domingo, 27 de febrero de 2011

Rosas vermelhas para uma dama azul

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Red roses for a blue lady (1948, Sid Tepper e Roy Bennett)

Por falar em dama azul, vai novamente um buquê de rosas amadurecidas, rubras de ardor por muito tempo retido, com amor, para Dolores Sierra Frida Von Allerborn, queridas mulheres que nos meus devaneios, sonhos confusos, acabam se tornando uma só pessoa, enigmática em sua simplicidade, que me trouxe de volta à vida, que afastou La Mentira do meu caminho, que acolheu minha raiva de desencanto, minhas lágrimas de anjo perdido, meu corpo queimado de febres em camas sem nome, minha saga de alamedas escuras e ruas tortuosas, da longa noite de olhos vermelhos. Será que ainda estou sonhando? Ou andei bebendo?




O cantor do vídeo é ele mesmo, o malandrão “do bem” Dean Martin (Dino Paul Crocetti -  Steubenville, Ohio, 7 de junho de 1917 – Beverly Hills, Califórnia, 25 de dezembro de 1995), que na década de 60 iluminou o mundo artístico junto a Frank Sinatra, Sammy Davis Jr., Peter Lawford e Joey Bishop, e no cinema, quem não viu?, com Jerry Lewis. Possui três estrelas em Calçadas da Fama, duas (6519 e 6651) na Hollywood Boulevard pelo seu trabalho no cinema e na televisão, e a terceira, que aqui reverenciamos, na 1817 Vine Street, pelas suas gravações.


Mais uma com ele: Everybody loves somebody (1947, Irving Taylor e Ken Lane). Esta tem história. Depois de ser gravada por muitos artistas, inclusive Frank Sinatra, sem ser notada, em 1964 encontrou Dean Martin irritado com o que chamava “invasão britânica”, o rock dos Beatles. E prometeu: eu vou bater esses caras. Muita gente riu, ora, um “italiano” de 47 anos poderia no máximo agradar a uma parte da turma mais velha. Pois ele pegou a música que tinha Lane ao piano e colocou com orquestra e coro, e no dia 15 de agosto de 1964... bateu os Beatles, disparando ao topo das paradas de sucesso, número 1 por oito semanas na Bilboard Hot 100. E a música é agora um clássico popular que todos conhecemos, pela teimosia (e bom gosto) do “italiano”.





Em 20/dez/2012 recupero-me de uma injustiça que cometi: embora constem nos vídeos expostos, é justo citar as pessoas de amor que as postaram.
A primeira, Red roses for a blue lady, foi postada por Jackwyne (clique no nome e cai no seu espaço no youtube).
A segunda canção, Everybody loves somebody,  o foi por Ivan Vasconcelos (clique, idem).   








Zé Keti

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Bem, é domingo e o carnaval se aproxima. Depois da espinha de um conto que poderá vir a ser interessante, deixemos para lá as violências cometidas pelos múmios.

Zé Keti era José Flores de Jesus, (Rio de Janeiro, 06 de outubro de 1921 - 14 de novembro de 1999). Único neste mundo, sua vida e seus quase 130 sambas que o digam.

Morreria de novo se soubesse que em carnavais de salão hoje em dia tocam música meleca, pois é insulto chamar aquilo de sertaneja. Parece que o vejo saindo fora, exclamando: "Diz que fui por aí"! Vocês entendem, aquela gosma que resulta da mistura de country, rancheira, samba, rock, sertanejo e viadagem, com as sintomáticas vozes de corno uivando para ferir nossos ouvidos de modo irremediável.

(Alô, Schumacher, se eu não estiver por aqui na terça gorda, não esqueça de repetir esta marcha-rancho no blog, na voz da Dalva de Oliveira).

Não vamos contar a ele. "Acender as velas"!

Saudades, Zé!


Red roses for a blue lady

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Até por aqui de Londres, Big Ben, pubinhos, eca... a origem da águia cega do terrorismo imperialista, enfim caio no Brasil.


Caio numa Londres pequena, uns 650.000 habitantes. LONDRINA, nosso Paraná.


Depois de telefonemas trocados rapidamente, ao sair do bosque que há bem no centro da cidade, bosque mesmo, mato fechado, um terço do Campo da Redenção, porém preservado, enfim vejo ao longe o caminhar de Carlito Dulcemano Yanés na esquina da rua São Paulo com Pará, dando as costas à lancheria linda onde as mulheres o veem com interesse. Ele veio.


