miércoles, 31 de octubre de 2012

martes, 30 de octubre de 2012

O furacão Sandy, n'A Charge do Dias

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Lúcio Peregrino pouco participou das conversas no botequim, percebía-se a olhos vistos que não estava no seu dinheiro. Mas chegou a hora de repassar as notícias no nótibuc. Ele foi lendo rápido.

- Sandy arrasa em Nova Iorque.

Bah, não sabia que eles gostavam dessas drogas de músicas, diz Gustavo Moscão.

Sandy é o furacão, Mosca - esclarece Tigran Gdansk.

- Alguns mafiosos ameaçam peitar o Supremo Tribunal Federal na quinta-feira.  Dirão que o verdadeiro criminoso é o Lucinho aqui.

Pula essa, pula, pula, exclamam muitos boêmios.

- Advogados do José Dirceu dão outra fora do penico: correram ao Supremo Tribunal Federal pedir a redução da pena, sem saber ainda qual será a pena. É, de tanto que tem valor, vai pegar 100 anos. Pulo esta merda.

- 550, metade civis, morrem nos 4 dias de trégua religiosa na guerra da Síria. Assad jura que não foi ele. Certo, foram os marcianos. Rebeldes arrancam as tripas de um general, mas querem mesmo é o fígado do ditador. Tá ficando bom, mais um pouco e aceito o convite do Contralouco, vamos lá nós dois arrancar o fígado.

- Marcos Valério teme ser assassinado a qualquer momento. Corre em absoluto segredo no Supremo o seu pedido de proteção em troca de delação premiada. A delação que se aproxima não é furacão, é supertempestade.

Quem será que mandaria matá-lo?, pergunta Gustavo Moscão.

Gente poderosa, talvez os mesmos que mandaram matar o Celso Daniel, só pode, responde Aristarco de Serraria.

- Puta que parau, se aproxima um temporil; temporil um paunucão, se aproxima um furacu.

- O juiz federal Sergio Bonachela, de Naviraí, MS, muito sentimental, ao fuder com os índios guaranis kaiowás disse que não quer nem saber se as terras eram dos índios ou não, fora daqui indiada de merda. Os índios ocupam somente 2 dos 762 hectares da fazendona. Caluniadores dizem que o juiz é fazendeiro.

- Os larápios da Microsoft ficam mandando recadinhos para Lúcio, de que o seu Windows não é original. Lúcio os manda à puta que os pariu e promete comer a mãe deles.

- Mano Menezes, que estava em Nova Jersey, é pego pelo furacão Sandy e vai parar na Sibéria, de quatro em frente a um enorme urso branco. Mesário bundão acoca para o Lewandowski. Dilma e Haddad tomam um fogo para comemorar a vitória em São Paulo; o Sandy dá uma passadinha por Brasília e os remete para os quintos dos infernos, onde já se encontra, bronzeado, torradinho, o vampiro Serra. Lula se afoga na pinga e desaparece no lago Paranoá, arrastado pelo barqueiro Caronte. Grêmio entrega a rapadura para um banco chinês, seu novo estádio poderá se chamar Chi-Chi-Chum. Grêmio encara hoje a Los Millonarios de Colômbia, que na semana passada fudeu com o Palmeiras,  vou encher de porrada o merda do (diz o nome do deputado), aquele mulherzinha vai ver...

Pára, pára, pára! - interrompe Aristarco, se levantando e correndo abraçar ao Lúcio -, chega de notícias, chega, hoje você não está legal, sossega, sou eu, pára...

E ficam lá abraçados em silêncio, som de snif-schuin.

Mudando de conversa..., entra no bar o Carlinhos Adeva. Abre a boca para uma saudação mas cala, num olhar pressente o ambiente estranho. Senta-se no lado de cá e ouve o Clóvis:

- Calado, meu. O Lúcio pirou hoje. Até que as notícias tavam ficando joia, o Contralouco iria gostar, mas para falar em Grêmio o Lúcio só pode estar mal mesmo, o Ari tá contornando, fica na tua, não olhe pra lá agora, depois que o Ari terminar vai lá e conversa com ele, mas outro assunto.

- Mas que outro? Não sei do que estavam falando.

- Ah, outro. Pergunta como era a infância, as partes boas. Ele tá só num dia ruim, meu, tu nunca teve?

- Eu tive - diz Juca da Maresia -, e tudo sumiu. Eu apavorado como o Lúcio hoje; até pior, e todo mundo calou, ninguém me deu um abraço, nem irmãos, gente a quem eu daria a vida para proteger, nada, um silêncio, olhando para o outro lado. e não foi só esse...

- Pombas, em vez de dizer alguma coisa alegre, todo mundo aqui em baixo astral. Olha a Silvana Maresia chegando.

Jucão vai buscar Silvana na porta, se abraçam, eh vida boa.

Leilinha Ferro, que lá do caixa riu da história da Microsoft - sofre o mesmo assédio -, aproxima-se das mesas dos empinantes e pede as obras do dia.

Antes Clóvis Baixo decide alegrar o ambiente.

Vou contar uma piada que me contaram ontem, pessoal. Seguinte:

Depois de um ano de rigoroso treinamento numa base da CIA, os três futuros agentes brasileiros foram para a prova final. Foram colocados diante de uma porta metálica. Cada um recebeu uma pistola automática carregada. O capitão americano disse: queremos ter certeza de que vocês serão capazes de cumprir ordens, quaisquer que sejam as circunstâncias.

Então, diz ao paulista: - Atrás daquela porta você vai encontrar o ex-presidente... (aqui o Clóvis disse um nome de poucas letras, mas cada um coloque o do seu agrado), sentado em uma cadeira. Você terá que matá-lo.
- Está falando sério? Eu jamais mataria o ex-presidente...
- Então você não serve, e dizer que gastamos um milhão de dólares para treinar esse puto..., está fora, seu bundão.

A seguir, deu as mesmas instruções ao carioca. O carioca empunhou a arma e entrou na sala. Tudo muito calmo lá dentro. Depois de alguns minutos, ele regressa com lágrimas nos olhos.
- Tentei, mas não posso matar o ex-presidente...
- Cagão, você não está preparado para trabalhar com a CIA em missões brasileiras, está dispensado.

Chegou a vez do gaúcho. Deram-lhe as mesmas instruções. O tchê entrou lá, logo ouviram-se nove tiros, um atrás do outro. A seguir gritos, insultos, muito barulho, móveis quebrando... Após alguns minutos, silêncio total. A porta abre-se lentamente, o gaúcho sai, limpa o suor, e diz:
- Mas, bah, índio velho! Bem que vocês poderiam ter dito que as balas eram de festim. Tive que matar o filho da puta a cadeirada!

Sem comentários. Que gente.

Escolheram a obra do Amorim. Mr. Hyde teceu um comentário que dá o que pensar, sobre a grita do Palmeiras para validar um gol de mão, bem como ao comportamento dos atletas, dentro e fora de campo, reclamando com "seriedade", intimando o juiz. Disse Mr. Hyde: "Gente, será que essa generalizada falta de vergonha na cara não teria a ver com o fato de muitos clubes serem dirigidos por  políticos?". Pois é, fica o registro.



E com a obra do Nani. Já tem umas trinta obras do Nani nas paredes do bar. Com esta, umas trinta e uma.




Miss Leilinha Ferro ficou com o Ykenga. Leila nos pede e reiteramos que o site Avaaz (AQUI, momentaneamente fora do ar devido ao furacão Sandy nos Estados Unidos. Aliás, o Avaaz está em todos os países sem ditadura, mas não entendemos essa de não possuir uma nuvem no Brasil, em França, Argentina, Espanha, miles, tudo guardado lá nos Estados Unidos por quê? Burros não são, ao contrário, então... Pulga na orelha) está colhendo assinaturas para presssionar as "otoridades" - isto é, os culpados - brasileiras a fazer alguma coisa para evitar o extermínio dos índios.





