lunes, 28 de diciembre de 2015

EU NÃO QUERIA, MAS VOU TER QUE PEGAR EM ARMA

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Porto Alegre está igual Sampa e Belo Horizonte (Belô o antro dos antros), e sei lá, o pais todo. A Mariana de Rosário foi fazer exame de direção, depois de pagar uma nota nesse curso de merda que eles inventaram para roubar o povo.

Pela segunda vez rodou. Passou na circulação, mas a pegaram no que sempre pegam: a porra da baliza.

Na hora agá o seu puliça perguntando abruptamente qual era a sua profissão, onde mora, onde estudou, se a sua idade era aquela mesma, se tinha marido, enlouquecido para perturbar a mulher...

Quando ela me disse levantei a voz, indignado:

- Por que não freou o carro, desceu e foi lá apresentar queixa! Idiota! Não sabe teus direitos, é medrosa?!

- Não fui de medo, sou meio ignoranta, eles são ruins, puliça... buááá.

- Tá, desculpe, nega, vem aqui, tudo bem, deixa eu te abraçar, já passou.

Se não molhar a mão do filho da puta, roda. Salvo se for filhote ou parente de juizeco ou desembargador, puliça, milico, politicalhos, assassino filhote do Eike, gatos graúdos e tal.

Marianita não é nada disso. E é aí que as víboras mordem, em quem aparentemente não tem como se defender.

Pois erraram o pulo, aquela máfia: Mariana vai passar sem molhar a mão. 

Eu que vou molhar a nuca desse cadelão, de sangue, com um disparo de glock, e de todos eles, se acharem ruim.


Filhos da puta!

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jueves, 24 de diciembre de 2015

Mamãe Noel

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No Natal de 1973, com 21 anos, no Centro de Porto Alegre, eu vindo lá da Rua Demétrio Ribeiro subi a Av. Borges de Medeiros calçando um tênis preto todo esborrachado, vestindo uma calça boca-de-sino de listras grossas de preto e branco na vertical, e uma camiseta vermelha e branca com linhas também grossas na horizontal.


A calça um camarada havia me emprestado, a camiseta era de uma mulher da vida, somente uma amiga generosa de um cabaré da João Pessoa que me cobriu a parte de cima.

Passei o viaduto e estava em frente ao Cine Lido quando uma tianga gritou do outro da rua:

- Sala! Maluco! Vai a algum circo vestido assim?

Ri e respondi daqui:

- É o que consegui, pombas! Tou duro, mas pro trago tenho algum!

- Quer uma Mamãe Noel hoje, Sala?!

- Quero!

- Então vai ganhar mais de uma!

A moça estava hospedada numa igreja da Rua da Praia, logo que passa a Riachuelo, não recordo de onde nos conhecíamos, mas de igreja não era. A tal igreja servia de casa de passagem para putinhas novas que estavam em má situação, andando pela vida com todos os pertences numa sacolinha.

Horas depois, pelas dez da noite, me levou para o dormitório da igreja, entrei pela janela quando um padreco que era fiscal se mandou. Tinha ela e mais cinco apavoradas, como eu sem família e ninguém pela gente.

Levei uns frascos de veneno. 

Passamos um Natal e tanto, quase me mataram no cansaço. Foi também a primeira vez que vi mulher com mulher, ui, dá uma coisa na gente.

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miércoles, 23 de diciembre de 2015

Rebelo-me

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Recebo carta com remetente e destinatário datilografado no envelope. Coisa da administração de lá, depois de meses.

À frente, Para Salito, Rua tal, número tal, etc. Porto Alegre, RS.

Às costas: Bira, 2º do B, Presídio Central, Av. Roccio, 1.100, Porto Alegre (RS), Brasil.

Dentro o manuscrito em garranchos:

"Antonio se por acazo tu pudér pasar numa quarta feira qualquér e deixar aquéLa erva e aquele radio eu não fico brabo me deixaria aTé muinto feliz, ésó deixar na seguransa que eLes me emTrégãm. Não leve a maL GERREIRO."

