lunes, 21 de noviembre de 2016

O ACIDENTE

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(Adaptei um pouquinho de nada a redação do caso original, documento obtido na companhia seguradora, posto que ocorreu na Portugália)

Excelentíssimos senhores,

Sou assentador de tijolos. No dia do acidente estava a trabalhar sozinho no telhado de um edifício novo de seis andares. Quando acabei o meu trabalho verifiquei que tinham sobrado 350 Kg de tijolos. Em vez de os levar à mão para baixo decidi colocá-los dentro de um barril, com a ajuda de uma roldana, a qual, felizmente, estava fixada num dos lados do edifício, no sexto andar.

Desci e atei o barril com uma corda, fui para o telhado, puxei o barril para cima e coloquei os tijolos dentro. Voltei para baixo, desatei a corda e segurei-a com força, de modo que os 350 Kg descessem devagar – note-se que o meu peso era de 80 Kg. Devido a minha surpresa, por ter saltado repentinamente do chão, perdi minha presença de espírito e esqueci de largar a corda. Desnecessário dizer que fui içado do chão a grande velocidade.

Nas proximidades do terceiro andar bati no barril que vinha a descer. Isso explica a fratura no crânio e a clavícula partida. Continuei a subir a uma velocidade ligeiramente menor, não tendo parado até os nós dos dedos estarem entalados na roldana. Felizmente já tinha recuperado a presença de espírito e consegui, apesar das dores, agarrar a corda. Mais ou menos ao mesmo tempo o barril com os tijolos caiu no chão e o fundo se partiu. Sem os tijolos o barril pesava aproximadamente 25 Kg – note-se novamente que eu tinha 80 Kg.

Como podem imaginar eu comecei a descer rapidamente. Próximo ao terceiro andar encontro o barril, que vinha a subir. Isso justifica a natureza dos tornozelos partidos e das lacerações nas pernas, como em toda a parte inferior do corpo. O encontro com o barril diminuiu a minha descida o suficiente para minimizar os meus sofrimentos quando caí em cima dos tijolos e só fraturei três vértebras.

Lamento, no entanto, informar que, enquanto caído em cima dos tijolos, com dores, incapacitado de me levantar e vendo o barril em cima de mim, perdi novamente a presença de espírito e larguei a corda. O barril pesava mais do que a corda e então desceu e caiu em cima de mim, terminando de me partir as duas pernas. Espero ter dado a informação solicitada sobre o modo como ocorreu o acidente.


(Alegações do trabalhador diante do Tribunal de Justiça de Cascais, Portugal, onde pedia indenização por acidente de trabalho devido aos ferimentos que sofreu)
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