(A coluna A Charge do Dias leva esse título pelo seu idealizador, o mestre Adolfo Dias Savchenko, que um belo dia se mandou para a Argentina, onde vive muito bem. Sucedeu-o na coordenação a jovem Leila Ferro, filha do Terguino, quando os boêmios amarelaram na hora de assumir o encargo. Antes eram dois butecos, o Beco do Oitavo e o Botequim do Terguino, que há poucos dias se..., bem..., se fundiram (veja AQUI), devido a dívidas com o sistema agiotário, como eles dizem. O novo bar manteve o nome de um dos butecos: por sorteio ficou Botequim do Terguino, agora propriedade dos ex-endividados António Portuga e Terguino Ferro)



Cornos de ordem simples

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Este blog, que prima pela cultura e pelo bom-gosto, bem, nem sempre, novamente atento às novidades culturais..., bem, hoje não trataremos exatamente de novidades, encontrou alguns escritos do pensador francês François Marie Charles Fourier (Besançon, 7/4/1772 – Paris, 10/10/1837), que, na sinopse biográfica do Wikipédia, "foi um socialista francês da primeira parte do século XIX, um dos pais do cooperativismo. Foi também um crítico ferino (...) do capitalismo de sua época, e adversário da industrialização, da civilização urbana, do liberalismo e da família baseada no matrimônio e na monogamia.


O caráter jovial com que Fourier realizou algumas de suas críticas fez dele um dos grandes satíricos de todos os tempos. (...) antecipa a linhagem do socialismo libertário dentro do movimento socialista, mas também em linhas críticas da moral burguesa e cristã, restritiva do desejo e do prazer - neste sentido, sendo também um dos precursores da psicanálise. Em 1808 Fourier já argumentava abertamente em favor da igualdade de gênero entre homens e mulheres, apesar da palavra feminismo só ter surgido em 1837."

Em seu livro "Antes como agora", Tomás de Balangandãs nos conta que os pensamentos de Fourier sobre a cornudagem escandalizaram a sociedade da época, que, mesmo desejando levá-lo a conhecer a guilhotina, manteve um gélido silêncio a respeito, sabe como é, tem coisas em que é melhor não mexer.

A tradução é de Bernardo Esteves e Paulo Werneck, de quem são os dois parágrafos a seguir, que apresentam 18 dos 49 tipos da primeira parte da obra "Hiérarchie du cocuage" (1808), em excelente trabalho. Não entendemos a demolição nem o "utópico" do primeiro parágrafo dos estudantes, pelo pensar de alguém diferente do rebanho, mas supomos (um perigo) que se deve ao sistema onde servem, servimos nós, isto é, ao pensamento majoritário vigente neste comecinho de mais um vacilante século, vez que, ainda segundo Tomás de Balangandãs, o mundo em que vivemos é uma aparência frágil, nós somos uma aparência não confirmada, efêmeras aparições, amanhã adubos nos campos de França e do Alegrete.

A propósito de terrenas aflições, de exaltar alguns estudantes franceses (mestrado, doutorado, PhDpicados), que ao escolherem Fourier como tema, dedicam no trabalho de conclusão o seu esforço, em letras garrafais, aos cornos dos professores e colegas da universidade. "À tous les Cocus de l’Université". Os bons professores amam isso, o menino virou homem, é um corno dos nossos.


Em seu projeto de demolir a sociedade capitalista, o socialista utópico Charles Fourier (1772-1837) investiu contra as raízes mais profundas do sistema: o casamento monogâmico.

Idealizador de comunidades que prefiguram as utopias do amor livre no século 20, ele escreveu este "Quadro Analítico dos Cornos", com 76 tipos, do qual publicamos aqui uma seleção da primeira parte, "Cornos de ordem simples".


1. Corno em germe ou antecipado é aquele cuja mulher teve aventuras amorosas antes do sacramento e não entregou sua virgindade ao marido; como disse Molière, "se é pra ser só em germe, ele nem se incomoda". Nota: não são considerados cornos em germe os que sabem dos amores pregressos e, mesmo assim, enxergam conveniência no casamento; desse modo, aquele que se une a uma viúva não é corno em germe, nem aquele que conhece as relações anteriores da mulher e se acomoda.

2. Corno presumido é aquele que, muito antes do casamento, teme o destino comum, tortura a alma para escapar dele e sente a dor antes de prová-la realmente. Todos percebem que sua desconfiança só o levará à perdição na escolha da mulher e acelerar, por excesso de precaução, o acontecimento que ele tanto teme. Scarron retratou esse corno numa de suas novelas.

3. Corno imaginário é aquele que ainda não é corno, mas se lamenta acreditando que é. Este, assim como o presumido, sofre a dor imaginária antes da verdadeira. Molière retratou-o numa de suas peças.

4. Corno marcial ou fanfarrão é aquele que, ao fazer terríveis ameaças contra os galanteadores, acredita estar a salvo de suas investidas, mas acaba vestindo a carapuça ao mesmo tempo em que se gaba de ter escapado dela graças ao terror que espalha ostensivamente. Em geral, é corneado por um dos que aplaudem suas fanfarronadas e lhe garantem que ele é o único que sabe zelar pelo seu lar.

5. Corno arguto ou cauteloso é um homem fino e matreiro que, conhecendo todas as manhas do amor e farejando de longe os galanteadores, toma sábias providências para despistá-los. Leva notável vantagem sobre eles, mas, como até o mais hábil general no final experimenta dissabores, acaba subjugado ao destino comum. Pelo menos, embora seja corno, quase não é.

6. Corno engraçadinho é aquele que brinca com seus colegas e os trata como imbecis que bem que merecem o que lhes acontece. Os que o escutam se entreolham sorrindo e aplicam tacitamente o versículo do Evangelho: "Vês um cisco no olho do vizinho, não vês um poste no teu".

7. Corno puro e simples é um honorável ciumento que ignora sua desgraça e não se presta a piadas sobre seus atributos ou atitudes desajeitadas contra a mulher e seus perseguidores. De todas as espécies de corno, é a mais louvável.

8. Corno fatalista ou resignado é aquele que, desprovido de meios pessoais para segurar a esposa, se conforma com o que Deus quiser e se refugia na Justiça e no dever, lembrando que sua mulher seria mesmo culpada se o traísse --o que ela decerto faz.

9. Corno condenado ou designado é aquele que, afetado por deformidades ou enfermidades, assume o risco de se casar com uma mulher bonita. O público, chocado com tamanho contraste, condena-o por unanimidade a ostentar os chifres - e a sentença não poderia ser mais bem cumprida.

10. Corno irrepreensível ou vítima é aquele que, juntando a cortesia com as vantagens físicas e morais, e merecendo uma esposa honesta sob todos os pontos de vista, é no entanto traído por uma coquete, e recebe o apoio do público, que o declara digno de um destino melhor.

11. Corno por prescrição é aquele que se ausenta e faz longas viagens, enquanto a natureza toca os sentidos de uma esposa que, depois de se defender o bastante, é forçada pela duração das privações a aceitar o socorro de um vizinho caridoso.

12. Corno ocupado é aquele que o torvelinho dos negócios afasta continuamente da esposa, de quem ele nunca pode cuidar; ele é forçado a fazer vista grossa aos que acabam se tornando amigos discretos da família.

13. Corno doente é aquele que, por um imperativo de saúde, se abstém dos trabalhos da carne. O mínimo que sua mulher pode fazer é recorrer a substitutos, sem que o marido tenha o direito de se ofender.

14. Corno regenerador ou conservador é aquele que cuida dos interesses da comunidade, vigia a casa dos compadres e adverte que a honra deles está a perigo. Não vê, entretanto, o que acontece em seu próprio lar, e talvez devesse ser o sentinela de si mesmo, enfrentando a batalha no próprio front.

15. Corno publicitário é aquele que exalta as delícias do lar, estimulando todos a se casar e lamentando a infelicidade dos que se recusam a desfrutar como ele... de quê? Dos chifres. A quem ele faz a apologia do casamento? No mais das vezes, é a quem que lhe põe os chifres na cabeça.

