miércoles, 31 de julio de 2013

Em Roma com Francisco, n'A Charge do Dias

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Bom tarde, trilhões de amigos. Desde Gatumba (olhaí uma sugestão de nome, quando decidirem rebatizar Brasília), aqui no Burundi, recebi dezenas de e-mails cumprimentando o blog pela melhoria dos temas e pela qualidade do redator, visto que antes estava uma porcaria. 

Grato, o redator foi Luciano Peregrino, com o auxílio técnico de Leilinha Ferro, que substituíram o titular - este que vos fala, o das porcarias - direto do palco dos acontecimentos de Porto Alegre, isto é, do Botequim do Terguino. Ressalva, o boêmio, que quem ensaiou dar em cima da Marisa Monte foi o violeiro Cícero do Pinho, lá pelo quinto uísque. De nossa parte, no fim de semana tomamos um fogo daqueles em Copacabana, oportunidade em que deixei os últimos rabiscos neste espaço, possivelmente falando mal de Deus e todo mundo. Bem, de Deus creio que não, pelo que viria a seguir.

Domingo à noite já estávamos em outro espaço, pois pegamos uma carona do Francisco até a Itália. Esses nós de cremos e estávamos dão-se porque eu estava acompanhado de Carlito Dulcemano e Juanito Matabanquero, não gosto de viajar solito. Bem, o que bebe esse argentino, e o que conhece de piadas de padres, sai da frente. Lembram daquela da gostosa que pede carona ao padre que vem de bicicleta? Lembram sim: o padre responde senta aqui no varão, minha filha. Lá pelas tantas a oferecida diz, padre, notou que eu estou sem calcinha, ao que ele responde e você notou que a bicicleta não tem varão? Bah, rimos muito até das piadas velhas.

Descemos em Roma nos encostando uns aos outros para manter o equilíbrio. Tomamos as últimas em seus aposentos, ele abriu o que parecia ser um roupeiro e quase caí para trás, era a entrada para o que chamou de "minha pequena adega". Só de vinhos de Mendoza tinha umas mil garrafas. Tomamos umas cinco, cada um, com queijos e salames cortados numa tábua, e seguimos viagem, depois de muitos brindes de despedida, ele nos advertindo para tomarmos cuidado com a horda de tarados à saída. Só hoje a ressaca começa a ceder, com chás e frutos da terra.

Bem, segundo Luciano, o assunto dominante no bar segue sendo a condenação do soldado Manning. O rapaz foi acusado de alertar a Al Qaeda de que estava sendo caçada pelos americanos. Muito justo, ninguém sabia, nem a Al Qaeda, que estava sendo caçada. Boa parte do mundo democrático dos Estados Unidos respirou aliviada, o jovem escapou da pior acusação, que poderia resultar em prisão perpétua. Pelos demais "crimes" pode pegar 130 anos de cadeia, de novo justíssimo, é bem melhor que a perpétua, pois sabe-se que ele pretende viver muito, a conta é simples: tem 25 anos, cumpre 130 e sai com 155, vivendo até os 180 já estará de bom tamanho. Com essa o Snowden vai querer voltar correndo para ser julgado.

Conta também que o Gilberto Carvalho Voador disse que as emendas parlamentares não são "toma lá, dá cá", ao liberar emendas de 2 bi ao velho soneto. O sábio diz também que é mentira que os políticos são corruptos. Obviamente, quem seria o mal-intencionado que iria pensar diferente? Por causa de gente sincera como o Carvalho Voador é que o Brasil segue em frente, em ritmo de crescimento galopante e sem aquelas coisas de dinheiro em cueca que ocorrem aqui no Burundi.

O Contralouco segue o mesmo: ontem viajou para o Rio de Janeiro, visitar uma prima. Entrou no avião com uma faixa de "Ei, seu Delta Guardanapo, onde está o Amarildo?", pelo que foi ovacionado por passageiros e tripulantes, os últimos depois descolaram umas cervejinhas por conta do comandante. Já chegado, mal se instalou num boteco da Gustavo Sampaio (disse: daqui vejo a estátua do Ary Barroso) e já queria voltar, por telefone disse ao Aristarco que estava louco de peninha dos médicos de Porto Alegre, que estão em greve protestando pelos seus direitos, ameaçou chorar pela classe tão sofrida. 

Melhor que fique lá, disse depois Aristarco aos companheiros, aqui periga querer jogar uns molotovs no movimento. O mais provável é que se emborrache e acabe entrando num avião para a Polákia, atrás de uma morena que conheceu pela internet, ele afirma que fala e entende tudo em polakês, só por gestos (costuma fazer aquele gesto significativo, de crã). Antes disso falou que é certo que à tardinha estará na Cinelândia, se o negócio feder não perde por nada deste mundo a oportunidade de trocar carinhos com os meganhas do Guardanapo.

No mais, justa ou injustamente, os colorados do bar - todos os empinantes, exceto um dos donos, o Portuga - enfim se convenceram da falência da Segurança Pública em Porto Alegre. Chupim da Tristeza: - GreNal sem a torcida visitante, no belo estádio do Grêmio, com as autoridades assumindo que são incapazes e os bandidos podem tudo, francamente, é o fim, e estímulo à meia-dúzia de baderneiros, penalizando a maior torcida do Rio Grande do Sul, a nossa. 

Jucão da Maresia revidou: - Se fosse para proteger políticos de protestos aí eles teriam condições de dar segurança. 

Bem, hoje estou com pressa, não vim à Gatumba a passeio, então vamos logo às obras enviadas pelos amigos.

Nani.



Por falar no superlativo sintético de horrível, o Aroeira.



Ikenga.



Miss Leilinha ficou com o Regi. Disse ela: - No bar todos assinaram, ao menos será mais uma voz a se contrapor à roubalheira.




A coluna A Charge do Dias leva esse título pelo seu idealizador, o mestre Adolfo Dias Savchenko, que um belo dia se mandou para a Argentina, onde vive muito bem. Sucedeu-o na coordenação a jovem Leila Ferro, filha do Terguino, quando os boêmios amarelaram na hora de assumir o encargo. Antes eram dois butecos, o Beco do Oitavo e o Botequim do Terguino, que.., bem..., se fundiram  no ano passado (veja AQUI), face a dívidas com o sistema agiotário. O novo bar manteve o nome de um dos butecos: por sorteio ficou Botequim do Terguino, agora propriedade dos ex-endividados António Portuga e Terguino Ferro.

Papa Francisco: "Segredos do conclave"





Temos nas bancas o livro Segredos do Conclave, do jornalista Gerson Camarotti, que cobriu a eleição do Papa Francisco. 

As notícias dão conta de que Gerson foi o único jornalista no mundo a prognosticar a vitória de Jorge Bergoglio, do que não duvidamos, mesmo o cardeal brasileiro Scherer se disse surpreso. 

A escolha gerou desespero na poderosa e inflexível estrutura de governo do Vaticano, segundo o jornalista Andreas Englisch, vaticanista há duas décadas e meia, em entrevista ao Estadão: "Bergoglio era o pesadelo da Cúria durante a eleição, ele é completamente anticúria", para acrescentar que Bento XVI "nunca imaginou que a ira dos cardeais estivesse tão grande a ponto de escolherem pela revolução", e que "Nenhum cardeal foi tão maltratado (pela Cúria) como ele durante seu tempo em Buenos Aires. Uma das críticas é porque enviava os melhores padres para os pobres e não para as paróquias ricas da cidade". Ao final o vaticanista arremata: "A Cúria não tem qualquer influência sobre ele. Isso ficou claro quando se recusou a ir a um concerto de gala no Vaticano. Toda a Cúria foi, mas ele declarou que não gosta de compromissos da sociedade elegante. Acontece agora uma revolução latino-americana no Vaticano, em que as famílias europeias aristocráticas não são melhores do que as outras".

Parabéns ao Gerson Camarotti pela perspicácia, ao antever a "revolução".

Nada sabemos da política do Vaticano, que, como politica que é, é cheia de arranjos, o aliado de ontem é o inimigo de hoje e vice-versa, embora não creiamos em alianças tipo Lula-Maluf - não chegariam a gestos assim abjetos, quadro agravado pelo juramento de segredo absoluto. Porém recordamos ter lido algo a respeito do conclave que elegeu Bento XVI - Joseph Ratzinger - em abril de 2005.

De fato, na rede encontramos facilmente a matéria num jornal português, que foi reproduzida em todo o planeta naquele setembro de 2005, quando vazaram segredos do conclave de março do mesmo ano. Daí que é de se estranhar que somente Gerson tenha cogitado o nome de Bergoglio, se este foi o real adversário de Ratzinger na eleição anterior. O que teria levado a todos os demais jornalistas e experts do mundo que cobriram o último conclave, sabendo disso, a descartarem o nome de Bergoglio? Teria sido apenas pela sua idade, 76 anos? Aí está um bom assunto para pesquisa, aos interessados.

