

Tem gente que pensa que é, mas não é o cara, não se pode tudo, nossos filhos não são nossos, como disse o outro.

Alguém da família, volante que encarreguei, me disse que elas, todas, em suas diferentes vivendas, choram ao ouvir o bolero. Lembram de mim.

Mal sabem, as crianças, que foram elas que me salvaram a vida.


Obrigado, minhas filhas.

(Não acho fotos... opa, achei duas)

Natividad Ferreira, doce amor.


E Carolina Herrera, esta num desfile em Saigon, peguei de uma revista quando bati os olhos, epa, está é minha.


miércoles, 1 de octubre de 2014

Bruno Contralouco e as eleições, n'A Charge do Dias

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Terça à noitinha, dia 30 de setembro, depois de longo tempo sumido apareci no Botequim do Terguino, no Beco do Oitavo, para tomar umas cangibrinas e confraternizar com a turma. Uma beleza: Salito pra cá, Salito pra lá, abraços e beijicos das mulheres, abraços e tapas nas costas dos marmanjos, eta vida boa.

Conto como se lá estivesse agora, foi assim:

Ao chegar topo com Jezebel do Cpers, Ain Cruz Alta, Aristarco de Serraria, Clóvis Baixo, Chupim da Tristeza, Gustavo Moscão, Janjão do Bongô, Jucão da Maresia, Jussara do Moscão, Lorildo de Guajuviras, Lucas da Azenha, Luciano Peregrino, Marquito Açafrão, Mirtinha, Nicolau Gaiola, Silvana Maresia, Tigran Gdanski, Walter Schiru, Wilson Schu e Zilá do Chupim em mesas reunidas. Falta muita gente ainda. Wilson Schu me sussurra que Bruno Contralouco pela manhã teve problemas no Mercado Público, o pessoal aguarda pela chegada do advogado da confraria, o notável boêmio Carlinhos Adeva, para saber dos detalhes, pois parece que enjaularam o ídolo da gurizada do bairro.

Nestas alturas do campeonato claro que falavam das eleições. Aristarco de Serraria interrompeu a sua fala para os abraços da minha chegada, o tempo de arrastar uma cadeira, amenidades e tal, depois concluiu o seu raciocínio sobre a política de coalizão de pássaros, entre estes alguns urubus, com ratos. Belo raciocínio do filósofo das ruas. Tal a saudade do ambiente que meu primeiro liso de dyabla verde (o absinto caseiro, ou pinga em conserva com losna, ó leitores) entrou num tiro só, taiaiau.

Tigran Gdanski toma a palavra:

- Sabe, gente, depois que o Contralouco destruiu a tevê nova na semana passada, fiquei louco de curiosidade de olhar o horário político, mas ainda não tive peito para assistir, receio que me dê um treco, não tenho mais vinte anos, ninguém está livre de um AVC...".

Com os cenhos franzidos todos desaconselham cometer essa temeridade. Aí eu soube que além da antiga, quando arrebentou a coitada quebrando junto duas cadeiras do bar, o Contralouco destruiu a que a substituiu, esta das caras, uma enorme magricela chamada de Full HD, quando apareceu a fundamentalista - no dizer deles - Marina na tela. 

A turma já fez outra vaquinha e encomendou uma tevê maior ainda, de plasma ou algo assim, dividindo o preço por umas trinta ou quarenta almas não dói no bolso. O Contra disse que pagava sozinho, mas o pessoal não aceitou sob o argumento de que naquele dia ele fez o que todos queriam fazer. Combinaram que com a próxima não tem choro: somente será ligada para ver futebol, pois temem que apareça a Ana Amélia ou o Nazier na tela, aí já viu, o índio destrói de novo. Se bem que o sarcástico Clóvis Baixo pediu ao Contra para na próxima ir em casa - mora perto - pegar o 38 e dar uns tiros no aparelho, economizaria cadeiras.

