jueves, 30 de junio de 2011

Deus Lhe Pague

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O vídeo da postagem anterior, como sempre acontece quando vejo qualquer órgão de segurança em ação, me remeteu imediatamente para o mendigo de porta de igreja da peça teatral Deus Lhe Pague, obra-prima de Joracy Schafflor Camargo  (Rio de Janeiro, 18/10/1898 - 11/03/1973), jornalista, dramaturgo, cronista e professor, de 1932, até hoje encenada em todo o mundo. O primeiro grande ator a encarnar o mendigo foi o fantástico Procópio Ferreira (João Álvaro de Jesus Quental Ferreira, Rio de Janeiro, 8/7/1898 - 18/6/79), pai da Bibi, o Ator dos atores (na foto maior abaixo). O texto do Joracy foi levado às telas, imaginem, pela Argentina (Dios se lo pague, 1947, na última foto), aqui nada.

Aos amigos fuminhos, notem que a expressão "Só" (grifei em vermelho), à guisa de concordância, vem de longe.

Quanto ao vídeo, não me refiro à violência dos primatas, cuja bárbara ignorância causa espanto e repulsa, e por si só seria razão para que pegássemos em pedaços de pau e saíssemos à rua dar um fim nisso.

A culpa não é dos primatas. A culpa é dos chefes dos primatas. O poder político, mandalete de banqueiros, grandes ladrões de terras, "empreiteiros", globos da vida, et catrefa. Esses, razão por que eu daria tudo para crer em outro inferno, além deste paraíso feito inferno pela sua perversidade.

Remete para a famosa peça teatral pelo real significado dessas instituições.

Por que e a quem servem? 



DEUS LHE PAGUE
1ª parte.


Mendigo - Deus lhe pague.

(Olha para dentro da igreja, para os lados, para então, ajeitar melhor os jornais, a "bengala" e o chapéu, tomando posição cômoda e definitiva pra o "trabalho"... - Em seguida, entra Outro Mendigo - mesma idade, mesmos farrapos, mas de aparência pior, porque revela um grande abatimento físico. É mesmo esquálido e faminto - O Mendigo, distraidamente, à passagem do Outro, estende-lhe o chapéu:)

Mendigo - Ah! (Risonho) Desculpe... Não tinha reparado que o senhor é colega...

Outro - Ainda não fiz nada hoje, velhinho. Tenho cigarros. Aceita um?

Mendigo - São bons?

Outro - Hoje, até as pontas que consegui apanhar são de cigarros ordinários! (Tira do bolso uma latinha cheia de pontas de cigarros, abre e oferece).

Mendigo - Muito obrigado. Não fumo cigarros ordinários. Quer um charuto? (Tira-o do bolso).

Outro (Aceitando, espantado) - Olá!

Mendigo - É Havana! Tenho muitos! Custam 10$000 cada um.

Outro - Aceito, porque nunca tive jeito para roubar.

Mendigo - Nem eu.

Outro - Não foram roubados?

Mendigo - Foram comprados. Ainda não sou ladrão...

Outro - Desculpe. É que...

Mendigo - Não é preciso pedir desculpas. Não sou ladrão, mas podia sê-lo. É um direito que me assiste.

Outro - (Sentando-se na escada) - Acha?

Mendigo - Acho, mas sempre preferi trabalhar. Como trabalhar nem sempre é possível, resolvi pedir esmola, antes que fosse obrigado a roubar. Pedir dá menos trabalho.

Outro (Alarmado) - E é por isso que o senhor pede?

Mendigo - . O senhor conhece a história do mundo?

Outro - Não.

Mendigo - Antigamente, tudo era de todos. Ninguém era dono da terra e a água não pertencia a ninguém. Hoje, cada espaço de terra tem um dono e cada nascente de água pertence a alguém. Quem foi que deu?

Outro - Eu não fui...

Mendigo - Não foi ninguém. Os espertalhões, no princípio do mundo, apropriaram-se das coisas e inventaram a Justiça e a Polícia...

Outro - Pra que?

Mendigo - Para prender e processar os que vieram depois. Hoje, quem se apropriar das coisas, é processado pelo crime de apropriação indébita. Por que? Porque eles resolveram que as coisas pertencessem a eles...

Outro - Mas quem foi que deu?

Mendigo - Ninguém. Pergunte ao dono de uma faixa de terra na Avenida Atlântica se ele sabe explicar por que razão aquela faixa é dele...

Outro - Ora! É fácil. Ele dirá que comprou ao antigo dono.

Mendigo - E o antigo dono?

Outro - Comprou de outro.

Mendigo - E este outro?

Outro - Do primeiro dono.

Mendigo - E o primeiro dono, comprou de quem?

Outro - De ninguém. Tomou conta.

Mendigo - Com que direito?

Outro - Isso é que eu não sei.

Mendigo - Sem direito nenhum. Naquele tempo não havia leis. Depois que um pequeno grupo dividiu tudo entre si, é que se fizeram os Códigos. Então, passou a ser crime... para os outros, o que para eles era uma coisa natural...

Outro - Mas os que primeiro tomaram conta das terras eram fortes e podiam garantir a posse contra os fracos.

Mendigo - Isso era antigamente. Hoje os chamados donos não são fortes e continuam na posse do que não lhes pertence.

Outro - Garantidos pela polícia, pelas classes armadas...

Mendigo - Sim. Garantidos pelos que também não são donos de nada, mas que foram convencidos de que devem fazer respeitar uma divisão na qual não foram aquinhoados.

Outro - E o senhor pretende reformar o mundo?

Mendigo - Tinha pensado nisso, mas depois compreendi que a humanidade não precisa do meu sacrifício.

Outro - Por que?

Mendigo - Porque o número de infelizes avoluma-se assustadoramente...

Outro (Sorrindo) - E foi por isso que desistiu de reformar o mundo?

Mendigo - Foi. Abandonei a sociedade e resolvi pedir-lhe o que me pertence. Exigir é impertinência; pedir é um direito universalmente reconhecido. Dá prazer a quem se pede, não causa inveja. O senhor já reparou que ninguém é contra mendigo? Por que será? Porque o mendigo é o homem que desistiu de lutar contra os outros.

Outro - Os homens não precisam de nós...