De parte deste blog, pedimos ao Papa que tome bastante cuidado com a saúde, seria uma catástrofe uma reprise de João Paulo I.

A matéria citada, de 25 de setembro de 2005, no Correio da Manhã:

Cardeal revela segredos do conclave

O conclave que converteu Joseph Ratzinger em Papa Bento XVI não foi tão ‘pacífico’ como inicialmente se pensou – revelou a ‘Limes’, a conceituada revista italiana de informação geopolítica, a qual teve acesso ao diário de um cardeal que participou no conclave. O documento revela ‘segredos proibidos’ da reunião magna de Abril passado no Vaticano, incluindo a ‘dura luta’ para a eleição entre Ratzinger e o cardeal Jorge Mario Bergoglio.

De facto, segundo a revista, a alternativa mais credível a Ratzinger não foi, como na altura se avançou, o jesuíta Carlo Maria Martini, mas sim um outro cardeal, também da Ordem de Jesus, o argentino Bergoglio que, atemorizado e pressionado acabou por recuar à última da hora.

A ‘Limes’, que manteve no anonimato a identidade do cardeal que escreveu o diário, por razões mais que óbvias, avaliou, contudo, a veracidade do documento.

Fontes do Vaticano, contactadas pela revista, limitaram-se a comentar que se as revelações são verdadeiras “estamos perante uma grave ruptura do juramento de segredo efectuado por todos os participantes no conclave”.

No essencial, o diário relata passo a passo a disputa mantida entre Ratzinger, o todo-poderoso prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, braço-direito do falecido Papa João Paulo II, e o cardeal arcebispo de Buenos Aires, Jorge Mario Bergoglio. 

Segundo o documento, na primeira votação, Ratzinger obteve 47 votos. Em segundo lugar classificou-se Bergoglio, um ortodoxo em questões dogmáticas mas flexível em ética sexual. À volta de Bergoglio reuniram-se todos os cardeais mais ou menos liberais e opositores a Ratzinger.

O objectivo dos ‘anti-Ratzinger’ não era contudo ganhar. A sua estratégia consistia apenas em conseguir uma minoria firme que impedisse o cardeal alemão de recolher os dois terços de votos necessários e assim renunciar a favor de um candidato mais conciliador.

Os apoiantes de Ratzinger ficaram nervosos. Bergoglio permaneceu em silêncio. Na tentativa de pacificar o diferendo, o cardeal colombiano Alfonso López Trujillo tentou convencer os cardeais sul-americanos a não optarem por Bergoglio.

Na manhã do dia 19 de Abril, segunda votação, Ratzinger subiu para 65 votos e Bergoglio quedou-se nos 35. O líder dos reformistas, o cardeal italiano Carlo Maria Martini, estava francamente optimista. Na terceira votação, Ratzinger 72, Bergoglio 40. O cardeal Martini estava cada vez mais confiante que a votação da tarde seguisse o mesmo rumo e que Ratzinger renunciaria à noite. Foi então que o próprio Bergoglio deu a entender que não se sentia preparado para assumir o pontificado. No final do conclave, o cardeal Daneels, o único que lamentou em público a eleição de Ratzinger, pronunciou uma frase, cujo significado se entende agora: “Perdemos um grande momento de eleger um Papa hispano-americano”. 



D. POLICARPO FUMAVA NO PÁTIO

O diário relata também alguns factos curiosos. É o caso do cardeal patriarca D. José Policarpo da Cruz que se deslocava várias vezes ao pátio para fumar os seus cigarros, dado que no quarto não podia abrir as persianas, que permaneceram sempre fechadas por razões de clausura. Instado a comentar o diário, o assessor de D. Policarpo, padre Jardim Gonçalves, afirmou que “o cardeal não comenta o que se passou no conclave”. 

Outro dado revelado no diário relaciona-se com um grupo de cardeais que se posicionou contra o “conflito de interesses” de Joseph Ratzinger que era o decano, portanto o organizador do conclave e simultaneamente o principal candidato ao Pontificado. Foi então proposto que o decano seguinte se tiver mais de 80 anos, não poderá aspirar ao papado. Mas a ideia não vingou. O actual decano é o secretário de Estado, Angelo Sodano, prestes a completar 79 anos. 



À MARGEM

REACÇÃO DO VATICANO

Sobre o diário, o Vaticano comentou apenas que se for verdade o que está escrito “estamos perante uma grave ruptura do juramento de segredo que todos os participantes assumiram”.

VOTAÇÃO FINAL

Já depois de Bergoglio ter dado a entender que não queria ser Papa, a quarta e última votação deu a tão almejada maioria a Joseph Ratzinger.

SILÊNCIO

Entre os cardeais no conclave, antes de ser revelado o nome de Joseph Ratzinger como o novo Papa, “fez-se um longo silêncio seguido de um largo e cordial aplauso”, diz o diário.

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martes, 30 de julio de 2013

Disco de vinil

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Há anos se fala na volta do vinil. Nos Estados Unidos desde 2009 as vendas crescem notavelmente. No Brasil temos uma fábrica em Belford Roxo (RJ) aguardando o boom por aqui. Não conheço uma alma que não prefira vinil à CD. Claro, quem não conhece discos de vinil não tem elemento de comparação. 

A dificuldade por aqui é as pessoas conseguirem ouvir os seus discos, uma vez que não se encontra mais toca-discos à venda, ou "equipamento de som" com prato, braço e agulha, ou seja, há muitos anos a indústria nos força a comprar seus CDs, isto é, comprar novamente as músicas que gostamos e já temos, agora em CD, com um som comprovadamente de pior qualidade. E ficamos com a parede lotada de vinis sem utilidade, na medida que, como tudo, toca-disco um dia também estraga. Esperemos que voltem os vinis e os toca-discos, a preços acessíveis...

Hoje deu no blog do Ancelmo. Que assim seja.

O ressurgimento do vinil

Uma tendência mundial tem apontado à volta do LP. Para quem tem menos de 20 anos, LP é aquele disco preto, grande e com um buraquinho no meio. No MercadoLivre, companhia de tecnologia líder em comércio eletrônico na América Latina, a procura pelos discos de vinil tem surpreendido.


No primeiro semestre deste ano os produtos contaram com um crescimento de 6% nas vendas em comparação com o mesmo período do ano passado e já representam 27% das vendas na categoria “Música”, ficando atrás apenas da venda de CDs. Os discos de vinil foram os únicos que se destacaram e apresentaram crescimento na plataforma, tomando o espaço dos CDs, que caíram em 7,96% nas vendas.


Somos chamados a crer

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Por Mauro Santayana


Católicos ou não, cristãos ou não, somos chamados a crer na esperança, que o papa Francisco nos traz, com seu discurso renovador. A Igreja, como instituição, pode até mesmo encarnar as palavras de seu chefe como  forma de recuperar o seu poder profético, abalado pelas vicissitudes conhecidas. Mas a Humanidade, em seu instinto de permanência, deverá acatá-las como outra oportunidade de renovar a eterna aliança  entre os homens e o Absoluto.

O que o papa vem dizendo em público — e ele falou de forma descontraída com os jornalistas, enquanto voava rumo ao Rio — é simples. O hedonismo, o amor ao dinheiro e ao lucro, o desperdício, estão sepultando a História. Ao perder seu passado, o homem perde o seu futuro. Há, em nosso tempo, e com a dissolução da família, o desprezo pelos jovens e pelos velhos.

Os robôs, como se sabe,  substituem os moços, nos processos industriais que produzem para o descarte e o desperdício. Os velhos são vistos como trastes imprestáveis, que necessitam de cuidados caros. Mas, conforme o papa, de sua experiência e saber depende a sobrevivência de todos.

A situação é ainda mais grave do que em 1962, quando se reuniu o Concílio do Vaticano II, convocado pelo cardeal Roncalli. O novo pontífice substituía Pio XII, acusado de haver sido protetor de Hitler em seu tempo de arcebispo de Munique — ao contrário de seu antecessor, Pio XI, que mandou apagar as luzes do Vaticano na noite em que o ditador alemão pernoitou em Roma.

Roncalli era um homem de fé e simples em sua vida pessoal — um traço em comum com o argentino Bergoglio — disposto a restaurar alguns princípios cristãos, abandonados pela Igreja ao longo dos séculos. Infelizmente, a sua influência, ainda que poderosa, sobre o Concílio, durou pouco. Tendo aberto o encontro em 11 de outubro, morreu menos de um ano depois, em 3 de junho do ano seguinte.

