sábado, 12 de julio de 2014

O ovo da serpente

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É pessoal. Tirem as crianças da sala, esta história começa hoje mas irá longe. Não vou morrer calado, prefiro morrer de tiro.


Agora passa de noite alta em Porto Alegre, quatro e picos da manhã. Como diriam os boêmios antigos, estamos no cu da madruga. 

Para não dizerem que andei bebendo, como se eu fosse como eles, que perdem o tino com meia-dúzia de cervejas, isto se suas mulheres lhes permitirem tomar alguma, para não insinuarem que sou uma pessoa ruim, deixo para amanhã para perguntar se as razões porque quase me mataram ainda persistem, em Palmeira das Missões, cidade do Rio Grande do Sul onde passei os verdes anos. Pedirei que levantem a mão aqueles, daquela cidade, que não defendem e sonham com a volta da ignóbil ditadura, de animais de óculos escuros torturadores, incluindo um aleijado mental que outro dia alguém elogiou como governador de "todos" os gaúchos. Sem voto, imposição pelas armas, avenida Paulista, Vieira Souto e, mandando mesmo, americanos por trás dos imbecis. Dois ou três conterrâneos sei que não, mas gostaria de ver as mãozinhas do resto, a maioria.

"Todos" os negros dele. Governador meu e de muitos meninos sofridos nunca foi, à força não, por uns canalhas ladrões, Viamão que o diga, e assassinos, como aquele torto de boca torta. Enquanto sorriam, com comida farta à mesa, eu dormia na rua em Porto Alegre, fugitivo daquela nojeira, depois puteiros de favor, depois repúblicas... Coisa bem repetitiva, já falei antes, me dá engulhos repetir, mas parece que tem gente que não lê.

Aprendi muito dormindo na rua, muito em puteiros, quando de pena uma prostituta me juntou na rua, nas repúblicas que depois vieram começaram a surgir um que outro amigo do peito, a miséria aproxima os humanos, precisam dividi-la, o contrário do que ocorre com a riqueza roubada. Mais tarde Pato mudou-se por minha causa, vindo de Curitiba para cá. Com ele eu já não estava sozinho, podia me arriscar com tudo, tinha bóia e um quartinho garantidos para minhas crianças em caso de precisão. Impossível não citar a minha mãe, a quem por cartas eu mentia que estava tudo bem: me mandava comida pelo correio, latas de sardinhas, azeite, massa, mesmo eu jurando que não precisava.

Amanhã perguntarei essa e outras, hoje não convém, andei bebendo, minhas senhoras me chamam para a cama, melhor assim, pois se para me desqualificar, antes de tentarem me matar, me caluniaram até me chamando de bêbedo, a uma criança de 17 anos, imaginem o que fariam agora. Será que fariam, com homem? Sem os milicos, pegariam em arma para me encontrar no mano a mano no meio da rua?

Amanhã pergunto.

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