miércoles, 4 de abril de 2012

Zé da Velha, 70 anos

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O fantástico trombonista brasileiro Zé da Velha (José Alberto Rodrigues Matos, 4/4/1942, Aracaju, SE) chega aos setentinha.

Vai aqui bem descontraído, se divertindo com a moçada num bar da Lapa.

Saúde, Zé!
Tintim!

A Charge do Dias - A Irmandade se defende

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O assunto dominante segue sendo a irmandade, os boêmios reclamam terem de escolher só uma, entre tantas obras marcantes.

O Beco do Oitavo escolheu o mestre Aroeira, em O Dia (Rio de Janeiro, RJ).






No Botequim do Terguino só dá vermelho e branco. O Carlinhos Adeva disse que os jogadores do Inter, hoje à noite, na entrada do gramado, vendo lá adiante o time do Santos posando para foto, vão escavar o chão com a chuteira e dizer: "Total...". Marquito Açafrão disse que os índios se pintavam com urucum porque já naquele tempo eram todos colorados. Tá bom.

Mas ficaram sérios ao tratarem dos pestilentos. Escolheram a obra do Paixão, da Gazeta do Povo (Curitiba, PR).




Leilinha Ferro não deixou por menos. Ficou com o Jarbas, do Diário de Pernambuco (Recife, PE).





João da Noite, o penetra (conseguiu de novo) manda um aviso aos navegantes: é tudo mentira que tem gatos no ministério da pesca, quem levou vantagem foi ele, João. Pronto, tudo certo, Dilma, até as gatas podem voltar a pescar, o crime foi solucionado. Na semana santa até que cai bem uns peixinhos crus.

João separou o Frank, de A Notícia (Joinville, SC).



Dá-lhe, Romário!

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Romário, cercado, enfrentando ladrões e vagabundos.


Total, de Ricardo Perdomo

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E tornamos - agora acompanhado de Carlito Dulcemano Yanés, que chegou e toma um gole sorrindo sob o chapéu - a homenagear os Estados Unidos, con una gran cantante estadunidense. Pelo nome já se vê.










Total

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"Total...", dizemos nosotros gaúchos, e paramos ali, e todo o povo deste grande país que é o Rio Grande do Sul entende perfeitamente. Hoje até os abobados da RBS.

A expressão de 400 anos chegou um dia a Porto Alegre, lá por 1970, e sem modificação caiu na alma do povo da capital. Fácil ver um magrinho do bonfa, fumadinho, olhar de soslaio e topar o passeio com um "Total...".

Dizem que remonta a 1.753, época braba aquela, mas não foi, foi antes, nesse ano um descendente calçou o pé na macega, apenas. Vou contar.

Em 1.753 os portugueses queriam tomar conta do sul do mundo, a ferro. Essa estória de "conquista", canhão contra flechas, todos sabemos, se continuo acabamos botando fogo na máfia do santander, junto a do general custer, que fizeram pior; os portugas, afinal, já morreram aqueles, deu no que deu; os daqui são irmãos de alegrias e tristezas, se integraram e não têm culpa.

Bem...

O que não sabemos é que num belo dia, numa festança dos invasores, oito da noite, acordeonas chorando, danças em chão batido, do nada, do escuro, apareceu um moço de bem, de chapéu tapeado que era moda, em cima de um caalo de poca doma que nem o dono. Doma só para o respeito.

Ele guarani reconhecível pela singeleza de alma, pelo desenho da cara, pelo espichado dos olhos, pero meio branquito no resto, à portuga. Era tetraneto de um ucraniano, jogado no meio dos guaranis de antanho. O gaúcho era índio, sangue 5% eslavo. Mas os estrangeiros não sabiam nem queriam saber.

Bem, o tal Chico Fagundes, que era esse o nome do tentiado, na festa dos europeus, à luz dos archotes, logo se viu cercado. Mal tinha olhado para as mulheres deles, por algo. Desceu do caalo sério, nada devo, e deu de cara com aquele monte de portugas com armas na mão.

Não se puxa arma para homem inocente.

Aí, arredou a manta, surgiu a adaga missioneira e gritou, já puxando:

"Total..., já que estamos no inferno, não custa nada dar um abraço no diabo".

E foi para cima deles, ferro brilhando na luz da lua.

Um contra cem.

Cortou cinquenta e caiu ensanguentado.

