martes, 3 de marzo de 2015

Corneteando

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Eu ali, paradão na frente do computador, música rolando com Lúcio Cardim, "Matriz ou Filial", e me deu uma coisa. Pensei na Cigana, uma mulher que certa vez me aprontou feio. Remexi num velho baú e achei a corneta roubada do quartel ao dar baixa do exército em Santo Ângelo, onde lavei muito lombo e pau de cavalo. Na verdade a ganhei do corneteiro, que era meu amigo, mas foi roubada igual.

Atravessei a sala grande e abri a porta do quartão. Toquei a corneta a mil às sete da manhã, com "Sentido". As minhas 24 mulheres deram um pulo sentando na camona de miles de metros quadrados, nervosas. O que foi, louco, o que foi? Mariana de Rosário, a índia da Serra do Caverá, pegou o punhal e se veio pelada de lá: quem foi que brigou contigo, meu amor?!

Volta pra cama, Mariana, não foi nada, só vou fazer um comunicado. Atenção a todas: reunião para discutir assuntos graves da nossa família às dez da manhã, então espero que às cinco para as dez as senhoritas estejam todas na sala grande, vestidas adequadamente. Pensei em tocar "Calar baioneta" para que elas entendessem a seriedade do caso, mas resolvi deixar para mais tarde. Emiti o toque de "Descansar", dei as costas e fechei a porta.

Ouvi uns sussurros de insubordinação da Frida lá dentro, eu e meus ouvidos de gato: "Pombas, ele podia tocar essa porra de corneta às nove e meia então". Fingi que não ouvi, mas a marquei na paleta.

Voltei pra salinha do computador, enchi o copo de vinho e tornei a rodar Lúcio Cardim: "Quem sou eu, pra ter direitos exclusivos sobre ela...".

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