sábado, 24 de enero de 2015

Um chope pra distrair

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Hoje ouvi um som que sempre rola no Beco do Oitavo, aqui em Porto Alegre a turma não esquece, no verão então nem se fala.

Ninguém esquece muitas coisas. Eu também não esqueço. Saindo da Rua da Praia subo a Rua da Ladeira pensando em ir de a pé até o Beco do Oitavo ouvir música e tomar umas e outras com o pessoal, e repentinamente lembro de Mr. Febraban, uma raiva surda me corrói o coração. O agiota facínora que, além de me fincar um processo nas costas, agora encarregou um escravo português pra espalhar que a culpa da agiotagem é minha, que se dependesse dele os juros seriam baixinhos, que dá desconto se eu pagar aquele caminhão de dinheiro. Hipócrita asqueroso, vou pagar não, meu chapa, nadinha, vou é te dar um tiro na cara.

Sei que ele contratou uns mercenários pra me apagar caso eu não pague, eu já imaginava, conheço seus métodos, mas ele deu azar porque fiquei sabendo no mesmo dia. Antes o tiro seria nos peitos, agora será na cara, não adianta se cercar de mil seguranças, vou disparar com bala dundum de cima de um prédio a trezentos metros de distância, com teleobjetiva acoplada no rifle. Irá para o velório, antes do inferno, de caixão fechado.

Entro à esquerda na Rua Nova, que os viados rebatizaram de Andrade Neves, e lá adiante resolvo fazer uma pausa e me instalo, suado, numa mesa na rua do bar "Viene!", em frente à Travessa Acylino de Carvalho. Ao me ver o garçom me reconhece e grita pra dentro: "Um chope torre!". Concluo a frase em pensamento: "pra distrair", já com a cabeça em Dolores.

Ao diabo com o Febrabo, outro dia abotôo o paletó daquele filho da puta. Saí de casa de camiseta regata do Inter, não tinha como enrustir a Magnum no corpo. Ah, Dolores... Vou pensar em Dolores Sierra.

Acabo tomando seis torres geladérrimas antes de seguir em frente, com uns tirambaços de trigo-velho para sentir aquele calorzinho na goela.

Vem!

A canção inunda a Rua da Fonte, vinda de um dos carros parados na fila da sinaleira.

É dele mesmo, do pernambucano Paulo Diniz (Paulo Lira de Oliveira - Pesqueira, PE, nascido num dia de verão como hoje, 24/01/1940), não faz muito tempo soube que ele continua rodando por aí, distribuindo emoções vivas, agora numa cadeira de rodas por conta de uma tal doença misteriosa que felizmente não lhe afetou a cuca nem a voz.

Aos amigos que agora estão pelos bares, aqui ou na praia: tomem uns trinta chopes por mim, os tirambaços podem ser de steinhager, visto que de momento estou de recesso, até amanhã à tardinha somente, pois também sou gente, ué.

Post Scriptum: O textinho, à exceção dos dois últimos parágrafos, ainda dará samba.



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