No verso do bilhete disse mais, com a assinatura rude de todo o Pavilhão, não coube todos, então vinha uns por cima dos outros, sobre o que aconteceria se alguém tentasse tocar no Salito, mas pulo esta parte porque tem canalhas pensando que ando me achando, os punheteiros de merda, dia destes perco a paciência.

Nas noites de datas festivas, comerciais, em que palestrava para eles lá encolhidos e apinhados nos Pavilhões onde guarda não era doido de entrar, jamais falei da minha vida pessoal, dos horrores que passava, não sou irresponsável, sabia do perigo. Se reclamasse de alguém, que me fez mal, colocaria em risco a vida do elemento.

O rádio de pilha é necessário, única coisa para passar o tempo dos coitados amontoados uns por cima dos outros, comendo lavagem para porcos naquele antro indigno, mas também é código para mandar uma arma, para mim não, sabem que eu não faria isso. Nunca, era rádio mesmo, não ousariam nem propor, desrespeitando a quem lhes leva luz.

Sim, recebi a carta hoje à tarde. Neste ano não irei lá, mas mandarei a erva-mate e o radinho de pilha, agora não tem futebol, mas tem músicas gaúchas e notícias dos grandes larápios aqui de fora. De quebra mandarei alguns pacotes de cigarro paraguaio e umas garrafas de cana braba, conheço os guardas, entregam enrustidas.

Desde há dias os presídios estão sob vigilância triplicada, pois a maioria endoidece no Natal, como no Ano Novo, Dia da Criança, Dias das Mães, dos Pais, aniversários de filhos, cavam buracos para sair, os carcereiros com os nervos à flor da pele, podem morrer a qualquer momento.

A maioria a que me refiro são os pobres ladrões de galinha, poucos são os perigosos mesmo. E os ladrões de galinha lá aprendendo na aula do crime... É assim em todo o País. Sei porque vi.

Já contei, está em algum lugar aqui do blog Ainda Espantado, que certa vez, chegado de viagem do Rio sexta à noite, custei a saber e telefonei no domingo para um juizeco, para a casa dele, me identifiquei e tal, e lhe disse que ele era um covarde de merda: tinha fincado oito anos de cadeia num pobre coitado que não feriu ninguém. O filho da puta enraiveceu mas dobrou a língua comigo, pelo que falei a seguir, não foi burro, ainda deve estar vivo. Aliviou a pena, os oito deveria ter dado para o pai dele.

E os nazistas, gatos gordos, de bilhões roubados, aprovando redução da maioridade penal, presidindo o Congresso Nacional, dando carteiraço de ministro em carro oficial, quadrilheiro no Supremo Tribunal Federal, etc.

E os políticos, banqueiros e empresários pegos na Lava Jato e os não pegos em tantas roubalheiras, soltos ou em prisão domiciliar, tomando champanhe à beira da piscina, com putas contratadas andando nuas para abrilhantar a noite. Devem ter contratado também certo ator pornô para comer as vacas das suas mulheres.

Aos nazis meus detratores digo que presídio é forte, o horror, mas até que não é nada, queria mesmo era vê-los encararem hospícios e asilos de velhos.

Covardes, eu não rezo nem fico falando de Jesus a todo momento, nem me acho nada, mas vocês me dão pena. Vão rezar no inferno, seus enfermos sem alma.

Como disse o contista que sem saber me fez rasgar um conto com o mesmo final: apesar de tudo hei de me tornar mais belo.


Rebelo-me.

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martes, 22 de diciembre de 2015

Eu vi, meninos. Deu Galo, Clube Atlético Mineiro, em 2015

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Também em 1976 eu estava lá no Beira Rio. Desta vez entrei por um portão de baixo, paguei o ingresso da geral e ainda sobrou algum para uma cerveja.

Vi uma das cenas mais emocionantes da minha vida de torcedor: o Rei Dadá fazer o primeiro gol e atravessar o campo correndo, se jogando feito menino no colo de Manga, o melhor goleiro do mundo, infelizmente os vídeos não mostram, mas eu vi, meninos.