16. Corno simpático é aquele que se afeiçoa aos amantes da mulher e se torna amigo íntimo. Alguns deles, quando a dama está de mau humor e brigada com o amante, o procuram para dizer "Faz tempo que a gente não se vê, estamos tristes. Não sei o que a nossa mulher tem. Venha nos fazer uma visita, isso vai distraí-la".

17. Corno tolerante ou bondoso é aquele que, tendo o amante da mulher hospedado em sua casa, se porta como um cavalheiro que faz as honras da casa, limita-se a repreender a dama secretamente e trata o amante como a todos, com a perfeita igualdade que a filosofia recomenda.

18. Corno recíproco é aquele que dá o troco e fecha os olhos, pois busca uma indenização na mulher ou parente daquele que lhe põe os chifres. Trata-se de uma dívida quitada: é melhor se calar num caso desses.

domingo, 28 de octubre de 2012

Fatalidad

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É uma valsa, creio que peruana, há controvérsias sobre a autoria. A autoria encontrarei mañana, vai requerer mais que dez minutos ou meia-hora.

Oficialmente é de Julio Cesar Villafuerte Luzardo, um artista ecuatoriano que com seu conjunto fez estrondoso sucesso com essa vals em países de língua espanhola, e mais ainda com o bolero De cigarro em cigarro, do espetacular brasileiro Luiz Bonfá.

Oh, gitana, son tus ojos mi guión
No te apartes del camino, bella luz, que me ilumina
Oh, gitana, mi nocturno de pasión

O cantante es Julio Jaramillo.


A duras penas, para Mauro Santayana

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Com respeito.

O pensador Mauro Santayana, que tanto admiramos, já soltamos muito foguete em seu louvor aqui neste blog, e seguiremos soltando, um gaúcho-mineiro, cidadão do mundo, que orgulha aos homens de bem do Brasil, outro dia terminou um texto com o seguinte párrafo:

"Depois de penas tão duras contra os réus da Ação 470, será um ato estapafúrdio se a Justiça não reabrir o caso da Operação Satiagraha, que o STJ, em decisão escandalosa, decidiu trancar. Afinal, Marcos Valério é apenas um menino de recados, diante de quem obteve seguidos  e estranhos habeas corpus, do próprio STF,  e sempre foi amigo e comensal das mais altas autoridades da República, em tempos recentes — o banqueiro Daniel Dantas".

O parágrafo é perfeito, irretocável. A não ser pelo "duras", seu Mauro. Eu (e com este eu, misturo primeira pessoa com a terceira do início) entendi, duras quando a gente escreve com criminosos maiores rondando o cérebro. Na comparação.

Porque dura a pena não é. Só um teve a medida da pena até agora, salvo se o senhor acha que não deveriam ser condenados, pois ao menino de recados era óbvio que seria em torno de 35 a 45 anos. É a Lei: muitos crimes, muitas penalizações, creio que foi o ministro Fux quem advertiu, como quem diz não vem que não tem, a Lei não fomos nós que fizemos, mas somos obrigados a cumpri-la, e vamos.

Coloco o meu corpo para defender as leis, Ministro. Essas desgraçadas leis, que foram feitas para ladrãozinhos, nunca para os "donos" das terras, para banqueiros, nunca para assaltantes grandes. Agora não admito que mudem así no más. 

Veja o cálculo do tempo de prisão a cumprir, um homem da sua cultura sabe, e veja no que vai dar. Temos a comutação automática, com base no limite dos 30 anos. 30 é o máximo. Depois, os recursos... Se se chegar a algum lugar, o que duvido, teremos as ridículas progressões, regressões de pena. Sei o que diz a Lei sobre as regressões, mas é inconstitucional, e agora isso se provará num átimo. Vai valer sobre os 30.

O José Dirceu deverá pegar entre 90 e 103 anos. Posso me enganar, mas calculei levando em conta o Código Penal, uma média dos ministros, média alta, dada a gravidade, é o chefe da quadrilha, e considerando a mínima. Posso me enganar, perdi uma aula. O diabo é que tanto faz 50, 80, 91 ou 170.

Não vão ficar um mês, quiçá nem uma semana, na cadeia.

Tem o limite dos velhos, segundo a lei antiga, onde com 70 anos um homem é velho. Daqui a 4 anos o Sr. José Dirceu estará em casa, como o Lalau, na beira da piscina, comendo do bom e do melhor, cineastas amigos, escritores, políticos, todos acendendo charutos com notas de cem dólares. Isto se não possuir quadra de tênis e uma selva nos fundos da propriedade, uma cachoeira talvez, consultoria em sei-lá-o-quê enriquece, pués si, e insuflando pessoas, os fanáticos, ou fãs, todos os dias indo lhe aplaudir, esses lá na rua, para não sujarem o tapete persa de 100 mil. O rei sai à janela e acena.

O senhor acha que os advogados desse criminoso, por mais incompetentes que sejam, e o são, não empurrarão os recursos à condenação por meros 4 anos?

Quanto à aparente dureza da pena aos engravatados, o senhor deveria ter visto como se comportavam esses cidadãos, roncando grosso com Deus e todo mundo, nadando em dinheiro, covarde é assim, o dinheiro os encoraja, podem tudo, para isso serve a polícia, tal como concebida em nosso País, para proteger bandidos.

Menino de recados... um larápio sujo, arrogante, embora de terceiro escalão. Agora não mais, agora docinho.

Claro, na comparação com os grandes banqueiros, é mesmo um nada. Esse Marcos Valério e mais um bando de facínoras, um sem-número, - a maioria sumiu quando o desenho entortou - , quando uma carta do castelo soçobrou, são nada. Muitos sequer foram processados, alguns seguem dando lições de ética pelos seus blogs e revistas. Eu lembro deles, dos que vi, de cada um, sei os nomes, eu não morri.

Não morri, mas quase. Com um olhar afastei-os, repugnado, aos deslumbrados, com um olhar de raiva, mais que censura, ora eu, hein. Paguei o preço de esmurrar ponta-de-faca, por resistir, um preço alto, pago até hoje, quase passei fome, para não falar do mal interior, este sim insuportável. O degredo em sua cidade, seu estado, seu País. O esquecimento. Pagaria de novo, sempre foi assim, a turma da Arena era pior. Arena a que hoje esses irresponsáveis se associaram, se servir aos seus devaneios de poder a qualquer preço, ou enfiar a mão no cofre.

Se errei? Claro que sim. Errei feio, ao não pensar em mim. Quanto me toquei que eu, por errar, por crer em assaltantes de estradas, vagabundos, fui ruim com minhas filhas, quase enlouqueci., e, principalmente, ao reclamar em voz alta. E tudo foi piorando.

E o senhor vem me falar em dureza da pena? Ainda bem que interpretei melhor, depois de algumas horas, as suas palavras. Na comparação com os donos do mundo inteiro, do sistema, a verve do pensador que escreve estava mais longe, muito correto. 

Mas o começo tem de ser pela nossa rua, pelo nosso bairro, pela nossa cidade.

Sou homem de esquerda, desde que supondo uma esquerda que não comete assassínios. E como qualquer homem, esquerda ou direita, eu penso, me equivoco, acerto, mas nunca quis ser o dono da razão, os livros me livraram de ser tão imbecil. O sujeito para pretender querer ser o dono de algo, terras, almas, é doido. No máximo, "está" de posse, havida vá se saber como. Da razão nunca será ou estará, é loucura completa, a história da civilização, se é que podemos chamá-la assim, é plena de exemplos.

Eles entraram nessa de serem donos, o abismo da ganância, de poder, dinheiro ou o que seja. Da burrice, no fundo, gente bruta. O Maluf não é pianista? É, toca mal, mas é. Por quê? Porque teve professores desde menino. Eu nunca vi um piano de cauda, e daí? Mas não sou um ladrão, tive mais que um piano, tive uma mãe que acreditava nas mentiras de uma igreja, de que todos somos iguais, e o marcante exemplo de Jesus, que, lenda ou não, é o melhor legado que temos dos antigos, sei que o senhor concorda com isso. E sempre assoviei muito bem, virtuose.

