Nas partes altas dois castelos
O povinho lá embaixo no vilarejo
E eles se revezam na espoliação
O povinho lá embaixo no vilarejo
E eles se revezam na espoliação
Além
de política e religião, o que mais os sábios recomendam evitar discussão? Ah, o
futebol, então falemos dele, na boa: lá no gramado não tem choro, se agredir é
expulso. Antes a gente se vingava batendo no adversário enquanto a bola
estivesse longe, o juiz não via, e bandeirinha em geral olha o mesmo que o
juiz, de outro ângulo.
Com
a bola longe lá ia o tostão por trás no avante deles, naquele músculo fatal,
com toda a força, toma, filho da puta! Só viam quando o cara estava caído e o
zagueiro de mãos para o alto, ele está se fazendo, seu juiz, não fui eu! Depois
os demais atacantes pensavam duas vezes, disparavam, iam buscar bola no meio do
campo, ciscar lá na lateral, o chefe aqui da área sabia que tentariam vir,
deixa estar. Foram eles que começaram.
De
perto o defensor pulava junto para cabecear, mas antes agarrava os ovos do cara
(um velho técnico argentino ensinava direitinho, mas para usar só em último
caso), esmagando, o avante ficava plantado e o zagueiro subia aos ares com
força, voando alto para cabecear a bola, sem largar os ovos do boca ruim.
Certa
vez me dei ao luxo de matar no peito e dar um balãozinho no cara enquanto ele
caía com as mãos entre as pernas, não tinha juiz que visse, isso de vingança
porque ele tinha dito que comeu minhas irmãs, e na hora de fechar o tempo havia
quem apartasse, daqui a pouco já passou, esquecemos, apito final e um abraço.
Os caras dos ovos me recusavam o abraço, e nunca mais falavam da mãe de ninguém
com aquele ríspido tom de voz.
Agora
nem isso se pode fazer, tem que tolerar o cara passar o jogo inteiro comendo a
mãe e as irmãs da gente, pois tem tevê que flagra tudo, não dá pra dar nem um
cotovelaçozinho na boca.
Futebol
nos separa por noventa minutos, o sujeito sai ferido, um dia a mão, outro dia
uma perna fraturada, dente quebrado, lábios sangrando. Cura, passa.
Religião
ninguém liga muito, cada um tem ou não tem, a laicidade do estado é garantia de
respeito, salvo por alguns bandidos que exploram a triste ignorância alheia.
Agora,
isso de política nos separa para sempre, e todo mundo vê, não apenas o juiz. Vê
as nossas raivas, que não são por noventa minutos, a torcida do mundo vê a
nossa cegueira para as razões do outro, nosso concidadão, cegueira vindo de más
escolhas quando se trata de tolerância, quando não da nossa criação da qual não
conseguimos ainda nos libertar.
Então
paremos de chorar, choro transmutado em agressão, vamos no voto, em silêncio.
Se eu fosse reclamar xingaria até o Lula, que ajudei a parir. Talvez vote nele
ainda, é problema meu. Aguentando a pegada nos ovos, se o outro levou vantagem
de alguma forma. Teremos outros circos, outros jogos.
Na
política não temos inimigos, nem por falsos e fugazes noventa minutos para
desopilar: temos nós contra nós mesmos, mágoa duradoura. Levados por alguns
"políticos" que aprenderam a falar em público, a gente é tímido como
quase todos os que não nasceram em berço de ouro, oh santo talento, mas que não
passam de uns vermes, que dizem besteira enquanto ficam ricos à sorrelfa.
Pensemos
em selecioná-los melhor. Os melhores de nós, por honestos, mentes abertas, sem
preconceitos. Aquele é bom, desde menino, me representa. No distrital. E
cuidemos do que ele faz, de como muda, ou não, o seu patrimônio terreno. E os
que tivemos escola, se humanistas, ajudemos o povo a escolher, falando de bem
dos homens e mulheres que achamos que merecem, exaltando as suas qualidades,
Jamais falando dos defeitos dos que detestamos. Se são defeituosos, cairão
sozinhos. Isto se defeituosos demais, pois defeitos todos temos, atire a
primeira pedra.
O
voto distrital é necessário, misto ou não, a gente que mora na aldeia conhece
os bugres.
Enfim,
se perdermos sempre teremos uma revanche. Agora, o juiz nos expulsar e marcar
pênalti contra nós por uma faltinha lá na intermediária deles, não. No apito
não!
*