Na narração de um viado paulista não foi falta no Falcão, ele após pegar no peito e pensando em invadir a área deles caiu por nada. "Atirou-se". Então tá.

Também não foi falta e a bola não caiu dentro no segundo gol. Quer dizer, entrou meio metro na bunda deles, mas não entrou.

Daí que eles começaram a comprar juízes, e títulos.

Esse o nojo que me dá o bairrismo mal-intencionado, de idiotas, por isso tantas pessoas doentes que se matam por futebol, deve ser coceira no rabo dos senhores narradores e comentaristas (jornalistas? Nunca).

Achei uma melhor, e colorida, aquela do paulista era em preto e branco, as cores do grande Corinthians, que tem uma torcida que merece aplausos, tirando os que matam os torcedores adversários.

Fui cercado certa vez em São Paulo, no bairro Bixiga, por uns vinte queridos da Fiel, eu desarmado, por estar passando na rua quietinho vestindo a camisa do Peñarol. Se fosse a do Inter teriam me matado. Sorte deles que não me mataram, sem que eu pedisse ou me amedrontasse, pois eles e suas famílias morreriam em seguida.

De lá para cá, não reconheço o Corinthians, pelos seus dirigentes, como campeão de coisa alguma, só de violência e corrupção. Animais.

Seus verdadeiros torcedores, a imensa maioria, não os bandidos, merecem coisa melhor.

Nestes termos, declaro que o Galo, CLUBE ATLÉTICO MINEIRO, é o campeão do Brasil de 2015.


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domingo, 20 de diciembre de 2015

Yira, Yira

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A primeira vez em que me enfiei nos lençóis de uma argentina foi no bairro Menino Deus de Porto Alegre. Um loura bonairense esplendorosa, linda de rosto, de corpo, que seios! E doce e querida.

A conheci dentro de um ônibus na volta de uma viagem à Argentina. O seu marido dormia, enquanto a mulher ficava de joelhos no seu banco e conversava comigo que estava no banco de trás. Falando baixinho, era madrugada e as pessoas dormiam. Estou dizendo: os hermanos gostam de brasileiros, como nós gostamos deles. Somos gente, ora.

Na revista da fronteira abri a minha sacola para mostrar aos policiais o conteúdo e me cortei com um aparelho de barbear solto, ela que estancou o sangue.

- Conheces o tango Yira, Yira, rubia?

- No me acuerdo...

Então cantarolei: “Verás que todo es mentira, verás que nada es amor, que al mundo nada le importa, yira, yira...”, aí de pronto ela reconheceu. Segui:

- Tem uma passagem que diz: “Cuando estes bién em la vía, sin rumbo, desesperao...”, sabe o que significa “la vía”?

- No, no sé.

- Era um beco sem saida escondido lá atrás das baias nos fundos do antigo jockey de Buenos Ayres, onde os viciados que perdiam o pouco que lhes restava em patas de cavalos, tentando uma sorte que nunca viria, iam para para se matar. Tantos suicídios se deram en la vía...

Assim conversando, vidas, tangos e milongas, que ao amanhecer chegamos em Porto Alegre. Por alguma razão que não entendi o marido dela ao acordar me olhou feio. Na época eu era um perigo, mas aguentei no osso. Adeus, muito prazer e tal.

Um dia, na churrascaria que tinha na frente onde eu morava – 24h aberta – na Av. Getúlio Vargas, o encontrei sozinho e me fez cara feia, não deixei para amanhã:

- O que te fiz, paisano, que não gostas de mim?

- No sé, pero no me gusta.

Eu morava sozinho ali em frente, então peguei as garrafas que o querido garçom Lua me alcançava, fui lá para isso, comprar cervejas, e saí pensando: se não tem motivo para não me gostar, vou-lhe dar.