Vingança pela derrota aos gorilas na mocidade? Trauma? Pode ser, mas não é assim que a gente se vinga, não venham empurrar nos outros, no povo simples, as suas revoltas, por mi parte já as tenho demais. Queremos é melhorar, seguir em frente, métodos corretos. Queremos meter os verdadeiros bandidos na cadeia, lá não está nenhum deles, que não os infelizes dos noticiários sensacionalistas que mostram vítímas matando umas às outras.

Estranhei muito o caso do Sr. Genoíno. Como os juízes também estranharam, se doeram talvez, mas, convenhamos, um homem com mais de 50 anos, ex-guerrilheiro, experimentado na politicagem, presidente daquele antro, não tem o direito de "não ver". Eu li toda a peça de acusação, é um dedo gigante apontando, eu assisti o julgamento. Ele viu, sim. Errou. Foi leviano, no mínimo. E não se pode ser leviano nem com o vizinho, imagine com um país. Com um cargo de presidente dos que haviam restado. Errou sabendo. Deveria ter pensado antes no nome manchado, agora pode gritar para a plateia, mente. Talvez seus descendentes creiam, precisam.

Cada vez que vejo um Valdemar Costa Neto discursando na tevê, e são muitos, centenas, cúmplices, como o são os donos das tevês roubadas, rádios roubados, dá vontade de fazer uma besteira, Mauro, de pegar em armas. A maioria dos bandidos do Brasil detém altos cargos no governo.

Tadinho do Sr. Genoíno, penso logo, um cara muito melhor que o lixo atual-antigo, e é verdade, o considero melhor. Mas não pode ser assim, não podemos nos igualar aos animais. Lula, Dirceu, os que restaram após a saída dos homens sérios do PT, sabiam disso, e se igualaram. O que está faltando é todos os malvados começarem a ver o sol nascer quadrado, em pouco tempo muitas fortunas vão se esfumar, na parte que não mandaram para o exterior, os "patriotas" sanguinários de seu povo. O mundo é prenhe de gentalha assim.

O atorzinho da Globo dizia que não tem como lidar com cacaca sem sujar as mãos. Um otário ao cubo, semi-analfabeto, mas empolgado por ter encarnado o Lamarca num filminho, ajudando o Dirceu a fazer a cabeça da meninadinha. Aí é que discordo de todos eles, dos otários e dos metidos a intelectuais. Tem, sim senhor.

Há meios de não nos sujarmos. Morrer é um, mas não seria preciso, os bandidos, a elite cafifa, restos humanos, estavam caindo de maduros quando o PT aceitou a Carta de Recife, até onde sei redigida pelo Delfim Netto com a colaboração de um ladraozinho vulgar, do PT. Só restaram ladrões no PT, seu Mauro, enriqueceram.

E agora? Não queira saber o que fizeram e fazem nas estatais. Certo, antes não era muito diferente, mas a gente queria mudar justamente isso!

As pessoas que tinham moral e ética, se não saíram foram expulsas do PT. Eu saí em 1998. Vou colocar em livro o que vi, embora saiba que de nada vai adiantar. Levamos vinte anos com um projeto, eu dei a eles, eu e muitos, muitos e eu, 30% dos votos, gastando o que eu não tinha, discursando em paradas de ônibus ao amanhecer, construímos um partido. Vamos levar mais vinte para tirar da cabeça do povinho, por baixo. Posso escrever uma peça monumental, mesmo que ganhe um Prêmio Nobel... o povo não saberá. O povo está entretido. O povo não lê.

Sujaram-se. Roubaram, assaltaram. E a sujeira não sai nunca mais. Para citar apenas um fato histórico: quando os revolucionários russos atiraram em crianças postadas para um retratinho, intimidadas, meio sem jeito, a mando dos chefes, ali os chefes decretaram o seu fim. Tornou-se somente uma questão de tempo. Sei, a Rússia tem as máfias da violência e do dinheiro, como aqui e em todo lugar, um horror, mas agora está mais próxima de ser feliz. Agora repercute a prisão de meninas desaforadas, uma banda, o mundo pressiona. Antes matavam a sangue frio.

Da história do mundo o senhor sabe mais, muito mais culto, porém viemos de mundos diversos. Este de que falo agora é o meu. Conheci um sujeito, pobretão, tímido, sem piano de cauda, sozinho, abandonado pelas leis, salvo se suplicasse, se transformando em pedinte, o que ele não queria. Mas um dia, pela comida o humano se apavorou e roubou, mesmo odiando aquilo. Os casos são inúmeros, e vão presos por esse momento de irreflexão, por ver a menina precisando de remédios ou comida, arroz, sal, feijão, azeite, gás não precisa, para fazer fogo usamos a porta de dentro e o resto do madeirame da casa, quebro a casa! 

A gente sonha quando falta comida no terceiro dia, beber água adianta por dois, depois dói, em uma semana é atroz, mas o homem não diz, aguenta. Aí vai e assalta um posto de gasolina, com punhal, não dá certo, acaba levando porrada e ficando feliz por ter escapado. Vai numa farmácia e assalta, olhos esbugalhados de medo e terror. Na entrevista do patife da tevê dirão sobre um criminoso assustador e malvado. E drogado.

Esses das tevês, mancomunados com a polícia dos banqueiros, esta para protegê-los, a ambos, será que já viram uma criança morrer de fome, sem nada fazer para ajudá-la? Estão nem aí, tratam é de sugar o povinho.

Nunca viram, o importante é a grana, que Brasil nada, o luxo em casa, uma casona, um palacete, vou comprar uma caixa de vinho de 6 mil cada garrafa, depois um Zonda de alta velocidade, de 2 milhões ou está mais caro?

Pois eu digo a esses animais: a inanição tira a fala, a criança perde a fala. Grita com os olhos.

Grita muda!

Claro, aquele meu conhecido logo vai preso, jogado em camburão com violência, a chutes, sem que ninguém se importe com os seus sentimentos.

Jogaram a chave da masmorra fora. O senhor não queira saber o que temos de gente presa com a pena vencida há mais de dez anos, por crimezinho, uma facada, e estão lá trancados ainda, quem se lembra? Nunca foram arrogantes, filhinhos de papai, nunca incendiaram índio em Brasília. Nunca atropelaram bicicleta a 150 por hora. 

Depende do berço em que se nasceu e dos "companheiros" que se tem?

O PT virou isso, um bando de comensais do meu, do nosso, vendidos aos que combatíamos, repito o óbvio.

Foi para isso que me bati tanto? Não, a ideia não era essa, continuar tudo igual. E eles subverteram a ideia, tornando-se iguais aos que combatíamos.

Alguma novidade até aqui? Nenhuma, mas gostaria que meus ex-companheiros, empoleirados em/por Brasília, esses covardes, lessem as novidades, pois esqueceram o que mentiam saber. Essa a primeira.

E quero que eles saibam que, por incrível que pareça, eu não morri.

A duras penas.

Com um abraço.

Salito

Domingo feliz, n'A Charge do Dias

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Dez horas da manhã, céu um tantinho fechado, mas ainda assim um lindo dia de primavera em Porto Alegre, um calor..., de assar, e com a temperatura subindo. Uma leve brisa prometendo chuva à noite, é aquele ventinho mentiroso no qual os campeiros e colonos não levam muita fé.

No Botequim do Terguino já é grande a movimentação, poucos dentro do bar, meia-dúzia nas mesas de sinuca nos fundos - quatro rapazes e duas moças de noite atravessada.

A maior parte do pessoal, 3/4, está pelas mesas na calçada, camiseta, bermuda, chinelo-de-dedo, enfamiliados..., atualizando as informações, contando estórias e entornando seus tragos.

E trago não falta. É um tal de "merengue", "repolhuda", "pré-sal", "fada-verde", "petróleo"... Se o cara pede: "Salta um petróleo, Terguino!", é uísque vagabo, aquilo é quase como beber gasolina com água. Se diz "Salta um pré-sal, ó Portuga!", aí é mais embaixo, uísque mais caro. Petróleo e Pré-sal são invenções de Ivorix Getuliano Piazito, um italiano famoso como só, que volta e meia aparece para rever os amigos que um dia. O lendário boêmio parou com a bebida e baixou a bola depois que recebeu uma longa carta do seu Figueiredo, com graves ameaças de retaliação caso prosseguisse.

