sábado, 24 de marzo de 2012

Até logo, seu Chico Anysio

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Seguindo o inevitável desta única vida que Deus nos deu, a trajetória humana pintada de risos, excrementos e túmulos, ontem o Brasil entrou em luto. Luto grave: o Brasil perdeu um dos seus melhores homens. Homem... um eterno menino, sonhando sempre com um mundo melhor, não para si, não teria graça: para todos. Homem, sim.

Dizer o quê. Sangue que pulsa.

O mundo todo deve estar propagando que morreu o grande ator, escritor, compositor, cantor, poeta, pintor, namorador, e mais uma infinidade de atributos. Amor. Viajante perdido, filósofo autodidata, engenheiro de cérebros, comparsa de estrelas do céu, de botequins e de universidades.

(vou de novo no banheiro, me deu uma coisa)

De volta, lembrei do Luna Bar, no Rio.

E o mundo está certo. Foi embora a presença física de uma parcela enorme da infância, juventude e maturidade de todos os boêmios. Boa hora para dizermos aqui que para ser boêmio/a não é necessário beber e fumar. Tem gente que confunde. Não, precisa não.

Mas há que se ter alma, despreendimento, destemor. Não podemos ter medo, isso saído  de dentro, nem de morrer nem de passar fome. Musical. E há que se ter pena de quem só pensa em bens materiais. Ponto. Aqui na palafita tentamos, mas, sei lá, falta muito, algo  não entendemos pelo caminho, ou era tortuoso nas circunstâncias, ou somos exagerados talvez, procurando coroa de espinhos.

O seu Chico creio que entendeu. Ah, esse sim, sofreu e chorou o diabo, mas chegou nas luzes.

O Beco do Oitavo está em festa, que assim é que se faz. Danças, declamações, lágrimas, risos e abraços. Canções.

Muito obrigado pela espontaneidade, muito obrigado pela maluquice. Muito obrigado por namorar a Zélia, ufa.

Muito obrigado pelo Alberto Roberto, acidez na tampa de alguns nossos compatriotas "artistos". Muito obrigado pelo Al Cafone, ainda estão por aqui. Pelo Azambuja, pelo Bozó e pelo Coalhada.

Obrigado por todos, seu Chico, o país inteiro (e o mundo, tudo igual) nos seus personagens. Todos entendíamos, menos eles. É a sina de quem escreve: de quem falamos nem lêem. O senhor como ninguém sabe disso, escrevo aqui somente para o caso de algum passante topar com esta postagem, nunca se sabe, precisamos ser sinceros, e leitores andam em falta, preferem os... deixa pra lá.

Se no teatro de outro mundo que não existe, algum menino de chapéu levantar o braço timidamente lá na penumbra do fundo depois daquela frase, vai ter festa. Ele vai crescer, por um gesto banal do Francisco Anysio de Oliveira Paula Filho, rosa de todas as cores de um 12 de abril de 1931, num Maranguape que ele colocou no mapa.

Até logo, a gente do povo do Meio sabemos que morrer é normal, mas a  herança dos malditos assaltantes de batina nos fizeram em demasia tementes da morte. Que droga, não conseguimos parar de chorar!

Morto. Múltiplo, mordaz.

Maravilhoso!









Olegário Mariano

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Olegário Mariano Carneiro da Cunha nasceu em Recife (PE), neste 24 de março, no conturbado ano de 1889. Poeta e compositor. Para quem pensa que boêmios - músicos, iludidos, humanos de coração puro, lidadores de letras - não trabalham, que tudo cai do céu, esclarecemos: trabalham sim. Olegário lidou com muitos trabalhos em sua vida, até diplomata foi. Compôs muitas músicas, muitos dos seus poemas foram musicados. Coube a Joubert de Carvalho  a façanha de levar essa alma superior ao meio musical, para perto de pessoas como Ary Barroso e Vicente Celestino.