E dei, fiz da sua amada esposa a minha amante. Tratei-a inicialmente como piranha, só baixaria, taradices e algumas perversões. O resultado saiu ao contrário: apaixonou-se, agora perdidamente, pelo gauchinho boêmio.

Só não gostei de ela insistir para que eu usasse o roupão do cara na casa deles, ele viajando para Buenos Aires, tenho pudor, né.

Histórias assim, de paixões e erros humanos, sempre terminam mal, e com esta não foi diferente.

(segue)

Yo tengo tantos hermanos, que no los puedo contar

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Falei antes da repugnância que me causa a grande imprensa brasileira com essa história de rivalidade com los hermanos argentinos. Pombas, no futebol a rivalidade sempre haverá, vejam grenal, flaflu, etc., mas a "briga" é dentro de campo, acabou vamos todos - salvo alguns pobres coitados - tomar chopes juntos.

Só que eles, quanto aos argentinos, tentam usar o futebol para criar animosidade entre as nações irmãs, levando o "conflito" das quatro linhas para outros setores. Subliminarmente algumas vezes, noutras nem tanto, é na carinha mesmo.

O narrador-mor da Plim-Plim, aquele imbecil, e comentaristas em geral de todas as redes, vivem fazendo isso. São ordens superiores que eles cumprem. Nada é por acaso. Interessa aos donos da porcaria, estes que são mandaletes do Tio Sam, que nosotros sul-americanos sejamos desunidos.

Hoje o tal narrador, um burro ao cubo, chegou ao ponto de ironizar a torcida argentina na decisão River x Barcelona. Trinta mil argentinos (segundo a PM de São Paulo, seis pessoas), dizendo: "Vieram aqui pra cantar", ao sentir o estádio inundado de cânticos apesar da derrota. Um canalha.

Nunca fui tão bem tratado como na Argentina. Entre muitas lembro de que certa vez à meia-noite desci de um ônibus na estação rodoviária de Posadas e saí perguntando onde acharia um hotelzinho barato. Como não sabia dizer barato em espanhol esfregava o polegar e o indicador, significando dinheiro, e dizia "poquito".

Eu trabalhava como asponezinho numa companhia de seguros, e o Instituto de Resseguros do Brasil vinha há seis anos negando pagar o resseguro, grana alta, de um seguro de vida, acidente ocorrido na Argentina, por falta de um documento das autoridades de lá. Não tinha jeito, meus diretores desacorçoados pela companhia, que já andava malecha das pernas, perder um montão de dinheiro. Minha função era outra, mas me levantei na reunião e disse: "Me dá aqui esse processo, eu vou lá na Argentina buscar esse papel, pra mim eles vão dar".

Acharam que eu estava louco, pois tinham tentado, via advogados de Buenos Ayres, todos os recursos. E fui. O acidente, de carro, que suspeitou-se assassinato, ocorreu em Nieves, pequena comunidade próxima à capital da Província de Misiones, esta Posadas.

Um mocinha me ajudou, em tal lugar tem esse hotelzinho, mas pera aí. E chamou o seu tio. Conversaram e logo me disseram que eu ficaria melhor na casa deles, é casa simples, mas ficariam honrados em me hospedar, e eu não tinha ares de rico não, como não era nem sou. Então soube que ela era argentina, como o tio e o seu falecido pai, mas de mãe brasileira.

Foi um parto para me negar sem ofender o lindo gesto. Ali comecei a conhecer os argentinos. Na volta de Nieves almoçaria com eles antes de voltar a Porto Alegre.

No outro dia fui para Nieves. Um fim de mundo, fui de táxi. Acabei achando o pequeno prédio da sua polícia militar. Como não sou bobo não fui na Justiça, conheço os entraves burocráticos e tal. Pois os humildes policiais vasculharam velhos arquivos por horas, enquanto tomávamos mate e conversávamos sobre futebol e tudo, eles encantados se perguntando como um brasileiro tão jovem conhecia tantas letras de tango, e acharam os documas do acidente.