Silêncio na clareira, não esperavam enfrentar um milagre. Confabularam.

E se vieram cinco, meio que assustados pela loucura do estranho.

Levantou e cortou mais um, já com o braço esquerdo, o dado, caído pelos ferimentos. E mais dois, e mais dois. Cinco.

Indignaram-se aos ver os companheiros mortos. E veio a grande onda de portugueses, os valentes, agora quarenta homens contra um. Alucinados de raiva e medo, espada, tiros socados, não sabiam que pólvora não pega em santo. 

Ao vê-los em desabalada carreira para matá-lo, Chico Fagundes ergueu a adaga aos céus e gritou:

Venham, filhos da puta! Total...

E foi manquejando encontrá-los. 

Foi facada no ombro, nas pernas, refilão grosso na barriga, na testa..., tinham ordens para não matar. Caiu de novo, agora mui malito.

Quando o bicho mais ruim deles, que deve ter sido antepassado do ditador Salazar, se encaminhou para terminar o serviço (não foram somente os espanhóis que nos ensinaram a degola, é milenar, quando nosotros pobres entrávamos, e entramos, com a goela), de repente, sem aviso, as florestas todas que os cercavam rugiram.

Vozes compassadas, no fundo uma esganiçada de uma velha, tambores, em uníssimo, marcação forte. Dois mil índios.

A Lua Cheia, lá de cima, sorriu. As aves cantaram ai enfim, os animais se acalmaram. A noite estremeceu.

Os portugueses medraram. Paralisaram.

Chico se levantava, se arrastando com dificuldade, adaga na direita, manchada de sangue ao luar. Os europeus se afastaram abrindo caminho ao moço vermelho que dançava saindo em direção ao escuro da mata.
Chico estava muito ferido, lhe cortaram uma ponta do coração. Agora ia para casa. O pampa. A casinha em cima do verdão do açude.

Ao sair da última réstia de luz da clareira, meio corpo aqui e outro lá no escuro do mato, se voltou se segurando no ar para não cair, e gritou:

Total...




martes, 3 de abril de 2012

A Charge do Dias - A Irmandade

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O Beco do Oitavo ficou com o S. Salvador, do Estado de Minas (Belo Horizonte, MG).  A crítica dos companheiros.



O Botequim do Terguino com o Zope. O sacrifício na irmandade.




Leilinha Ferro fechou com o Waldez, do Amazônia Online (Belém, PA).



lunes, 2 de abril de 2012

Clara Nunes, que aperto de saudade

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Aqui João da Noite, reassumindo por instantes, depois de cumprir a suspensão pela penca de cartões amarelos, por fim um vermelho.

Em plena tarde, numa segunda-feira, os boêmios do Beco do Oitavo estão de cantoria, bem belos, com as mesas tapadas de Serramalte. Muitos brindes à memória de Clara Nunes. A tarde é uma criança, filosofa Nicolau Gaiola. Ao fundo, Gustavo Moscão dorme um sono reparador, ele precisa, logo emendarão com a noite. A ver vamos.

A pedido dos eventuais festeiros, vai o samba Tristeza Pé no Chão, do compositor Mamão (Armando Fernandes Aguiar), gravado pela Clara em 1973.

A Charge do Dias - Quem os elege

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Os empinantes do Beco do Oitavo voltaram a discutir longamente a educação no Brasil. Que é o único caminho todos sabem, disse Nicolau Gaiola, o diabo é como forçá-los a implementar ações de fato para lograr o objetivo.

A pau, talvez, sugeriu Marquito Açafrão.

A gargalhada forte de Mr. Hyde inundou o buteco e adjacências. Depois ele arrematou: se o povo tivesse cabeça para sair no pau, teria tido cabeça para não eleger esses vermes. Não tem solução. 

O jeito é cada um de nós botar um blog, além de sair atacando as pessoas na rua feito doidos, tentando explicar, falou o Contralouco.

Nova gargalhada de Mr. Hyde: vai acabar preso! 

E por aí seguiram, vão longe sem chegar a lugar algum, inspirados na obra do Amorim.




No Boteguim do Terguino os boêmios, depois de bem servidos de aperitivos, pegaram um caderno da Leilinha (pediu pra não chamar mais de Leiloca), dispostos a gastar a memória até listarem os nomes de todos os políticos que deveriam estar presos.

