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Hoje as trinta mulheres se
atrasaram da batalha, deu rolo no cabaré, chegaram somente às seis da manhã.
Disseram que não me ligaram para não me incomodar, eram só uns bêbados do pmdb,
psdb, dem, pp, essa gente, foram comemorar alguma coisa e armaram confusão, não
valiam uma punhalada, elas mesmas deram umas pauladas nos otários.
Fizeram bem, se eu vou lá com os meus bugres agora eles estariam pendurados nos postes da cidade. Deixemos isso de
lado, estava esperando as senhoras, tenho novidades, vamos alterar o nosso
contrato de trabalho, eu disse.
Como assim? - perguntou a
Mariana de Rosário, a índia da Serra do Caverá, se alçando a porta-voz das
outras.
Pelo nosso contrato cada uma
de vocês ganha dez por cento limpo do faturamento diário, o resto é para as
despesas aqui do convento, para a minha comissão e para a conta que abri em meu
nome, a poupança do nosso futuro. Isso vai mudar. Fiquem quietas! Deixem eu
explicar com calma. Seguinte:
Não vão levar mais os dez
por cento. Houve uma mudança na legislação federal, culpa daqueles golpistas
filhos da puta, eu nada tenho a ver com isso. Já falei para calarem a boca,
escutem:
Se vocês entram no puteiro
às 19:30h e ficam se virando até às 4:30h, trabalham nove horas, o que lhes
dava direito aos dez por cento. Doravante passaremos ao regime de trabalho
intermitente. Quieta aí, Jandira.
As horas que ficarem
esperando a clientela sentadas nos sofás do cabaré ou dançando seminuas de
chamarisco não contam, só contam as atividades no quarto. Assim, se ficarem
remuneradas no quarto três das nove horas, levarão um terço dos dez por cento.
Sacaram, né? Se antes vocês
apressavam as coisas para tomar logo a grana dos babacas e voltar pro salão,
agora sugiro que enrolem, demorem... É complicado, demoram e deixam de pegar
outro, o faturamento cai, vai depender se tem garufa esperando na fila lá fora, mas vocês conseguirão chegar a um meio termo.
Deem graças a Deus que não
aboli a Gratificação de Natal, proporcional à intermitência, esta por minha
conta, se não fosse eu tavam fodidas. Agora me deixem quieto, preciso ver uns
trecos no facebook, a Marcela e a Cláudia Zoiúda lá de Brasília querem vir pra
cá, essas são abonadas e mal comidas, podem contribuir com a poupança.
Foram pra sala grande,
conversaram, bateram boca, fizeram contas, até que caiu a ficha. Se amontoaram
na porta da salinha do computador aos berros, me chamando de tudo o que não
presta. Eu me mantive sereno, sem arredar pé, é pegar ou largar, se continuarem
teimando vendo todas para os gigolôs da Farrapos e da Carmen, e a poupança fica
só pra mim.
Quando começaram a chorar,
reclamar que precisavam mandar dinheiro para as famílias, pra mãe, pras irmãs
que cuidavam dos seus filhos, dependiam da batalha delas, que destruí as suas vidas, achei que
era hora de acabar com a brincadeira, fui longe demais.
Estão doidas, não sou
criminoso, ora se iria cometer uma maldade dessas com vocês, eu tava brincando! Malucas, andem
aqui me dar um abraço.
Ufa, aos poucos as tadinhas
foram se recuperando, sorrisos brotaram entre lágrimas. Mariana de Rosário
seguiu de cara fechada, até que disse: Mas tu não vale nada mesmo!
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