Mendigo - Precisam, senhor... Como é o seu nome?

Outro - Barata.

Mendigo - Precisam, mas não dependem; e é por isso que nos olham com ternura.

Outro - Ora!... Quem é que precisa de um mendigo?

Mendigo - Todos! Eles precisam muito mais de nós, do que nós deles. O mendigo é, neste momento, uma necessidade social. Quando eles dizem: "Quem dá aos pobres, empresta a Deus", confessam que não dão aos pobres, mas emprestam a Deus... Não há generosidade na esmola: há interesse. Os pecadores dão, para aliviar seus pecados; os sofredores, para merecer as graças de Deus. Além disso, é com a miséria de um níquel que eles adiam a revolta dos miseráveis.

Outro - Mas quando agradecem a Deus, revelam o sentimento de gratidão.

Mendigo - Não há gratidão. Só agradece a Deus quem tem medo de perder a felicidade. Se os homens tivessem certeza de que seriam sempre felizes, Deus deixaria de existir, porque só existe no pensamento dos infelizes e dos temerosos da infelicidade. Quem dá esmola pensa que está comprando a felicidade, e os mendigos, para eles, são os únicos vendedores desse bem supremo.

Outro (Desanimado) - A felicidade é tão barata...

Mendigo - Engana-se. É caríssima. Barata é a ilusão. Com um tostãozinho, compra-se a melhor ilusão da vida, porque quando a gente diz: "Deus lhe pague...", o esmoler pensa que no dia seguinte vai tirar cem contos na loteria... Coitados! São tão ingênuos... Se dar esmola, um mísero tostão, à saída de um "cabaret", onde se gastaram milhares de tostões em vícios e corrupções, redimisse pecados e comprasse a felicidade, o mundo seria um paraíso! O sacrifício é que redime. Esmola não é sacrifício! É sobra. É resto. É a alegria de quem dá porque não precisa pedir.

Outro - O senhor é contra a esmola?

Mendigo - Sou a meu favor e contra os outros. A sociedade exige que eu peça. Eu peço. E foi pedindo que me vinguei dela.

Outro - Como assim?!

Mendigo - Porque, obrigado a pedir, fui obrigado a enriquecer!

Outro (em segredo) - O senhor é rico?!

Mendigo - Riquíssimo! Não tive outro remédio...

Outro - Há de me explicar como foi obrigado a ficar rico.

Mendigo - A sociedade é muito defeituosa, meu velho. Pela lógica, o mendigo deveria ser sempre pobre. Pelo menos, enquanto fosse mendigo. Entretanto, pobres, realmente pobres, são os ricos. Pobres de espírito, pobres de tranqüilidade, de fraternidade, e, às vezes, até de dinheiro!

Outro - Não estou entendendo nada...

(Um Senhor que entrara na igreja sai, visivelmente preocupado, agitado, indeciso. Outro estende-lhe a mão:) - Uma esmolinha pelo amor de Deus!... (O Senhor não dá).

Mendigo (Estendendo-lhe o chapéu) - Favoreça, em nome de Deus, a um pobre que tem fome!... (O Senhor dá e sai agitadíssimo - O Outro irrita-se)

Mendigo - Conhece esse sujeito?

Outro - Não.

Mendigo - É o Vieira de Castro, presidente do consórcio das fábricas de tecidos. Milionário. Tanto quando eu! Observou a aflição desse homem, procurando igrejas a esta hora da noite? Sabe o que significa um momento de contrição religiosa de um milionário?

Outro - Não.

Mendigo - Egoísmo. Luta entre eles! Miséria!... Pior do que a nossa!

Outro - Do que a minha?!...

Mendigo - Sim, porque a minha faria inveja ao homem mais rico do mundo... A minha miséria é a miséria mais confortável que há.

Outro - Mas não me explicou ainda como foi obrigado a fazer fortuna.

Mendigo - Pedindo e guardando. Fui obrigado a guardar, porque a sociedade me impedia de gastar. Esta roupa, que recebi como esmola, visto-a há 25 anos. Substituí-la por uma nova, seria desmoralizar a minha profissão.,. Logo, fui obrigado a economizar, pelo menos, o valor de dois ternos por ano... cinqüenta ternos. Vinte e cinco contos!

Outro - A 500$000 cada um?

Mendigo - É quanto me custam agora... Obrigado a comer os restos de comida que os outros me davam, calculo a minha economia, por baixo, em 6$000 diários... sem gorjetas.

Outro (Fazendo cálculos) - Cento e oitenta por mês...2 vezes nada, nada; 2 vezes 8, 16; 1 vez 1, 1; 6, 11 e vai, 2. Dois contos cento e sessenta por ano...

Mendigo - Em 25...

Outro - (Novos cálculos balbuciando e contando pelos dedos) ... Mais de 50 contos.

Mendigo - Acrescente agora outras despesas, como cinemas, teatros, esportes e certos luxos que me pareceram inconvenientes para um mendigo, e compreenderá como pode um mendigo enriquecer e um rico empobrecer.

Outro - Tem razão.

Mendigo - Nós vivemos acumulando as sobras da sociedade. E a sociedade pensa que as sobras não fazem falta... É a ilusão do lucro, porque não há lucro. O que há é uma necessidade menor no momento em que o dinheiro é maior. Quando a necessidade aumenta, o que era lucro passa a ser prejuízo. Se o senhor não tiver necessidade de comprar um automóvel, não sentirá falta do dinheiro que ele custa. Se o senhor não tiver nenhuma necessidade, o dinheiro que tiver no bolso será lucro. É sobra. Pouco se lhe dá deitá-la de fora. E nós, os mendigos, somos a lata de lixo da humanidade.

Outro - Mas o senhor é rico mesmo?

Mendigo - Sou. Mas não tenho culpa nenhuma disso...

Outro - E pretende continuar esmolando?

Mendigo - Até o fim da vida. Não me dá trabalho nenhum... Não pago imposto, não estou sujeito a incêndio nem a falência...

Outro - Mas, se vivesse dos rendimentos, também não precisaria trabalhar. Por que não emprega o seu dinheiro na indústria, no comércio ou na lavoura?

Mendigo - Para que, se não tenho necessidade de arriscar o meu capital?!

Outro - Em compensação, ganharia muito mais.