Eu desço a rua sem olhar. Ele segue pela outra calçada, 30 metros atrás. Dou voltas e voltas e enfim acho um bar mais ou menos confiável, entro e peço dois chopes. A Magnum aquece o lado esquerdo do paletó, e o meu coração, mas ainda assim não estou no meu dinheiro. Sem chapéu fico enervado.


Carlito vai e volta do fim da outra quadra, mas então entra como se fosse mais um otário no bar, para caçar mulheres solitárias, senta-se na mesa ao lado, bem do meu lado. Digo: acho que esquentou...


Olha o chope, empunha e bebe tudo de uma só vez. Levanta a mão e pede outros.
Mais umas miradas pelo recinto, pela rua, e digo senta aqui. Na minha frente.


Silêncio. Toma os dois, eu espero ele falar. Eu bebo rasgão em absinto, com tranquilidade de acácias.


Tartamudeia: mejor seria un nombre...


Puta que pariu, portunhol cubano-oriental.  Que nombre, Carlos?


Pués si... el blôco de carnaval, "Epancándo la periquita" seria mejor, nosotros solamente...


Entendi. Leu no blog sobre o bloco que pensou falido e tratou de batizar outro, para 2.012: Espancando a periquita. Boa idéia.


Nâo vou perguntar sobre Betsabé, anda em ruas trocadas com sombras, me disseram. Um dia volta, mas hoje o assunto é sério, tesão de apavorados não combina com homens. Nem com mulheres.


Cuando?


Carlito responde: no carnaval.


Sabemos que carnaval é marcado pelos bandidos que assessoram banqueiros, carros fortes, dozes, uns mortos de fome, mas armados até os dentes, os escravos, tremendo de medo mas submissos para defender a propriedade dos ladrões. Deus lhe pague.


Não perguntei a Carlito Dulcemano a razão de se expor, pois durante a farsa para eleger presidente do Brasil fui eu quem gritou Escravos de banqueiros! Vamos pegá-los!


Carlito resolveu que iria morrer no carnaval. Assaltar dez pontos do Itaú enquanto Momo e os múmios engordam mais, os últimos ajoelhados diante do seu deus, o Juro assassino. Ah, o Momo. Saudades de Zé Keti.


Talvez uma semana antes, ou depois. De qualquer maneira um dia iria assaltar mesmo, a tentação sempre foi muito grande, mas a notícia da exorbitância dos lucros de 2010, o horror dos horrores, e ve-los festejando... foi demais.


Se é assim, vamos morrer todos, Carlito, eu disse. Proponho deixar para o equinócio de outono. Em duas horas examinei os papéis todos, naquele canto de bar. As vias de acesso em celeste, as rotas de fuga em verde, as delegacias a serem rendidas em preto, a troca de carros, o campo de aviação. Ao terminar falei: vai precisar de muita sorte.


Ele insistiu para que lhe desse autorização para fazer uma visitinha ao dono. Tem dono, sim, tudo tem dono, isso de acionistas é papo para comprar presidentes deslumbrados, covardes que envileceram e de tão idiotas ainda se acham o cara. Faz-me rir. Convidando Mr. Gerdau para Ministro, Mad Madam Mim? O que é isso, perdeu a  vergonha? Ou era uma artimanha para mexer no ovo da serpente? Acha que eles são tolos? Você é muito ingênua, doçura, e eles vão seguir tomando tudo.


Neguei o pedido, de nada adiantaria. Isso é pior que o maldito tráfico de drogas, a linha sucessória está pronta. E em cima sempre teremos Mr. F. Febraban e seus lacaios dentro do governo, se gritar não fica um, e muitos fora.


Enfim, Carlos chegou ao ponto: explicou o motivo da sua premeditada ausência na Rua do Perdão no sábado, o bloco na rua não o terá de copo na mão, estará longe, em festejos outros. De tão acabrunhado, tentou remediar com um nome para o bloco do ano que vem. Talvez dessa vez a moçada tope, Espancando a Periquita não é tão mau, embora eu prefira a sugestão do meu carioca Ricardo Ramos (alô, altos de Santa Teresa, aquele abraço!), que, com sua agudíssima presença de espírito homenageia os Filhos de Ghandi: Filhos da Glande.


Ah, o carnaval. Ao lambusar os ferros, olear, ao catapultar o ódio que me manteve vivo, ao decidir ir para o inferno levando alguns, por um instante lembro de uma dama azul.