É interessante cotejar a pregação do pontífice com as declarações do presidente do Banco Mundial, o sul-coreano Jim Jong Kim, que defende, com veemência, a globalização neoliberal e os cortes nos orçamentos sociais dos Estados. Isso, ao mesmo tempo em que a Security and Exchange Comission norte-americana autoriza os bancos a comprarem, estocarem e venderem mercadorias como o alumínio, o cobre, o ouro e outros metais. Os bancos passam, assim, a exercer o monopólio mundial dos metais, ditando os preços ao seu arbítrio.

Já podemos prever o destino do mundo, se não ouvirmos a mensagem cristã, que Francisco reafirma nesta sua viagem ao Brasil, depois de haver visitado o porto de Lampedusa, porta de entrada, na Europa, dos flagelados pela miséria na África, que  chegam em botes frágeis. O papa deixou claro, ali,  que não há fronteiras diante do direito à vida.

Reagir, enquanto é tempo, e em todos os lugares do mundo, é a única forma de salvar a espécie.   

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Vivo demais acaba se atrapalhando



A pedido:


Senhor presidente de Vivo Picaretagens Telefônicas.
Indigníssimo filho de sua mãe.




Não sei se o senhor é português ou espanhol, ou ambos, como até há pouco tempo, ou se já foi vendido para os chineses. Não importa, é alienígena, pelas graças de FHC e sua tropa de profetas de araque, que não venderam as nossas bundas por detalhe, ou venderam, a julgar pelo que agora lhe digo. Seja marciano, dá na mesma, chacais os há em todos os quadrantes do Universo, a considerar o que a Terra me mostra diariamente. Por dinheiro vendem a mãe, estupram mentes.

Eu possuo cinco telefones celulares pré-pagos. Um para falar com a família A, outro para falar com a família B, outro para falar com meus seguranças de arremetida, mais um para os amigos e outro que não lhes interessa.

Segundo andei lendo outro dia, as empresas de picaretagem como a sua são proibidas de ficar enviando propaganda por telefone, sem o consentimento da vítima. Deve haver masoquistas desgraçados que consentem e gostam. Eu nunca lhes dei consentimento para porra nenhuma.

E todos os santos dias os cinco telefones tocam e tocam. Corro a ver e são convites para os senhores me ajudarem a ganhar um casebre ou um carro, de tão amorosos querem me ajudar, desde que eu mande um dinheirinho, que somado ao dos milhões de otários lhes permitirá comprar uma mansão por mês na Côte D'Azur.

Tenho cara de palhaço do tipo que enche as burras de silvios santos e faustões? Ou de borra-botas como os senhores, que riem felizes se achando "o cara", por terem estudado numa faculdade de merda um modo de tomar os caraminguás do povinho? Sentem-se "grandes" por tão elevado feito? Ora, tomar do povinho até pastor eletrônico toma, seus babacas.

Tenho cara de quem vai perder dias num PROCON, para depois esperar anos o que dará em nada?

Podem imaginar o sujeito estar dormindo e o telefone da família A berrar, torpedo. Você corre, preocupado, afinal tem uma menina com problemas. Depois o B, idem. Melhor nem falar dos demais, dá vontade de soltar já os de arremetida nos seus rastros, o seu e de seus coleguinhas.

Todos os santos dias essa incomodação. Covardemente, à socapa. À traição. Burlando normas do meu País onde a justiça é para ricaços de tesouros mal havidos, se ricaços nativos ou estrangeiros não importa, importa o tesouro.

Pois estou avisando-o, e aos seus capangas, de que vou pegá-los, de frente, para encaminhar uma reclamaçãozinha.

O donão pode demorar, afinal já deve morar em uma vila em St. Tropez, cercado de cem seguranças armados e dando o rabo para algum amiguinho. Porém os brasileiros que dirigem esta bosta aqui, se dizendo "Executivos", estão ao alcance de qualquer um que não seja um asno como os que iludem.

Sei, as suas congêneres são iguaizinhas, mas por enquanto o meu assunto é com os senhores.

A mais um toque, unzinho só, vamos ver se são mesmo vivaldinos. Os responsáveis pela fiscalização desses cabarés telefônicos também hão de prestar contas.

Sei, continuarão invadindo a privacidade, roubando, maltratando, seus patifes. Os donos dessa porcaria, pois se vocês, escravos brasileiros, subalternos, sumirem do mapa eles os substituem naturalmente a um piscar de olhos, por outros idiotas e prevalecidos brasileiros que ficarão orgulhosos em lamber-lhes os ovos.

Aguardem-me. Pode demorar um pouco, talvez amanhã, talvez na véspera do Natal, mas é certo que os encontrarei.

Eu acordei novamente sobressaltado hoje. Tentem vocês dormirem agora, tranquilos, bons sonhos.

João Anônimo dos Anzóis.







Marisa Monte e Rafael Rabello

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Uma injustiça dizer que o Brasil não tem mais cantoras nem cantores populares que não batem bem. Injustiça, mas... verdade.

Em parte.

Cantor não temos mais, salvo em discos. Emílio Santiago se foi, o último de alvorecer, anoitecer, de... bem, vocês, a quem me dirijo, sabem.

Cantoras ainda não, oba, aí a parte que nos resta, temos a vivíssima Elza Soares, arraso, que há de durar mais do que eu, pelo bem do Brasil.

E há uma moça..., sei disto desde que a vi magrela estudando, que é e também não é mais apenas princesa.

Princesa sempre será, mas há muito tempo é Rainha. De bastos e de paus, de copas e de... ouro.

O Rafael, virtuose, já nos deixou. Tinha quase cinco anos a mais que ela, deixou-nos moço demais.

Marisa Monte vive, jovem e linda, a nos dizer que jamais estaremos sós.

Ainda caso com essa guria, eu, de espadas, que me olho e ouro não vejo, hei de.

Por favor, mais um copo daquele líquido verde aqui na mesa do fundo, ô moço!

Tintim, Rafael.

Tintim, Rainha branca.







lunes, 29 de julio de 2013

Os ímpios, o herói e o Amarildo, n'A Charge do Dias

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Às onze da manhã os empinantes chegaram em bando no botequim, vindos de uma reunião no escritório de Carlinhos Adeva. O Portuga avisa de lá de trás do caixa:

- O Clóvis Baixo acabou de sair, gente, não tive tempo de revisar, então tomem cuidado.

O engraçadinho costuma desenroscar tampas de açucareiros e saleiros, de modo que quando a vítima vai adoçar o cafezinho ou salgar o tira-gosto desaba tudo em cima.

- Ninguém vai tomar cafezinho, salta uma fada-verde! - disse Wilson Schu. 

- Pra mim um merengue! - pediu Moscão.

- Pra mim um pré-sal! - disse Carlinhos Adeva.

- Um rabo-de-galo!  - falou Chupim da Tristeza. E seguiram-se os pedidos, as mulheres ficaram com martinis e camparis.

- Por que o Baixo não foi na reunião, Portuga, ele disse alguma coisa? - perguntou Tigran Gdanski.

- Disse. Disse que não se mistura com comunistas viados. Comunistas e ímpios, aliás - respondeu o Portuga.

- Mas é bem filho da puta esse baixinho, esse negócio de religião tá deixando ele reaça - falou Gustavo Moscão.

- Por falar em reaça, amigos, proponho um churrasquinho hoje à noite, eu pago a carne, para comemorar a debandada do Pancho Bergoglio, vai que é tarde - disse Marquito Açafrão.

- Pá, matou. Trago minha turma do teatro, todo mundo fantasiado de diabo, com a meninada do samba - prometeu Nicolau Gaiola, o teatrólogo.

- Putz, churrasco já na segunda-feira... - arriscou Jezebel do Cpers.

- Eu topo! - disse Luciano Peregrino.

A maioria topa. Feito.

Luciano leu no notibuc a notícia que deixou a todos exultantes:

- Atenção, tigrada, urgente, notícias do notibuc: Neste domingo um homem, sozinho, armado com uma pistola automática, rosto coberto por um cachecol e com um boné na cabeça, tomou posse de 106 milhões de euros de um hotel em Cannes, é o maior assalto não apenas da história da França, e sim do Mundo! As jóias estavam em exposição num hotel de colas-finas lalaus. Assalto rápido e sem violência, ele dominou os seguranças sem disparar um tiro. O valente saiu andando com algumas maletas tapadas de relógios de diamantes. Saiu rindo, calmamente, a pé. Os bandidos que se diziam donos das jóias não quiseram comentar o épico feito. A polícia está mais perdida que cego em tiroteio.