Ah, Joubert de Carvalho. Precisamos falar desse boêmio aqui: o único cara no mundo que inaugurou uma cidade que leva o nome de uma composição sua: Maringá. Isto mesmo, ele, vivinho da silva, a meia-noite abraçou todos os companheiros do buteco da Lapa, tomou uma dupla de uísque de saideira, encheu os bolsos de garrafinhas e encarou a viagem, comparecendo à inauguração no dia seguinte, todo sério. Outro dia falaremos, por enquanto vai um abraço ao povo de Maringá, uma idéia que, começando como começou, só podia dar no que deu, uma cidade verde de progresso, sorrisos e amor.

No Rio de Janeiro, o busto em bronze de Olegário que havia no Passeio Público foi roubado há mais de 10 anos. Ninguém sabia do que se tratava mesmo, tal a sensibilidade dos últimos governantes, mestres da ignorância e da... deixa para lá. Em breve inaugurarão no mesmo local um busto do Faustão, que melhor os representa.

Segundo o manauara Simão Pessoa, (clique, eta blog bom), o grande poeta brasileiro, como todo boêmio de classe, era muito espirituoso:

O sexagenário poeta Olegário Mariano, padrinho de batismo pela milésima vez, suportava a arenga latina do padre quando, num dado momento, o pároco lhe perguntou: menino ou menina?

Olegário, apanhado de surpresa, não teve outro recurso a não ser sungar a camisola do bebê que, naquelas alturas da vida, era desprovido de sexo aparente.

Afastou os panos todos que o separavam da revelação e, apurados os fatos, declarou:

– Se não me falha a memória, menina.

O som que vai ao final, De papo pro á, não por acaso é parceria de Joubert de Carvalho e Olégario Mariano, aqui na voz do espetacular Ney Matogrosso.


Boemia triste

Éramos três em torno à mesa. Três que a vida,

Na sua trama de ilusões urdida,

Juntou ao mesmo afeto e na mesma viuvez...

Um músico , um pintor, e um poeta. Éramos três...

O primeiro falou: - Veio da melodia

De um noturno, a mulher que me fez triste assim.

Amei-a como se ama a fantasia

E ela sendo mulher fugiu de mim...

Hoje tenho a alma como um piano vivo

Que mão nenhuma acordará talvez...

É por esse motivo que eu sou mais desgraçado que vocês...

Disse o segundo: - Meu amigos, a sorte golpeou-nos, com a mais vil ingratidão

À mim levou-me à morte, o que eu tinha de melhor

A ilusão de que a vida era ilusão.

A força, a graça, o espírito, a beleza

A estátua humana olímpica e pagã

Espelho, natural da natureza

Nota da flauta mágica de Pan

Morreu com ela a vida, a luz, a cor

Manhã de sol e tarde de ametista

A paleta e a esperança de um pintor...

Todo o delírio de um impressionista.

Fez-se um grande silêncio em torno à mesa,

Silêncio de saudade e tristeza...

O terceiro baixou os olhos devagar

Disse um nome baixinho e não pode falar...



Hipócrita

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Na ânsia de esquecer tudo, madrugada em Porto Alegre, pulou na cabeça um bolero.

Autoria do Crespo, já escrevi neste blog, que ninguém neste mundo sabe quem foi e onde se meteu para morrer. Ele conseguiu sumir sem rastro.

Preciso dormir, preciso dormir.







viernes, 23 de marzo de 2012

A Barbara Gancia, o múmio, o filho do ricaço e o advogado na Charge do Dias

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A jornalista Barbara Gancia (Barbara Maria Vallarino Gancia, São Paulo, 10 de outubro de 1957 - foto) quase encerrou o assunto do riquinho corredor, hoje em sua coluna no jornal Folha de S. Paulo. Não encerrou porque o sistema é muito pior do que foi dito.

Antes dela um fisósofo de bacanos sonsos, na mesma Folha, campeão em pinçar aqui e ali escritos e pensamentos para chegar a lugar algum, para explicar o caso, como é do seu feitio, buscou arreglo até em Nietzsche. Chegou a lugar algum, claro, com suas pífias lições de almanaque, mas no fundo sugerindo que a culpa é... minha, ou sua, nobre leitor, ele escreve nós mas claramente está fora dessa, imagine.

O texto dela é simples, objetivo e realista. Realista nem tanto, como dissemos na abertura, a realidade é sempre pior nesses casos, mas não importa: dez a zero para a Bárbara, coragem e lucidez é o que mais precisamos no Brasil nestas alturas do campeonato, onde o time do arroz e feijão parece criar fôlego diante da equipe dos barões bem nutridos.