Mendigo - Puro engano. O lucro maior não é a maior quantidade de dinheiro que sobra. No comércio ou na indústria, quem ganha mais precisa gastar mais. No meu caso, dá-se o contrário: quanto mais ganhar, menos preciso e devo gastar, para ganhar mais e mais. E depois, o que faço não é ganhar; é cobrar o que a sociedade me deve. E cobro humildemente, suavemente, em prestações módicas.

Outro - Quanto lhe deve a sociedade?

Mendigo - Tanto quanto deveria caber a mim, se houvesse uma divisão "camarada".

Outro - Comigo essa gente tem sido muito caloteira...

Mendigo - É que o senhor não sabe corar... Como é que o senhor pede esmola?

Outro - Como todos: "Uma esmola pelo amor de Deus!"

Mendigo - Isso é passadismo!... Ninguém mais ouve esse pedido. Deus é uma palavra sem expressão. Quando se diz "Ai meu Deus" - é como se estivesse dizendo: "Ora bolas!". O senhor nunca ouviu um ateu dizer: "Graças a Deus sou ateu"?

Outro - Já.

Mendigo - Pois então? Hoje, poucos compreendem o valor dessa expressão. Fale em fome. Fome é mais impressionante. Há mais de 30.000.000 de famintos no mundo! Mas fale em fome, sempre onde não haja pão ou comida.

Outro - Para quê?

Mendigo - Para que eles lhe dêem dinheiro. O senhor, com certeza, tem mendigado a domicílio...

Outro - Realmente, sempre vivi percorrendo casas de família.

Mendigo - É um mal. Quem mendiga a domicílio não faz carreira. Só dão pratos de comida e restos de pão. Adote o meu sistema. Especializei-me em transeuntes e portas de igrejas em dia de missa de defunto rico. Leia os jornais. Pelos anúncios, calculo a féria do dia.
(....)

Segurança para quem?

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sábado, 25 de junio de 2011

Vishy Anand: um Rei na República Tcheca

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Este mês de junho será sempre lembrado na República Tcheca como o mês da quase revolução ao contrário, com a deposição de um fantoche e a entronização de um Rei. O povo lamentará eternamente os fuzilamentos e os grandes festejos que não ocorreram. O sonho do renascimento do antigo Reino da Boêmia, desta vez sem conflitos religiosos, sem austríacos e húngaros para atrapalhar, embalou corações e mentes. Pensamos em ir fazendo as malas, na cabeça rodando um pensamento maravilhoso: um reino de agnósticos.

O campeão mundial de xadrez, Viswanathan Anand, foi ao país dos teatros de marionetes como o convidado mais ilustre, para abrilhantar o combate entre David Navara e Sergei Movsesian, dois notáveis enxadristas que há muito romperam a terrível barreira dos 2.700.

Navara – tcheco, 26 anos, rating 2.702 – e Movsesian – armênio, 32 anos, rating 2.705, já estiveram em posições mais elevadas no ranking, atualmente são “apenas” o 39º e o 35º melhores cérebros do planeta, respectivamente.

Para se ter uma idéia, o mais alto rating brasileiro é 2.634 (Vescovi). Vishy Anand é o 1º, com 2.817, dois pontinhos acima do prodígio Magnus Carlsen.

A capital, Praga, enfeitou-se toda, até os pináculos dos prédios, para receber o já lendário indiano. Rádios e televisões não tinham outro assunto, queriam desfile em carro aberto para movimentar o noticiário. Anand, sempre reservado, educado, atendeu a todos com excelente humor, mas nada de desfile.

O presidente da república Vaclav Klaus, político que é, não perdeu a oportunidade e correu a recepcioná-lo, todo fresco.

Os amigos manjam políticos, não é? Dão qualquer coisa, mas qualquer coisa mesmo, por um minuto de exposição pública. Imaginem a tontura que deu no sujeito tendo ao seu alcance uma celebridade dessa envergadura.

Mesmo sabendo que Vaclav é filho (renegado) espiritual da D. Stanislava Perkoski (muito falada no google graças a este modesto blog), mais conhecida como Polaca, aquela senhora dona de certa casa, digamos, de diversões, na cidade de Palmeira das Lições, no interior do Rio Grande do Sul, que não por acaso vem a ser mãe espiritual de todos os políticos brasileiros, a maioria também renegados, mesmo sabendo disso, como dizíamos, Anand não pôde se furtar ao encontro, tem o protocolo, essas firulas a que até um Rei é obrigado, de modo que sorriu e se deixou fotografar. 

Esse Vaclav é um sujeito que não crê em aquecimento global, porém não é só isso: além de ladrão de canetas, consta que se avançou na grana do..., deixa pra lá, vai que ele peça a nossa extradição para ser julgado pelos seus cupinchas da sua justiça, o que o nosso governo se apressaria em providenciar.

Vaclav não deixou por menos: transferiu a Presidência para Vishy Anand, por alguns dias. O soberano não aceitou, mas tomou posse como Rei, Vishy I,  no dia 13 pela manhã. A população daria tudo para que fosse de verdade, pois não votou no indivíduo, lá é por delegação (Vaclav, do Centrão, foi eleito pelo parlamento de 282 políticos, pela diferença de dois votos), e sabemos o que acontece depois de delegarmos poderes a essa turma. Na primeira foto, o escritório de Vaclav, que Anand achou indigno de sua nobreza, e na seguinte o local que escolheu para governar, o Castelo de Praga.






Na noite do dia 12 aconteceu a festa de recepção ao evento, onde a estrela maior, evidentemente, foi o campeão. Alguns singelos discursos, champanhe rolando, círculo de príncipes (os políticos não foram convidados), melodias de deuses, com música de câmara do Antoninho Dvořák, noite amena, ah, que luxo. Na festa Vishy aproveitou para levar um lero com Anatoly Karpov, um dos reis de todos os tempos.


Nessa tarde o Rei concedeu uma Simultânea, enfrentando a 26 contrincantes, entre estes alguns excelentes enxadristas. Era para ser 30, mas 4 amarelaram.