E volto a ser o menino que acreditava em bondade e sinceridade, braços abertos pela vida, como a lenda de Jesus, deixo de um lado os ferros. E ofereço a uma namorada que nunca tive, dizendo que me perdoe, tente, pois há muito, muito, muito, eu sei que o bordel em que morei de favor, que me ensinou tanto, também me fez muito mal.




sábado, 26 de febrero de 2011

Refresco com Eydie y Los Panchos

Aí está, para quem, como eu, não estava lá para ver (em 1950 papai ainda recém namorava mamãe).

Uma singela amostrinha de Eydie Gormé y Los Panchos. Já falamos dela e deles por aqui (vá se saber em que mês e sob que título). E a guitarra de Alfredo Gil... 

sábado, 19 de febrero de 2011

Mi pobre madre querida

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Rosa Clotilde Melo Luciano, ou Rosita Melo, es una pianista, compositora y concertista argentino-uruguaya que nació en Montevideo en 1897 y vivió en Buenos Aires desde los 3 años de edad hasta su muerte en 1981.

Es la autora del famoso valsesito criollo "Desde el alma" (1911, cuando tenia 14 años) por el cual sería reconocida como la primera mujer compositora rioplatense de renombre mundial.

Salito, em pessoa e em mau estado nesta manhã de domingo (acho que aquele uísque estava envenenado), oferece para o amor dos amores: Juliana Missaggia, a moça mais linda, mais querida, mais... tudo, do Rio Grande do Sul. Com respeito. E amor, se é que esta palavra não gasta, se é mesmo indestrutível o amor.

Gracias pela vals, Juliana.

Alma si tanto te han herido
¿por qué te niegas al olvido?
¿por qué prefieres llorar lo que has perdido
buscar lo que has querido
llamar lo que murió?

viernes, 18 de febrero de 2011

Polonaise

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Direto da Cracóvia, recebemos e-mail de Tigran Gdanski, o grande Sidnei Ordakowski (não errei a grafia? Esse dabliú por vezes me parece que é ve), dizendo da sua preocupação com o  Rei de Porto Alegre. Vai que se afogue naquele mar... da ponte em Veneza,

Como todos sabem, o cheiro dos fluidos da cidade, como o próprio Rei escreveu naquele cruel, intrigante e amoroso poema publicado AQUI.

Um parêntese: alguns queridos amigos, e uma querida amiga em especial, nos disseram que convém mais a Alex Moraes o título de Príncipe, que rei é muita responsabilidade para o seu oceano de juventude. Está certo, sabemos que ele ainda é Príncipe, um lindo, jovial e inteligente Príncipe, mas nos confortamos em chama-lo de Rei. Majestade se carrega desde o nascer, independentemente do ninho, como prova o rapaz daquela lenda de manjedoura e reis magos, aquela longínqua estrela... 

Voltando... Ao ler o recado de Tigran, lembramos de uns poloneses loucos de atar.

Mozart, o Mozart que amamos, remexe-se no primeiro túmulo naquele dia chuvoso? Não, deve é morrer de rir, ridente que era.

Riam, ridentes. Tem Tom Brasileiro no fim, em show lejos, num teatro europeu lotado, uns cinco São Pedro (lá é teatro, aqui é hospício de colafinagem de mau gosto).


Pois é, seu Nei Lopes

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O samba dito pelo autor é outra conversa.

Moço, mais uma aqui na mesa 8, por favor, já que a 1 está ocupada por mulheres que nunca vi (tomara que a morena coxuda me olhe). Leve essa dúzia de vazias, que agora seu Massareti empunhou o violão. Vai, Massa!

Para blancos y negros. Que não se percam sem ser por amor. Taí, a mesma... mas não, foi o jeito de deixar rolar o que vem depois.

Olha, senhora liberdade,  dentro dos meu olhos...  meus cabelos... vê...

Pois é, Nei Lopes. Mal se retribui como? Com indiferença? Com ódio? Com vingança?

Sei que não, seu Nei. Retribui-se com canções, com o derramamento público de sangue, amor puro, como o senhor fez e faz, como Paulinho da Viola aprendeu o que já sabia desde menino. Lidar, compreender, deixa pra lá a burrice, o chafariz dos infelizes, espertos pelo desespero, e na noite que entra... o riso das desgraçadas. O aprendizado. Olhemos para o outro lado, a limpidez dos sorrisos do Asilo Padre Cacique pela manhã. Não briguem, gurias, sou o filho de todas vocês, que nunca as esquece, minhas mães, hoje aqui retorno mais feliz. Trouxe batom para todas, calma, vão ficar ainda mais lindas.

