jueves, 22 de febrero de 2018

DE TERNO MARROM (1)

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Mandei o dono da fábrica de facas a puta que o pariu, peguei o saldo da rescisão de contrato e saí de Cachoeirinha num ônibus de linha. Naquele dia eu completava 22 anos.

Em menos de uma hora, a tarde morrendo, já estava em Porto Alegre. Fui na loja Huddersfield – Comércio de Tecidos da Rua da Praia e comprei alguns metros de alpaca marrom, saí com um saco na mão em direção a logo ali, na Rua Dr. Flores, onde o alfaiate Laudir tinha o seu negócio num sexto andar.

Seu Laudir, preciso que o senhor me faça um terno bacana, agora vai ou racha, vou arrumar um emprego melhor, se Deus quiser, um que também exija cuca em vez de só as mãos. Ele saiu medindo tudo, o pano que levei e eu, bem contente, perguntando como ia indo a minha vidinha e tal, sorrindo.

Não sei a razão mas o Laudir me queria bem, pra mim fazia camisas simples, de mangas curtas, no baratilho, quase de graça, ele sabia que eu era um menino duro de grana. Aliás, o Laudir era atencioso, generoso, com todo mundo.

Uma semana depois saí de lá o fino, o terno combinando com o chapéu bogart marrom, as mulheres adoraram. Ainda tinha dinheiro, pensei em comprar uma arma lá na Galeria do Rosário, mas o anjo de dentro disse agora não.
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