Tigran apressa-se em fazer as contas, me dá aqui o cabral. Levanta a cabeça e explica, raivoso: Há um tempão vocês aqui chamam guardanapo de cabral, então explico à meninada das mesas ao lado: não é a nota de dinheiro do samba do Chico, de duzentos cruzeiros, amarela, e sim aludindo a um morador do Leblon do distante Rio de Janeiro chamado Cabral, guardanapo, delta e sabe Deus o que mais, Pobre do pai dele, um cara passável, vai morrer de desgosto, por mim que se foda. Pára, silencia. Vê que a moçada não entendeu porra nenhuma e desiste, termina a multiplicação no cabral e diz:

- Mamma mia, mais de 300 milhões de reais! Viva o francês!

- Vai saber se é francês - disse Jezebel -, seja o que for, agora é cidadão do mundo.

- Diamantes de sangue... - murmurou a gatinha Jumesô, que acabara de chegar acompanhada das também estudantes Jé e Barbarita. Essas gurias sabem das coisas, aquele buracão na África e a fome em volta.

- Esse cara precisava fazer uma visitinha a alguns bancos aqui no Brasil - disse o Portuga, pensando no seu papagaio a juros assassinos enquanto trazia alguns copos. 

- Proponho desde já que o elejamos o Homem de Visão de 2013, e Eterno Herói do Beco do Oitavo - exaltou-se Jucão da Maresia.

- Peraí, vamos deixar a eleição pro fim do ano, vai que os animais o prendam até lá, ou que ele não devolva aos negros, uma parte que seja... - ponderou Jussara do Moscão, com o que todos concordaram.

- Nessas horas me dá um pavor de judeu, nada de racismo, só os judeus daquela avenida dos diamantes de Nova Iorque, a rua 47, ao lado da quinta avenida, viram o filme Os Meninos do Brasil, do nazismo, com o Gregory Peck? - disse Nicolau.

Todo mundo viu, exceto a meninada de 28 para baixo, mas anotaram.

- No tempo em que a gente jogava sinuca a dinheiro, quando o cara pifava o taco a turma dizia: Gregório... Péc! só pra se arriar - lembrou Luciano com a mente presa lá na meninice.

Ain Cruz Alta pede ao menos uma salva de palmas em sua homenagem:

- Uma salva de palmas, e ramos de palmas em sua cabeça, ele ganhou Leão de Ouro em Cannes, Oscar de tudo, solito e sem aplauso e com toda a polícia do mundo atrás, incluindo a NSA do bandido Obama Darth Vader - gritou - aplaudamos!

Todos em pé, vibrantes, alguns molharam os olhos, palmas e vivas ao herói de Cannes. Tintim. 

Leilinha Ferro também aplaude, mas depois pede que se resolvam logo com as obras do dia, precisa enviá-las ao blog antes de sair. Ao enviá-las mais tarde, ela pediu que, se possível, mandássemos uma pergunta ao governador do Rio, que com prazer reproduzimos:

- Ei, Cabral, onde está o Amarildo!?

Os boêmios ficaram com as seguintes obras:

Frank.



Nani. Nani tem umas cem na parede do botequim, esta vai se somar, emoldurada. O riso, que vai durar para sempre, tomou conta da rua, o Beco do Oitavo. Vale o samba, o que dá pra rir dá pra chorar...



Newton Silva. Outro que o trem não pega, antevendo... com amor.



Leilinha abriu mão da sua escolha de hoje, em troca da imagem que captou em algum lugar.



A coluna A Charge do Dias leva esse título pelo seu idealizador, o mestre Adolfo Dias Savchenko, que um belo dia se mandou para a Argentina, onde vive muito bem. Sucedeu-o na coordenação a jovem Leila Ferro, filha do Terguino, quando os boêmios amarelaram na hora de assumir o encargo. Antes eram dois butecos, o Beco do Oitavo e o Botequim do Terguino, que.., bem..., se fundiram  no ano passado (veja AQUI), face a dívidas com o sistema agiotário. O novo bar manteve o nome de um dos butecos: por sorteio ficou Botequim do Terguino, agora propriedade dos ex-endividados António Portuga e Terguino Ferro.
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Joaquim Barbosa sem retoques (2)

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Agora com ou sem retoques, não se falou em íntegra, mas acreditamos que sem, para o jornal O Globo. Muito boa. O final é exemplar. Antigamente, ministro, para as poucas vagas restarem aos "indicados", em certas estatais municipais, estaduais e federais, rodavam os pés-de-chinelos intrometidos, que ousavam acertar tudo em português, matemática e conhecimentos gerais, num tal de psicotécnico, seguido ou não de entrevista. Em plena ditadura, sem dinheiro, sem advogado, vai, recorra à Justiça...

Não deu outra. Hoje os lobos interesseiros e extremistas, à esquerda e à direita, novamente se jogaram com toda a ferocidade, alucinados, porém carnes não arrancam, a vítima não é inerte. A caravana passa, oportunamente talvez volte para conversar, se os fados não consertarem o que ficou para trás.


O senhor é candidato à presidente da República?

Não. Sou muito realista. Nunca pensei em me envolver em política. Não tenho laços com qualquer partido político. São manifestações espontâneas da população onde quer que eu vá. Pessoas que pedem para que eu me candidate e isso tem se traduzido em percentual de alguma relevância em pesquisas.

As pessoas ficaram com a impressão de que o senhor não cumprimentou a presidente.

Eu não só cumprimentei como conversei longamente com a presidente. Eu estava o tempo todo com ela.

O Brasil está preparado para um presidente da República negro?

Não. Porque acho que ainda há bolsões de intolerância muito fortes e não declarados no Brasil. No momento em que um candidato negro se apresente, esses bolsões se insurgirão de maneira violenta contra esse candidato. Já há sinais disso na mídia. As investidas da “Folha de S.Paulo” contra mim já são um sinal. A “Folha de S.Paulo” expôs meu filho, numa entrevista de emprego. No domingo passado, houve uma violação brutal da minha privacidade. O jornal se achou no direito de expor a compra de um imóvel modesto nos Estados Unidos. Tirei dinheiro da minha conta bancária, enviei o dinheiro por meios legais, previstos na legislação, declarei a compra no Imposto de Renda. Não vejo a mesma exposição da vida privada de pessoas altamente suspeitas da prática de crime.

Como pessoa pública, o senhor não está exposto a todo tipo de pergunta e dúvida dos jornalistas?

Há milhares de pessoas públicas no Brasil. No entanto os jornais não saem por aí expondo a vida privada dessas pessoas públicas. Pegue os últimos dez presidentes do Supremo Tribunal Federal e compare. É um erro achar que um jornal pode tudo. Os jornais e jornalistas têm limites. São esses limites que vêm sendo ultrapassados por força desse temor de que eu eventualmente me torne candidato.

Que partido representa mais o seu pensamento?

Eu sou um homem seguramente de inclinação social democrata à europeia.

Como ampliar o Estado para garantir direitos de quem esteve marginalizado, mas, ao mesmo tempo, controlar o controle do gasto público para manter a inflação baixa?

O primeiro passo é gastar bem. Saber gastar bem. O Brasil gasta muito mal. Quem conhece a máquina pública brasileira, sabe que há inúmeros setores que podem ser racionalizados, podem ser diminuídos.

O senhor disse que o Brasil está numa crise de representação política. O que quis dizer com isso?

Ela se traduz nessa insatisfação generalizada que nós assistimos nesses dois meses. Falta honestidade em pessoas com responsabilidade de vir a público e dizer que as coisas não estão funcionando.

Quando serão analisados os recursos dos réus do mensalão?

Dia primeiro de agosto eu vou anunciar a data precisa.

Eles serão presos?

Estou impedido de falar. Nos últimos meses, venho sendo objeto de ataques também por parte de uma mídia subterrânea, inclusive blogs anônimos. Só faço um alerta: a Constituição brasileira proíbe o anonimato, eu teria meios de, no momento devido, através do Judiciário, identificar quem são essas pessoas e quem as financia. Eu me permito o direito de aguardar o momento oportuno para desmascarar esses bandidos.

Por que o senhor tem uma relação tensa com a imprensa? O senhor chegou a falar para um jornalista que ele estava chafurdando no lixo.

É um personagem menor, não vale a pena, mas quando disse isso eu tinha em mente várias coisas que acho inaceitáveis. Por que eu vou levar a sério o trabalho de um jornalista que se encontra num conflito de interesses lá no Tribunal. Todos nós somos titulares de direitos, nenhum é de direitos absolutos, inclusive os jornalistas. Afora isso tenho relações fraternas, inúmeras com jornalistas.

