viernes, 15 de septiembre de 2017

DE CARTEIRA BATIDA

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Andando pela Cidade Baixa entrei num supermercado caro, resolvi que ia fazer Bacalhau à Gomes de Sá para as mulheres nesta madrugada, tinha tudo em casa, oliva, batatas. Temperos, tudo, faltava apenas comprar o bacalhau. Ninguém neste mundo faz um à Gomes de Sá melhor do que eu, exceto a Mariza Banda, lá do Porto do Beco do Oitavo.

Bem, eu "ia" fazer bacalhau à Gomes de Sá, desisti. A cem contos o quilo nem morto, malandro. Mercado caro nada: ladrão. Fiquei meia hora cheirando - amo o cheiro, ui, me lembra de outra coisa - e não comprei, elas vão ter que se contentar com sopa de letrinhas com um osso buco para dar gosto.

Comprei algumas coisinhas: o buco, um pacote de massa, queijo ralado, pão e mortadela, temperos verdes e poucas latonas de cerveja, umas trinta. Foi quando passei no caixa que me bateram a carteira. Está tudo pela hora da morte, mesmo sem o quilo de bacalhau.

O guarda noturno Jerivá da Louca era quem dizia que as coisas não são caras, a gente é que ganha pouco. Inocente.

Pode ser em parte mas há sérias controvérsias quanto ao "não são caras", pois vi muitas grandes empresas botarem propina paga a políticos no custo do produto vendido. Quem paga a propina, no fim das contas, é o otário aqui que compra os seus produtos no supermercado ou em qualquer loja de qualquer coisa.

Quanto ao ganhar pouco é pura verdade, que o digam os professores eleitores da quadrilha, que no RS, além de ganhar pouco, recebem em migalhas parceladas.

Na volta pra casa, que dista meio quilômetro da mercearia, recebi exatos trinta achaques dos irmãos pedintes, de me empresta um trocado chefe, sai um cigarrinho aí doutor, o senhor tem uma moeda pra me dar...

Para não dizer que não dei abri a sacola e dei quatro dos dezenove pães para a mulher com nenê no colo. Boboca ela, se falasse antes teria trazido um saco de leite. Foi o meu pão, mas três das putiangas lá de casa tomarão sopa sem pão, ando marcando algumas que se fazem de loucas. Vou tirar nas cartas quem além de mim ficará sem pão, em baralho tiro a carta que quiser, disso elas não sabem.

Parava e explicava calmamente aos caras, um por um: não seja bobo, camarada, me morda antes de entrar na mercearia, depois não adianta, aí eles já me tomaram tudo.

De fato, a economia vai bem, como dizem os golpistas enquanto entregam tudo para os alienígenas.

Já em casa ouvi um samba, enquanto esperava as minhas putas chegarem do cabaré.

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