martes, 24 de agosto de 2021

ALGUNS NA DITADURA

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A obra no desenho é genial, lamento de por não saber não dar o nome do autor.


Lembro de quando eu era criança. Na ditadura alguns professores podiam tudo. Volta e meia anunciavam que as provas seriam diferentes para os infantes. Parecia óbvio, eu era criança mas não era burro: para evitar que a meninada espiasse as provas dos colegas, pois com certeza eram todas iguais. Não, um dia descobri. Nesses casos só a minha era diferente, eu ia bem demais nas notas. Os canalhas além de passar a mão com carinho nos filhos dos chefões da cidade - tirou zero leva sete - tinham que me cortar as asinhas. Depois a turma dizia como eram as provas deles, iguais, só a minha com coisas não ensinadas em aula, eu ficava calado, algo me dizia que eles queriam que eu explodisse. Não mais lamento por ter demorado a fugir daquele inferno. Importa é que, cedo ou tarde, consegui fugir.
Dei-me mal, logo mais ou menos bem em terras estranhas. Ganhei amigos de rua, logo aprendi a tomar cuidado, estavam trucidando pessoas inocentes em porões de tortura. Adquiri grande amor por uma árvore da Praça Garibaldi, carinhosa que por um tempo me acolheu naquele verão de 1973.



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