A primeira vez que conversamos foi sobre ações afirmativas. Nem havia ainda as cotas. Hoje, o que se tem é que as cotas foram aprovadas por unanimidade pelo Supremo. O Brasil avançou?

Avançou. Inclusive, entre as inúmeras decisões progressistas que o Supremo tomou essa foi a que mais me surpreendeu. Eu jamais imaginei que tivéssemos uma decisão unânime.

Nos votos, vários ministros reconheceram a existência do racismo.

O que foi dito naquela sessão foi um momento único na história do Brasil. Ali estava o Estado reconhecendo aquilo que muita gente no Brasil ainda se recusa a reconhecer, e a ver o racismo nos diversos aspectos da vida brasileira.

Os negros são uma força emergente. Antes, faziam sucesso só nas artes e no futebol, mas, agora, eles estão se preparando para chegar nos postos de comando e sucesso em todas as áreas. Como a sociedade brasileira vai reagir?

Ainda não vejo essa ascensão dos negros como algo muito significativo. Há muito caminho pela frente. Ainda há setores em que os negros são completamente excluídos.

Como o Brasil supera isso?

Discutindo abertamente o problema. Não vejo nos meios de comunicação brasileiros uma discussão consistente e regular sobre essas questões.

Como superar a desigualdade racial, mantendo o que de melhor temos?

O que de melhor nós temos é a convivência amistosa superficial, mas, no momento em que o negro aspira a uma posição de comando, a intolerância aparece.

Como o senhor sentiu no carnaval tantas pessoas com a máscara do seu rosto?

Foi simpático, mas, nas estruturas sociais brasileiras, isso não traz mudanças. Reforça certos clichês.

Reforça? Por quê?

Carnaval, samba, futebol. Os brasileiros se sentem confortáveis em associar os negros a essas atividades, mas há uma parcela, espero que pequena da sociedade, que não se sente confortável com um negro em outras posições.

O senhor foi discriminado no Itamaraty?

Discriminado eu sempre fui em todos os trabalhos, do momento em que comecei a galgar escalões. Nunca dei bola. Aprendi a conviver com isso e superar. O Itamaraty é uma das instituições mais discriminatórias do Brasil.

O senhor não passou no concurso?

Passei nas provas escritas, fui eliminado numa entrevista, algo que existia para eliminar indesejados. Sim, fui discriminado, mas me prestaram um favor. Todos os diplomatas gostariam de estar na posição que eu estou. Todos.

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Joaquim Barbosa sem retoques

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Os jornais brasileiros deram destaque à famosa entrevista de Joaquim Barbosa, concedida a jornalistas estrangeiros, pinçando aqui e ali algo de seus interesses. Publicar a íntegra, primeiro, para que cada um tire as suas conclusões? Neca pau. As manchetes são para excertos que pinçam aqui e ali. O velho costume de empurrar as ovelhas para o canto que querem, elas precisam de alguém que "interprete" o que se disse, o rebanho ainda está na Idade do Bronze, é burro demais. O mesmo que os blogs autodenominados "independentes". Todo mundo está liberado, antes da leitura, para rir dessa "independência". Depois um copo d´água e 

Aí vai a íntegra, em trabalho de Eduardo Militão para o Congresso em Foco.



Jornalista – Começo com a Ação Penal 470. Muitos ficaram surpresos com o resultado do processo, até com o próprio tempo do processo. Pergunto: há alguma previsão? Quais são os passos para que as sentenças sejam executadas?

Joaquim Barbosa – Eu espero encerrar toda essa ação até julho deste ano. Espero que tudo esteja encerrado.

Jornalista – Para isso, o que seria necessário?

Julgar os recursos. Tem o problema de prazos, né? Tem que aguardar o prazo para publicação. Os votos de alguns ministros ainda não foram liberados e eles ainda têm um prazo para fazer isso. Assim que todos apresentarem os seus votos, eu vou determinar a publicação. E aí começa a correr o prazo de recursos dos réus.

Jornalista – Ministro, o senhor vai analisar… É do seu atributo, como presidente, analisar que recursos serão aceitos ou não? O senhor vai ser bastante rígido nisso? Vai levar a plenário?

Eu posso analisar. Tanto posso analisar pessoalmente como levar ao plenário pra saber que tipo de recurso é cabível. Eu já sei qual o recurso é cabível, mas, evidentemente que os réus querem vários outros recursos.

Jornalista – Mas isso pode ser uma decisão pessoal do senhor, então, como presidente do STF?

Pode ser uma decisão minha, mas pode haver recurso da minha decisão para o plenário. Então, em vez de eu decidir e depois aguardar um recurso pro plenário, eu posso levar diretamente ao plenário.

Jornalista – Excelência, os mandados de prisão vão ser efetivados quando?

Depois de encerrada essa fase de recursos.

Jornalista – Segundo sua previsão, depois de julho?

Não, eu espero que até julho. Julho é mês de férias aqui no tribunal. Mas a minha expectativa é que tudo se encerre antes de 1º de julho, antes das férias.

Jornalista – Portanto, as prisões podem acontecer em julho ou agosto?

Sim, vai depender se eu conseguir a questão de prazo. Se não houver nenhum incidente, nenhuma chicana. Porque tudo isso é possível. Mas o processo já se tornou menor, não é? Antes eram 40, depois 38, 37 e agora são apenas 25 condenados. Fica mais fácil.

Jornalista – Ministro, a Ação 470 é, sem dúvida, um momento histórico para a corte, para o próprio país. Mas nós temos aí casos como o do jornalista Pimenta Neves, que assassinou uma pessoa, é réu confesso e, mesmo assim, digamos que goze de certa regalia perante o olhar da opinião pública. A mesma coisa temos o caso Gil Rugai, que acabou sendo condenado, vai recorrer em liberdade. A população começa a sentir, dentro do seu conhecimento, que parece que isso se esfria. Como é que o senhor responde essa ansiedade das pessoas que viram uma condenação histórica e, agora, começa a dar a impressão que não haverá o que elas esperam da Justiça?

Olha, a sociedade brasileira já é muito consciente das incoerências do sistema penal brasileiro. Vejam bem: o senhor mencionou agora o caso Gil Rugai. É um caso que envolve um só réu, uma só pessoa. No entanto, estava esperando julgamento há mais de dez anos. O caso da Ação Penal 470 tinha 40 réus e a imprensa xingou o Supremo, me esculhambou dizendo: “Sete anos! Isso é um absurdo! Como é que dura sete anos?”. Mas não fala uma única palavra quando se trata de casos como esse. Aí é que está o absurdo: julgar um caso simples e levar dez anos. A população é muito consciente sobre esses contrastes. Por que levar dez anos para julgar um caso tão simples? É por que alguém aí, provavelmente, não estava querendo julgar. Quando há vontade de se julgar, se julga.

Jornalista – Vontade política?

Vontade mesmo de trabalhar e ignorar a qualidade das partes.

Jornalista – Isso poderia ser uma causa sistêmica dentro do sistema?

Há uma causa sistêmica, sim. Mas há também uma falta de vontade, em muitos casos. Há falta de vontade, há medo do juiz. Ele deixa aquilo ali, deixa correr em muitos casos. A causa sistêmica: nosso sistema penal é um sistema muito frouxo. É um sistema totalmente pró-réu, pró-criminalidade. Essas sentenças que o Supremo proferiu aí de dez anos, 12 anos, no final elas se converterão em dois anos, dois anos e pouco de prisão, porque há vários mecanismos para ir reduzindo a pena. E, por outro lado, esse sistema frouxo tem vários mecanismos de contagem de prazo para prescrição que são uma vergonha. São quase um faz de conta. Tornam o sistema penal um verdadeiro faz de conta. Vou dar um exemplo aqui para vocês: se um indivíduo comete um crime no ano de 2000 e esse crime tem uma pena de até dois anos, se o Ministério Público não propõe a ação e a ação não é recebida até 2004, nada mais pode ser feito. Mas se algo tiver sido feito, digamos, em 2003, estou falando em hipótese, se algo foi feito em, digamos, julho de 2003, e se chegar a julho de 2007 e não tiver concluído aquele julgamento, está prescrito. Esse é um exemplo de como é o sistema brasileiro. Tudo conspira para que os processos criminais não tenham qualquer consequência.

Jornalista – Isso é uma herança das elites ou é uma herança da época da ditadura?

Eu acho que é um pouco de tudo. E esse sistema político. Isso beneficia as pessoas corruptas dentro do sistema político.

Jornalista – O Conselho Nacional de Justiça pode mudar isso ou precisa Congresso?

O Conselho não pode mudar isso.

Jornalista – Mas pode conscientizar?