Deram-me cópia dos documentos que pedi, e ainda, também a meu pedido, uma declaração assinada por todos os presentes, com carimbos oficiais e tudo, de que de fato, em tal data, na curva da estradinha tal, ocorreu o sinistro, etc.

Saí de lá noite fechada, como não tinha condução eles me arranjaram carona, se não iriam me levar a Posadas na sua única viatura. Muitos abraços na saída.

Esses são os nossos irmãos argentinos. Seres humanos como os há em todo o planeta.

Entrei na sala dos meus diretores e joguei os papéis na mesa, rindo e dizendo: "Quero aumento!".


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sábado, 19 de diciembre de 2015

REGRAS DO FUTEBOL DE CAMPINHO

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Importante: peguei o rol de 1 a 15 na rede mundial, na bela recordação de alguém anônimo, infelizmente.


Mais ou menos assim. Alô Derzeli LimaSérgio PadilhaSergio Luiz ZanchiAntonio Luiz Maciel, ah, dezenas de amigos da terra: tínhamos muitos campinhos, o mais central era o "Estádio da Guanxuma", na Av. Independência. Já contei certa vez: no Guanxuma tinha tocos de guanxuma, que como era difícil de arrancar o piazedo cortava rente à terra, mas ficavam os toquinhos, se não conhece o campo lá se vai um dedo do pé.

Sei onde eram os demais "estádios" mas não recordo dos nomes (na Seis de Maio um grandão, na frente da casa do Sergio Padilha outro, etc), quem lembrar manda.

Além do que diz o cara do texto abaixo, tínhamos um bairro contra o outro também. Normalmente fechava o tempo. O Lóide (era mais velho) me fez tanta falta no Seis de Maio certa vez que fiquei um mês sem jogar.

REGRAS DO FUTEBOL DE CAMPINHO

(1) Os dois melhores não podem estar no mesmo lado. Logo, eles tiram par-impar e escolhem os times.
(2) Ser escolhido por último é uma grande humilhação.
(3) Um time joga sem camisa.
(4) O pior de cada time vira goleiro, a não ser que tenha alguém que goste de Catar.
(5) Se ninguém aceita ser goleiro, adota-se um rodízio: cada um cata até sofrer um gol.
(6) Quando tem um pênalti, sai o goleiro ruim e entra um bom só pra tentar pegar a cobrança.
(7) Os piores de cada lado ficam na zaga.
(8) O dono da bola joga no mesmo time do melhor jogador.
(9) Não tem juiz.
(10) As faltas são marcadas no grito: se vc foi atingido, grite como se tivesse quebrado uma perna e conseguirás a falta.
(11) Se você está no lance e a bola sai pela lateral, grite "nossa" e pegue a bola o mais rápido possível para fazer a cobrança (essa regra também se aplica a "escanteio").
(12) Lesões como destroncar o dedão do pé, ralar o joelho, sangrar o nariz e outras são normais.
(13) Quem chuta a bola pra longe tem que buscar.
(14) Lances polêmicos são resolvidos no grito ou, se for o caso, no tapa.
(15) A partida acaba quando todos estão cansados, quando anoitece, ou quando a mãe do dono da bola manda ele ir pra casa.

(16) Também tinha o assovio do pai da gente, como lembrou Sérgio Zanchi, aí o nego sai correndo pra casa de fininho, não é doido de desobedecer o velho, o pau pega.

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Post Scriptum:
1) Diz Antonio Maciel: Jogávamos até o anoitecer, isso quando o dono do terreno, seu Adelino (dono da loja Boa Compra, pai do Calu) não aparecia com os brigadianos e aí era um esparramo só. Lembro do Dinei Vargas, o nego Zole nunca mais vi, o Nelso bichinho, filho do Sarquis, o nego Marcus era o goleiro. Tantos...

