sábado, 17 de octubre de 2015

Sozinhos em Acapulco

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Eu mentia a ela que o meu trabalho era cuidar de uma garagem das cinco da tarde até às oito da manhã. De repente virava o turno, eles me telefonavam. Nunca tive hora.

A gente precisava comprar um apartamento, eu queria lhe dar uma vida melhor, melhor que aquela casinha florida que tínhamos no Morro Santana.

Meu negócio era outro, muito diferente, assalto a banco de capuz preto e armas pesadas, não para atirar em alguém, para proteger o cara do maçarico, malditos caixas eletrônicos, rendem pouco, para dividir por vinte, nós e os informantes. Uma merreca.

Tinha dias em que eu inventava viagens, o patrão insistiu, gosta de mim, vou ganhar mais alguma grana, nega. Ficava fora duas semanas.

Sem ela saber, por precaução, de tanto que eu a amava, desde que resolvi ir para o inferno, para junto dos banqueiros, deixava um amigo cuidando de longe pela sua saúde. Ela ia pro coleginho da vila lecionar.

Um dia um dos meus negros a viu muito alegre, na minha ausência, toda fresca para um branco de carrão.

Nesse dia a gente iria entrar com tudo numa agência bancária ali de quem vai para o estádio Olímpico. Ficamos meses cavando o buraco desde o outro lado da rua, emperramos num duto do departamento de águas, aí achamos melhor entrar à luz do dia, mascarados, mais fácil. Entramos.

Eu pensando em três anos antes, quando ela vivia sozinha, uma coitada a quem alimentei, curei as feridas, vesti. Amei.

Matei o gerente quando se meteu a esperto, apertou o botãozinho embaixo, cinco disparos da AK7. Filho da puta, lambe ovo de banqueiro, perdendo a vida pelos assassinos. Eu sabia que o gesto do cara seria inútil, mas atirei igual. Tínhamos tempo e camaradas na polícia que desligaram tudo por acidente naquele momento. Dez minutos.

Deixei a mulher para lá, o trabalho era mais importante. Na hora me prometi: vou ficar quieto por um mês ou dois anos. Quando apaguei o gerentalha eu pensava em enchê-la de roupas lindas, viver um pouco naquela praia maravilhosa, gozando do bom e do melhor, para só depois enforcá-la de madrugada, no bangalô à beira-mar em Acapulco, sabendo o que perdeu. 

Os camaradas me estranharam quando queimei o otário, sabiam que não gosto de morte, mas ninguém ousou me criticar.

Neste golpe, onde recuperei um pouco do que os banqueiros roubam, minha parte foi dois milhões. Com a grana na mão, que um finório depositaria em meu nome lá longe, pensava nela: Ah, querida, vamos para uma praia mexicana.

Cheguei na soleira da casinha lá no cimo do morro e ela correu me abraçando apertado: Ai, Bruno, meu amor, que saudade!


Voltei, negra, tu nem sonha com o que te espera, meu amor, vamos sair do país. Para Acapulco, arrume as trouxas que o avião sai nesta noite.
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