Aqui no covil-palafita a gente tenta.

Sangue vertendo de incompreensão é ignorância. Samba é amor, na única vidinha que temos, dias contados, mas a vendemos caro, a morte há de chorar quando vier nos buscar toda sem jeito, já arrependida por ter que fazer o que é preciso, e virá nua, corpo de mulher no cio, morenaça, aí nem precisa me dizer que eu vou, de sangue doce.

Ah, esta vida que vai e vem. Agora vai.

Saravá, seu Nei!




Nei Lopes, brasileiro

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Falar em Nei... senti que meu coração não ia aguentar.

Aí está, o começo do amor, a resistência de amor. Vai para a negra Zilda e todos os meus irmãos que nunca me criticaram por ser caucasiano. Viram o Salito, com carinho.

Alô, Gamaliel, na praia do Quintão, saravá. Alô negra Zilda, em Tramandaí, saravá.
Alô, Jurema, no fundo do Récife, saravá. Alô Anahí, do Chuí, saravá. Alô Betsabé.

Nei Lopes! Na origem de Cubanacam.

miércoles, 16 de febrero de 2011

Refresco com Nei Lopes

Nei  Braz Lopes (Rio de Janeiro, 9/5/1942) é do Irajá, mas já botou fogo em todo o Rio, no Brasil e no mundo.

Cantor, compositor (uma penca de clássicos e dezenas de jóias, sambas que todos conhecem por outras vozes) e escritor de muitos livros (pesquisador de negritude e de música), é um dos caras mais premiados do Brasil. Infelizmente, como se sabe, há obstáculos na cultura dos barões que não permitem que o povo todo perceba a sua grandeza.

Falar desse cara requer tempo. O Cravo Albin já começou, AQUI.

No vídeo cantando um samba de sua autoria, do ano de 2000, com Dudu.


No tempo que Dondon jogava no Andaraí
Nossa vida era mais simples de viver
Não tinha tanto miserê, nem tinha tanto tititi
No tempo que Dondon jogava no Andaraí
No tempo que Dondon jogava no Andaraí

Propaganda era reclame e ambulância era dona assistência
Mancada era um baita vexame e pornografia era só saliência
Sutiã chamava-se porta-seios, revista pequena gibi, iiii...
No tempo que Dondon jogava no Andaraí
No tempo que Dondon jogava no Andaraí

Rock se chamava fox, e tiéti era moça fanática
O que hoje se diz que é xerox, chamava-se então de cópia fotostática
Motorista era sempre chofer, cachaça era Parati, iiii...
No tempo que Dondon jogava no Andaraí
No tempo que Dondon jogava no Andaraí

22 era demente, minha casa era meu bangalô
PATAMO era socorro urgente, todo cana dura era investigador
Malandro esticava o cabelo, mulher fazia misampli, xiii...
No tempo que Dondon jogava no Andaraí
No tempo que Dondon jogava no Andaraí

Hortifruti era quitanda, jeans era só calça Lee, diz aí:
No tempo que Dondon jogava no Andaraí
No tempo que Dondon jogavano Andaraí

Loteria era contravenção, muleque pequeno guri, segue por ai.
No tempo que Dondon jogava no Andaraí
No tempo que Dondon jogava no Andaraí...

domingo, 13 de febrero de 2011

O anoitecer da Cidade Velha

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Para se ver a noite cair na Cidade Baixa, em Porto Alegre, nada melhor que a Rua da República, repleta de velhos queridos, novos luminosos e futuros boêmios de calças curtas, curtindo suco de laranja, salada de frutas ou cerveja pelos seus antigos bares. 

Salito encarou uma cerveja Coruja no excelente bar Tapas (no caso, Petisco em espanhol), no número 30 do secular logradouro. Atendimento de primeira. Sua noiva alemã, a famosa atriz Frida von Allerborn, também aproveitou o final de tarde. A equipe de fotografia de Mme. Allerborn embrulhou a foto, pois ela veio a passeio, não desejava platéia. Salito estava meio levantado e de barriga cheia, feliz. (Era um sósia de Salito, para enganar Mr. F. Febraban).

O POVO UNIDO JAMAIS SERÁ VENCIDO!

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Cai mais uma criminosa ditadura sustentada pelos terroristas norte-americanos.

Viva o povo do Egito!

Força, irmãos! A sua coragem há de chegar ao povo da Arábia Saudita e de outros redutos da maldosa águia.