Deu autógrafos e achou um tempinho para passear feito um plebeu pelo centro antigo, acompanhado do organizador do evento Pavel Matocha, conhecido como “Bom Cabelo” (segunda foto abaixo). Anand assombrou-se com o consumo de cerveja pelos seus vassalos, comentou com o Bom Cabelo: "Credo, mas essa gente bebe, hein, me lembra o meu amigo João". Ao lembrar-se, pelo nosso correspondente enviou abraço ao João da Noite,  e ao velho abstêmio Sultan Khan, seu antigo professor. E a todos nós.
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Alguns amigos, capitaneados por João da Noite, planejam mudar-se para lá, descobriram que na região da Boêmia se fabrica as melhores cervejas artesanais do mundo. E as mulheres, ah, aquelas eslavas: loiras, altas, andando com salto 15 fininho pelas ruas de pedra, que adoram pintar os cabelos de castanho e marrom, carnudas, seios fartos, roupas coladíssimas, tesudas, ui..., e, bem, não mudemos de assunto.

No dia seguinte houve o sorteio da ordem (quem sai de brancas na primeira partida) do embate. Coube a Anand o sorteio e a realização do primeiro movimento, com o peão do bispo da dama a c4, escolhido por Movsesian, condutor das brancas. A guerra teve início. No vídeo após a foto, cenas do primeiro dia. É muito fácil de entender tudinho porque os caras falam devagar.




No sexto dia de combates David Navara emergiu do campo de batalha - um mar de sangue - como o vencedor, com uma vitória e cinco empates. A Siciliana é a abertura mais praticada na trajetória de ambos, e foi ela que lhe deu a vitória: na quarta partida Movsesian, com as negras (que eram marrons), saiu pela variante que mais conhece, a Taimanov. Navara preferiu uma linha diferenciada em relação a combates anteriores, e a partida seguiu como Fedorov-Safarli (S. Petersburgo, 2010, 0-1) até 11. ... Qxc5. O duelo foi decidido quando Movsesian cometeu um erro no lance 34 e teve que abandonar no 41, a oito do xeque-mate.

A quarta partida: Brancas: David Navara. Negras: Sergei Movsesian. 1.e4 c5 2.Nf3 e6 3.d4 cxd4 4.Nxd4 Nc6 5.Nc3 Qc7 6.Be3 a6 7.Bd3 Nf6 8.0-0 Nxd4 9.Bxd4 Bc5 10.Be2 e5 11.Bxc5 Qxc5 12.Qd3 b5 13.a4 b4 14.Nd5 Nxd5 15.Qxd5 Qxd5 16.exd5 d6 17.f4 f6 18.a5 Ke7 19.fxe5 fxe5 20.c3 Bb7 21.c4 Bc8 22.Rad1 Rf8 23.Rxf8 Kxf8 24.c5 dxc5 25.d6 Be6 26.Rc1 Ke8 27.Rxc5 Kd7 28.Bf3 Rf8 29.Rc7+ Kxd6 30.Rc6+ Ke7 31.Rxa6 Bc4 32.Rb6 e4 33.Rxb4 Bd3 34.Be2 Rc8 35.Bxd3 exd3 36.Kf2 Rc5 37.a6 Re5 38.a7 d2 39.Rb7+ Ke6 40.a8Q d1Q 41.Qc8+ 1-0

Falamos que o campeão mundial jogou uma Simultânea contra 26 tabuleiros. Vejamos como foi.

Para quem não sabe, isso funciona assim: faz-se um quadrado ou retângulo de mesas e os adversários jogam sentados, o artista fica em pé no meio, andando de um tabuleiro ao outro. Foto abaixo. Os adversários, no caso, têm 26 vezes mais tempo para pensar, e pensar só na sua partida, sem o embaraço de tantas na cabeça. A única compensação ao campeão é o fato de jogar todas as partidas com as peças brancas, a tal de "vantagem teórica", que as estatísticas não deixam dúvida de que existe, o impossível é comprová-la cientificamente.


Vishy ganhou 25. Entre os 25 alguns políticos, inclusive o prefeito de Praga, banqueiros e grandes empresários, estes salteadores perderam em poucos movimentos. A surpresa estava no 3º tabuleiro, com Petr Boleslav, um tcheco de 37 anos, editor de um site de xadrez, com o rating de 2.127. A partida está no tabuleiro à esquerda do blog, acima. Uma Defesa Índia do Rei, Fianchetto, variante Karlsbad.

Petr confessou que o seu estado de nervos era tal (supomos nos primeiros 20 movimentos) que mal conseguia calcular dois lances à frente, apavorado, sentindo Vishy fazer a volta pelos outros tabuleiros e vir se aproximando do seu...

“Fui seguindo por instinto, tentando em vão elaborar um plano para enfrentar o exército branco”.

Falando sobre aqueles momentos, Petr disse que custou a crer no lance 22. Rce1, de Anand. De fato, ali caiu a casa. Com 24. Qc2 o seu coração disparou, batendo mais alto que o relógio astronômico de Praga.

“Quando joguei 27. ... Bxe5 senti algum tipo de mudança no ar. Timidamente olhei para o campeão do mundo. Ele em pé na frente do tabuleiro, mas não olhava para o tabuleiro: ele calmamente me olhava nos olhos. Eu tinha um bom palpite, mas ainda não me atrevia a acreditar. Só acreditei quando ele sorriu e me estendeu a mão”.


Obviamente que Anand poderia se dedicar à partida com mais vigor, a partir de 28. Rd1, e forçar um erro do oponente, ou um lance fraco, mas aí não seria Viswanathan Anand. Ao contrário, tratou-o como a um igual, rendendo-se ao ver uma posição em que ele, Anand, jamais admitiria o empate. Abandonou como abandonaria frente a outro grande campeão. O Rei agiu certo naquelas alturas, protegendo a dignidade de sua coroa: Petr não deveria errar.

Meninos, pra quê! Subitamente Anand havia se transformado em persona non grata, um perigo em potencial. No dia seguinte os políticos se reuniram às pressas no parlamento, a fofoca correndo solta. Complôs, promessas de retaliação. Sabem como eles fazem, não é? Ficam falando aos sussurros uns nos ouvidos dos outros, depois adotam pose de pessoas sérias, iguaizinhos às piores funcionárias da D. Polaca.  Ora, que Rei é esse?, onde já se viu ser condescendente com os súditos. É golpe. Na sua ignorância, ânsia por dinheiro, a politicalha, que nada sabe de democracia, sabe menos ainda sobre monarquia.