Os camaradas seguem falando mal dos políticos. Tigran Gdanski pede a atenção e lê algo no jornal: a Bolsa de Valores tornou a cair diante das pesquisas a favor da Dilma. Então ele faz analogia com um dito certeiro e irrepreensível do Brizola, que falava que se a Globo é a favor, a gente é contra; se ela é contra, a gente é a favor, para dizer o mesmo quanto aos especuladores, picaretas e parasitas do mercado de capitais, isto é, os filhos da puta.

É cedo ainda, a noite avança, conversas paralelas, piadas, risos, mas percebo no ar a latente preocupação: todos sentem que o Contralouco obviamente teve problemas com os meganhas, isso é do seu jaez, como diria a boêmia Dulcinéia de Cervantes. Renovam as bebidas.

E trago não falta, como já expliquei em outra oportunidade. É um tal de "merengue", “veneno”, "repolhuda", "pré-sal", "fada verde" (o mesmo que dyabla verde), “rabo de galo”, “pau na coxa” (eca, coisa mais nojenta), "petróleo", “trigo velho” e por aí vai. Por exemplo, se o boêmio pede: "Salta um petróleo!", é uísque vagabo, o cara anda mal dos pilas. Se diz "Salta um pré-sal!", aí é mais embaixo, uísque mais caro. Petróleo e Pré-sal são invenções de Ivorix Getuliano Piazza, um italiano famoso como só, que volta e meia aparece para rever os amigos que um dia. O lendário boêmio parou com a bebida e baixou a bola depois que recebeu uma longa carta do seu figueiredo, entregue pelo médico, com graves ameaças de retaliação caso prosseguisse ingerindo litros e litros de groselha.

Lá pelas nove e meia da noite eis que enfim adentra no botequim o Bruno Contralouco, acompanhado de Carlinhos Adeva e do honorável João da Noite. O gaúcho entrou cantando: “É primavera, te amo...”. O pessoal quietinho em suas mesas, esperando o que o maluco iria dizer.

- Bah, não pensem que eu tava preso, o Carlinhos me tirou das garras da justa. Fiquei só quatro horas dentro daquela delegacia de merda, só não apareci aqui antes porque arranjei outra enfermeira do Pronto Socorro, a Daisy, ela me disse que o seu nome quer dizer Primavera em inglês, e é a primavera em pessoa, ela que me fez os curativos e depois fomos pra casa dela.

Bateu os olhos em mim, que estava meio encoberto pelo Janjão que é um armário, e correu para o meu lado me dar um abraço, dizendo:

- Bah, Salito, me disseram que tu tava empernado no Rio de Janeiro!

Gustavo Moscão, que como o Contra se irrita fácil, atropela a conversa, quer saber que diabos houve no Mercado Público pela manhã. Silêncio no bar, Bruno Contralouco emborca metade do seu pré-sal e começa a narrar a aventura. João da Noite e Carlinhos Adeva sorriem complacentes.

- Foi nada, aqueles babacas exageram as coisas. Eu fui jogar na Quina naquela lotérica da entrada e comprar charque na Banca Central, que acabei não comprando. Foi entrar no Largo Glênio Peres e voaram uns cem vagabundos em cima de mim, com papo furado e empurrando santinhos. Para o primeiro que quis me enfiar uma propaganda de um tal Onyx eu disse: “Vai tomar no teu cu”.

A Dra. Jezebel do Cpers chacoalha a cabeça e olha para o João da Noite com ar de quem diz: “O bicho segue o mesmo, não tem solução”. 

- Gostei da resposta que dei e fui distribuindo vai tomar no teu cu até o portão principal do Mercado, quando entrei na fila da lotérica. Tava pensando em quebrar a cara de alguns ali no Largo, preciso alcançar o Moscão, que já surrou uns cem cabos eleitorais desde julho, eu peguei só uns oitenta, mas eles eram muitos, e tinha milico pra todo lado. Cabo eleitoral grandudo, não os coitados que eles pagam para entregar papelzinho.

Gustavo Moscão fica todo pimpão por ter o seu feito lembrado, mas dá de ombros e acena com a mão, humildemente, a transmitir que foi cosa poca, acrescenta que até domingo pretende pegar mais uns vinte.

