sábado, 17 de octubre de 2015

Sábado em Copacabana, o ódio e o Correio do Povo

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Reconsidero o título da postagem. Talvez fosse ganância desmedida em vez de ódio, reflito alguns minutos e concluo que nesse caso essas palavras se confundem, então deixo como está e vou em frente na pequena história.

Sábado pela manhã, o véio Armando e eu no La Maison na esquina da Santa Clara, pés estendidos em cadeiras mirando a Av, Atlântica, lá fora, só de calção, tomando caipirinha e comendo salgadinhos, bem belos, quando assistimos a um atropelamento terrível, uma vovó levando o netinho nenê para encontrar os pais na areia, e pá, um furgão matou os dois, a velhinha atravessou errado. Meu, nunca esqueci aquilo, até hoje me dói ao pensar no casal lá da orla depois. Paralisei de impotência, raiva, foi na nossa frente e nada pudemos fazer. O Véio me puxou: termine a caipirinha e vamos para a água, guri.

Eu já era chefete, mas de fato guri. Não conheço quem não ame o véio Armando Krause, sensacional, como homem e amigo, além de grande profissional.

A tarde seguiu morna, sem vontade. Enchemos a cara depois do mar, na tentativa inútil de esquecer o que tinha se passado às onze da manhã. Fiquei com uma coisa na cabeça, a voz do Graúdo Oristín: "Quem tem muitas não tem nenhuma, Saladinha". Por mim que se explodam.

A gente tinha combinado de à noite ir para o Café Nice dançar, mas a idéia morreu com as mortes.

Bêbedos entramos no Hotel Bandeirantes da Rua Barata Ribeiro ali pela meia-noite, ele foi para o seu quarto e eu para o meu. Abraços, te cuida, meu, te cuida tu também, amanhã é domingo, não fique triste. Sim, vamos pra praia cedo, jogar bola com a negada. O Véio e eu já éramos camaradas do pessoal que joga futebol na areia, a gente entrava um para cada lado, eu prometendo que iria lhe dar um balãozinho.

Do meu apartamento de fundos vislumbrava onde morava a baiana Rosália, num predião da Tonelero, que me amava de amor e luxúria, ui, e, deixa pra lá.

Mal entrei no chuveiro para tirar o sal e tocou o telefone.

- Sim.
- Cabelinho, pegue o primeiro avião amanhã para Porto Alegre, a "***** vai te ligar, já mandei olhar os horários de vôos, está tentando pelo das 19 da Varig.

A gente gostava desse das 19, um luxo, o 737 levava 1:30h no máximo direto Rio-POA, normalmente 1:20h. Ele me chamava de Cabelinho por uma nesga que me caía na testa, cabelo fininho.

- Não quero ir, doutor, não terminei na controiada da Brahma, ainda estou na Cidade, na sede da Skol, e prometi aos diretores da Brahma que volto lá na quarta-feira.

- Mando outro pra Skol, com o pessoal da Brahma já conversei, tu vem para Porto Alegre, terça-feira começaremos auditoria num novo jornal, e quero você chefiando a equipe, pelo menos nesta primeira visita.

- Não vou, Dr. Ah, não, aí não quero ir, se é aquele jornal que estou pensando...

- Estou mandando, vem sim.

Fui no vôo das 19 de domingo. Segunda-feira conversei com os colegas que iriam comigo, a preparação técnica, orientei quem vai fazer isso ou aquilo, depois aquele papo de sempre, evitar opinião pessoal, ser gentil com os funcionários da empresa, se der bronca eu assumo, etc.

Na terça-feira nos encontramos todos na frente da sede do tal outro jornal, às 8 da manhã. Todos sabendo da recomendação, ordem, do doutor querido, ao final da tarde de segunda-feira, quando disse que era proibido citar "Correio do Povo". Eu ri, com saudades do Rio de Janeiro.

Ao entrarmos falei: - Não esqueçam o que o nosso dono falou, é proibido falar em Correio do Povo, tem uns judeus aqui que o odeia, quer quebrá-lo, tem política no meio, vocês sabem onde estamos nos metendo.

Os colegas auditores assentiram, todos sérios.

Entrei na sala de reuniões deles, junto com meus dez auditores, todos homens feitos, com menos de 30 ou beirando os 31 naquela ocasião, eu tinha uns 33, era “guri”. A sala cheia de diretores e gerentalhas, estavam nos esperando, antes de estender a mão ao chefão deles, parei e exclamei para um dos meus:

- Esquecemos de comprar o CORREIO DO POVO! Vai lá na banca e compre, meu colega, por favor.

No outro dia eu estava empernado com a Rosália em Copacabana.

O meu dono fulo comigo em Porto Alegre.

Eles não sossegaram até liquidar com o seu Caldas Júnior.
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