Naturalmente, à vista do público agiram de modo diferente. Diante de câmeras e lentes, Vaclav sorria e abraçava a Petr Boleslav, o glorioso homem do povo. Imaginem um gato, ou o Palocci, sorrindo.

Como essa história de fundar uma monarquia na República Tcheca foi uma brincadeira (a temperatura e o Minuano cortando aconselha a gente a ficar em casa, quentinho, tomando vinho e escrevendo besteiras), tudo acabou na mais santa paz. A assessoria de imprensa de Vishy I comunicou que ele não poderia permanecer em definitivo, um Rei do Mundo não pode ter locais favoritos. Os políticos se acalmaram.

Pelo sim, pelo não, Anand tratou de dar logo no pé, à francesa. Ele e sua corte seguiram em seu périplo pelo mundo, sem divulgar a agenda do último dia para evitar que certo político grudasse no seu pé, acima referido, até o aeroporto.

Os amigos deram sumiço nas fotos onde o filho renegado da Polaca aparecia.

Torcemos para que um dia Viswanathan Anand venha ao Brasil. Disposto a ficar.

Y así pasan los dias.

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Fotos: Vladimír Jagr
Vídeo: Praha1
A partida: Brancas: Anand, Vishy. Negras: Boleslav, Petr - Praga, 12/6/2011.
1. c4 Nf6 2. Nc3 g6 3. g3 Bg7 4. Bg2 d6 5. Nf3 O-O 6. O-O a6 7. d4 Nc6 8. d5 Na5 9. b3 Rb8 10. Bb2 c5 11. dxc6 bxc6 12. Qd2 Bg4 13. Rac1 Re8 14. Nd4 Bd7 15. e4 c5 16. Nde2 Nc6 17. Nd5 e5 18. f4 Nxd5 19. cxd5 Nd4 20. Nxd4 exd4 21. Kh1 Qb6 22. Rce1 c4 23. Bc1 c3 24. Qc2 Bb5 25. Rf3 f5 26. e5 dxe5 27. fxe5 Bxe5 0-1
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Oblivión

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Piazzolla compôs em 1982 para Conjunto de Câmara. A peça logo tornou-se famosa no mundo, como trilha sonora do filme Enrico IV, de Marco Bellocchio. Tem sido registrada em muitas versões, reescrita para clarinete, cello, saxofone, oboé e orquestra.

Dizer que é linda e melancólica não diz tudo.

É triste, triste, triste... A alegria de viver que nos escapa, com toda a beleza que há ao nosso redor, quando somos esquecidos.

Às 4 da matina é terrivelmente triste.

Aqui com o violinista Gidon Kremer. 



O álbum Hommage a Piazzolla, tendo como solista Gidon Kremer, foi indicado ao Grammy 1997. Em Oblivión interagem os seguintes músicos, cada um virtuose em seu instrumento: Gidon Kremer (violino, Letônia), Per Arne Glorvigen (bandoneón, Noruega), Vadim Sakharov (piano, Rússia) e Alois Posch (contrabaixo, Áustria).
  

jueves, 23 de junio de 2011

O Último Rango

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O dia amanheceu gris em Porto Alegre. Semana curta, não trabalhei. Esperando cair do céu, quem sabe.

Com  Miquirina a tiracolo, imito o programa dominical e saio cedinho dar umas voltas, andando pelo Menino Deus, pelo Centro e pela Cidade Baixa. Via sacra pelos butecos da manhã, levar um lero com a turma que vem de noite atravessada, e rever os ex-notívagos mandados pela mulher que aproveitam a ida ao armazém para tomar umas e outras.

Afora a decisão entre  o Santos e meu Peñarol, que foi o acontecimento da semana (acabamos sendo roubados e covardemente agredidos), o assunto foi um só: que diabos (epa) é isso de Corpus Christi? Do Beco do Oitavo ao Bar do Nito, passando pelo Boteco do Moacir, ninguém sabia.

Os barnabés que frequentam o Bar do Beto ontem tinham a resposta na ponta da língua: "Eeeeeeba!, é dia que não precisamos trabalhar, e vai ter feriadão, vamos matar a sexta!". E seguiu-se a cantoria em uníssono: "Vamos matar a sexta, vamos matar a sexta... larará-larára". Obviamente que a resposta não satisfez.

Encontramos o venerável cachacista João da Noite no Botequim do Terguino às dez e meia da manhã, em mesa na calçada, acompanhado de dois músicos e respectivas aves noturnas de batom carmim e olhos borrados à lápis. Arrastamos cadeiras.

João todo contentão, com um tapete colorido às costas, aperitivando. Preparava o espírito para amarrar uma alemoa às três da tarde no Largo dos Palmares, na festa e procissão dos católicos. Os crentes deverão reunir umas cem pessoas, e o João ainda vai sequestrar uma... tem dó.

Perguntado a respeito pelo Gustavo Moscão, da mesa ao lado, João não se fez de rogado, mas, como sempre, derramando aos poucos a sua erudição, cheio de rodeios: "Nos Estados Unidos, paiseco que Salito tanto ama, não tem feriado, salvo na cidade de Corpus Christi, no Texas".

E fez silêncio. Mais um trago. Aproveitei para dizer que em Nova Delhi a turma não quis nem saber, tocam firme a segunda rodada do Torneio Internacional AAI de xadrez, promovido pelo Ministério da Defesa (!), no caso pelo órgão responsável pelos seus aeroportos, que, ao que parece, diferentemente do nosso, desvia dinheiro para causas nobres. Salvo Miquirina, que já sabia, ninguém se interessou pela minha conversa.

Um dos músicos descobriu a América, diz que até as moscas sabem que Corpus Christi significa Corpo de Cristo. As mulheres vibram com tamanha perspicácia. O Moscão olha vivamente para o cara.


Após outro golpe no trago, lacrimejando João estala a língua e segue: "Já em Toledo, na Espanha, é comemoração para ninguém botar defeito, as ruas apinhadas de gente, muito vinho, muita alegria, olé!". E sorri como se estivesse lá no meio do burburinho.