O Rei do Mato Grosso


Domingo movimentado. Salito e suas vinte mulheres (presente Dolores, chegada da Espanha) tiveram o prazer de receber longo e amoroso telefonema do advô e ex-general Lima, ou cabo Lima, do glorioso exército brasileiro. 

Hoje Edilson Lima Fagundes é também fazendeiro de alta pecuária, e convidou toda a turma deste covil para um grande churrasco em futuro próximo. Iremos!

Foi o Rei de Porto Alegre. À época era assim definido pelos habitués da noite gaúcha: "Pai das mães e marido das mulheres, temido pelos machos e amado pelas chinas". 

Ao mudar-se, digo, ao tomar de assalto o Mato Grosso, legou o seu merecido título de Pai das mães... a Salito, que prudentemente recusou o "temido pelos machos", pois não convém a quem anda desarmado inticar com os demais varões. Bem, a comenda já foi transferida para Alex Moraes, o Rei da Portinho, que se encontra no momento dando uma geral nas européias.

Como se vê pela foto, o valoroso gaúcho de Palmeira das Missões atualmente dedica-se a outras práticas: transformou-se em sensível paparicador de netos. Na cena, com João Armindo, hijo de Mauro Fagundes.

Para todos os irmãos daquelas plagas, vai um som aqui dos pampas. Com um abraço também ao grande cantor, o galponero José Cláudio, que andou precupando a gente no fim do ano.

(Rei de bondade, o oposto de certo sujeito de quem o ex-ministro Joaquim Barbosa falou)


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No Refresco, o domingo, o bar...

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Como ontem, num texto que nos rendeu algumas lágrimas, razões pessoais, sabem como é, aquelas bobagens de velho boêmio enamorado... como dizia, como ontem acabamos citando uns faraós embalsamados, foi inevitável a lembrança de uma antiga marcha-rancho dos fantásticos João Bosco e Aldir Blanc (ei, Aldir, neste momento toca aqui no covil a sua - com Moacir Luz - Recreio das Meninas II, aquela maravilha, homem de Deus).

Bem, hoje teremos goiabada de sobremesa.



sábado, 12 de febrero de 2011

De doces mãos e sensibilidade

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Com aquele jeito de caminhar de quem pensa poder enganar os amigos, devagar pela calçada, pela sombra das árvores da madrugada, Carlito Dulcemano Yanés retorna.

Kafil o reconheceu pelo chapéu, além do jeito de andar. Mas se fez de sonso, falou: Alto lá, quem vem?!

Levantando com dois dedos o chapéu respondeu: Não te faz, Negro, sabe que sou eu.

Sem Juliana Betsabé.

Acordei sabendo, pelo seu tom de voz, que haviam brigado novamente.

Da janela da palafita vi Carlos entrando, e como Kafil percebi que por por fora e por dentro estava armado até os dentes. Magnum e raiva.

Lembrei-me de Mareu Ferreira, de Hermínio Bello de Carvalho, de mim..., e antes de descer para esperá-lo coloquei uma música bem alto. Ele vai ter que esperar até amanhã para me contar. No descida das escadas peguei uma garrafa de uísque especial.

Ju Betsabé, que se mandou sei para onde, com a cachorrinha Siririca jaguariana que ganhou em Pinar del Rio (carinhos todos para uma cã, para deixar Carlos mais embravecido...), haveria de gostar da negra Clementina. Afinal, Ju tem muitos amigos afros, seu msn que o diga.

Sei não, mas algo deu em mim. Começo a apostar em Carlito Yanés. Chegou falando em Nietzsche, na Origem da Tragédia, e repetindo a poesia da fábula de Gellert: 

"Sabes, quanto a mim, que é útil
Dizer, aos falhos de entendimento,
A verdade por alegoria."

Tem cinco por dentro.

Salve, Carlito! Salve, Ju!


O Rei de Porto Alegre em Veneza

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Quando Aznavour encantou o mundo com "Que C'est Triste Venise", nem sonhava que o Rei de Porto Alegre iria invadir aqueles sentimentais domínios.

Pois aí está, desta vez mais romântico, mascarado... já com saudades.

Guapo!



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miércoles, 9 de febrero de 2011

Ary!

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Num domingo de carnaval, 9 de fevereiro de 1964, aos 60 anos morria Ary Barroso, o autor de Aquarela do Brasil, entre outros clássicos da música brasileira.