Ao texto. João  da Noite o leu em voz alta no Beco do Oitavo, sob os olhos de numerosa platéia de boêmios atentos. Destes o que corre menos voa, de tanto que viveram e choraram em banheiro sujo. Ainda vivem intensamente, mas o choro rareou, embora vez em quando saltem lágrimas quando menos se espera.

Bom-mocismo para o Oscar

VRRRUUUM! Os fatos se passam diante de nossos olhos na velocidade de um F-1. Numa rodovia, o filho do magnata Eike Batista não enxerga um ciclista que volta do trabalho e passa por cima dele. A cegueira chega a ser emblemática de nosso conflito de classes.

No dia seguinte, já está tudo ter­minado. As declarações são dadas, um teste de bafômetro é apresenta­do como troféu, o rapaz se entregou às autoridades espontaneamente.

Em um país em que os ricos estão eter­namente entregues à esbórnia, quem cumpre minimamente as normas acaba virando herói.

Não interessa mais a ninguém que o ajudante de caminhão Wander­son Pereira dos Santos tenha tido o corpo estraçalhado e a vida brutalmente interrompida. Ainda foi acusado por Eike Batista de imprudência. Nós já mudamos de página, esta­mos em outra.

Não uso "nós" para me distanciar, moralizar e apontar o dedo, não. Onde estão as testemunhas que vi­ram o carro chegando a um milhão por hora? Onde estão as provas da polícia técnica que podem nos di­zer a velocidade em que ele estava? Ninguém quer saber disso, eu in­cluída, porque quando olhamos pa­ra o rapaz o enxergamos como um pinti­nho molhado perdido na chuva.

O vimos crescer, filho da mulher que andava de coleira e trocou o marido por um bombeiro. Ele e o irmão, alunos do colégio alemão, de cara fechada nos desfiles de escola de samba ao lado da mãe, quem não se lembra? Cá entre nós, não há aí um embate terrível entre informa­lidade e rigidez?

Aliás, para o meu gosto, sobram componentes alemães na história: carro parcialmente alemão (que, aliás, já dormiu na sala de estar), educação alemã e, veja: quando Ei­ke diz que a presença de Wander­son, a vítima, na rodovia poderia ter matado outras pessoas, será que ele não está expressando o desejo de que o filho trafegasse em uma "au­tobähn"? Xerém está longe de ser uma via para se andar a 300km/h, estrada brasileira é coalhada de pe­riquito, pedestre e patinete -imagi­no que Eike saiba disso.

E não importa quanto dinheiro você tem ou se bebeu da cartilha de Bismarck e Metternich. Deve ter um mínimo de bom-senso e resistir à tentação de compensar com brin­quedinhos como um carro com motor de F-1.

Moleque tem pinta de He-Man, nome de Deus escandinavo e anda por aí com um modelo de carro do qual existem apenas 3.500 cópias no mundo. Isso aos 20 anos. O que ganhará quando fizer 21? A feira de um Airbus A380? A feira de Le Bourget inteira? Em nenhum lugar do mundo você consegue fazer o seguro de um carro esportivo da cilindrada no SLR McLaren para ser conduzido por pessoas com menos de 25 anos.

Quando olhar para trás, o que Thor terá aprendido ao levar em conta a rapidez com a qual este capítulo de sua vida foi encerrado?

No Livro "A Fogueira das Vaida­des", o milionário de Wall Street, Sherman McCoy, é massacrado por fazer a coisa errada em uma si­tuação de atropelamento. Em vez de ir às autoridades e contar a ver­dade, ele peca por omissão.

A família Batista escolheu a estra­tégia inversa. Colocou Thor na li­nha de frente desde o primeiro mo­mento. Mas o ambiente controlado em que a exposição se deu, com se­guranças barrando o caminho da imprensa, o pai falando pelo filho em tom arrogante e culpando a víti­ma sempre que pôde e a voz de Thorzinho ocupando todos os es­paços do Twitter nos fazem crer que estamos diante de uma ence­nação épica de bom-mocismo.

Tomara que o Ministério Público esteja à altura do desafio.

