Eu
mentia a ela que o meu trabalho era cuidar de uma garagem das cinco da tarde
até às oito da manhã. De repente virava o turno, eles me telefonavam. Nunca
tive hora.
A
gente precisava comprar um apartamento, eu queria lhe dar uma vida melhor,
melhor que aquela casinha florida que tínhamos no Morro Santana.
Meu
negócio era outro, muito diferente, assalto a banco de capuz preto e armas
pesadas, não para atirar em alguém, para proteger o cara do maçarico, malditos
caixas eletrônicos, rendem pouco, para dividir por vinte, nós e os informantes.
Uma merreca.
Tinha
dias em que eu inventava viagens, o patrão insistiu, gosta de mim, vou ganhar
mais alguma grana, nega. Ficava fora duas semanas.
Sem
ela saber, por precaução, de tanto que eu a amava, desde que resolvi ir para o
inferno, para junto dos banqueiros, deixava um amigo cuidando de longe pela sua
saúde. Ela ia pro coleginho da vila lecionar.
Um
dia um dos meus negros a viu muito alegre, na minha ausência, toda fresca para
um branco de carrão.
Nesse
dia a gente iria entrar com tudo numa agência bancária ali de quem vai para o
estádio Olímpico. Ficamos meses cavando o buraco desde o outro lado da rua,
emperramos num duto do departamento de águas, aí achamos melhor entrar à luz do
dia, mascarados, mais fácil. Entramos.
Eu pensando em três anos antes, quando ela vivia sozinha, uma coitada a quem alimentei, curei as feridas, vesti. Amei.
Matei
o gerente quando se meteu a esperto, apertou o botãozinho embaixo, cinco
disparos da AK7. Filho da puta, lambe ovo de banqueiro, perdendo a vida pelos
assassinos. Eu sabia que o gesto do cara seria inútil, mas atirei igual. Tínhamos tempo e camaradas na polícia que desligaram tudo por
acidente naquele momento. Dez minutos.
Deixei
a mulher para lá, o trabalho era mais importante. Na hora me prometi: vou ficar
quieto por um mês ou dois anos. Quando apaguei o gerentalha eu pensava em enchê-la de roupas lindas, viver um pouco naquela praia maravilhosa, gozando do bom e do melhor, para só depois enforcá-la de madrugada, no bangalô à beira-mar em Acapulco, sabendo o que perdeu.
Os camaradas me estranharam quando queimei o otário, sabiam que não gosto de
morte, mas ninguém ousou me criticar.
Neste
golpe, onde recuperei um pouco do que os banqueiros roubam, minha
parte foi dois milhões. Com a grana na mão, que um finório depositaria em meu
nome lá longe, pensava nela: Ah, querida, vamos para uma praia mexicana.
Cheguei
na soleira da casinha lá no cimo do morro e ela correu me abraçando apertado:
Ai, Bruno, meu amor, que saudade!
Voltei,
negra, tu nem sonha com o que te espera, meu amor, vamos sair do país. Para
Acapulco, arrume as trouxas que o avião sai nesta noite.
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