Talvez o compositor brasileiro mais conhecido no mundo, autor de sambas, marchas, canções, boleros... claro que era muito chegado em vidros cheios. Pois é, bebia a dar com um pau, e uma cirrose hepática o levou ainda jovem.

Sobre vida e obra, basta rolar seu nome no Google.

Aqui lembramos um som que só mesmo ele poderia inventar.

Som, aliás, que dedicamos a um velho parceiro, coroa dos bons, que andou tendo o desprazer de ver a sua amada se oferecendo aos caçadorzinhos do badú, e agora anda se achando o último.
Que nada, Chico João, aqueles nem com 30 anos foram bons um dia. Você ainda é o cara! Longe de ser Caco Velho. Salve, Ary!



lunes, 7 de febrero de 2011

sábado, 5 de febrero de 2011

JACOB, ... SÉRGIO!

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Sérgio Freitas Bittencourt (Rio, 03/02/1941 - 09/07/1979), segundo a Wikipédia, foi um compositor e jornalista brasileiro.

Acrescenta o que outros disseram: que era filho de Jacob do Bandolim, que foi criado em volta dos chorões e das rodas de choro. Que na escrita seu estilo era duro e desaforado, mas que era por todos considerado sentimentalista.

Que abalado com a morte de Jacob, compôs o samba-choro-alma "Naquela Mesa", que deu para a divina Elizeth gravar.

A Wiki diz muito e nada. Não era sentimentalista, era muuuuuuito sentimental, amoroso, com um bicho morando dentro, raivoso com a condição humana, com o roubo descarado de vidas que Mr. Febraban e Sarneys et... caterva promovem, e "sentia", sabia, que morreria cedo. E valente, nisso doido de atar, como os melhores homens deste mundo.

Compôs "Modinha", única, clássico de amor e carinho.

Sobre seu pai, Jacob do Bandolim, escreveu:

"(A mãe)... e soube segurá-lo até o dia 13 de agosto (sempre insano agosto!), de 1969, quando dirigindo sozinho seu carro, Jacob chegava à sua casa, em Jacarepaguá, vindo da residência de um de seus poucos ídolos, Pixinguinha, já ofegante, avisando que estava morrendo, sendo recostado pela mulher e o sogro no chão da grande varanda — onde morreria. Era 6 horas da tarde. Diagnóstico: infarto e edema pulmonar.

(...)

Já estava fumando seis maços de cigarros por dia. (...). Não jogava, não bebia, em futebol seu time chamava-se “Zizinho Futebol Clube”. Fumava. Apenas.

O que fiz por ele, fiz e não digo. O que fez por e de mim, foi um tudo. Me lembro: jamais me mentiu. Era capaz de esbofetear um mentiroso, apenas pela mentira. Fosse qual fosse a gravidade.

Repito e gosto de repetir: jamais me mentiu. Mas, nos momentos em que estive “cara a cara” com a morte, ele também não me mentiu. E, como nas outras ocasiões, não me mentiu, mas soube, sempre, me estender a mão. Quando eu agarrava, mordia, deixando naquelas mãos santas de datilógrafo e músico, as marcas incuráveis da minha dor.

De tudo que me ensinou, certo ou errado, hoje, dentro dos meus já então parcos e paupérrimos preconceitos, retiro, inapelavelmente, uma solução, uma saída, uma parada para pensar, um pouco de coragem para enfrentar, muita coragem para não “aderir” — na última das hipóteses, um sofisma, uma frase feita — estamos conversados!

Admirava a cultura musical de Lúcio Rangel e de Tinhorão. Era um radical. Sempre foi, um radical que se anunciava “tradicionalista”. Mas, que, numa certa noite de 1969, no Teatro João Caetano, ao lado de Elizeth e do Zimbo Trio, tocou de tudo — e quando resolveu executar o “Chega de Saudade”, ficou estabelecido que, realmente, ninguém mais poderá tocar alguma obra de Tom e Vinícius! Uma noite! Uma loucura!

Hoje, sinto pena de seus amigos, da sua mulher e de minha irmã. Todos viram-no morto. Eu, não. Cumpri sua ordem.

Toda vez que ele me vem à mente — e me vem sempre — ou é discutindo contra um cassetete na mão e um 32 na outra, ou é interrogando, com a carranca fechada, um punguista da Central, ou é me ensinando naquela mesa, o que, para ele, significava “viver melhor” — ou tirando do seu bandolim, o som liberto e puro do coração. Do coração

(Eu), aos 37 anos de idade, descrente e exausto, sem Deus nem diabo, é que posso afirmar: Jacob Pick Bittencourt foi mais do que um pai. Do que um amigo. Do que um Ídolo. Foi e é, para mim, um homem.

