martes, 24 de abril de 2018

Consolidação das Leis da Putaria Federal


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Hoje as trinta mulheres se atrasaram da batalha, deu rolo no cabaré, chegaram somente às seis da manhã. Disseram que não me ligaram para não me incomodar, eram só uns bêbados do pmdb, psdb, dem, pp, essa gente, foram comemorar alguma coisa e armaram confusão, não valiam uma punhalada, elas mesmas deram umas pauladas nos otários.

Fizeram bem, se eu vou lá com os meus bugres agora eles estariam pendurados nos postes da cidade. Deixemos isso de lado, estava esperando as senhoras, tenho novidades, vamos alterar o nosso contrato de trabalho, eu disse.

Como assim? - perguntou a Mariana de Rosário, a índia da Serra do Caverá, se alçando a porta-voz das outras.

Pelo nosso contrato cada uma de vocês ganha dez por cento limpo do faturamento diário, o resto é para as despesas aqui do convento, para a minha comissão e para a conta que abri em meu nome, a poupança do nosso futuro. Isso vai mudar. Fiquem quietas! Deixem eu explicar com calma. Seguinte:

Não vão levar mais os dez por cento. Houve uma mudança na legislação federal, culpa daqueles golpistas filhos da puta, eu nada tenho a ver com isso. Já falei para calarem a boca, escutem:

Se vocês entram no puteiro às 19:30h e ficam se virando até às 4:30h, trabalham nove horas, o que lhes dava direito aos dez por cento. Doravante passaremos ao regime de trabalho intermitente. Quieta aí, Jandira.

As horas que ficarem esperando a clientela sentadas nos sofás do cabaré ou dançando seminuas de chamarisco não contam, só contam as atividades no quarto. Assim, se ficarem remuneradas no quarto três das nove horas, levarão um terço dos dez por cento.

Sacaram, né? Se antes vocês apressavam as coisas para tomar logo a grana dos babacas e voltar pro salão, agora sugiro que enrolem, demorem... É complicado, demoram e deixam de pegar outro, o faturamento cai, vai depender se tem garufa esperando na fila lá fora, mas vocês conseguirão chegar a um meio termo.

Deem graças a Deus que não aboli a Gratificação de Natal, proporcional à intermitência, esta por minha conta, se não fosse eu tavam fodidas. Agora me deixem quieto, preciso ver uns trecos no facebook, a Marcela e a Cláudia Zoiúda lá de Brasília querem vir pra cá, essas são abonadas e mal comidas, podem contribuir com a poupança.

Foram pra sala grande, conversaram, bateram boca, fizeram contas, até que caiu a ficha. Se amontoaram na porta da salinha do computador aos berros, me chamando de tudo o que não presta. Eu me mantive sereno, sem arredar pé, é pegar ou largar, se continuarem teimando vendo todas para os gigolôs da Farrapos e da Carmen, e a poupança fica só pra mim.

Quando começaram a chorar, reclamar que precisavam mandar dinheiro para as famílias, pra mãe, pras irmãs que cuidavam dos seus filhos, dependiam da batalha delas, que destruí as suas vidas, achei que era hora de acabar com a brincadeira, fui longe demais.

Estão doidas, não sou criminoso, ora se iria cometer uma maldade dessas com vocês, eu tava brincando! Malucas, andem aqui me dar um abraço.

Ufa, aos poucos as tadinhas foram se recuperando, sorrisos brotaram entre lágrimas. Mariana de Rosário seguiu de cara fechada, até que disse: Mas tu não vale nada mesmo!
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