Pode conscientizar para estimular, para apontar o dedo para a ferida. Juízes que prevaricam, juízes que tem comportamento estranho dentro ou fora de determinado processo… para isso, o Conselho Nacional de Justiça é muito bom. Foi uma grande novidade. Como disse um ex-colega meu aqui, ministro Carlos Britto, o Conselho Nacional de Justiça veio para expor as vísceras do Poder Judiciário brasileiro, e é isso o que ele vem fazendo.

Jornalista – Mas quais as reformas que precisam ser feitas?

Olha, são algumas muito simples. Fazer um sistema de justiça penal mais consequente. Acabar com essas regras, por exemplo, de prescrição absurdas. Eu conheço vários países em que só há uma forma de prescrição. E ela é contada não no curso do processo, mas antes. Ou seja: se o Estado não tiver condições de apresentar uma ação penal contra alguém que é acusado até, digamos, cinco anos, aí o Estado não tem mais direito. Eu acho perfeito esse tipo de prescrição. Mas não, aqui no Brasil foram inventando mecanismos ao longo dos anos. O próprio Judiciário! Foram se criando mecanismos para, no meio do processo, ocorrer a prescrição. Então basta que um juiz engavete um processo contra uma determinada pessoa durante cinco, seis anos… e esqueça daquele processo. Quando ele se lembrar, já estará prescrito.

Jornalista – Por outro lado, não se pode fazer com que a Justiça seja mais célere, com que esses juízes não possam engavetar, por exemplo?

Foi o que eu disse. O Conselho Nacional de Justiça é o órgão que estabelece metas de cumprimento… Eu lembro que há dois ou três anos foram estabelecidas várias metas e boa parte dos tribunais cumpriram as metas. Antes, não existia nada disso. E, por outro lado, ele tem o poder de punir. De investigar e punir práticas incorretas no meio do Judiciário.

Jornalista – Além dos casos das prescrições, teria alguma outra causa sistêmica?

Tem sim.

Jornalista – Quais são os pontos principais que precisavam reformar?

Uma reforma de mentalidades também eu acho que seria muito boa. Uma reforma de mentalidades da parte dos juristas.

Jornalista – Mas isso não vai obrigar os juízes a cumprir prazos e essas coisas…

Veja bem. Vocês que já moram aqui no Brasil há algum tempo, vocês podem perceber: as carreiras jurídicas são muito parecidas. Por exemplo, as carreiras de um juiz ou de um procurador ou promotor de Justiça são muito próximas. Os concursos são os mesmos, a remuneração é a mesma, o pessoal quase todo sai das mesmas escolas. Uma vez que se ingresse em uma dessas carreiras, as mentalidades são absolutamente díspares. Uma é mais conservadora, pró status quo, pró-impunidade. E a outra rebelde, contra status quo, com pouquíssimas exceções. Então, há um problema, não apenas sistêmico, mas orgânico dentro da própria instituição judiciária. Nesse plano de mentalidades, eu estou dizendo.

Jornalista – Mas a dúvida fica: como se corrige mentalidades?

Se corrige com esclarecimento, com isso aí que o Conselho Nacional de Justiça faz. Nós temos vários (painéis) em diversos assuntos relacionados a direitos fundamentais, prisões, direito à saúde etc. etc., e o Conselho tem grupos de trabalho que rodam o Brasil esclarecendo, instigando os Judiciários locais e Federal sobre os mais diversos assuntos.

Jornalista – Até que ponto isso tudo, e o Poder Judiciário em especial, tem a ver, tem responsabilidade sobre o que acontece no sistema penitenciário brasileiro?

Tem um pouco. Não é o Poder Judiciário o responsável primeiro. Por quê? Quem constrói as prisões, quem tem o poder para construir, para manter as prisões, não é o Judiciário. É o Poder Executivo. Em geral, o Poder Executivo não dá a mínima. Não dá a menor atenção. Os governantes brasileiros não dão importância a esse fenômeno tão nosso que é esse sistema prisional caótico. Mas o Poder Judiciário também tem uma parcela de culpa porque há muitos juízes de execução penal que são puramente burocráticos. Eles têm a responsabilidade para supervisionar a execução da pena, mas ficam em seus gabinetes. Eles não vão lá saber, ver a situação concreta das prisões. Apenas tomam decisões puramente formais ao passo que o mundo das prisões é aquele inferno que muitas vezes eles nem procuram saber de que se trata.

Jornalista – A ONU tem criticado muito o sistema prisional brasileiro. São compatíveis as críticas?

Sim, claro! O sistema prisional brasileiro é caótico. Agora isso no Brasil, infelizmente, é utilizado para afrouxar ainda mais o sistema penal. O que eu acho um absurdo. Não há sistema penal em países com o mesmo nível de desenvolvimento do Brasil tão frouxo, que opere tanto pró-impunidade. Há um desequilíbrio do discurso aqui no Brasil. Há todo um discurso garantista – você que cobre o tribunal sabe muito bem –, um discurso garantista que domina a mídia: a grande mídia e a mídia especializada. E esse discurso garantista é inteiramente pró-impunidade, embora com uma outra roupagem, com um outro discurso. E há a situação concreta do sistema prisional. Que precisa, sim, se melhorado. É preciso dar condições dignas às pessoas que cumprem penas de prisão, mas o alvo desse discurso garantista não é exclusivamente essas pessoas que já estão lá no sistema criminal. O alvo é não permitir que certas classes de pessoas entrem nesse sistema.

Jornalista – Ministro, eu fiquei curioso. Como é que o senhor pode dar um exemplo mais prático desse discurso garantista na grande mídia?

Dou um exemplo! Vários! Durante o julgamento da AP 470, houve um determinado momento… Houve um jornal que fez um editorial pra dizer que as penas que estavam sendo aplicadas eram absurdas, que eram medievais, que não se deveria colocar pessoas desse nível em prisão. Seria melhor aplicar-lhes penas pecuniárias. Como se o Supremo Tribunal Federal tivesse poder para, no meio de um processo, deixar de aplicar as penas que estão previstas na lei. E isso foi dito num editorial de um grande jornal brasileiro contra o Supremo Tribunal Federal. Agora, consultem qualquer especialista sobre as penas que foram aplicadas neste processo e vocês chegarão à seguinte conclusão: as penas foram baixíssimas. Houve casos dum sujeito que – não vou citar nome, mas (acusado por) corrupção, na casa de milhões – levou uma pena de dois anos, dois anos e pouco.

Jornalista – Agora, a AP 470 mostrou que existe uma falha também no sistema semiaberto. O senhor acha que isso pode ser modificado, dada essa visibilidade?

Olha, eu já recebi aqui uns dois governadores que… governadores, ministro da Justiça já veio falar aqui comigo umas duas ou três vezes para dizer que estão trabalhando nisso, que há dinheiro, inclusive, do governo federal para ajudar o estado na construção dos equipamentos que são próprios para o sistema semiaberto. Só que isso leva tempo. A gente conhece a burocracia brasileira, a lentidão para que as coisas aconteçam.

Jornalista – O senhor disse anteriormente que o senhor vai determinar os locais. O senhor não vai deixar que outro juiz faça essa determinação de onde vai cumprir pena.

Sim, a execução vai ficar aqui comigo.

Jornalista – Ministro, gostaria de mudar um pouco o foco para perguntar sobre um caso que chama-se de incidência sobre o lucro que tem a ver com empresas brasileiras que têm subsidiárias no exterior e poderiam ou não ser tributadas pelo lucro que percebem lá no exterior.

A questão das coligadas, não é?

Jornalista – Isto. Tem implicações para a Vale e outras empresas. Primeiro, se o senhor tem um cronograma de quando podemos esperar uma solução para este caso, se já tem algumas conclusões preliminares e se essa decisão é obrigatória para outros tribunais de segunda instância?

O problema é o seguinte: eu estou com uma pequena dificuldade técnica com este caso. Nós temos um caso que começou já há cerca de seis anos. Vários votos já foram proferidos, só que os juízes que começaram esse caso, já nem estão mais aqui na Corte. Então, vai ser muito difícil conseguir, naquele caso que começou há seis anos, ter uma decisão coerente, que possa se aplicar ao restante do sistema judiciário. Nós temos um outro caso, mas que não se encaixa muito bem nos parâmetros daquele anterior. Mas este caso que está em julgamento, vamos concluí-lo ainda este semestre. Eu já o coloquei em pauta uma vez, mas houve algum problema e não deu para julgar. Mas este primeiro caso aí, assim que eu aliviar um pouco essas pautas prioritárias que tenho aqui, vou voltar a trazer temas de Direito Tributário. Inclusive esse aí, que é um tema muito importante.

Jornalista – Que é sobre a Vale, não é?