Com todas as virtudes, fraquezas, defeitos e rastros de luz que certos homens, que ainda escrevemos com “agá” maiúsculo, souberam ou sabem ser. E homem com H maiúsculo, para mim é Gênio.

Tenho certeza e assumo: não sou nada, porque, de fato, não preciso ser. Me basta ter a certeza inabalável de que nasci do Amor, da Loucura, da Irrealidade e da Lucidez de um Gênio.
(Texto completo AQUI)

O depoimento seria a pedido de um jornalista, para publicar nos dez anos da morte de Jacob.

Sérgio não viu a publicação, hemofílico, morreria antes, aos 38 anos. Já não tinha aquela voz naquela mesa incentivando-o a viver, já não tinha aquelas mãos para morder na dor.

Ah, esses dias de julho...

Ao escrever sobre seu pai, gênio de cordas, partituras e coração, sem sentir Sérgio Bittencourt descreveu a si mesmo, igualzinho, sem tirar nem pôr (sim, com circunflexo). Um Homem, com as lágrimas e enganos de seu tempo, gênio de letras, partituras e coração de amor.

Antes de partir deixou obra inacabada, a injustiça dos céus?,  trinta e poucas músicas, mas lamentosos sinais, aos berros para surdos. Tem uma, "Azar". que é... mas, vamos ver outra.

Outra de suas composições que também é lição de vida que só louco.

Chama-se "Acorda Alice" (que a ditadura militar ainda impune do Boris Casoy proibiu sem entender direito a letra...), que aqui mandamos para Dolores, homenageando a memória do Sérgio. Vendo o lado do amor, do crescimento pessoal, pois a ditadura morreu, embora os assassinos sigam entre nós.

Vai com a cantante e dona de bar da velha boemia do Rio de Janeiro, Waleska. (Alô, Waleska, eu aos 9 anos te amava tanto, e ainda amo, sua doida).

Alô, Sérgio!, o Brasil um dia acordará. Que pena, rapaz, você tá... faltando aqui.




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jueves, 3 de febrero de 2011

MADRUGADA PROFANA

(O BLOCO DOS DESLOCADOS)


Cara 211. Baratinado, não sei o que me move para apresentar a você o meu bloco nesta madrugada de carnaval, talvez o desejo que o tempo passe mais rápido, talvez a ânsia de amenizar os meus ferimentos, sei lá, só sei que não suporto mais.

Logo os raios solares estarão anunciando o silêncio dos tambores. Anseio pelo silêncio. Agora é a marcação da bateria, a zoeira, tim-bum-bum-bum-bum, a evolução de ruidosos lenitivos, a fuga circense e etílica, tudo me deixa mais e mais desesperadamente excitado e deprimido. Será que são felizes mesmo, ou também estão fugindo?

Seja o que for, azar, lá vou eu desconcertado em 364, com Mozart nas alturas tentando evitar que o som da rua escarneça de mim.

Sei que esta mania de escrever gritos é temerária, de repente a gente tem um ímpeto e está feito, por teimosia ou por um momento de depressão. Bêbado e espiritado, então, é um perigo, o sujeito desaba ou sente-se um iluminado. Mas agora que a viola e o violino chegaram ao fim, quando vai entrar solene, depois tímida, linda, a outra Sinfonia Concertante, a 297 de flauta, oboé, trompa e fagote, encho um enorme copo de uísque, puro mesmo, acabou a angustura, minhas veias pulsam mais forte pela impaciência do sangue, reúno o que resta da minha coragem, e escrevo. Escrevo para ti, 211.

Embora eu não tenha relações aqui no prédio, nem em lugar algum, sei que você também vive só. Há alguns anos eu a vejo voltar da noite, esporadicamente, com diferentes companhias. Certa vez solitária, às cinco da manhã, vestida de..., não importa. Quero dizer que ao lembra-la assim liberada deixo de me sentir sepultado, e isso agravou-se. Explico: ontem entrei no edifício e olhei para cima, vendo-a subir a escadaria dentro daquela saia verde-piscina curtinha, recordei uma marcha-rancho antiga – Máscara Negra – do tempo em que carnaval tinha poesia, e fiquei com vontade de rapta-la, trazendo-a para dentro do meu covil. Raciocinei, ou o uísque raciocinou, que em poucos minutos o pânico passaria, que poderíamos ter alguns instantes de prazer. Insensatez? Nem tanto, saiba que você é a única pessoa que jamais reclamou das óperas tarde da noite.

