jueves, 27 de noviembre de 2014

Fogão, fusca e fogos na alma

;
Puta que me pariu, quase três da manhã, as mulheres chegarão dentro de duas horas e pouco. Esqueci de fazer comida. Haja comida para aquele bando. Vou lá.

Enfiei seis quilos de maminha e sete de linguiça calabresa no forninho do fogão. Cortei vinte tomates maduros, com cinco cebolas pra dar um gostinho. Faço para sobrar, afinal estamos com o diabo no bolso, ganhamos bem. O que gostam de linguiça no fogão... essas mulheres são um fogaréu.

Bia de Ipanema é quem conta dando risada, agora ri, o caso ficou no passado, antes não ria, da inveja da sua antiga vizinhança lá em Ipanema, quando ela comprou um fusca. Perseguiram a pobrezinha, falavam mal, chamavam de piranha pelas costas, de inveja do fusca novinho, até o dia em que ela me conheceu. Naquela vez dei uma dentro, quando disse: "Pare de reclamar, vai lá e diga tudo o que tiver vontade na cara deles, se limpe". Ela foi lá e abriu a boca, todos eles ouvindo naquele anoitecer, com voz entrecortada de soluços gritou tão alto que se ouvia no Cristal: "Pra comprar o fuca eu chupei linguiça que não era calabresa, que se juntar dá pra ir daqui ao Maranhão, eu não tinha pra onde correr, e vocês, que tanto ajudei, ficam me secando! Vou embora daqui com o Salito!".

E veio desasada chorando, eu lá na frente com as malas, larguei tudo, corri e a amparei: "Bem que fez, Beatriz, agora vamos embora daqui, daqui pra frente a gente vai ser feliz".

É isso, se hoje elas reclamarem de algo deixa comigo, vão ver o que é bom, lhes relembrarei algumas coisinhas, eu, hein.

Que nada, não vou relembrar coisas tristes, vamos é rir bastante. Arroz com laranja farei quando chegarem.

Eu já meio bebidinho, isso elas vão observar. Já sei, vou aplicar o mesmo de ontem, pra explicar que bebi por uma causa justa. Como dizer a elas que eu ando nervoso com uns caras, e que quando fico nervoso é um desastre, fico perigoso? Periga saírem atrás dos elementos.

Vou ver o santo do dia. Pera.

Não acredito, de novo, outra catarina.

Santa Catarina Labouré. Rirão de mim, hoje estou certo de que Mariana de Rosário, a índia da Serra do Caverá, vai desatar em gargalhada.

Azar, eu conto minha história, elas acreditem se quiserem: estou bebendo champanhe pra festejar minha santa predileta. Tenho muitas prediletas.


*

No hay comentarios.:

Publicar un comentario