"No Oriente os bem informados sabem no máximo que é feriado ocidental, isto é, sabem tanto quanto a maioria dos ocidentais. De fato, meus amigos, em alguns, somente alguns, países ocidentais é feriado, e na Alemanha...".

Terguino, que havia largado bebidas na mesa e parado para ouvir, troveja: "Deixa de frescura, João, conta logo o que é o negócio".

Miquirina Segundo não deixa: "Em Angola não é feriado, mas muitos festejam".

João: "Negada mal-agradecida. Em Portugal é feriadaço. Muito vinho. Em algumas localidades ainda saem com carros alegóricos, fantasias de diabo, muito profano, é foda... É fado!". E ri.

Perco o interesse pela lenga-lenga e peço um merengue ao Terguino, losninha dupla. João segue dando a volta ao mundo por mais meia hora. Miquirina e eu passamos a traçar planos para dar um susto em Mr. F. Febraban na semana que vem, dependemos de Carlito Yanés para definir hora e local.

Mais uma cobrança e finalmente João se dá por achado: "Ora, Moscão, é uma festa inventada no século 13..., se não me engano começou lá por 1264, quando um tal de Urbano, que na verdade se chamava Pantaleão e era o Papa dos caras, pouco antes de bater os cascos, o bandido, bolou o lance para realçar a hóstia como de fato o verdadeiro Corpo de Cristo".

(João toma outro gole do seu trago) 

"Na verdade o que o Pantaleão queria mesmo era uma nova Cruzada no Oriente, mas os guerreiros estavam com ressaca de sangue e não lhe deram ouvidos. Ninguém deu a mínima para o decreto do Papão sobre a festa, também, mas aos poucos foi pegando, sabe como é, festa é festa, e de tanto repetirem... É isso, festa para confirmar que a hóstia, sem sombra de dúvida, é o corpo de Cristo. De lembrar que a hóstia, o disco bem redondo, representava o Sol no antigo Egito, o deus Osíris que se escondeu num grão de trigo e foi engolido pela  deusa Ceres, a Senhora Rainha do Céu, do que nasceu um lindo filho..., mas isto é outra história."

"Ao mesmo tempo é homenagem ao Último Rango, daquela vez em que Jesus e seus companheiros comeram bóia da boa e beberam todos os vinhos Periquita da época, que fogo...".

Mamma mia, esse João é mesmo um irreverente, mas o Moscão, fazendo jus ao apelido, ouve compenetrado. Os músicos e as respectivas estão nem aí para a conversa.

Nisso se mete o Paulo Bengala, da mesa detrás do João: "Mas pera aí, inventaram assim, do nada?...".

João dá mais um talho no merengue, depois sorve um copo de cerveja. Com ares de quem cansou do assunto, responde: "Exatamente, do nada. Bem, do nada não, dos imemoriais cultos pagãos. Isso é uma coisa de política, Paulinho, consolidação de poder pela apropriação de corações e mentes. Jesus Cristo... não tem nada a ver com o que os caras decidiram, como de resto não tem nada a ver com a Inquisição nem com coisa alguma que essa gente impôs, menos ainda com os pastores ladrões de hoje em dia, tudo 171".

Ao pronunciar o nome de Jesus Cristo, desta vez com ar grave João ergueu o copo e fez uma demorada reverência.

Curiosidade satisfeita, a turma começa a se desfazer. Hora de comprar o frango, se não a mulher vai reclamar, diz Moscão. Miquirina e eu precisamos nos mandar também.

Como último ato, mais uma rodada. João da Noite se levantando pede a todos que ergam os copos e exclama: "À Jesus!". Todos pulam das cadeiras e repetem com voz alta e forte: "À Jesus!".

Tintim.

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Obs. 1: Imagens da internet, pela ordem: 1) sem informações; 2) Festa em Toledo, Espanha; 3) Quadro "A Última Ceia", de Tintoretto, Veneza, 1592.
Obs. 2: No Brasil Corpus Christi só pode ser feriado municipal, como em Porto Alegre. Mas festa é festa, com lei ou sem lei, pára tudo. Há um projeto no Senado, de 2007, proposto por um palhaço catarinense de Rondônia, do PMDB, elevando a feriado nacional, como também à terça de Carnaval e a Sexta-feira Santa.  O elemento está sendo processado no STF por falsidade ideológica e desvio de recursos, que vai dar em nada, como sempre. Ele vai sempre à igreja.

miércoles, 22 de junio de 2011

Peñarol, a morir!

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Dale dale carbonero!

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De Israel a Sao Paulo, todo por un amor: PEÑAROL


Por Diego Loaiza, hoje no Futbolred



Dos días y medio de viaje pasaron para que Fabián Klein llegara a ver al club de sus amores.

En pleno Sao Paulo, sede del partido final de la Copa Santander Libertadores 2011, FUTBOLRED tuvo contacto con un aficionado uruguayo que se trasladó desde el país donde reside actualmente, en el Medio Oriente, hasta Montevideo por un sueño, ver a Peñarol coronarse campeón del torneo continental por sexta vez en su historia.

El amor por el fútbol todo lo puede y así lo indica el testimonio de un seguidor del equipo aurinegro que tiene 28 años, vive hace seis años y medio en Israel y espera presenciar por primera vez un nuevo título de Libertadores del cuadro 'manya'.

"Trabajo allá, vivo allá hace seis años y medio, empecé un trabajo nuevo hace un mes y les dije, me disculpan pero me mandaron el pasaje, les tuve que decir que me mandaron el pasaje como para mostrarles que no tenía de otra, me tengo que ir, en dos semanas vuelvo, hasta la vista y allí empezó esta locura. Viajes, escalas, esperas, cenizas volcánicas", aseguró Fabián Klein, en las afueras del Hotel Tivoli de Sao Paulo donde está hospedado el equipo que mueve tanta pasión en él.

Como buen hincha, no lo detuvo nada. Viajó dos días y medio para ver el 0-0 de la ida en Montevideo y hoy está en Brasil, con un boleta en la mano para entrar al estadio Pacaembú y ver a su club levantar un nuevo trofeo.