2) Sérgio Padilha relembra: O campinho da 6 de maio tinha o nome de Bariri. Tinha o da Cachoeirinha, o da Pedreira, o da Maravalha, o Ladeirão, o do Passo da Areia, aquele que ficava atrás do campo do Palmeirense, e o peladeiro atrás do Colégio Três Mártires.

viernes, 11 de diciembre de 2015

Santo de casa

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Há mais de vinte anos certa noite, que eu não tinha me tocado mas não era mais noite, e sim lusco-fusco do amanhecer, acordei o escritor, ativista do bem e outros bichos Gilberto Kieling às seis da manhã, ele havia se mudado de Porto Alegre para uma cidade de colonização alemã no noroeste do Rio Grande do Sul.

Eu ligando do baixo do Alto da Bronze em Porto Alegre, de noite atravessada de escrevinhação e há dois dias numa água de vinho tinto desgracida. Quem atendeu foi a mulher dele, voz de sono:

- Alô...
- Boa noite, minha senhora, gostaria de falar com o Gilberto.
- Ã, bom dia... o Gilberto está dormindo.
- Por gentileza, se possível queira acordá-lo, é importante, sobre um conto que ele escreveu.

O que faz a bebida.

Eu nunca tinha visto o Gilberto Kieling na vida e até hoje não deu no acaso de conhecê-lo pessoalmente. O número do telefone devo ter obtido na CRT, a telefônica estatal gaúcha à época, eu tinha alguma mulher por lá, isso antes de um viado lalau entregá-la para os estranjas, não a mulher, a telefônica, na maior picaretagem já vista no.... mania de mudar de assunto.

O cara dormindo mas ouviu algum zunzum e se mexeu de lá:

- Quem é (não lembro o nome da senhora), a esta hora?
- Alguém que quer falar contigo...

La veio ele, também com a voz ainda firmando do sono.

- Pois não, quem fala?

- Boa noite, eu me chamo (dei-llhe meu nome completo), o senhor não me conhece, só estou ligando para esclarecer uma coisa, com todo o respeito.

Eu com voz amistosa, identificado, ele não desligou na minha cara.

- Pois não, pode falar, já que estou acordado agora...

- Seguinte, prezado Gilberto: o seu conto A Criação (clique, publicado no blog em junho de 2012, duas décadas depois, com expressa autorização do autor) era meu. Claro que tu não me plagiou, até porque o tema vem de milênios...

Silenciou completamente o outro lado da linha, sem querer consegui a sua total atenção.

O conto trata de inveja, de pequenez em uma pequena comunidade. O reconhecimento, se vier, virá de longe, nunca dos seus amados, salvo se o nego vier de certa "elite", tipo o filho do prefeito. Um tema terrível.

Prossegui:

... vem de milênios mas eu tinha a mesma metáfora que tu usou: uma embarcação. Eu escrevi diferente, claro, outro modo de dizer a mesma coisa, outras palavras, sinônimos, outras vírgulas, outros pontos, mas lá estava ela, a embarcação. De onde é que tu tirou a minha ideia, homem, amei o teu conto, como falei eu diria de outra forma, mas rasguei o meu que estava pela metade e eu sabia o fim, tu disse antes.

Silêncio na linha. Uns dois minutos e o Gilberto falou:

- Se tu estava escrevendo sobre isso, com essa metáfora, tu sabe a razão de dentro de mim, basta olhar para dentro de ti mesmo.

Acabou ali a conversa, ali me flagrei que eu estava bêbedo.

Amenidades, muito obrigado, a gente se vê um dia, siga escrevendo rapaz, não desista, tu é bom, muito obrigado Gilberto. Abração. Abração.

Lembrei disso devido a uma ligação que recebi hoje às nove da manhã, o moço não estava bêbado para ligar ao amanhecer.

A propósito do conto "Fodido, mas contente", do meu livro Um Amor em Porto Alegre (Ed. AGE, 2015, capa e ilustrações do cartunista Nani e quarta capa de Carmen Medeiros).

Outro tema, mas o rapaz dolorido com este mundo dos infernos, me disse tu chegou antes, a metáfora era minha, a revolta, até o bailado de golpes, plantas e tacos de flamenco, de onde o senhor tirou isso?

Respondi o mesmo que o Gilberto havia me dito tantos anos atrás.