É irresistível, tenho que dizer, ainda que pareça um pedido de socorro: eu preciso fazer amor com você, amor febril, repetido, angustiado, sem convenções, amoral. Tente entender, o convite é macio, delicado, juro. Gostaria também de dar e receber afagos nos cabelos, no rosto, e chorar, e, por que não, rir, afinal este mundo não é um grande carnaval? Se você achar que é maluquice não está só, todos os seres que conheci disseram-me louco. Depois de passar o que já passei, não concordo que me chamem de louco, não é justo. Muito louco, sim, pode ser.


Engraçado, eu que sempre me julguei um tigre enjaulado, um lobo feroz, no frenesi deste domingo percebi que continuo aquele menino que, quando as dores do mundo quiseram enreda-lo, isolou-se balbuciando um pueril: “E eu não brinco mais”. Suicídio? Não, ainda anseio por um pouco de paz, em vida.


Sabe, 211, neste negócio de fugir, trancar-se em um apartamento e nunca mais falar com ninguém, a gente aprende muito. Aprende-se como é estar sobre o parapeito do terraço, cristalizado, com o pessoal lá embaixo entoando “pula, pula, pula...”. Aí você olha e se pergunta como foi parar ali, não consegue se jogar nem voltar atrás, fica assim, perplexo. Alucinado, mato-me aos poucos. Quando encontrar esta carta na sua caixa, não só espero que não leves a mal, quem sabe até compreenda e passe a me cumprimentar. Viu como sou bobo,um descrente que ainda nutre resquícios de esperança. Passa, sempre passa.


Bem, eu falava em apresentar o meu bloco. Na verdade não sei bem como ele é. Tento expressa-lo. Nestas alturas acabou o uísque, entrei na vodka com martini, três por uma, overdose, para facilitar, das minhas mutilações a pior é a timidez.

No meu bloco somos muitos, abraçados a combinar a festa, confetes pelo corpo inteiro, arrebatados, sôfregos, multidão de caveiras famintas misturadas a esvoaçantes apetites de amor, todos pulando sorridentes, rodando no salão cada vez mais rápido, cada vez com mais paradas na semana para abastecer o copo, rodando, rodando, frenéticos, loucos...



Exulto, agitam-se faíscas no meu interior, logo você vai chegar, meus dedos percorrem as teclas em alta velocidade.

No meu bloco disparamos à frente, estrangulados por serpentinas azuis, debochados e contentes desfilando o circo de maravilhas e horrores, mirando com malícia a parte perigosa da platéia, os hipócritas asquerosos que nos olham com seus olhos ávidos, vontade de perguntar-lhes quanto roubaram hoje. Ah, o cordão é feito de covardes que não temem a morte, é feito de choro, medo e sorte, é feito de vida.

Os deslocados, vamos com os rostos picados de brancas e douradas estrelas, voando no vendaval que é o nosso bloco, no pó da existência, desvairados, amados, girassóis que giram depois que o sol se acabou, atraídos pelo brilho ofuscante da Ursa Maior, recebendo gritos de Bravo vindos do universo, homenagens em forma de relâmpagos e sustos.

Aquieta-se Mozart. Desaparecem movimentos e sons, ouço uma ária de Verdi emitida do espaço, magnífica, nossas camisetas listradas se transformam em fraques e vestidos de noite, somos arvoredo saudável, sem cobiça, suco de amor derramando de graça, com graça, riscos ameaçadores e alaranjados de fé na noite estrelada, choros convulsivos em festividades de nascimentos, alegria e sexo em velórios, planetas rodopiando no sonho sonhado, em desprezo aos satélites artificiais.



Pairo no ar, 211, multicolor em transe apaixonado. Ah, maldita cocaína que me possui, que me dilacera, maldita que tanto amo...


211, corra aqui ver, está chovendo pétalas de rosas aqui em casa, abre-se o teto, abrem-se as nuvens, o céu é amarelo, é amarelo.


Estou ficando sonolento, vai amanhecer, não ouço nada, acho que exa exagerei na dose, por favor, estou convidando, eu me chamo Ernane, moro no 107, digo, 108, supere a repugnância, esqueça que eu não tenhp, digo, tenho a pperna esquerda, venhna, venha, se aparrrecer derrrrubee a porta, me abrace e arranque o meu coraç




Covil V, 23 de setembro de 1994.



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