- Da fila da lotérica ouvi um discurso esganiçado muito vulgar de um elemento metido a interiorano, querendo poetizar um esperto mandalete da RBS para levar o povão no lero naquela de "semos igual a tu". Os berros do cara me incomodaram e gritei de lá: “Sai, puxa-saco de merda, vai dar pra quem te come!”. O cara ouviu e se enrolou, mas seguiu na lenga-lenga, acho que estavam gravando pra engambelar a massa no horário político, se é que pode passar maranduva. A fila andou e fiquei quieto, já tinha dito o que tinha que dizer. Pois não é que de repente os caras invadiram a lotérica, fotógrafos, filmadores, puxa-sacos e o próprio candidato? E o tal candidato vinha puxando assunto com os boca-moles como eu, um por um na fila. O cara da minha frente quase chupou o pau do sujeito, todo encantado, eta povinho bem desgraçado, aquilo terminou de me aborrecer. Quando veio em mim armei a maior cara feia que pude, o elemento me olhou, sentiu o drama, mas ainda ousou falar, político é foda: “O senhor já tem candidato?”. Fui cortês, não o mandei tomar no cu, afinal não veio me empurrando santinho, mas respondi: “Não é da tua conta, não te conheço, meu, que conversa é essa de vir tomando liberdades?”. O careca empalideceu e resolveu seguir seu caminho, sentiu que comigo só teria desgosto. Porém o puxa-saco esganiçado metido a declamador, que vinha na comitiva se fazendo de um popular, resolveu tomar as dores e disse: “Mas como tem gente mal-educada...”. Respondi tranquilo: “Mal-educado é o teu pai, filho da puta!”. Aí fechou o tempo. Enroscou o pelego quando meti o braço num milico, veio por trás e pensei que era um deles. Aí fudeu tudo, vieram uns dez e me algemaram. Enquanto me arrastavam para a viatura ainda tive tempo de gritar para aquele bando de abobados: “Vou de Olívio, otários, que não precisa se fingir de gaúcho!”.

A conversa segue, todos têm algo a perguntar ao herói, mentalmente me distancio. Pela janela vejo que cai uma chuva fina sobre o Beco do Oitavo. Propícia a recuerdos de uma morena... mas isto é impressão pessoal. Cícero do Pinho entra no Botequim se desculpando pela demora, logo desencapa o violão.

A noite de ontem acabou cedo, às três da manhã de hoje, pois muitos logo teriam que pegar no basquete. Na saideira como de praxe cantamos juntos “A volta do boêmio”. Ao final, quando chegamos no "É de mim que você gosta mais", o Bruno Contralouco emendou a mil: “É primavera, te amooooo”.


Sabendo-me de volta aos pagos, hoje os beberantes que não são chegados ao basquete, e não são poucos, se apressaram em mandar as charges que acabam de escolher. Arguindo que há muito a coluna sumiu, mandam quatro obras, três pelos cantineiros, mais a da coordenadora Leilinha Ferro, filha do Terguino. Aceito.

Aroeira, no Brasil Econômico. Nesta, informa Leilinha, os psicólogos de bar mandam dizer que está provado cientificamente que o sujeito que discrimina homossexuais tem lá suas razões, dentre estas uma bruta coceira num lugarzinho, mas como é um covarde preconceituoso sufoca o instinto e fica julgando e criticando quem não o é. 



Mariano.

Myrria, de A Crítica (Manaus).



E miss Leilinha Ferro, a luz que ilumina os olhos dos camaradas, provocou muitos risos aqui na palafita, com o S. Salvador, do Estado de Minas.

A coluna A Charge do Dias leva esse título pelo seu idealizador, o mestre Adolfo Dias Savchenko, que um belo dia se mandou para a Argentina, onde vive muito bem. Sucedeu-o na coordenação a jovem Leila Ferro, filha do Terguino, quando os boêmios amarelaram na hora de assumir o encargo. Antes eram dois butecos, o Beco do Oitavo e o Botequim do Terguino, que..., bem..., se fundiram em 2012 (veja AQUI), face a dívidas com o sistema agiotário. O novo bar manteve o nome de um dos butecos: por sorteio ficou Botequim do Terguino, agora propriedade dos ex-endividados António Portuga e Terguino Ferro.
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