Hoje
li que o reflexo das eleições no facebook é desastroso: é um tal de eu te
excluo, tu me excluis, nós nos excluímos... O mesmo para o verbo
"bloquear".
Não acho que a palavra "desastroso" seja adequada, pra mim é muito normal. Note-se que levo muito a sério a palavra "amigo", se o idealizador do espaço quisesse "conhecido" assim teria chamado aos viventes que adicionamos em nossas vidas.
Como começamos uma amizade? Alguém nos apresenta a alguém em um bar, num aniversário, em qualquer ambiente social, e começamos a conhecer a pessoa, e ela a nós, com nítida vontade de ser amigo, isto é, começo dando nota dez para a pessoa, que pode se manter ou diminuir à medida que a conheço.
Isso para desconhecidos, mas também para pessoas que não vejo há séculos, amigos de infância por exemplo. Amigos não, colegas de infância, que a lembrança da infância nos faz pensar em amigos. Amigos eram o Pato, Ivens e outros, que não por acaso eram petistas ou comunas de carteirinha, fundadores do PT os manos citados, eu era PCB na infância.
Aí que de repente me surpreendo com um amigo novo, ou de infância, defendendo a ditadura militar, por exemplo. Como ele não é analfabeto, obviamente que sabe o que se passava nos porões da Redentora. Francamente, meu amigo jamais será, daí que simplesmente o excluo do meu rol, nada mais normal. Sem raiva, naquela de fica na tua que eu fico na minha, camarada. Do mesmo modo que passaria a evitar aquele que me foi apresentado num bar ou num aniversário e no seguimento se mostrasse meu oposto, com características que desprezo.
Perdi uns cinquenta, aliás, perdi não, pois nunca os tive. Alguns, confesso, com o coração sangrando de decepção. Porém ganhei setenta.
E assim, ao fim e ao cabo, os que restarem e eu, após nos conhecermos, a cada dia mais, seremos amigos para sempre. Eles serão "dos meus", e eu serei "dos deles". Quando mencionar os seus nomes, ou eles mencionarem o meu, todos diremos com alegria e orgulho: "Esse é dos nossos!".
*
Post Scriptum:
Já contei isto em algum lugar, mas vem a propósito. O maior elogio que recebi
na minha vida aconteceu no bar Carpe Diem, em Brasília. Estava eu e a Dora Kramer
(Doramaria Tavares de Lima Kramer, a Dorucha que não é de esquerda, mais pra
centro-direita, mas sempre me respeitou, sempre teve honestidade
intelectual) e umas 20 mulheres de imprensa, JB, Globo News, Band, etc.
Os machos eu mandava sentar longe, lá do outro lado do bar, eu de chapéu sou perigoso, e como ninguém queria levar um tiro, obedeciam. Uma festa: eu no meio do mulheril declamando Quintana (entre outras: "Ó, senhora minha, eu vos peço, permitais, que eu coloque aquele com que mijo, naquela com que vós mijais"), elas lá os seus, e cantando mpb, fomos do meio-dia de um sábado até a meia-noite, quebramos o boteco, tiveram que buscar mais barris de chope, foi quando provei às amigas e ao bar inteiro que Nei Lisboa dava de dez a zero no Caetano, ao cantar "Deixa o bicho".
À meia-noite elas cochichavam antes de sair, e nomearam Carmen Kozak para falar em nome de todas. O discurso foi breve, Carmen se levantou, respirou fundo, disse o básico de prazer e tal pelo dia de hoje e exclamou o recado que os cochichos combinaram: "Sala, tu é das nossas!" O burraldo aqui ficou tão emocionado que esqueceu de convidá-las, todas juntas, para um motel.
PS2:
Não briguei com ninguém, só sorrisos. Apenas os machos que mandei se sumirem,
aqueles babacas. Na verdade não pensava em engrossar, mas o primeiro deles se
chegou metido a engraçadinho, a maldade exposta, aí... Lembrei, ele em pé
diante das mulheres, procurando cadeira pra puxar naquele mundão de mesas
juntas: "Dora, esgotou o estoque de Brasília e está importando
gaúcho?". Teve sorte de não levar o tiro ali mesmo, por abobado e porque sou
calmo, a Dora era apenas amiga. Olhei sério pro sujeito e disse: "Vou
contar até dez, se não sumir morre agora". E comecei: um, sete,...
Ele viu que eu era ruim de fazer contas, perigava do sete cair no dez, e se fugou.
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