Não é sobre a Vale. Ele se aplica a toda essa realidade que temos hoje no Brasil, que é ter várias empresas atuando em várias partes do mundo.

Jornalista – Eles vão ter que pagar imposto?

Não sei. Não sei qual vai ser a decisão. Eu me lembro bem que este caso, o primeiro caso, o que se discute é se, uma empresa brasileira que tem sede aqui no Brasil, o lucro que ela obtém lá fora ela tem que declarar no mesmo ano fiscal ou se ela pode segurar esse lucro lá e investir e pagar não sei quando. É essa a discussão. Mas esse problema das coligadas não se limita a isso. Há uma série de outros problemas fiscais que devem ser debatidos nesse caso.

Jornalista – O senhor não sabe qual é a decisão, mas a gente pode saber qual é a sua posição?

Não, eu não costumo dizer qual é a minha posição sobre nenhum caso antes de proferir a decisão.

Jornalista – Ministro, voltando a outro assunto. O senhor percebe maior cobrança do público em geral sobre a Justiça no Brasil? Está encorajado com isso, acha que tem mais para fazer?

Eu creio que sim. Nos últimos anos, no Brasil… Em primeiro lugar, o Poder Judiciário entrou na cena política de vez. A própria competência que o STF tem da Constituição já faz com que ele atue na cena política. Mas o que houve de fato foi uma aproximação muito grande do Judiciário com a sociedade como um todo. Especialmente depois da criação dessa TV Justiça, que as pessoas assistem aos debates, se inteiram, bem ou mal, veem como funciona a coisa aqui. O interesse cresceu muito. Além do mais, o Brasil é o país que tem, per capita, o maior número de faculdades de Direito. Todo mundo estuda Direito neste país. Então o interesse é muito grande.

Jornalista – Falando nessa popularidade do Poder Judiciário e na própria do senhor, com certeza vai declarar que não tem interesse nenhum em ser presidente…

Eu não tenho interesse, eu não tenho phisique du rôle.

Jornalista – Mas máscara de Carnaval tinha… Mas essa não é a pergunta. Eu queria um parecer do ministro sobre este impacto. O que está dizendo a sociedade brasileira quando o senhor é tão popular no Carnaval?

Eu acho, a minha opinião pessoal, é que é um fenômeno que está ocorrendo em outros países, certamente. A sociedade está cansada dos políticos tradicionais, dos políticos profissionais. Essa é a leitura que eu faço.

Jornalista – O senhor mencionou a pauta extensa da Corte. E tem uma pauta de 10 mil casos…

Não, aqui no plenário não.

Jornalista – E quanto tem? Esse volume é difícil de trabalhar?

Primeiro, deixe eu lhe explicar qual é a organização da corte. O STF compõe-se de 11 ministros, mas ele tem duas turmas, duas câmaras de julgamento, primeira e segunda câmara. Eu diria que 85% a 90% de todos esses processos, 60 mil atualmente, são julgados inicialmente pelos ministros, monocraticamente, como se diz, com possibilidade de recurso para uma das câmaras, ou são julgados diretamente por uma dessas câmaras. Os demais processos, ou são da competência do presidente ou do plenário. O plenário tinha, quando cheguei aqui na presidência, cerca de 700, 800, eu não sei qual é o número – não sei se vocês têm como conseguir –, mas deve estar entre 600 e 700 processos. É um número muito elevado em razão do modo de trabalho do plenário. Vocês já viram, é muito lento. Um estilo e uma forma de julgamento que é muito pesada, que tem um ritual pesado. Dou um exemplo: ontem, nós tínhamos uma pauta com oito, nove processos divididos em dois, três blocos de três, quatro cada um. Nós julgamos dois processos apenas e ficamos até oito da noite para decidir um único caso, que nem era um julgamento final, era o julgamento de uma liminar, mas com uma carga política muito pesada. Então, como o tribunal, sempre, com muita frequência, tem esses casos com carga política muito grande, eles vão contribuindo para que a pauta vá aumentando, aumentando, aumentando e o tribunal não dê conta de diminuir esse load de processos. Mas eu diria que o modo de trabalho é, sem dúvida nenhuma, a causa principal para a lentidão no processo de julgamento do Plenário.  Nas turmas se julga muito rápido.

Jornalista – Então precisa se reduzir esse número de processos ou mudar a forma de trabalhar?

As duas coisas. Olha, este ano, não sei se já perceberam, quem cobre aqui o tribunal, tem havido menos discussões no plenário. Por exemplo, vários ministros se puseram de acordo no sentido de que, quando ele estiver de acordo com o relator, ele vai proferir um voto muito rápido, de dez minutos, no máximo, concordando. Antigamente, não. O sujeito para concordar ficava uma hora, uma hora e meia.

Jornalista – E para discordar?

Para discordar, duas, três…

Jornalista – Esse procedimento mais ágil, é possível surgir em norma?

Pode ser. Eu espero que sim. Por enquanto é algo consensual e tem funcionado bem este ano.

Jornalista – Mas é viável julgar esses 600, 700 por ano?

É viável, sim. Por ano? Por ano, não. Eu acredito que em uns três anos daria. Quando eu ingressei aqui no Supremo, há uns 10 anos, o load era de uns 400 processos aqui no Plenário e foi aumentando, aumentando e chegou perto de mil.

Jornalista – Mas isso acaba gerando uma lentidão no sistema? Estamos esperando o Supremo julgar alguma coisa…

Sim. Provoca lentidão aqui, evidentemente. Os processos ficam aqui, às vezes durante anos, à espera de julgamento. E provoca lentidão também nos outros tribunais, porque o que se julga aqui repercute imediatamente nos outros tribunais. Eu acredito que é também uma questão de estilo. Se for imposta uma certa dinâmica no julgamento é possível acelerar bastante. E, por outro lado, o tribunal tem uma sensibilidade para, em determinados casos, não obedecer a uma ordem de chegada e julgar imediatamente aquilo que é muito relevante. Eu já participei aqui de julgamentos de ações diretas de inconstitucionalidade em que a coisa se resolveu em 20 dias, uma questão nacional de extrema importância, o relator imprimiu um ritmo super-rápido e falou com o presidente. O presidente teve sensibilidade, colocou em pauta e resolveu o caso em 20 dias.

Jornalista – Mas vocês acabam tendo uma redundância nesses processos que chegam? “Ah, já julgamos isso”…

Ah, sim. Há muita redundância. Agora o tribunal é muito bem documentado. Isso aqui é um tribunal de 120 anos, com uma jurisprudência consolidada. Sobre quase todos os assuntos aqui tem precedentes. Isso ajuda. Raramente se começa do zero. Raramente.

Jornalista – Tem alguma coisa para se reduzir o que está chegado lá nos outros tribunais?

Sim, foi feita uma emenda constitucional em 2004, a emenda 45, que criou a repercussão geral. A repercussão geral já reduziu mais de 40% o número de processos aqui do Supremo.

Jornalista – Tem o número de processos que chega a cada ano no plenário?

Ao plenário? Eu posso te dizer 10 anos atrás. Houve um período em que cada ministro recebia 1.500 por mês. Hoje, acredito que esteja aí em torno de 300, 400. Mas aí que está: como o tribunal tem uma memória, tem documentação vasta sobre os mais diversos assuntos, não é difícil você receber 300 processos e julgar 500 em um mês. Não é difícil. Eu dou o meu exemplo pessoal. Sete anos, sete anos e meio que eu tenho aí essa AP 470 nas minhas costas. Essa AP 470 me levou a… diversas vezes eu tive que para vários meses para cuidar só dela, ao mesmo tempo em que chegavam mais mil, mais mil no mês seguinte. Houve um momento em que eu tive 17 mil processos no meu gabinete. Eu deixei o gabinete agora em dezembro com menos de oito. Consegui baixar para oito em menos de quatro anos. É muita coisa, mas saiu muita coisa também.

Jornalista – Oito mil?

É, eu deixei o gabinete com menos de oito. Evidente que cada ministro tem que ter a sensibilidade para dentro de uma massa tão grande de processos como essa, escolher o que é relevante. Se você não pode julgar tudo, julgue o que é relevante.

Jornalista – Ministro, tem havido um processo de judicialização da política, no sentido que o Supremo acaba sendo uma espécie de árbitro da disputa política de alto nível. Qual é a sua visão? Como isso afeta o sistema de Justiça? O senhor considera isso inevitável? Prejudica o sistema de Justiça?

