miércoles, 5 de diciembre de 2018

ABOLERADO NO INPS DE KOYZOS

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Tenho 66 anos. Há um ano poderia ter requerido aposentadoria por idade, mas, como sempre odiei o sistema estatal, passei em concursos e não assumi, só fiz pra testar, montes de ladrões e covardes nas situações que vi, essa raça conheço dos puteiros, não fui pedir.

Aí fiquei duro, vivendo, comprando cigarro e comendo pelo desprendimento de duas almas boas que me emprestaram algum, homem não seria, esses amigos cagados, deixa pra lá. Eu precisava de tempo, ainda preciso, para terminar alguns livros.

As mulheres, queridas e mais práticas do que eu, me encheram a cabeça: vai lá e peça a maldita aposentadoria por idade. Por idade porque trabalhei muito tempo sem carteira assinada, tenho só uns 25 anos de contribuições. Disseram que eles levam em conta o quanto o cara ganhava, e no meu último emprego por dentro era mais de 50 mil por mês. A Dora ganhava uns 80 no Estadão, mas tinha que apanhar do ministro, porrada e mijo na cara; eu, não, negos, comigo eles saiam num cortado para não morrerem, filhos da puta. 

Esta mania de ir mudando de assunto ainda vai dar morte. Continuando: de repente vão te pagar mais do que um salário mínimo, disseram elas.

Hoje obedeci as mulheres, elas diziam que eu iria buscar o meu, não é favor nenhum, vai lá. Fui no INPS, sei que aquela merda é INSS mas gosto de dizer INPS devido a letra de um bolero do poeta Aldir Blanc.

Avenida Bento Gonçalves, 867.  O expediente é só até às 13 horas. Na portaria dois guardas, A porta central fechada. Uma volta imensa com subida para entrar por trás, para mim fácil, para os aleijados uma penúria. Fui lá. Tirar a chave do bolso para passar na porta eletrônica, cinco guardas espalhados por ali.

Perguntei ao guarda da entrada onde é o setor de Informações. Ele indicou com o nariz  aquela imensa fila, que ia daqui até o Japão. Insisti, só o de Informações. Tudo é ali, ele respondeu de má vontade, como se me fizesse um favor.

Andei, andei, e entrei no fim da fila. Fiquei meia hora na fila, que não andava, e emputeci pelo que vi, estarrecido custei a crer. Gritei: Está faltando homem nesta merda aqui! Essa senhora ali requer atendimento especial, não numa fila fodida como esta. Muitas vozes se elevaram em apoio. Palavrões e palavrões, uma nega que se disse avó disse cada um... filhos da puta era elogio.

Eu estava vendo: velhas, velhos, amparados em muletas, umas de pau mesmo, outras dessas modernas, metálicas de encaixar nos braços. Mal se equilibrando uma senhora gritou: estou aqui há uma hora e meia, moço! Para me chamar de moço imaginem a idade dela. Outros saltaram: eu vim buscar o resultado da perícia, outra dizendo que desde março não liberam a sua aposentaria. O cara da minha frente mostrou os braços, roxos por dentro, derrame de veias horrível, também indo perguntar sobre a perícia, este me contou, e a todos, umas coisinhas sobre a Polícia Federal, a ala podre, o velho DOPS, se o coitado reclama, eles chamam os torturadores.

Oito guardas fardados, e somente dois funcionários para atender todo mundo. Falta diretor naquele cabaré, falta homem, falta-lhes vergonha na cara. Pensei nas malas do Geddel, do Aécio, enquanto covardes, levianos, falam mal do Lula, preso político.

Qualquer moleque sem estudo saberia que tem que botar um funcionário humilde, vai ganhar pouco, numa mesinha para Informações. Outro no setor de Perícias, outro no setor de Acompanhamento de velhuras, outros no de buceta, outros na puta que os pariu, mas aquilo que estão fazendo com todos, inclusive e principalmente com pessoas com deficiência, não parece apenas incompetência: parece maldade.

Dei um discurso para eles e caí fora. Os dois pobres funcionários, eu vi que faziam o que podiam, devem chegar em casa aos pedaços ao final do expediente. Eu perguntei quem era o diretor do cabaré. O guarda me olhou feio, devolvi um olhar mais feio ainda, o otário que tente pra ver o futuro de sete palmos.

Amanhã voltarei lá, armado e com vinte negos me cuidando as costas. Filhos da puta. O ministro dessa nojeira mal administrada tem nome, mora onde, é de que partido? Logo saberei.

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