"Viajé de Israel a Frankfurt, en Frankfurt estuve nueves horas de escala, hay doce horas de viaje hasta Sao Paulo. Allí once horas trancado en el aeropuerto, de Sao Paulo a Porto Alegre en avión con toda la hinchada del Santos y yo de camiseta del Peñarol. 150 personas cantándome, insultándome y después de Porto Alegre corriendo a la estación de Omnibus, que se me perdía la reserva. Espere seis horas más en esa estación y después once horas de viaje hasta llegar a Montevideo. Llegué el mismo día del partido a las doce del día", comentó Fabián.

Toda esta historia comenzó hace unos años como les sucede a muchas personas, su papá es fanático del 'manya'. Él lo hizo hincha pero "después la pasión vino sola, no quiero culparlo de mi enfermedad". Klein nació en 1982, año en que Peñarol se coronó campeón por tercera vez de la Libertadores, y espera que esa fecha sea un amuleto de la suerte para el cuadro que orienta Diego Aguirre.

"Capaz que le traigo suerte. Es la primera vez que estoy así como tan enfermo, que me voy acordar de todo y que se lo voy a contar a mis hijos y a mis nietos", dijo lucía con orgullo la camiseta a rayas amarillas y negras.

Este aficionado, como seguramente la mayoría de de los uruguayos, esperan que el conjunto aurinegro vuelva y saque la casta actuando como visitante en esta edición de la Copa Libertadores. Dejaron el camino a Internacional en cuartos de final actuando fuera de su patio y en semifinales, en Buenos Aires, eliminaron a Vélez Sarsfield. Ahora, esperan con ansias una nueva corona en Sao Paulo.

"Eso es lo que da más fe para creer que es posible, las cinco Libertadores que tenemos hasta ahora las ganamos afuera de casa, y esta Libertadores en especial nos está yendo muy bien, así que esperemos cerrar con broche de oro y que la Copa vaya para el palacio de Peñarol", concluyó Klein, que no paró de ondear la bandera que tenía entre sus manos.

En pocas horas sabremos si la travesía de este seguidor 'manya' habrá recogido sus frutos, pero lo cierto es que lo que vivió, lo hizo todo por amor a Peñarol.
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Inverno

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O Inverno é parte de As Quatro Estações, um conjunto de 4 concertos para violino, de 1723.
É a obra mais conhecida de Antonio Lucio Vivaldi (Veneza, 4/3/1678 - Viena, 28/7/1741). Vivaldi, o padre ruivo, é outro que morreu na pobreza, vale a pena ler a sua biografia.
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martes, 21 de junio de 2011

Nelson Gonçalves: para sempre Boêmio

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Em 21 de junho de 1919, junto com o solstício de inverno,  surgia Antônio Gonçalves Sobral, na cidade gaúcha de Santana do Livramento. Logo se foi com a família para São Paulo, morando no Brás.

Hoje, NELSON GONÇALVES  completaria 92 anos. O Boêmio partiu numa noite de sábado, no Rio, em 18 de abril de 1998.

Dos cantores populares, o melhor do mundo.

Pelo que hoje se ouve nos rádios, jamais voltaremos a ter algo parecido, nem em sonhos. E isso que usava somente um terço da sua voz, mais não precisava.

A rede e as bibliotecas do mundo são pródigas em informações sobre a sua vida, então aqui diremos poucas palavras.

Suou a camisa, como engraxate, tamanqueiro, jornaleiro, mecânico, garçom e pugilista (com 16 anos, peso médio - 69 Kg - campeão paulista), até ser reconhecido. Já no Rio de Janeiro, Ary Barroso, que além de grande compositor e apresentador de shows de calouros era especialista  em dar mancadas, gênio destemperado, o aconselhou a desistir. Podemos imaginar o que significa para um cantor iniciante ouvir isso de um gigante de sua época. Não desistiu. No dia em que não o reprovaram em concurso de cantores sem antes ouvi-lo direito, tudo mudou.

Nelson era taquilálico (falava rápido demais, precipitadamente), o que era confundido com gagueira e lhe valeu o apelido de Metralha. A boca não se dava bem com uma parte do cérebro, e este, sendo mais rápido... Milagrosamente, a "gagueira" sumia quando cantava.

Com o sucesso Nelson também ganhou problemas sérios com drogas (nesta seara os problemas sempre são sérios), algo não, digamos, incomum, nesse meio (tomar coragem para enfrentar grandes platéias no início da carreira? Modismo? Pediríamos aos psicólogos e psiquiatras para explicarem, caso estes não fossem todos malucos). Dizia: "É mais fácil sustentar dez filhos que um vício". Quando o enjaularam por 30 dias em 1965, Adelino Moreira foi visita-lo. Ao ver o amigo no cárcere, Adelino sucumbiu e chorou copiosamente. De trás das grades veio o vozeirão: "Não se preocupe, Adelino, vai ficar tudo bem de novo".

Gostava de falar, e não era de meias palavras, abria a "metralha" e ia dizendo tudo, de um jeito que para alguns era incômodo, áspero, mas que nada mais era que o seu modo honesto de se comunicar, pura sinceridade, sem refinamentos nem frescuras. 

De vida atribulada, intensa, foi o retrato de muito do que cantava. Mulherengo a dar com um pau, bom copo, amicíssimo e com temperamento de vulcão em estado de latente erupção, se esquentar mais um pouco sai fogo. Um tantinho saudosista, como todos os boêmios: "O Rio de antigamente é minha grande saudade. Ninguém assaltava. Você saía do Dancing Avenida com duas mulheres, uma em cada braço, e vinha andando da Lapa até a Glória. Ninguém mexia com você”. Dos nossos. Epa, nós é que somos dos dele, e olha lá.

Já maduro, andava pelo país todo, às suas expensas, dando palestras em escolas. Assistimos a uma. Contava à moçadinha o drama que viveu e os horrores que cometeu, chegando a bater nos seios da moça - uma fã - que o recolheu andando a esmo pela rua, em 1965, e o levou para a sua casa, quando todas as portas haviam se fechado. Com paciência, resignação e amor, Maria Luiza recuperou o Boêmio, e veio a tornar-se sua companheira por 32 anos, 13 filhos, sendo 10 adotivos (olhaí os 10), gente como o Boêmio sempre dá um jeito de fazer o bem, mais ainda quando tem algum no bolso.

