sábado, 5 de julio de 2014

Arriba, Argentina

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Antigamente os letristas sul-americanos falavam muito em torvelinho, torbellino, para ilustrar vida atribulada, coração sem direção ou cabeça de vento. Enfim, acho que aconteceu comigo de ontem pra cá, só no coração, ou na cuca também, sei lá, depois penso nisso. Em torvelinho.

Deu-se que uma inglesa da Copa, magrona alta, morena de trinta e tantos, ui, mochila nas costas, não me perguntem como veio parar em Porto Alegre, visto que sua seleção sumiu do mapa no Dia de São João, ontem se entreverou comigo num bar da Rua da Olaria, às duas da matina. O resto não me lembro, como disse o Bruno no dia seguinte àquele em que derrubou a porta do Clube Independente a tiros, deu nos gorilas, tirou a roupa e entrou nu no baile, arma em punho para o caso dos caras virem novamente atrapalhar uma pessoa de boa intenção. 

Sei que ao sair ela tirou algo da mochila e falou: “Deixo um vatted de presente pra ti, mai lóve”. Algo me diz que esse mai lóve está errado, deixa assim, agora não tenho tempo. Também não me perguntem onde ela aprendeu a falar português, nosso assunto não dependia de conversa, mas sua habilidade será útil no futuro, gostei dela, sabia até palavras boas no calor de beijos, algumas bem fortes... deixa pra lá. Mal ouvi, virei para o outro lado, ainda com sono, pensando espero que não seja um gato o que está me deixando, já chegam o Gatolino e o LF pra me incomodarem.

Eis que agora me vejo com um copo na mão, cheio daquele líquido avermelhado do frasco que me deixou. Levanto os olhos e vejo a tevê colorida, hoje em dia todas são coloridas? Na tela ou seja lá como se chame isso, Argentina jogando contra a Bélgica. Baixo os olhos: estou ajoelhado, será que andei rezando?

Que vergonha, meu Deus, ontem falei aos amigos que não queria mais saber de Copa do Mundo, enfurecido com a atuação brasileira no segundo tempo diante dos irmãos bolivianos. Como dizer que torço emocionado pelos hermanos meus vizinhos?

Ah, amigo é coisa para se guardar, como dizia o compositor mineiro Fernando no seu poema para a Canção da América. Os amigos hão de compreender meu pobre coração.

Arriba, Argentina!

Tomara que ela volte.


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