Ponto. Fechado com chave de ouro. Essa frase do "Tomara que esteja à altura" diz mais que milhares de páginas. Os boêmios tiram o chapéu para a grande jornalista, ah, se todos fossem iguais a você...

O primeiro a comentar foi o Contralouco: Pera aí, ela não falou da polícia. Afinal, liberaram ou não liberaram o carro na hora, com o coitado lá todo despedaçado na rodovia? Já prenderam os caras que liberaram? Ora que o advogado "promete" não mexer no carango, que merda é essa... por que diabos o adeva achou que o bólido não ficaria seguro com as autoridades? O que diz agora o velocímetro? Despedaçou o sujeito a 70 por hora? Será que daqui a pouco não vão dizer que o ciclista estava drogado? Vai que tomou uma injeçãozinha durante o translado ou mesmo lá no necrotério. O Ministério Púbico acompanhou a autópsia? Ou tava tudo liberado, como o carrão?

Ninguém responde. João da Noite corta todo mundo, como foi ele quem leu a coluna, acha que tem o direito de falar primeiro (segundo reclamação de Mr. Hyde, que ficou emburrado, trocou de mesa, indo lá para a frente, de costas): aqui todos sabem que detesto esse advô famoso que defende o marajácuzão, mas não me julgo suspeito para falar. Vejam só: para que o Elke Maravilha precisa de um generalzão desses? Ares de acima de qualquer suspeita... virou ministro da turma do Lula-baixa-as-calças, como diz Salito. O que fazia antes? Defendia sonegador, seus otários, o cara enricou defendendo os que matam o povo roubando o tesouro de todos. Via o assalto, sabia tudo,  e os defendia. Esse é o cara. Isso dá dinheiro, leva em percentagem do auto de infração, mais o crime, acho que ele que bolou aquele artigo 14, de soltar se pagar antes. O finório ainda não está podre de rico? Claro que tá, já nasceu assim. Por que então não vai ser hipócrita em casa, não cansou daquele papo de direito de defesa, enquanto embolsa milhões? Se aposenta, urubu, vai para casa, chega, o Brasil agradece os bons serviços prestados aos bandidos, sai, chulé! E João levantou-se bruscamente em direção ao banheiro.

Lúcio Peregrino, rosto e voz torcidos em ironia: caros amigos, vamos mudar de assunto, pombas, olhem só o João, foi chorar no banheiro. Está claro que o elemento se suicidou. Gentalha, bebum e drogado. Aliás, fizeram teste de drogas no motorista, ou só bafinho? Se bem que há drogas não detectáveis em exames, o modo de encarar o mundo é a maior.

Uia!, exclamou Açafrão, outro filósofo!

Mamma mia, João se apoderou da palavra, apelando para expressões chulas, raivoso... Vá lá, é certo que o ambiente era de revolta, mas João deve ter bebido além da conta. Recupera-se depois, tem bom-senso. Espero que não o processem, afinal só chamou o advogado de hipócrita, não deve dar nada. Pensando bem, nunca se sabe, o dinheiro compra até..., deixa pra lá.

Nada tem a ver com o caso, mas também não gosto desse advogado.

E os outros se meteram, o Contralouco começou a narrar um caso idêntico sobre o filho de um lalau que foi seu patrão, o Tigran Gdansk prometeu uma palestra sobre "Como se fica rico no Brasil" que iria arrepiar todo mundo, e lá ficaram batendo boca.

E a coisa preteou, aí sim haveria processo. Só processam quem diz a verdade quando há repercussão, vai que haja, por isso paramos aqui. Não que João, muito menos este que redige as mal traçadas, tenha medo de mais um processo. Mas isso irrita, dá vontade de resolver do jeito que eles não gostam.

Aliás, o nosso tempo é precioso, já que não somos empregados de nenhum ricaço com probleminhas idênticos aos dos políticos broxuras, então vamos logo à Charge do Dias. Não é difícil adivinhar as escolhidas pelos empinantes.

Leilinha Ferro - que só empina água mineral Sarandi - tinha que ir ao banco, escolheu primeiro. Ficou com o grande Zop.




Os companheiros do Botequim do Terguino com o Marco Aurélio, de Zero Hora (Porto Alegre, RS).




