lunes, 26 de febrero de 2018

MEUS AMIGOS DA PM

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Não posso ver PM, confesso, me dá um nojo... Não dos pobres homens fardados, uns bichos analfas, alguns, outros à procura de futuro, estes últimos gente boa, tem família, obedecem por um salário miserável. Todos precisamos comer, né. Bem, os criminosos de farda, já bandidos, também tem família.

Outro dia fiquei amigo de dois PMs aqui na Cidade Baixa, os guris de plantão na esquina da Rua da Olaria com a... deixa assim. Ia passando, e aí, camaradas, estão em pé há horas, vi de manhã, vou buscar umas cadeiras, tem um boteco ali adiante, ele me empresta... Não, senhor, muito obrigado, disse um. A esta hora não tem crime, de madrugada é que fede. Não senhor, a gente tem que ficar aqui em pé até às 18h, não pode sentar, disse outro. Homens de 25 ou 28 anos, cada um dava um e meio de mim, bem preparados fisicamente.

Bem apessoados, bonitões, gentis, para mim não escapou o fugaz olhar de medo de um mundo estranho que não conheciam.

Puxando papo me contaram a vida, como passei alguns horrorezinhos tenho facilidade de comunicação. De dar dó, mentiram na prova para serem aprovados no nazismo. Logo serão como os outros, pela contaminação, isso eu não disse a eles, vamos com calma.

Sabem usar a arma? Mais ou menos, Sala. Nessas alturas eu já era de casa, disse que eu era o escritor pobre da Cidade Baixa, um já tinha ouvido falar. Se sabem mais ou menos precisam treinar, tem que pegar a arma como se pega em moça, mas rápido, e estão mal ajeitadas, puxem mais para lá e deixem o fecho descolado. Ensinaram que só se toca em arma em perigo real, crime acontecendo? Sim, Sala, ensinaram. Tá bom, muito cuidado, vou tomar uma cerveja e volto aqui na hora de ir embora, vocês são uns ótimos policiais, meus fios, té mais "Fulano", té mais, "Sicrano".

Não sei se os verei novamente, mas vou escrever sobre as duas horas de conversa que tivemos. Jamais os esquecerei, nem eles esquecerão de mim.

De madrugada dá morte, tiros, berros até ao amanhecer. Calçadas cheias de sangue. Quem recebe propina dos bares por isso, para não se ver um PM na rua? Os meninos que ficaram meus amigos é que não são.

Não, a culpa não é daqueles trogloditas de capacete quando em turno de serviço, de plantão para espancar manifestantes, machucar professores desarmados, pessoas que lutam pelas famílias também deles, os PMs, e sim de quem está em cima, de quem sempre esteve em cima. E da incompetência da esquerda quando no poder.

Não mudou nada, bem que no RS o seu José Paulo Bisol tentou certa vez. Sem tirar a valentia, a prontidão para a luta, matar ou morrer, mas mudar algo naqueles cadernos podres da ditadura.

O chefinho deles, que não manda porra nenhuma porque é um boboca leitoso, agora no RS é o Mr. Boate Kiss.
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