Muitas histórias cercam a sua trajetória, alguns escrevem livros, todos querendo ganhar em cima do seu nome, com poucas verdades e muitas mentiras. Triste, mas compreensível. Afinal, por 55 anos, de 1943 a 1998, o homem foi uma lenda viva.

Em 1976 gravou o LP "Nelson até 2001", incluindo a sua milésima canção. No disco cantava Depois de 2001, dele e do Adelino: "Só pretendo morrer / Depois de 2001 / E se deus do céu quiser / Sem inimigo nenhum", para gritar ao final: "É no gogó, Gugu!", referindo ao filho caçula. Era até quando pretendia viver, pelo menos. Dizia sorrindo, naquele jeito apressado: "O velho vai até 2001, rindo da vida". Por pouco, Nelson, por pouco.

Um caso raríssimo de longevidade artística: se vivo fosse, estaria gravando e vendendo até agora. Com os novos recursos tecnológicos, gravar a cada ano se tornava uma brincadeira mais fácil.

O velho era foda, a cada ano reafirmando sua condição de recordista nacional de vendas, gravando tudo o que achasse bom.  Exemplos: Lobão (Me chama), Arnaldo Antunes e Marisa Monte, do Paulinho da Viola (De mais ninguém), Kid Abelha, de Paula Toller/Herbert Vianna (Nada por mim), Legião Urbana (Ainda é cedo) e Lulu Santos/Nelson Motta (Como uma Onda).

Um ano antes de morrer, em 1997, levou mais um disco de ouro, pelo "Ainda é cedo". Em 1998 Adelino Moreira estava finalizando "Lua Namoradeira", que compôs para a sua voz. Não deu tempo, este coração...

Sem jamais lamber as botas do colonizador, gravou em bom português mais de duas mil canções, 183 discos em 78 rpm, 128 álbuns, vendeu cerca de 80 milhões de discos, ganhou 38 discos de ouro e 20 de platina. Os ouros não foram ganhos pelas simples 100.000 cópias, eram milhões, mas na época ainda não havia discos de platina e diamante. Teve seus discos vendidos em todo o mundo.

Na América Latina, parte da Europa e em países de língua portuguesa não surpreende. Surpreende é vender bastante na China, e chegar ao primeiro lugar nas paradas de sucesso na Bélgica, em 1975 (com a música "Naquela Mesa", do Sérgio Bittencourt).

O Boêmio é o verdadeiro Rei do Brasil, não da mídia. Esta teve de curvar-se, como aqueles que o rejeitavam no início da carreira. Essa mídia ladra e pernóstica diz que o maior vendedor de discos do Brasil é o Coberto Ralos, uma grosseira inverdade, repetida incansavelmente para manter seus lucros. Os dados não são confiáveis, mas todo mundo sabe que o maior vendedor sempre foi a dupla Tonico e Tinoco, excomungada pela "elite" em seus rega-bofes de palácios, mas que atingia a alma do sofrido povo brasileiro, explorado e mantido inculto pela mesma elite cafifa.

Com o Boêmio a pancada é mais embaixo, atingia a todos: o ouvinte de Tonico e Tinoco, do Coberto Ralos e de Mozart, com todos os intervalos entre um e outro.  

A seguir, três canções. Tal a discografia do homem, é muito difícil selecionar três, mesmo que a rede, descontadas as repetições, tenha somente uns 5 por cento da obra. Enfim...
A todos os amigos, em especial a Dolores.


Revolta (Nelson Gonçalves, letra, e Raul Sampaio, música), de 1959.



Renúncia (Mário Rossi, letra, e Roberto Martins, música), o seu primeiro grande sucesso, de 1943, aqui com Tim Maia.




O negócio é amar (Dolores Duran - Carlos Lyra), com Fafá.




Em São Paulo a sua filha Lílian Gonçalves, butequeira que de tão boa já é chamada de Rainha da Noite, é dona do Bar do Nelson, o bar do boêmio, reduto desta raça única que são os boêmios, e ponto de encontro de compositores, cantores, artistas, que abre as 4 da tarde e vai até o último cliente, música ao vivo sem parar e num clima de... ah, os boêmios entendem. Lá a Dercy Gonçalves comemorou os seus 103 anos (a certidão diz 101, mas feita com dois anos de atraso, diz ela, nos idos de 1907, e estava há um mês comemorando, não sossegava: aos 103 e caindo na noite!), no que foi a sua última apresentação, partiu 5 dias depois.

(Obs: Lá pelos idos de 1995, um cidadão, Sérgio Tadeu Vargas Côrtes, homem excepcional, grande contista, uma visão de mundo..., com aqueles olhos de mouro, estrelas, que viam o Universo de dentro da tenda nas noites do meio do deserto..., generoso, invadiu minhas gavetas e decidiu fazer um livro, e quem o demove?, Selecionou uns 20 contos. Ainda bem que não abriu a gaveta bem de baixo. Saiu: Pela Noite. Sobrou para mim na hora de lançamentos em casas de cultura, anúncio em rádios, jornais, a lenga de sempre. Eu não gostava, esse comércio é fogo. Convenceu-me a dar palestras em universidades, PUC, UFRGS, etc. Eu empurrava um copão de uísque, para espantar a timidez e lá ia. Um dos contos se intitulava Hoje tão longe, alusão direta à Revolta, que nunca esqueci por ouvir no rádio nos verdes anos, 4, 5 ou 6 de idade. Na PUC, na Federal e em outras foi uma festa, com a moçada da literatura, publicidade e outros bichos, era autógrafo, queriam me comer e tal. Até que um dia ele me arrastou para uma particular, especial para doutorandas e mestrandas em educação, psicologia e ciências sociais, sei lá, professoras. Escolheu o conto Hoje tão longe para ser lido. Eu tinha uns 40 ou 41 anos. Lá fui eu e meu chapéu, com aquele copão. O Sérgio foi lá na frente ler o conto, eu falaria ao final, com perguntas e tal. Na metade da leitura o enorme salão estava vazio, foram saindo uma por uma. Ele me disse que errou, o conto era "muito forte", o herói era um gigolô de putas de rua, tinha palavrões e mortes no texto. Doutorandas... Um conto que botou abaixo a meninada e a cidade? Aí larguei de mão, me desculpe, meu amigo, nessas não vou mais. Aprendi muito naquela tarde. Daria um conto.)