"Merengue" é caipirinha de vodka com um punhado de pétalas de rosas brancas, essa de roseiral é invenção de um beberante de Palmeira das Missões que sumiu do mapa, depois de um duelo com alguns agiotários paulistas, venceu na adaga mas perdeu no dinheiro, o bicho era teimoso, dizia "Fico duro mas não faço negócio em vão de escada". 

"Repolhuda com trigo" é universal. Leva esse nome - repolhuda - pelos boatos de que as cervejarias, em tempos idos, quando se apertavam por falta de malte usavam repolhos para a fermentação com as leveduras, isso antigamente, é claro, tudo calúnia, obviamente, mas o cheiro de pum é horroroso - todo boêmio sente de longe, no verão, então, que é quando falta malte... Faltava, digo, antigamente.

O "trigo" refere-se ao trigo-velho - Steinhäger - geladinho para acompanhar a repolhuda, sem ele não vai. "Fada-verde", também chamada de Dyabla-verde", este último nome nos parece mais apropriado, é o absinto caseiro fabricado no botequim, a famosa "losninha" - cachaça dentro de um vidro com tenras folhas de losna -, o aperitivo mais solicitado pela malandragem. Lá pelo quinto liso de fadinha-verde começam a bater em outro vidro, o de ovo em conserva. Dos deuses.

Para pedir uma caninha pura, o que raros amigos fazem, tem uns duzentos modos. Em geral pedem uma "branca", mas não falta quem peça água-de-briga, goró, marafa, caiana, arromba-cueca, mé, remédio, tome-juízo, marvada, amansa-corno... Agora apareceu uma orgânica muito tri, no começo a turma dizia: "Me dá uma canjebrina Ecológica aí, ó", agora é só "Uma Ecológica aqui". 

A mestra Jezebel do Cpers só diz "Me dá um tesão", e eles sabem: quer dizer o seu martini, que ela batizou de "Me dá um tesão", e para não dizer "me traz um Me dá um tesão", encolheu simplesmente para "Me dá um tesão". Se disser tesão doce é com cereja, tesão amargo é com azeitona. "Me dá um tesão durinho" é com pepino.   

Gustavo Moscão chega com 20 quilos de carne, mais os miúdos de galinha e salsichão para os miúdos, é a sua vez de coordenar os espetos no tonel - hoje dois tonéis cortados - no meio da rua. Espeta linguíça e coração e deixa a carne tapada na mesa auxiliar lá no canteiro, vem confraternizar com a turma, ainda é cedo.

Nos seus calcanhares aparece o Contralouco, feliz da vida, beijando todo mundo. O Contra tem uma pequena gráfica, como sabemos, então de madrugada se deu ao trabalho de imprimir uns papeizinhos. Pediu a atenção de todos:

- Gente, hoje tem eleições pelo Brasil, então vamos votar de faz de conta, vou largar as cédulas de votação nas mesas, uma para cada um, para votarmos em São Paulo, marquem com um X a opção desejada.

Alguns protestos: Pára meu, Paulistas de merda, Banqueiros putos, Por mim que se explodam, Tudo JD, Maluf ladrão, Nazistas da Paulista, Lula Sírio-libanês... Porém a maioria, louca para fazer arte, gostou da ideia.

- É só de brincadeira, gente, parem de frescuras e votem, - repetia enquanto distribuía o material, com as opções e um quadrinho ao lado de cada uma:



ELEIÇÕES NO BOTEQUIM - 28/10/2012 - San Pablo
A) Tomara que se fodam
B) Com um prendedor de roupa no nariz: vou de Serra Vampiro da extrema-direita
C) Com um prendedor de roupa no nariz: vou de Haddad Poste do Chefe da Quadrilha

Foi um tal de me empresta a caneta, alguns bate-bocas, críticas mútuas pelas escolhas, o Contra indo de mesa em mesa, e após concluir a distribuição fez a volta e imediatamente começou a recolher os votos, apressando os embromados. A maioria empacados, olhavam, olhavam, para a cédula, sacudiam a cabeça...

- Não adianta pensar, amados irmãos, não vão achar o Zé Maria nem o Plínio Sampaio aí, botem o prendedor de roupa e tratem de cravar logo qualquer coisa -, incentivava o maluco.

Depois sentou-se com Aristarco de Serraria, Wilson Schu, Lúcio Peregrino e Carlinhos Adeva. Pediu uma fada e a bebeu numa talagada, pediu outra enquanto mexia nas cédulas, separando-as na mesa. Logo anunciou: no total deu 35 votos, gente, o Portuga não votou porque é estranja, e dos de casa a Leilinha, o Hyde, o Nicolau, o Da Nira, Açafrão e mais alguns ainda não chegaram, eu vou votar por eles...

Protestos: Não pode! Não senhor, nada de votar pelos outros! Assim não vale! Tramposo!

O Contra sorri:

- Eheheh, tava brincando, palhaços. Agora vamos fazer a apuração. Aristarco preside a mesa, vai ler em voz alta, rubrica a cédula; o Schu vai secretariar, lê de novo, rubrica também, e o Carlinhos confere, rubrica e passa para o Lúcio, que será o dedógrafo, vai somando no nótibuc...

- E quem vai conferir o Lúcio? Pô, pra quê tudo isso, dá pra fazer a conta de cabeça -, reclama Gustavo Moscão, que não é assim tão moscão.

Pombas - responde o Contra -, o Lúcio é um homem sério, mas, bem, tá certo, temos que fazer direito. E precisamos manter a aparência de seriedade, como eles fazem lá, uma apuração solene, digna, ora conta de cabeça... Convido a companheira Silvana Maresia para fazer parte da mesa, vai ficar ao lado do nóti, de olho nos votos e no que o Lúcio vai botar no equicél.

Silvana vem toda pimpona, enquanto o Lúcio ri e chacoalha a cabeça com ar de eu não mereço isso.

O Contralouco estava na terceira losninha quando encerrou a apuração. A turma de dentro do bar veio para fora, todos em pé aguardando, lotaram a frente do bar. Aristarco de Serraria, o presidente, levantou-se e leu o resultado:

- 1 voto nulo. Um espertinho escreveu que "se fodam é pouco", e mais um monte de palavrões, que nem em banheiro de rodoviária se usa mais, ao lado dos nomes dos candidatos. Quem poderia ter sido?

Todo mundo, em uníssono: Clóvis Baixo!

O Clóvis faz cara de inocente, mas doido pra explodir numa gargalhada, lá sentado com a Jêze, Gustavo, Jussara e Cícero Bom Cabelo.

- Bem, 17 votos para A) Tomara que se fodam, e 17 votos para C) Com um prendedor de roupa no nariz: Haddad Poste do Chefe da Quadrilha

Se empatou não valeu!, grita Janjão, no que é secundado por Chupim da Tristeza e terceirado (ops) por Lorildo de Guajuviras.

O presidente Aristarco encerra o papo: ora, valeu, sim, ganhou o Haddad.

- Ditador!, resiste Lorildo, rindo.

Depois dessa experiência desgastante, todos renovam os copos e voltam às suas conversas de antes.

Pelas mesas, o pessoal concordou que nem tudo está perdido para o glorioso Internacional de Porto Alegre, maior clube do universo. Outro dia (AQUI) haviam chegado a conclusão de que bastaria ganhar do Palmeiras ontem no Beira Rio e o São Paulo sifu com o Sport lá na Ilha do Retiro. A diferença cairia para 4 pontos. No outro domingo, quatro de novembro, o Flu crã no São Paulo e o Inter goleia o Náutico nos Aflitos. Cairia para 1. No domingo do dia onze o Grêmio daria uma mãozinha vencendo o São Paulo no Olímpico, e o Inter crã na Macaca lá em Campinas. Pronto, 2 pontos na frente deles e adeus tia chica.