Passadas duas horas, ainda não tinham saído do Rio Grande do Sul e foram admoestados pela Leila: é quase meio-dia, a charge, preciso enviar a charge para o blog.

Escolheram a obra do Eder.



Miss Leila Ferro separou a do Newton Silva, do Jangadeiro Online (Fortaleza, CE).


domingo, 1 de abril de 2012

Com duas gringas no bar Van Gogh, na Charge do Dias

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Os boêmios do Beco do Oitavo esperaram por João da Noite, mas até agora nada. A última vez que alguém o viu foi depois do baile da Redenção, às 6 da manhã tomando cerveja com duas gringas no bar Van Gogh. Meio-dia. Não querem estragar o churrasco, de modo que sem mais delongas escolheram a obra do S. Salvador, no Estado de Minas (Belo Horizonte, MG).



O Botequim do Terguino fechou com o mestre Aroeira.




A senhorita Leila Ferro escolheu a do Cazo, do Comércio do Jahu (Jaú, SP).



Democratinos

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Em certa madrugada de 1º de abril muitos homens e raras mulheres se fizeram presentes no Salão Nobre da sede dos larapistas (também conhecido como Salão Oblíquo ou simplesmente Vão da Escada). O ambiente completamente às escuras. Grave silêncio no ar.

O gélido presidente em seu lugar lá na frente, em patamar superior, com quatro poltronas de cada lado da sua, ocupadas pelos frios conselheiros. Atrás, na parede do salão, a foto do sábio da antiguidade L. A. R. Appio, fonte de inspiração dos larapistas. Sendo o cochicho o meio de comunicação da seita, nessa noite estranhamente ninguém cochichava, tal a expectativa da platéia.

Os larapistas entre si já não se chamavam de larapistas, haviam mudado, trocado de nome muitas vezes, até chegarem ao atual, representando o oposto de si mesmos. Agora eram democratinos. Muito haviam rido desta ridícula denominação, zombando da falha - mais correto um "e" em vez do "a", mas concordaram com o seu igual, o presidente da Agência de Publicidade: a novidade faria com que o povo da escuridão esquecesse o passado e não percebesse o presente, jamais vislumbrando uma réstia de futuro. Os poucos que os chamavam de malignos que continuassem, ninguém os ouviria sob o borbardeio de propaganda.

O terrível motivo para o encontro: para manter o poder das aparências, haveriam de sacrificar, em assembleia posterior, um dos seus membros mais respeitáveis, surpreendido nu em uma das cachoeiras de lama dourada onde os larapistas se banhavam de fraque. O crime dos crimes: deixou-se surpreender. O autoflagelo era necessário. A jornada na calada da noite se destinava a sortear, entre os nomes mais influentes, quem seria, publicamente, o autor da proposição.

O representante do clã dos ventre-verdes foi o primeiro a cochichar. Depois o do sul, logo o do sudeste; do norte, o escravagista. Por último, olhos de gato brilhando no escuro, o cabra da peste e da seca, um membro cedido aos sociodemolarapistas, uma variante estratégica, convidado especial. Três horas de cochichos, cinco minutos para cada cochichante. O arcebispo mumial, gesticulando, fez uma derradeira benzedura.

A seguir, aos cochichos, sortearam o propositor do sacrifício, pelo método franciscano.

O larapista que seria jogado às feras manteve-se imóvel e silente do início ao fim da assembleia. Só realizou um quase imperceptível movimento de reverência e emitiu um breve cochicho, quase um sopro, agradecendo, quando o presidente cochichou que lhe seria garantida imensa fortuna, além de proteção para que nunca fosse encarcerado pelos habitantes do escuro.

Todos saíram mudos após a escolha daquele que seria o indignado acusador público.

Por trás da máscara de indiferença cada um estava saudoso, ah, os bons tempos. Logo ao amanhecer iriam comemorar um golpe rentável, sangrento depois, o inesquecível episódio que haviam provocado 48 anos antes.

Entraram em seus automóveis importados e deram urgente destino ao chofer. A ambição trabalha.

Momentos após a saída de todos, um escravo acende a luz.

Pelas cidades o povo da escuridão dorme, luz acesa, uns poucos ainda com a caixa de lavagem ligada em pregações financeiras.

Alguns loucos miram a noite com os olhos manchados, ansiando por vingança.

Deus está nem aí.