E o Beco do Oitavo fechou todas com o mestre Aroeira (a segunda ou terceira postagem mais vista deste blog é A Charge do Dias - De Aroeira, só perde para A praia do Hans, mas o verão passou...).



jueves, 22 de marzo de 2012

Sururu na roda

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Minha festa e Quando eu me chamar saudade, ambas de Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito.

Esse pessoal não precisa de apresentação, mas vai parte do que disse sharkmar2008 quando postou o vídeo. Lá tem mais.

Foi em 2000, na informalidade dos encontros nos jardins da UNIRIO, que surgiu a idéia de formar o grupo Sururu na Roda. A então estudante Nilze Carvalho -- voz, cavaquinho e bandolim -- uniu-se a Fabiano Salek e Sílvio Carvalho -- respectivamente voz e percussão, e voz, percussão e cavaquinho. Em sua formação mais recente, Juliana Zanardi - voz e violão - completa o grupo, transformando a parceria num dos mais badalados sambas de roda que revitalizaram a Lapa, bairro ícone da boemia do Rio de Janeiro.

A palafita guarda com especial carinho alguns elepês da Nilze Carvalho ainda menina (Choro de Menina). Os rodamos muito, para que sejam sempre novinhos.


Sangue no asfalto na Charge do Dias

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Ontem os boêmios do Botequim do Terguino resolveram dar um fim nesse assunto de cerveja ou não cerveja na Copa. O principal argumento é que o Brasil baixou as calças (especialidade do Lula) lá atrás, agora que se danem.

Disse Marquito Açafrão: "Total, aqui ninguém vai mesmo assistir jogo desses retranqueiros, passezinho para o lado, devolve, senta em cima da bola, dorme... Por mim que abichem. Nisso de arena pra dar vazão à raiva dos empregados, e a própria condição humana, os romanos foram mais criativos". 

Oba, mais um filósofo, retrucou Tigran Gdansk.

E justamente aí a conversa mudou de rumo. Discutir a condição humana... façam-me o favor!

Hoje o tema foi outro. Contam da magnífica surpresa: a meia-noite em ponto Carlito Dulcemano Yanés adentrou no recinto. Falando espanhol, sinal de que procurava encrenca. Não ali, isso encontraria mais tarde. Cumprimentou a todos com um aceno e perguntou ao Terguino quantas cervejas geladas tinha no bar. Agora só umas 80, daqui a pouco o bar estoura, respondeu Terguino.

Carlito tirou o chapéu, passou a mão nos cabelos, procurando com os olhos uma mesa longe da porta. Disse: Mira, señor Terguino, esta noche me voy a emborrachar. Hoy todas las pingüinas son mías!

Pronto, comprou todas. Se alguém quiser alguma, o Terguino terá que pedir autorização ao doido. Sacaram, né, as pingüinas são aquelas repolhudas com imagem da ave das regiões polares, está melhor que a número zero, embora sejam do mesmo monopólio.

Bom, era isto, bem-vindo, Carlito.

O Botequim do Terguino escolheu a obra do Eder. Coisa bem estranha os policiais liberarem no ato o automóvel com sangue e morte, quanto será que custou, claro, em amizade? Será mais do que o motorista está oferecendo à família da vítima, assim na carinha, até pelo rádio e pela televisão? Certo, papai paga, tem muita grana, de tanto capinar de sol a sol.




No Beco do Oitavo a turma ficou com o Sinfrônio, do Diário do Nordeste (Fortaleza, CE). Gostam do Romário, o Baixinho é mesmo foda. Não vêem a hora de, com o andor da carroça, ele começar a dar nomes e valores... deputado querendo descobre, tem acesso a informações que os pobres mortais não têm.




Leilinha Ferro, a filhoca do Terguino e coordenadora da coluna, escolheu a obra do Lute, do Hoje em Dia (São Paulo, SP).


miércoles, 21 de marzo de 2012

Jorge Ben Jor larga do 69

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Hoje é a última noite de 69 para Jorge Ben Jor.
Aproveite, mermão.


Um cigarro para José Serra, na Charge do Dias

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O Beco do Oitavo ficou com o Amarildo, da Gazeta Online (Vitória, ES).