Não deu muito certo porque o Sport ontem não ajudou, "Perderam em casa, como puderam nos fazer essa!?", diz escandalizada Jussara do Moscão.

Nada está perdido - exclama Nicolau Gaiola chegando, com sua voz de ator, braços abertos no último degrau da escadaria do Beco da Fonte -, basta o restante dar certo e o São Paulo apanhar do Corinthians na última rodada.

Desde que o Inter ganhe todas - diz António Portuga -, ao passar recolhendo copos e garrafas nas mesas, cara de amigo da onça - pois se pegar mais um lanterna GMorto pela frente, deu.

Sai espírito-de-porco! Babaca! Gremistão! Volta pra Portugal! Secador! Porco! Só não chamaram o Portuga de santo.

O Contralouco mexe nos bolsos e surgem mais papeizinhos, agora das eleições em Pelotas. Para encurtar o relato, deu a opção B) Marroni, apesar do Chefe do Mensalão, com larga vantagem sobre o Que se fodam: 26 a 17, agora já com mais votantes. O adversário do Marroni teve necas.

Parece que vai dar o outro, o direitoso do PSDB, segundo as pesquisas - lembra Lúcio Peregrino.

Não entendo esse povo de Pelotas, uma cidade tão politizada, artistas maravilhosos, o futebol, o teatro, o bar Já Comi, a areia de água doce.., em Campinas a direita nem foi pro segundo turno - diz Nicolau, já tomando a sua repolhuda com trigo, em infame insinuação.

Eu entendo, e como entendo... - diz Aristarco -, misterioso, para depois arrematar: isso não é nada, triste é o PSOL perder em Belém do Pará, salvo acontecer um milagre hoje... por essas e outras a cada dia odeio mais o Lula.

Protestos: Ei, esquece coisa ruim! Pára, Ari, é domingo, felicidade! Hoje faz um dia lindo! Olha pra criançada, meu presidente! 

Silvana Maresia entoa a marchinha: "Vê, estão voltando as flores / Vê, nesta manhã tão linda / Vê, como é bonita a vida / Vê, há esperança ainda...", a moçada pega nos instrumentos, rufa o tarol...

Um show.

Gustavo começa a espetar as carnes de boi, as linguíças e os corações de penosa a criançada já bateu. Dona Otília chega com as travessas de maionese, direto pra geladeira.

Jezebel anuncia o aniversário do pernambucano Capiba, 108 anos, saudosa dos seus tempos de Recife, diz que a última vez que lá esteve foi em 2004, no seu centenário. A moçada dos batuques se mexe, com Cícero nas cordas e Janjão no trombone, e a acompanham no frevo É de amargar.

O Contralouco voando pega do colo da Ju o Gatolino da Jêze, na passagem o chapéu de malandro do Mateus do Pinho e sai dançando na rua, um típico bailarino de frevo, pernada pra todo lado, de repente pulando usa o gato como sombrinha e a cantante Jezebel quase se afoga com a letra da música, para salientar depois, quando sentiu o Gatolino a salvo, e o Contra todo arranhado mas ainda dançando, a parte que diz: Eu vou cair no frevo, que É DE AMARGAR...


Leilinha Ferro vem chegando e já começam as piadinhas sobre o tardar da hora - 15 pra meio-dia - e o seu namoro com o Gabriel do PSol, ela nem liga para os boêmios, apenas sorri. O Gabrielito também sorri e procura uma cadeira junto aos boêmios. Ela em pé cobra as obras do dia, dos artistas do traço e do pensamento do Brasil. "Preciso enviar pro blog o quanto antes, o pessoal lá também quer sair, se não me derem agora só vai aparecer no blog de noite".

Não tardaram, já estavam mais ou menos alinhavadas. Disseram à Leila que, mesmo havendo obras maravilhosas, hoje expurgaram a política, referindo-se aos bandidos de todo dia, esses ficam para amanhã. Depois das canções, decidiram por um domingo sem más lembranças.

Ficaram com o Zop. Dez a zero pro Zop, vai para a parede do botequim, por deliberação unânime da diretoria.





E com o Cazo, do Comércio do Jahu (Jaú, SP).




Como Leilinha Ferro é a coordenadora da coluna, não vai por eles nem lhes deve satisfações, escolhe a sua a solas. E firmona escolheu a obra do Nani. Putz, o que gostam do Nani, quando não são eles, é ela.




O Contralouco, que perdeu no voto nas escolhas, fez um achego com as mulheres e elas conseguiram uma extra. Para a Jezebel a Leilinha não consegue negar nada. Então, em nome das mulheres, já que os barbados são maioria e elas sempre são voto-vencido, escolheram o Rico, do Vale Paraibano (São José dos Campos, SP).






(A coluna A Charge do Dias leva esse título pelo seu idealizador, o mestre Adolfo Dias Savchenko, que um belo dia se mandou para a Argentina, onde vive muito bem. Sucedeu-o na coordenação a jovem Leila Ferro, filha do Terguino, quando os boêmios amarelaram na hora de assumir o encargo. Antes eram dois butecos, o Beco do Oitavo e o Botequim do Terguino, que há poucos dias se..., bem..., se fundiram (veja AQUI), devido a dívidas com o sistema agiotário, como eles dizem. O novo bar manteve o nome de um dos butecos: por sorteio ficou Botequim do Terguino, agora propriedade dos ex-endividados António Portuga e Terguino Ferro. Os nomes de todos e de tudo foram levemente modificados, alguns têm lá suas razões, mas não para quem sabe ou vê... fácil demais)






Perfídia (12) - Ibrahim Ferrer

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Pela 12ª vez no blog, o clássico de Alberto Dominguez (Alberto Dominguez Borrás, San Cristobal de las Casas, Chiapas, Mexico, 21/4/1911 - 2/9/1975), composto aos 28 anos, em 1939.

Hoje com o sensacional cubano Ibrahim Ferrer (Santiago de Cuba, 20/2/1927 - Havana, 6/8/2005), cantor de ritmos cubanos, mas que desde jovem morria de vontade de gravar boleros, o que só conseguiu no final da carreira, quando fez parte do Buena Vista Social Club. Não por acaso, seu último disco, lançado um ano e meio depois da sua morte, se chamou "Mi sueño", com 16 boleros,  sendo Perfídia a faixa 13. Esse homem, como muitos do Buena Vista, tem uma história de chorar, e aprendermos.




jueves, 25 de octubre de 2012

Após um ano, Carlos Zéfiro resplandece

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Como todos sabemos, este blog tem 45 amigos (ao lado). Porém curiosamente, para nós, tem muitos visitantes do exterior. É sério, não sabemos a razão, a turma não deixa recado. Talvez devido ao tabuleiro de xadrez. No google aparece lá pela milésima página de busca, suponho, se alguém digitar espantado ou mesmo o título exato de alguma postagem. Ninguém vai até lá, não fomos, haja paciência, lá só vão robôs de busca. O marcador do blog não bate muito bem, como o dono - este com o  agravante de ser mobral em blog -, mas agora já o entendemos um pouco. Outro dia apagou tudo, andou bebendo, mas depois voltou, pela metade mas voltou.

Hoje bateu em 320 mil acessos. Um nada, como dissemos de outra vez, considerando que blogs e sites da moda fazem isso por mês, quando não por dia, e estamos em dois anos, contados a partir do momento em que foi detectado com 20 ou 30 visitas por semana. Para nós, muuuuito.

Neste mês, uma alegria. Também como falamos de outra vez, demora exatamente um ano para que as postagens sejam percebidas por outras pessoas que não os poucos amigos que procuram o blog. E aconteceu novamente. Uma postagem de setembro de 2011, chamada Carlos Zéfiro, recordando o funcionário público Alcides de Aguiar Caminha, foi entrar setembro, completando um ano, e disparou. Em dois meses, 2.000 acessos. Está em segundo dos mais visitados. Ele merece.

Em primeiro, segue a Praia do Hans. Se todos os "desafetos" fossem como o Sr. Hans, o blog estaria bem famoso.

