domingo, 1 de noviembre de 2020

São Paulo

(...)

Av. Paulista, orelhão, 11 da manhã de uma quarta-feira. Disc, disc, disc. A cobrar.
- Alô, bom dia... (a telefonista)
- Me passe rápido para o chefão, Marisa, sou eu.
- Fala, Cabelinho! (o chefão)
- Doutor, estou há mais de uma semana neste bancão aqui da Avenida Paulista onde o senhor me meteu, não liguei de lá porque estão monitorando os telefones, é uma quadrilha, tudo criminoso, doutor, temo que atentem contra a minha vida, pois peguei um monte de transferências ilegais para o exterior, políticos, grandões aqui... tem gente do Banco Central no meio, o senhor sabe, tenho crianças pra criar...
- Te ameaçaram?
- Não claramente, mas leio pensamento de bandido, doutor, o senhor sabe da minha vida, me meteu aqui porque desconfiava que era uma máfia, para as boas nunca me escala, então acredite em mim.
- Hummm, deixa eu pensar... Vou falar com uns caras. Tu está com medo, a ameaça é iminente?
- Medo eu não tenho de nada, doutor, já passei por coisa semelhante, mas estou em terra estranha e eles são muito perigosos, traiçoeiros, preciso de proteção armada, de quem cuide as minhas costas, pois agora é que eu vou para cima deles.
- Não vai para cima coisa nenhuma, hoje não. Vá para o hotel e não saia de lá, me ligue à tarde, vou conversar com o diretor presidente do banco e com algumas pessoas, tenho amigos na Polícia Federal, mantenha a calma, Cabelinho.
Pelo sim, pelo não, desliguei o telefone e fui lá no bairro Armênia comprar um 38 frio. Conversando sobre presídios fiquei amigo dos caras, tudo gente boa.
(...)

(Fragmento do livro "Eu, auditor")

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