O Botequim do Terguino com o Luscar. Os empinantes felicíssimos com a obra do Luscar, a hora da desforra está chegando. Para além do caso da privataria, onde já se conta em livros estórias escabrosas, só o problema do fumo, como foi tratado, de forma insultuosa, ultrajante, já serviria para que o Zé Verdura não fosse indicado nem para marrecão do time do Arranca Toco. Pariu a monstruosidade, agora vai embalar. Ah, doce é a vingança.

Como disse João da Noite outro dia, seu Zé: "Já que colocam fotos de gente morta nos maços de cigarros, por que não colocar também de gente obesa em pacotes de batata frita, de matadouros em bandejas de carne, de animais torturados nos cosméticos, de acidentes de trânsito nas garrafas e latas de bebidas alcoólicas, de gente sem teto nas contas de água e luz e (pega esta!) de políticos corruptos nas guias de recolhimento de impostos?".



Leila Ferro veio com o Pater, de A Tribuna (Vitória, ES).

martes, 20 de marzo de 2012

Licitações no Beco do Oitavo - A Charge do Dias

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Hoje, de comitiva, demos uma passada no Beco do Oitavo, rever a moçada. De cara Lúcio Peregrino, alegre demais, contou ter acordado às 5 da matina para os festejos do equinócio de outono, à moda dos seus antepassados celtas. Crê firmemente que descende daqueles pagãos. Entendido: comilança, beberagem e sexo. Ninguém acreditou que acordou às 5, está é atravessado.

O pessoal escolheu a charge do Nani e o assunto dominante foi esse. Primeiro a obra:



A obra fecha o círculo. Aquele "todo mundo sabe" do Nani liquida a questão. Achamos uma gracinha a reportagem da tevê, o noivinho de bolo de casamento apresentador do noticiário se fazendo de santo, surpreso, o tadinho não sabe como funcionam as coisas, chegou agora de Vênus, o platinado. Não pretendemos justificar os ladrõezinhos de tudo que é tipo de fornecimento, aliás a Polícia Federal já está nos calcanhares dos caras. Eles merecem cadeia. Mas o que a reportagem esqueceu de aprofundar, passou batida, é que, se não tem um corrupto contratando, não há propina.

Há muitos e muitos anos, lá por 1894, em Bujumbura (ufa, ainda bem que não foi aqui), um nosso camarada entrou num grande fundo de pensão para vender papéis. Na hora de acertar o preço, ele argumentou: em média o mercado está operando com deságio de 20 a 22% sobre o valor de face, então lhe vendo os papéis, que na face valem 100 milhões de francos, com deságio de 20, o que dá 80 milhões.

O diretorpone olhou para ele e respondeu calmamente: eu lhe compro os papéis, mas por 92 milhões. O "eu compro" dá a dimensão do poder do vagabundo. Claro, depois ele divide os 12 milhões com os que o colocaram ali.

Quem quiser que troque os papéis por imóveis, no exemplo do camarada. Tudo para garantia de provisões técnicas, no caso, ou seja, prejú na conta dos aposentados do Banco do Burundi. Isso não é nada, afinal os caras do Banco do Burundi são cidadãos diferenciados, às custas do povo, como os da Petroburun. Pior é quando metem a mão direto no que sobra, que seria do povo, como o fundo de garantia.

Aí se entende essa terrível disputa por cargos no aparelho estatal. Claro, para o desvio de bilhões há meios muito mais sofisticados que esse experimentado pelo nosso amigo.

É como disse João da Noite: "Em época de eleição os políticos ainda têm a cara-de-pau de dizer que se aliam somente pela comunhão de idéias e projetos. Quem conhece o mundo cão dessa gente que anda de carro importado, mansão aqui, reservas bancárias acolá, bem acolá, sente ganas de arrebentar com os patifes, mas a parcela crédula da população, por ignorância ou boa-fé, ou por ambas, engole a atochada dos malfeitores". A náusea é maior na medida que eles sabem que eu, que o senhor e a senhora sabemos, e estão nem aí, vergonha é palavra que desconhecem. Pior, orgulham-se do que pensam ser esperteza.