Aqui não consideramos uma postagem que cita a política Manoela D'Ávila, de maio de 2011, que bateu o recorde mundial, pois não imaginávamos que viesse a ter tantos acessos, o que só aconteceu, supomos, porque a moça se candidatou a prefeita. Pensamos até em excluir a postagem, pois nunca tivemos a intenção de tomar lado em pugnas de politicagem, o tema era o Código Florestal. Mas seria autocensura. Nada temos contra a referida senhora, é uma política como todos os demais. Como em geral nada temos a favor dos citados naquela postagem, elogiados pelo gesto daquele momento, a não ser por aquele gesto. Mudo o verbo, para ser bem entendido: não conheço pessoalmente ninguém daqueles citados, os conheço somente pelas notícias de jornais.

(3) Sangue in blue disparou de vez, agora em terceiro. Depois muitas embolaram, (4) Elizeth, Waly, Jards, Luiz Melô, (5) De Aroeira, (6) O Locutor, (7) Recado a Aldir Blanc, Hermínio Bello de Carvalho, Luiz Melô e Rildo Hora, (8) A Verdadeira História do Natal e do Papai Noel, (9) O Último Rango, (10) Vanja Orico (outra que disparou), (11) Charlie Chaplin, (12) A Morte e o Avarento, (13) Refresco com Marisa Monte, (14) O Rei dos Reis Etíope, (15) Deus Lhe Pague, e vai por aí, emboladas até a quinquagésima, os acessos são bem distribuídos. As melhores ainda ninguém viu, pensamos nós aqui que perdemos horas escrevendo relâmpagos curtinhos, embora as que foram vistas nos agradem sobremaneira.

O pessoal não é bobo, besteira completa ninguém lê, muito menos passa adiante.

Um abraço aos passantes, mesmo aos que passam por descuido.

Salito.




José Dirceu e papo de advogado de botequim, n'A Charge do Dias

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- Gente, não sabem da maior -, disse Carlinhos Adeva entrando no bar. - Ontem o Zé Dirceu me telefonou apavorado.

Mr. Hyde se levanta: - Vou dar uma volta, lá vem ele com invencionices de novo.

O resto da turma se remexe nas cadeiras, adoram pegar o Carlinhos inspirado. Pedem para o Terguino renovar as bebidas.

- Sério, pessoal. Por volta de meia-noite o telefone tocou, ele lá, todo arrependidão, não pelo que diz que não fez, mas por errar de advogado: "Eu deveria ter seguido os teus conselhos, Carlos, e contratado o Tom pra me defender. Não fiz nada, droga, e acabei condenado por aqueles viados, aquele pastel-de-tigre vai sifu, não sabe o que o espera, vai me pagar!". 

- Já veio com raiva do Joaquim. Pombas, o Quincas é meu amigo do peito, muita penosa comemos juntos nos antanhos, ahm, com arroz, ele tem uns dez ou onze anos mais que eu, mais sabido, mais lido, mais inteligente e tudo, meu mestre sem jamais dizer que era. Eu só falo javanês, português, russo e polakês, ele essas e todas as outras línguas, até alemão e italiano e inglês e tudo, mas uma pessoa... a simplicidade, o desvelo, a confiança, a sinceridade, o carinho..., só que, depois do que vimos e sofremos, ele mais que eu, não é otário para permitir que idiotas malcriados, ã... isso é outro papo. Zé Dirceu ligou pra pedir favor e me começa desse jeito, já sentiram, né.

- Falei calmaí, Zé, o bicho não é tão feio assim. "Como não é tão feio, porra, eu tava fazendo as contas aqui: se o Marcos Valério pegou 40 anos de prisão, quanto eu vou pegar então? 120?".

De faísca atrasada, Gustavo Moscão pergunta: - Carlinhos, quem é esse Tom?

- Ora, é o Tom, meu amigaço. Famosíssimo, uma lenda na advocacia do crime, não é adeva pé-de-chinelo como esses que temos visto. Tom é para os amigos, o Dirceu o chama de Tom só pra se escalar, pois nunca o viu. Agora é que nunca vai ver. Para os estranhos é Thomas Feargal Hagen, bom demais. Se quiser detalhes role o nome no Google. Temos sociedade num haras, eu com um cavalinho que trouxe aqui de Santa Bárbara e ele com uns mil puros-sangues, mistura de árabes, espanhóis, irlandeses, não entendi bem ainda, a cruza é foda, mas florão, de tirar o chapéu, pra subir num deles o Clóvis só com escada, e voam mais que passarinho, asas nas pernas.

Clóvis Baixo se manifesta, contrariado porque baixinho não sobe no árabe-inglês, mas se fazendo de docinho, diz: - E porque diabos, com tanto cavalo bom, ele fez sociedade contigo, pelo teu cavalinho de Santa Bárbara do Sul?

- Porque ele não é como você, meu amigo. Ele não me vê como santo-de-casa que daqui sem mim não sai. E o meu cavalinho tá cobrindo as éguas dele, dali vão sair os voadores, com asas de verdade.

Tigran Gdanski: - Continua a história, pô...

Ao ver os companheiros bebericando, Carlinhos lembra de pedir uma losninha. - Ô, Terguino, me dá uma fada verde, mas capricha na dosimetria, com chorão!

- Bem, aí eu disse pro Zé: pensa positivo, meu chapa, no Brasil temos a comutação automática de pena, a máxima é de 30 anos. Para a progressão vai valer os 120, mas podemos arguir a inconstitucionalidade da súmula 715, sob a alegação de que o seu cumprimento significa prisão perpétua, tu também é advogado, deve saber. "Não te faz comigo, malandro!, tu sabe muito bem que não surfo nada de Direito, meu negócio é outro, é esquerdo. Bolso esquerdo, deixe de ser hipócrita, tu deve gostar de dinheiro também, ora". Tá bom, calma, tchê, calma, o tema é penoso, mas vai por mim e toma café com jasmim: na pior das hipóteses tu vai ficar trancado só uns 10 anos. "Só?! Só por que não é no teu!".

- Só das telefônicas, e de tudo, até da casa da moeda no carimbo das tampinhas e bundinhas de lata, quanto tu tem em paraíso fiscal, seu puto?

- Nada, nada!, é tudo mentira. Tu é meu advogado ou deles, ô 'tchê'?!

Dá um talho na fada verde e segue:

- E ele se veio: "E tchê merda nenhuma! Nunca gostei desses gaúchos, metidos a honestos, nunca permiti que apitassem na Executiva; o Tarso, com aquele papinho de Refundação do PT, se fazendo de brabo, se fosse bom teria saído que nem a filha dele! Enquadrei todos! Quem reagiu mandei expulsar! Aquele Olívio Dutra é outro que o trem não pega, mandei demitir do ministério, dei o cargo prum dos aliados, esse sim, de confiança! E eles ainda correm me abraçar quando me veem; quem tem, tem medo".

Carlinhos suspira fundo, olha para a janela do bar, relutando em contar o resto. Toma um gole da fada, a alma do artista começa a surgir, as cortinas vão se abrindo. Continua, rosto triste, fatigado:

- Ai-ai-ai, amigos. Só aí notei que ele tava de fato muito agitado, angustiado, e a profissão obriga a gente a continuar sereno. Não gostei nadinha do que ele falou. Mas recordei que carrego nos ombros o munus publicum, e tenho um longo juramento a cumprir,  não sou como eles, na cabeça zunindo Prometo exercer a advocacia com dignidade e independência, observar a ética, os deveres e prerrogativas...

- Então fiquei na minha e sorri para a boca preta do meu telefone antigo, falando com voz mansa, paternal: Zezinho, me respeite, seu bostinha, nunca te cobrei honorários, não me fale em dinheiro, só de pensar no quanto você entregou para aqueles abóboras... abra um daqueles teus vinhos, pra relaxar, eu vou abrir um aqui, já volto. Pera, pera, disse ele, os abóboras paguei com sugestões de contratos no governo, não gastei um tostão! Mas tu tem razão, manda a conta! Ouvi seu grito a alguém: "Anda abrir aquele Romanée Conti 2003, seu inútil!".