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martes, 1 de diciembre de 2015

Avoando com Natividad

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Ontem o casal de amigos Djine e Renato festejaram o aniversário do seu filho Cássio. Quando os parabenizei lembrei de fatos antigos, estou ficando velho, recordo de tudo. Bem, por vezes misturo as datas, somo ocorrências diversas, mas sem prejuízo à verdade.

Jamais esquecerei esse belo menino que conheci lá no Claudião, em SP, no seu sítio nuns matos próximos à capital, com aqueles cabelos lindos que lhe desciam às costas. Eu, separado de há muito, adocei a tigra-mãe (rica pessoa) e obtive permissão para levar a minha filha Natividad, que regulava de idade com o Cássio.

A levaria igual, eu hein?, pois andava vendo pouco a menina, eu morando no Alto da Bronze, e viajando muito, bota muito nisso, certa vez cheguei e tinha 104 exemplares de um jornal que eu assinava em frente à porta do apê, 104 dias entre Rio e Maceió, e ela morando com a mãe no Cristal, por muitos meses somente a via para assinar o boletim - sempre eu, nunca tirei os olhos das notinhas - mas foi melhor assim, de comum acordo.

Foi uma festa só. O Cláudio Wagner tinha um piscinão desses inteiriços que vendem, enorme, uns 25m, onde tive uma sorte danada num salto mortal que dei para me mostrar para uma paulista divorciada, que com outros paulistecos apareceu por lá naquele fim de semana. A muié era muito gostosa, mereceu o sacrifício, o que faz a bebida.

Tomei vinte metros de distância e vim a mil, no último segundo à beira da piscina acertei o pé e voei lá pro céu, me virando no ar. O Claudião - me disse depois - quase teve um ataque: "O louco vai morrer". Caí direitinho e saí lá do outro lado, orgulhoso sorrindo para a tianga. O que faz a bebida.

Foi no dia seguinte que os Klein apareceram: passamos todos um domingo maravilhoso. Nati e Cássio na maior festa. Eu sem a divorciada, quase me matei por nada, a bandida já tinha um rabicho, ora se não iria ter, conheço mulher, mas é aquilo, torno a repetir: bêbedo perde a crueza, fica todo iludido. E o Claudião de olho em mim, naquela de "Esse maluco vem do Sul pra esculhambar com minha amiga".

Na segunda-feira o Cláudio nos levou, à Nati e eu, até Guarulhos, pegar um vôo da Transbrasil para Porto Alegre. Eu fraco dos tragos que tomei por três dias disse a ele, longe da Nati que era estreante em aviação: "Não gosto dessa porra de Transbrasil, soube que é ruim de manutenção, faz na Varig, e uma amiga da Varig me disse que aparecem lá uma vez por ano".

Quase voltei com a menina para o apê do meu amigo na capital. "Cai nada, Saladinha, é jumbão", disse ele, "e amanhã tu me disse que tem compromisso sério lá". De fato, tinha. A minha preocupação era com a menina, por mim que caia o avião, mas não com ela comigo, Deus me livre, ela não.

Pegamos uma ventania desgracida pelo caminho, aquela ave tinha quedas de quinhentos metros, parecia que estava domando um xucro, eu me segurando na poltrona, e a menina me tira os foninhos de música dos ouvidos e me diz: "Bom estes sacolejos, né, pai, dá vontade de dançar".

"Sim, uma beleza, minha filhinha querida...".

O Olívio, que casualmente viajava na mesma linha de bancos, ele 7-A e eu com a guria no 7-E e F, dali do outro lado do corredor a custo segurou o riso ao ouvir a minha resposta.

Com uma exceção, ã..., duas, três... nunca viajei pelo ar com mulheres. Sem exceção, jamais alguma me esperou em aeroporto, família não vale, pois Maria de Lourdes me esperou sim, no Santos Dumont, mas essa é fora de concurso, amada.

Mas viajei com muitas filhas, pelo que serei para sempre grato à Vida.

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