Aproveitando a deixa, então estamos acertados, honestos leitores: todo mundo sabe agora por que os políticos esperneiam, gritam, choram, ameaçam, chantageiam, até conseguirem os ambicionados cargos, para "colaborar na implantação das diretrizes" no governo, afinal ajudaram a eleger ao vender o seu horário gratuito. Os cargos. Querem cargos! Caaaaaaaaaaaaaaargooooooooos!

Querem nomear direpones. Os funcionários de carreira, com rigorosa vigilância de uma corregedoria, são incompetentes, é preciso um político ou mandalete de político que nunca trabalhou na vida para as coisas andarem.

O projeto em comum nessa salada de partidos sob a mesma bandeira é esse: assaltar o erário. Unem-se sob o mesmo projeto. Só. Todo mundo sabe.

Lutamos muito por um partido novo, nos enchemos de ilusões, gastamos dinheiro suado para construi-lo, para depois alguns canalhas se deixarem seduzir pelo poder, pelo dinheiro fácil, como faziam os que queríamos derrubar. Corromperam-se. Alguns humanos não ficam velhos, envilecem. Lula, o Deslumbrado, se acha o cara pela alta técnica política que desenvolveu: um estadista em baixar as calças. Oh, cheguei aqui sozinho; ui, um filme sobre a minha vida.

Os acertos que a tevê emboscou são trocados, coisa de ladrão de galinha - e só por isso foram flagrados, se comparados aos grandes negócios de ministérios que lidam com transportes, energia e outros bichos. E a privataria então... E todo mundo sabe.

Voltando ao camarada ali de cima: "Salito, morro de vergonha, cheguei em casa e não consegui olhar para a mulher, mas se eu não aceito o negócio acabo morrendo de fome, o sujeito compra de outro". Pois é.

Essa é a lógica dos caras flagrados pela reportagem da Globo. E todo mundo sabe.

Então vamos combinar: 5 anos de cadeia pro fornecedor de caneta ou comida ou camisinha, e 50 para o bandido que trabalha na estatal e impõe a falcatrua. Como ponto fundamental, além da investigação das ramificações: ampla divulgação do nome do patrunfo que colocou o ladrãozinho naquela cadeira (não estaria lá por acaso, pára-quedas não cai em gabinete).

No escarcéu que a rede Globo está fazendo com o caso dos pilantras menores há um componente assustador. Todos sabem que já foi muito pior, em governos anteriores, foi lá o ovo da serpente, onde o "mercado", maciçamente, começou a imitar seus governantes. E a Globo, como os interesses que sempre representou, sabe que a Dilma está se matando, com extrema dificuldade, junto a uns poucos, para acabar com a prática. Todos os dias ela recebe ameaças de desgoverno, caso não atenda aos reclamos dos grandes piratas. Estes querem a sua caveira. Então este súbito ataque de honestidade, tendo como pretexto ladrões de galinha, no mínimo indica que os múmios estão preparando um novo Collor para dar ao País. Não um riquinho imaturo, e sim um verdadeiro boneco. No limite, pérfida conspiração.

Sim, a Dilma tem errado muito, para o nosso gosto. Mas antes ela que voltar ao horror em que vivíamos, com o poder novamente nas mãos "deles", os tubarões desde 1.500.

Certo é que precisamos recomeçar. Para resultados no curto prazo, alguém sabe como? Ou levaremos mais 30 anos? Não viverei tanto, mas já estou arregaçando as mangas.




O Botequim do Terguino fechou com o Aroeira. O pessoal entende que é ignorância do pobre Ronaldão, que ele não passa de um otário rico e alegre, é possível que não seja nem se transforme em ladrão, mas ainda assim afirmam que sentem um nojo do distinto, mas um nojo... Um dia explicaremos melhor, razões não faltam aos boêmios.

Deixa estar, gente, o que é dele está guardado, a bruxa existe.




Por fim, Leilinha Ferro encerrou os debates com chave de ouro. Essa menina... cada vez melhor. A obra é do Tiago Recchia, da Gazeta do Povo (Curitiba, PR).




Noites iguais

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Há pouco, às 5:14 m,  ocorreu o equinócio do Outono austral.

Que nos sorria. Celebremos o pão farto.