- Dei um tempo, molhei as salsas e manjeronas nos vasos dos fundos do apezinho, antes botei o CD do Nei Lisboa. Depois retornei, abri as janelas da frente, ah, Telhados de Paris... Com calma reguei as açucenas e as dálias, misturado à água dei um tiquinho de vinho para as rosas. Esperei que ele tomasse uma taça, mais uma, outra, eu lá ouvindo música e falando com as plantas, quase me esqueço do López Rega paulista, mas, passadas duas horas, lembrei e peguei o telefone. Azar, a ligação era por conta dele, ou do governo, no caso minha, sei lá.

Carlos dá mais um talho na losninha. A turma esperando, olhos acesos. Ainda bem que o Contralouco não estava.

- Bem, eu dizia, peguei o telefone e estava aquele silêncio no outro lado da linha. Bem, murmurei, acho que ele dormiu. "Não, tou aqui feito palhaço esperando o dotorzinho!". 

- Ai-ai-ai. Seja profissional, Carlitinho, disse a mim mesmo, calma. Então lembrei-o de que dá para recorrer, coisa simples: sabe como é, Zé, metemos embargos infringentes, postergantes, infrutíferos, desinfetantes, inventamos moda, o diabo a quatro, peticionamos à ONU, à Marte, à puta que te pariu. Com a lentidão do judiciário, mais alguns amigos sentando em cima do processo, isso só vai se resolver lá por 2.060.

"Carlinhos, meu querido, que nos pariu, agora tô intendeindo, esse é o Carlos que eu gosto, que eu amo, assim fico bem mais tranquilo..., mas, pera aí... Pô, em 2.060 eu estarei com 114 anos! Será que aí terei que cumprir pena, mesmo estando assim meio velho?".

- Não, Zé, para criminosos com mais de 70 anos de idade no Brasil só se for prisão domiciliar, pra ti só faltam 4 pros 70, vai ficar numa boa, na beira da piscina, uísque de dez mil contos, festas, casa cheia de amigos cineastas, artistas de tevê, lá na rua os fanáticos, digo, os fãs te idolatrando...

"Ah, bom. E com 114, dá pra me candidatar a presidente? O médico me disse que posso fazer outra plástica...".

- Olha, Zé, poder até pode, se conseguir anular a condenação, mas tu não acha que vai estar meio, ahm, bem, assim... meio maduro demais?

Clóvis Baixo sai correndo em prantos em direção ao banheiro.

Carlinhos respira fundo, olhos de espeto olhando para o nada, sorri, e conclui:

- É isso que eu gosto no Zé. Não terminei de falar e ele já ficou lá traçando planos de ser o rei da cocada preta em 2.060.

Mr. Hyde retorna de seu passeio pelo Beco do Oitavo, dizendo: - Nem me contem o que ele falou. Tu é um porre, hein, Adeva!

Clóvis Baixo voltava do banheiro, onde tinha ido lavar o rosto para parar de rir, quando viu o carão do Hyde intimando o Carlinhos. Voltou para o banheiro, chorando de rir de novo.

Nicolau Gaiola, o ator e teatrólogo da confraria, que até então se mantinha quieto, levanta-se e diz, olhando firme: - Olha, Hyde, vê se baixa a bola, não sei o que tu tem contra o Carlinhos, mas deu mancada. Eu ainda não consegui encenar a minha peça Sarney Nu, mas aqui de público peço ao Carlinhos para me escrever em 20 páginas a ideia que trouxe, vai ser meu roteirista! Vou fazer cinema, um curta. Ficção, otário, ficção! Estórias! Que sempre ficarão aquém da maldita realidade!

E saiu puto da vida, com o Hyde atrás, dizendo: - Espera, Nico, eu também só tava brincando, me conta o que ele disse, é que outro dia ele aplicou uma inverossímil...

Gustavo Moscão, que costuma confundir a criatura com o criador, entrou numa de que a ficção tinha fundo de verdade, e falou: - Mas, Carlos, o cara te explorou, por que tu não quis cobrar honorários dele?

Carlinhos não se deu por achado e respondeu:

- Porque não sou abobrão nem hipócrita, e não pego dinheiro de consulpone.

Um porre essa gente, ufa! Manda maneirarem aí, Leilinha.

Passada a intervenção de Carlinhos, que é nada menos que o diretor jurídico do Partido dos Boêmios, eleito por aclamação, como o futuro prefeito João da Noite, pela vontade soberana de todos os diretores da vida sem egoísmo, como se dizem, os empinantes retomam o assunto anterior, um pouquinho menos importante: o Inter.

Ontem fizeram as contas certas, o Campeão de Tudo estava dez pontos atrás para chegar à Libertadores, virou o jogo contra o Vasco da Gama numa loucura sensacional, no Rio de Janeiro, dois golos do Forlán (o "golos" a turma tomou por empréstimo do português António, gremista doente, que também diz que a bola não rola na grama, e sim no relvado), o colorado agora está a sete pontos do São Paulo. E vamo vamo Inter! Parecem crianças.

Clóvis Baixo, frenético com a tabela na frente, jornal tomando meia mesa: - No próximo sábado o Inter goleia o Palmeiras no Beira Rio e o São Paulo sifu com o Sport lá na Ilha do Retiro. A diferença cai pra 4. O Vasco nem conta, pega o Corinthians em São Paulo.

Marquito Açafrão, na mesa de cá, com outro placarzão de jornal aberto, este enorme: - No outro domingo, quatro de novembro, o Flu crã no São Paulo e o Inter goleia o Náutico nos Aflitos. Cai pra 1. No domingo do dia onze o Grêmio dá uma mãozinha e ganha do São Paulo no Olímpico, a gente crã na Macaca lá em Campinas. Pronto, 2 pontos na frente deles e adeus tia chica.

- Quero tirar sangue do rabo do São Paulo! -, grita Clóvis Baixo. Uivam, berram, se abraçam.

Contralouco, recém-chegado: - Sei não, não levo fé nesse jogo do Olímpico, esses "alemão" são muito ruins de coração, periga perderem só pra nos prejudicar.

Clóvis, olhos brilhando de felicidade, mata a pau: - Não podem!, vão perder duas antes, vão sifu ao quadrado esses porcos, essa eles vão ter que ganhar!

Com essa o Contralouco perde as estribeiras e dá um pulo, se abraça com os olhos ensopados aos doidos, ficam dançando no meio do botequim, doze homens e seis mulheres, agarrados, levantando copos e garrafas, risos abertos...

A dona Otília, a negona que é a costureira da rua, amigona da turma, todos a amam, e às suas seis filhas casadas, uma mais bonita que a outra, numa boa, epa, nada disso, que foi ao botequim pegar um refri trajando uma camiseta branca do Grêmio, já de saída pára e assiste aos marmanjos e patroas em cordão de carnaval. Ri gostosamente, na passagem da marchinha belisca o Contralouco na bunda e exclama: - Louco!, o que faz a bebida, vão sonhando, seus pinguços...

Leila Ferro cobra as obras do dia.

Ficaram com o Boopo, da Tribuna de Amparo (Amparo, SP).




E com o Heringer. Aristarco de Serraria foi quem defendeu a eleição desta obra. Para o Gustavo Moscão ele teve que explicar: - Muito profunda. Se esse cara bate com a língua nos dentes...



Leilinha Ferro parou na do Nani.





(A coluna A Charge do Dias leva esse título pelo seu idealizador, o mestre Adolfo Dias Savchenko, que um belo dia se mandou para a Argentina, onde vive muito bem. Sucedeu-o na coordenação a jovem Leila Ferro, filha do Terguino, quando os boêmios amarelaram na hora de assumir o encargo. Antes eram dois butecos, o Beco do Oitavo e o Botequim do Terguino, que há poucos dias se..., bem..., se fundiram (veja AQUI), devido a dívidas com o sistema agiotário, como eles dizem. O novo bar manteve o nome de um dos butecos: por sorteio ficou Botequim do Terguino, agora propriedade dos ex-endividados António Portuga e Terguino Ferro)