Não, pelo contrário. Eu acho que o trabalho desenvolvido por este tribunal aqui só faz aperfeiçoar o sistema de Justiça. Imagine o que seria o sistema político brasileiro se não houvesse esse tribunal. Imaginem se todas as decisões cruciais de nosso país fossem tomadas mesmo pelo Congresso Nacional. O caso de ontem (vetos) é muito ilustrativo, é bem ilustrativo. No sistema presidencial de governo sob o qual nós vivemos, o instituto do veto é crucial. O presidente da República exerce o direito de veto. Ele veta a legislação, muitas vezes legislação inconstitucional, legislação que não é do interesse nacional ou legislação maluca votada no Congresso. Ele veta. Mas o Congresso tem o poder de rever esse veto, derrubar esse veto. Só que o nosso Congresso não faz isso. Não faz há 13 anos.

Jornalista – Como fica esse assunto sobre os vetos? A decisão de ontem foi a palavra final?


Não, a decisão de ontem foi uma decisão preliminar. Eu diria que foi uma decisão de alerta ao Congresso. A leitura que eu faço é essa. O Supremo cassou uma liminar porque liminar não é a maneira correta, o meio apropriado para se tratar de uma questão tão relevante como essa das relações entre o Poder Legislativo e Poder Executivo. Mas, no julgamento final, vamos ver qual vai ser o resultado.

Jornalista – Agora ontem a maioria dos ministros se manifestou dizendo que o que o Congresso tem feito é inconstitucional. Isso ficou bastante claro.


Barbosa – Muitos se manifestaram nesse sentido. Mas aí que está, a dificuldade é que… Vejam as circunstâncias em que a liminar foi tomada. A própria liminar é muito delicada. Eu jamais, em quase 10 anos, jamais dei uma liminar dessa natureza, uma liminar que paralisa os trabalhos do Congresso. É muito grave. Então a decisão pode ser lida por essa ótica, a da fragilidade do instrumento processual que foi utilizado. Ela não é a palavra final do Supremo.

Jornalista – Esse caso surgiu por causa dos royalties. Se isso termina no Supremo… O governo entende que não afeta novas licitações de petróleo. É a interpretação do senhor também ou isso gera novas questões jurídicas?

Eu acho que não interfere em nada não, não interfere nas próximas licitações. Esse caso dos vetos, para mim, é a expressão da fragilidade de um setor do sistema político brasileiro, do Poder Legislativo. O que se vê no Congresso é a incapacidade de tomar decisões que são próprias de qualquer Legislativo. No Legislativo brasileiro, por uma tradição que se fortaleceu muito durante o regime militar, e também por força da fragilidade da oposição dentro do Parlamento, há essa dificuldade de se tomar decisões que exijam um quórum mais qualificado, como a derrubada de um veto. Acredito que não haja uma maioria no Congresso para derrubar um veto presidencial.

Jornalista – Podia definir o que é um político profissional?

É muito simples: nós temos parlamentares aí que estão há 30, 40 anos no Congresso ininterruptamente. E aqui ninguém jamais pensou em estabelecer turn limits.

Jornalista – O senhor vê com simpatia essa proposta dessa força que a ministra Marina Silva apresenta, de limitar inclusive os parlamentares, esse grupo que se pretende criar à reeleição a apenas uma vez?

Eu acredito que isso virá parar aqui, e o Supremo dará ganho de causa à pessoa que queira ter mais de dois mandatos. Não vejo a menor chance.

Jornalista – Convido para pular de tema. Mês passado a Corte Interamericana de Direitos Humanos acolheu a causa apresentada pela família Herzog e mais uma vez questionou a Lei da Anistia no Brasil. Não é o primeiro caso. Aconteceu já no caso do Araguaia. A família de Herzog falou que acham que isso é um novo passo a favor, e pode fortalecer aqueles que questionam a Lei da Anistia. Agora eu pergunto: nos países onde houve ditadura na América do Sul – Uruguai, Chile, Argentina – as leis militares sobre violações de direitos humanos foram abolidas. Primeira pergunta: acha que esta posição da Corte Interamericana pode sensibilizar o STF para revisá-la? Segunda pergunta: por que a diferença do Brasil com os outros países?

Olha, eu não conseguiria estabelecer essa diferença entre o Brasil e os outros países, mas com relação a uma possível modificação do conteúdo da decisão é possível que sim, porque esse tribunal aqui, a sua composição muda com muita frequência. Veja bem: eu mesmo não participei dessa decisão sobre a Lei da Anistia. E provavelmente aqui, hoje, já haja uns quatro ministros que não participaram. Imagine daqui a quatro anos. Quase uma maioria absoluta do tribunal não terá participado dessa decisão. Ou seja, teoricamente é possível. Agora, eu não estou dizendo que isso vai acontecer.

Jornalista – Mas essa, digamos assim, expectativa sua não fecha completamente a possibilidade de a Lei da Anistia ser abolida?

Num espaço de tempo muito curto, não. O que eu disse é que, no plano judicial, aqui nesta Suprema Corte, é possível sim que – sei lá – a médio prazo, alguma decisão que não necessariamente incida sobre a Lei da Anistia, mas que tenha incidência sobre o que dispõe essa Lei de Anistia pode mudar, sim, o conteúdo daquilo que foi decidido há três anos. As coisas são muito dinâmicas aqui.

Jornalista – Este raciocínio do senhor se aplica a vários temas, não só à anistia. O senhor não está querendo dizer que esse assunto vai ser reaberto?

Não estou querendo dizer. Aliás, eu disse que estava especulando e dando como exemplo dessa possibilidade a mudança na composição da corte.

Jornalista – Mas o que é preciso para que isso seja feito, para que o tribunal possa reabrir?

Não, eu não estou dizendo que o tribunal vai abrir, ou pode abrir imediatamente.

Jornalista – O que é preciso para essa possibilidade? O que teria que ser feito?

Eu disse que uma possibilidade é a mudança da composição, mas que não significa… Vou deixar muito claro: eu não estou dizendo que alguém vai rever aquela decisão que foi tomada em 2010. Mas como os temas que são decididos aqui são tão vastos que não me surpreenderia se, num outro processo, tópicos especiais, importantes daquela decisão venham a ser modificados. Isso é muito comum aqui.

Jornalista – O senhor falou que não acha que tenha diferença com os outros países, mas num ponto…

Eu não sei dizer o que leva a essa diferença entre Brasil e os países vizinhos. Eu não saberia dizer.

Jornalista – O senhor tem opinião formada sobre a necessidade ou não de militares, ou responsáveis por violações de direitos humanos, serem julgados e irem para a cadeia?

Necessidade de serem julgados?

Jornalista – Se tem opinião sobre o que significa que um repressor não tenha ido para a cadeia…

Minha opinião pessoal é de que devem, sim, responder. Mas, como eu disse, eu não participei do julgamento. E, se tivesse participado, não alteraria em nada, porque foi um julgamento de sete a dois. Não participei por razões de saúde, eu estava afastado.

Jornalista – Eu queria colocar uma coisa para um colega que está escrevendo sobre o Supremo. Ele queria uma pergunta mais leve: o sistema de julgamento é aberto e sai na televisão e tudo mais, e isso tem gerado uma louvação de algumas pessoas, que dizem que é uma boa coisa aqui no Brasil. Mas tem essa questão do decoro, às vezes sai uma briga ou outra entre os ministros. Isso é uma coisa particular ao sistema, isso vai continuar, esse tipo de bate-boca dentro do tribunal?

O senhor é americano?

Jornalista – Sou, e lá não tem muito isso…

Vocês só não ficam sabendo (risos). Mas é igualzinho aqui.

Jornalista – Mas aqui sai na televisão…

Leia o livro Nine scorpions in a bottle… (risos)… Somos todos humanos.

Jornalista – O senhor espera que isso vá continuar, vai tentar diminuir?

Como eu disse, está tudo muito calmo, até agora.

Jornalista – Mas vem aí o mensalão mineiro…

É, a vida política brasileira é bem rica…

Jornalista – Então isso depende de quem está dirigindo a corte no momento?

Não. Eu creio que o tipo de caso que está em julgamento influencia. Vocês se lembram que na AP 470 houve momentos de muita tensão, muita tensão. E o que não falta aqui é tensão nos julgamentos. Porque é uma corte que… Eu costumo dizer em palestras que isso aqui não é só um tribunal, né? Isso aqui é um órgão de equilíbrio, de ajustes da federação, do sistema político, que decide muitas coisas de interesse imediato da sociedade. Então não é uma corte de justiça comum, é um órgão político no significado essencial da palavra, de igual para igual com o Congresso Nacional e a Presidência da República. É isso que muita gente não entende, sobretudo os europeus.

Jornalista – O senhor acha que o mensalão realmente mudou esse equilíbrio?

Sinaliza, pelo menos. Sinaliza, tenho certeza que muitos juízes aí pelos estados se sentiram muito mais encorajados e incentivados a tomar decisões que até então não tomavam.

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